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Capítulo 6 - Contrato entre dois

7100 palavras

Desperto na minha cama, me sentindo meu corpo completamente relaxado. A tarde com Ricardo definitivamente me fez muito bem. Eu me sinto leve por inteira, com um surto de disposição correndo por mim como uma corrente elétrica.

Me lanço para fora da minha cama, com um largo sorriso no meu rosto, sentindo o calor no meu quarto, e percebo como estou suada. Acabo com uma careta no rosto por precisar encarar mais um dia chuvoso. Alcanço minha toalha atrás da porta e parto para um rápido banho matinal. Ouço meus pais conversando no andar debaixo. Imagino como eles tem disposição para acordar cedo todos os dias... Tudo bem, eu sei, são contas a pagar.

- Mãe! Pai! Bom dia! – Digo em alto tom da escada mesmo.

- Bom dia filha! – Escuto a voz grave do meu pai. Pelo tom, ele está animado, mas também uma carga de sono se vê presente em sua voz. – Quer que deixemos o café da manhã pronto para você?!

Penso um pouco, batucando os dedos pelo corrimão – Só um pão com manteiga, pode deixar no micro-ondas por favor? Eu só vou tomar um banho e já desço para comer!

Não tenho resposta nos primeiros segundos – Tudo bem, eu preparo! – Escuto novamente meu pai.

Minha mãe aparece nos últimos degraus, prendendo o cabelo negro e bem liso em um rabo de cavalo e ajeitando os óculos de armação vermelha no rosto. Ela já está arrumada para seu trabalho, em trajes não muito formais.

Ela é supervisora financeira em uma multinacional, mas por sorte dela, não é exigido nenhum terno nem nada assim, apenas para as reuniões quase sempre avisadas com antecedência. – Já estamos saindo filha, então já irei me despedir.

Deixo minha toalha no corrimão e desço correndo me jogando na minha mãe quase a desequilibrando, dando um abraço matinal e também de despedida. Gosto de fazer isso em todas as manhãs antes deles saírem, e minha mãe é sempre carinhosa comigo, mesmo eu já não sendo mais criança. – Ta bem mãe, tenha um bom trabalho.

- De mim não vai despedir? – Ouço meu pai logo ao meu lado em tom brincalhão. Ele está com uma mochila, em roupas leves e uma mochila em seu ombro. Ele é professor de espanhol e francês em uma escola de idiomas, não muito longe daqui de casa.

- Com certeza eu vou sim. – Digo rindo, abraçando meu pai e dando um beijo em seu rosto, enquanto ele fica mexendo no meu cabelo já bagunçado.

Meu pai é menos carinhoso do que minha mãe, não por ser um ogro, mas ele não gosta por não saber se está sendo pouco carinhoso ou sufocando... Mas tudo bem, ele sabe como demonstrar afeto, de formas mais discretas. As vezes por sorrisos e incentivos que dá tanto a mim quanto a mamãe, pelos abraços duradouros que confortam muito mais do que ele deve imaginar, ou apenas pela forma como ele sempre se mostra presente.

- Vá lá, não quero te atrasar para a aula... – Ele diz, se afastando um pouco e espalmando as mãos nos meus ombros. – E aliás filha, se você for chegar tarde de novo, por favor nos avise.

Dou uma risada sem jeito. Se eles soubessem o que eu estava fazendo... Espero que eles não imaginem o porquê de eu chegar tarde ontem, mas se imaginarem, tenho certeza que não irão falar nada. Uma coisa em comum nos dois é que são muito discretos.

Bem, eu já sou no mínimo uma jovem adulta, então acredito que eu não precise justificar absolutamente tudo que eu for fazer da minha vida, mas concordo que pelo menos deva dar um aviso para eles.

Balanço a cabeça afirmando – Aviso sim, é que ontem foi tudo bem de repente, ai não deu pra avisar.

- Tudo bem Clara, confiamos em você. Só nos mande uma mensagem que seja para ficarmos tranquilos. – Minha mãe diz, abrindo a porta e já saindo, dando um aceno – Se cuide, boa aula.

