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Capítulo 04 | Borboletas Irritantes

Anne Green

Eu admito, ela era uma mulher bonita, elegante, e de uma altura que chamava atenção.

— Anne, certo? — perguntou, sem rodeios.

Quando nossos olhos se encontraram, algo me pareceu estranho. Desde pequena, sempre tive essa habilidade — se é que posso chamar de dom — de detectar falsidade nas pessoas antes mesmo que elas se revelassem. E agradecia a Deus por isso, afinal, nunca fui facilmente enganada, o que talvez explicasse a falta de muitos amigos.

— Sim, sou Anne — respondi.

— Sou Gabi, analista financeira — ela se apresentou, aproximando-se da mesa de Isaque. Eu estava na bancada logo atrás, preparando o café.

— Prazer — falei, de forma objetiva, sem dar muita importância.

— Isaque já deve ter mencionado sobre mim.

— Na verdade, não comentou nada — repliquei. Ela soltou um sorriso constrangido.

— Não tem problema. Vim aqui para te conhecer, já que você vai trabalhar com o Isaque e, mesmo em salas diferentes, vai colaborar comigo também — disse com um sorriso dissimulado. Sua postura transmitia autoridade, quase como se quisesse marcar território. Mas eu sabia que meu foco era me reportar a Isaque, não a ela.

Apenas assenti, colocando a xícara de café na bancada. A porta se abriu novamente, dessa vez era Isaque. Tentei não parecer deslocada ao estar ali, atrás da mesa dele, mas sua atenção foi diretamente para a ruiva.

— Gabi? — ele a chamou, enquanto ela o examinava com o olhar. A expressão dela mudou instantaneamente, os olhos brilharam e o sorriso tornou-se radiante.

— Passei aqui para conhecer a Anne — disse ela, dirigindo-se para perto da porta. Eu observei cada movimento de Gabi em relação a Isaque, e algo dentro de mim dizia que havia mais ali do que aparentava, pelo menos da parte dela.

— Vamos para o restaurante? — ele perguntou, indo para sua mesa, sem nem olhar para ela, passando despreocupado.

Eu seguia em direção à minha mesa quando nos encontramos naquele curto espaço. Ficamos próximos, frente a frente. Ele me lançou um leve sorriso antes de gentilmente se afastar para que eu pudesse passar.

— O Marcos já foi? — Gabi perguntou, claramente incomodada com nossa interação.

— Sim. Você vai com a Sara, e eu com a Anne — respondeu ele.

Eu estava ajeitando minha bolsa quando ouvi meu nome envolvido naquela decisão sem que ele sequer me consultasse. Levantei a cabeça imediatamente, arqueando uma sobrancelha.

— Vou com você? — questionei, desafiando.

— Sim, Anne, algum problema? — ele respondeu, firme, me encarando.

— Não querendo me intrometer, — Gabi fez um gesto teatral, chamando atenção para si. — Isaque, você fez a integração da Anne? Porque, se não, ela poderia aproveitar o horário de almoço para isso.

A audácia dela me surpreendeu! Trabalhar no horário de almoço? Eu esperei ansiosamente pela resposta de Isaque Campbell.

— Não, Gabi, ainda não fiz. E não será necessário. Vou passar tudo para ela, já que vai trabalhar comigo no escritório, praticamente de frente para mim. Não se preocupe — disse ele, piscando para ela de forma irônica, pondo fim à sua intromissão.

Gabi apertou os dentes, mas se conteve.

Bem feito, Isaque, você soube exatamente como colocar aquela mulher no lugar dela!

— Você que sabe — respondeu, fria. — Vou adiantar as coisas com a Sara e encontro vocês no restaurante — disse, tentando me intimidar com o olhar, mas sem sucesso.

Já estava claro que eu não deveria confiar nela, e que seria prudente manter meus olhos bem abertos.

Assim que Gabi deixou a sala, o ar pesado que ela trazia consigo foi embora. A paz voltou, junto com o suave cheiro cítrico dos produtos de limpeza.

— Não acredito que ela queria que eu trabalhasse na hora do almoço! — reclamei, irritada, somente para eu ouvir. Isaque riu baixinho, e eu percebi que ele também ouviu.

— Gabi costuma ser gentil, mas talvez esteja... naqueles dias — comentou, sorrindo, com os olhos fixos em mim.

— E o que você sabe sobre “naqueles dias”? — provoquei, fazendo aspas no ar com os dedos.

— São aqueles dias em que a mulher fica meio complicada... estressada, impaciente, querendo carinho, mas ao mesmo tempo preferindo que o homem fique longe — disse ele, com um sorriso carismático, aproximando-se da mesa.

Eu não consegui conter o riso. Terminei de arrumar a mesa, fechei o notebook e peguei minha bolsa.

— Você parece bem experiente no assunto, Sr. Campbell — brinquei, enquanto ele balançava a cabeça, rindo.

Caminhamos em direção à porta, e ele se adiantou, segurando a maçaneta.

— Pode me chamar só de Isaque — disse ele, abrindo a porta lentamente, sem desviar o olhar de mim por um segundo.

Meu rosto esquentou novamente, e lá estavam elas: as malditas borboletas irritantes.

Eu não deveria sentir nada pelo famoso "filho pródigo", também conhecido como Isaque.

Mas Isaque Campbell, você acaba de se tornar o meu maior desafio nesta empresa.

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