Vejo meu pai saindo junto, também acenando para mim. – Tenham um bom trabalho hoje, se cuidem os dois. – Digo, olhando para os dois entrando no carro.

Levo meus olhos ao céu, fazendo uma careta ao encarar as nuvens escuras igual ontem, e pelo jeito, não parou de chover em nenhum momento... Aliás, parece que está chovendo nessa mesma intensidade desde sábado sem parar... Que estranho...

Ignoro isso, e fecho a porta assim que meus pais trancam o portão e partem.

Subo novamente as escadas em passos rápidos, agarrando minha toalha em um movimento rápido. Agora sim, meu banho relaxante pré aula.

Entro no chuveiro e fecho a cortina azulada do box, deixando minhas roupas espalhadas pelo chão, sentindo o ar frio no banheiro e o gelado do piso nos pés. Entro debaixo do chuveiro, fechando meus olhos assim que a água morna toca meu rosto e escorre por cada parte do meu corpo, me permitindo relaxar. Dou um suspiro de alivio, passando as mãos pelo rosto, aproveitando cada segundo.

Abro meus olhos, alcançando o sabonete para poder me lavar e sair, antes que eu acabe me atrasando. Lavo o corpo sem perder muito tempo, faço também espuma o bastante para lavar o rosto, e assim que fecho os olhos para me enxaguar por inteira, algo ocorre.

Com meus olhos fechados, eu ainda enxergo algo. E meio ao escuro uma criatura macabra e retorcida está a minha frente, com um sorriso com dentes levemente pontiagudos como os de um animal, profundas fendas no lugar dos olhos, e uma mão erguida em minha direção. Ele está estático, mas próximo.

Abro os olhos pelo susto, não vendo nada daquele ser. Encontro apenas o banheiro, o som do chuveiro e uma casa completamente quieta.

Olho ao meu redor, sentindo a água morna ainda caindo no meu corpo, mas por algum motivo a água me parece congelante. Meu corpo inteiro está com calafrios contínuos, e estrou tremendo.

Abro a cortina de uma vez e encaro o restante do banheiro, sem encontrar nada. Engulo em seco olhando mais alguns momentos, e volto ao chuveiro devagar, terminando de me enxaguar e fechando o registro. Alcanço a toalha e me enrolo com certa pressa, já saindo do banheiro.

Acho que estou imaginando coisas demais.

Acho que levei menos de 5 minutos para poder me vestir e ficar pronta para a faculdade. Costumo me arrumar rápido assim só quando estou muito atrasada para a aula, e não quando estou meia hora adiantada como hoje, mas não consigo ficar em casa.

Tranco o portão de casa e avanço pela calçada, segurando o guarda-chuva de forma que fique contra o vento e possa me proteger o máximo possível desse temporal sem fim, mas está difícil.

Como se já não bastasse essa tempestade com toda essa ventania, ainda está fazendo um calor insuportável, o que me obrigou a vestir um shorts jeans, uma regata e um colete por cima, e tênis escuros... Roupa essa que vai ficar encharcada em breve se eu continuar nesse temporal, minhas pernas já estão molhadas quase por inteiras.

Me obrigo a andar o mais rápido que consigo, e em poucos passos minhas pernas e principalmente as coxas doem pelo esforço, tudo isso tentando chegar a estação de metrô. Na tempestade de hoje, ônibus só significa pegar trânsito.

Por sorte não precisei sair para nada durante essa madrugada. Ouvi muito bem como estava granizando forte durante quase toda a noite.

Em passos largos, consigo chegar até a estação menos molhada do que imaginei. Passo pela catraca e subo para a plataforma para aguardar.

Como imaginei, a estação está com certa quantidade de pessoas, mas não amarrotada como costuma estar. Confiro as horas pelo relógio da estação, entendendo de cara o porquê de não estar tão lotada. Está muito cedo.

Aguardo por alguns minutos cruzando meus braços e olhando de um lado ao outro, até que o metrô finalmente chega. Me adianto e fico próxima a porta do vagão, me acomodando ali. São poucas estações mesmo, então não preciso me preocupar em pegar lugar para me sentar.

Dou um suspiro enquanto me seguro em um dos ferros, encostando o rosto no braço e fechando os olhos, mas me arrependo quando faço isso.

A mesma coisa de quando eu estava no banheiro aparece, igualmente estático como antes, mas agora... Muito mais próxima de mim.

Suas mãos muito mais perto, sua boca escancarada com os mesmos dentes afiados no mesmo sorriso macabro, e seus olhos em tons avermelhados fixos em mim, e seu corpo encoberto por escuridão... E o pior, agora é como se eu ouvisse sua pesada respiração por estar tão próximo.

Abro os olhos, levemente assustada. Observo em volta, vendo cada uma das pessoas distraídas em seu próprio mundo, sejam entretidos pelos seus celulares, livros, ou dormindo com a boca aberta.

Passo uma mão pelo rosto, tentando conter o nervosismo. Por acaso isso teria algo haver com a criatura dos meus pesadelos? Mas... Isso já não acabou? Não estou livre?

Brian não retornou a minha casa como disse que faria, então comecei a acreditar que estava livre. Mas também, em nenhum momento segui a orientação que recebi daquele psicólogo estranho, então isso pode ter alguma relação.

Tanto faz, é só minha mente me pregando peças sem graça.

Me distraio olhando mapa o mapa metropolitano da cidade. Por mais que eu já tenha visto esse mesmo mapa diversas vezes, é minha principal fonte de distração. Ficar vendo as várias estações de São Paulo, imaginando rotas aleatórias ou me perdendo nas cores das linhas é um passatempo tão bom, que toda vez que desperto, estou chegando à minha estação, e o mesmo se repete hoje.

É só uma pena que tenho um caminho embaixo de chuva pela frente, até conseguir chegar à faculdade. O único detalhe que me desanima é esse, mas fazer o que.

Mas nada que estrague meu dia, afinal, ainda estou leve e bem relaxada. Lembrar disso me faz dar um sorriso de satisfação para mim mesma. A porta se abre, e deixo o vagão, rumando à faculdade.

- Então, o Ricardo veio te buscar ontem... – Marina cantarola, enrolando uma mecha de cabelo em seu dedo.

- É, eu não esperava que ele viesse me buscar. – Dou um meio sorriso, dando de ombros por uma vez. Não quero contar em detalhes do que fizemos, por isso inventarei alguma coisa agora – Ele estava me achando muito estressada da faculdade, e me levou para almoçar, além de ficarmos andando pelo shopping.

Me observando por alguns segundos, minha amiga da um sorriso – Considerando que ele te levou para comer, já é algo bem relaxante.

- Se não estivesse chovendo, seria muito melhor... – Paro por um segundo, lembrando da sensação de estar sendo observada quando estava no estacionamento do condomínio, e pior ainda a silhueta que vi na janela, mas isso não faz sentido. Estávamos no décimo terceiro andar, e com certeza não teria como alguém estar do lado de fora do prédio naquela altura, ainda mais com aquela chuva. Penso em comentar sobre isso com Marina, mas é melhor não. Ela vai me achar maluca.

- Eu concordo com você... – Marina acaba bufando, me tirando dos meus pensamentos momentâneos – Eu gosto de chuva, mas onde moro é uma tortura. E o pior de tudo é que está chovendo desde sábado sem parar por nenhum segundo.

Balanço a cabeça assentindo com o que ela diz – Se você ainda morasse naquela outra casa, hoje teria sérios problemas.

- Chamar de problema é pouco. O lugar alagava com uma garoa. – Ela diz, cruzando seus braços e torcendo a boca. – A casa atual não é das melhores, mas pelo menos escapo desse problema de alagamentos... Nem quero pensar como está meu antigo bairro...

Penso por alguns segundos, tentando afastar meus pensamentos do clima que eu odeio. Direciono meus olhos a porta, batucando os dedos na minha mesa – Nada da Letícia?

- Mas menina, ela foi na gráfica a duas quadras daqui já faz uns dez minutos. – Marina diz rindo, olhando seu celular e começando a digitar algumas coisas que não me preocupo em tentar ver. – Daqui a pouco ela deve estar chegando.

- Tomara... – Dou um pequeno suspiro, tomada pelo tédio. Não deve ser tão demorado imprimir um trabalho, mas dou um desconto por causa do clima. Bato os dedos na mesa por algumas vezes, ainda um pouco pensativa.

A medida que o tempo passa, uma sensação estranha começa a tomar conta de mim. Uma inquietação incessante. Respiro fundo, olhando de um lado ao outro, sentindo um estranho temor se espalhando pelo meu peito. Não tenho ideia do porquê disso.

- Olha lá, a Letícia chegou. – Marina diz, segurando no meu braço e me arrancando dos pensamentos. Olho para a porta e vejo ela vindo até nós, e atrás dela está... – O que o Tiago está fazendo com ela?

Olho para Marina, erguendo minhas sobrancelhas com certa surpresa pela mini surtada dela. Por sorte ela não falou em voz alta. – Qual o problema nisso?

Marina me olha, incrédula enquanto eu sinto vontade de rir de sua reação – Esse garoto não tem aula não?

Agora Marina sussurrou devido a estarem próximos, e acabamos nos virando para os dois, que já estavam mais próximos – Desculpem a demora. Chegar à gráfica foi uma briga, pelo menos consegui imprimir tudo.

- Tudo bem, sem problema. – Alcanço o trabalho nas mãos da loira, que está envelopado em um plástico transparente. Analiso por cima, não vendo nenhum erro aparente – Saiu caro?

Ela balança a cabeça negativamente enquanto se senta – Não, menos de cinco reais.

Balanço a cabeça, retirando o trabalho do plástico e folheando com um sorriso de satisfação estampado no rosto, enquanto olho para Letícia. – Saiu barato... – Marina diz em satisfação, nos fazendo olhar para ela. Agora que percebo, ela mantém seus olhos no ilustre invasor – Aliás, o que o senhor está fazendo aqui?

- Minha aula sempre acaba mais cedo que a de vocês... – Tiago diz, enquanto se abaixa em meio ao nosso pequeno grupo, apoiando os cotovelos sobre as coxas. Ele passa seus olhos por cada uma de nós, dando um pequeno e calmo sorriso – E sinto vontade de visitar vocês.

- Tão cavalheiro. – Acabo ironizando, o que faz tanto eu quanto ele rirmos.

- Só um pouco sabe... – Ele da um suspiro – Não tenho tido nenhum trabalho como freelancer nos últimos tempos, e ir para casa tão cedo pra não fazer nada está fora de cogitação.

- Já está atrás de trabalhos? – Letícia apoia o rosto na mão, perguntando com uma clara curiosidade em sua voz – Você não tá no seu segundo semestre?

Ele da uma risada – Estou, mas é uma área meio chata... O que vale não é só experiência. Envolve muito um portfólio bem estruturado.

- É, por esse ponto de vista está certo... – Digo, guardando o trabalho novamente no envelope, me concentrando a manter os olhos abertos. Senti um cansaço repentino.

- Alguma de vocês moças não gostaria de fazer um álbum fotográfico para ajudar com meus trabalhos? – Ele diz, erguendo as sobrancelhas e dando risadas.

- Fará um preço razoável para nós? – Letícia questiona com um sorriso de canto.

Tiago faz um gesto com a mão, entregando um cartão imaginário para a loira, que logo entra na brincadeira – Me ligue, e acertamos os preços... E também o local das fotos.

Dou risadas assistindo a toda essa cena. Letícia gesticula lentamente, levando a mão ao bolso de sua calça como se guardasse o cartão recebido – Em breve entrarei em contato com o jovem fotógrafo para marcarmos tudo.

Balanço a cabeça negativamente, sem parar de olhar para os dois. Levo os olhos para Marina, que está levemente emburrada. Estranho isso a primeiro momento, só falta dizer que ela está com ciúme de como Tiago está agindo com Letícia... Não, isso não faz o menor sentido, até onde sei, ela sempre preferiu rapazes mais velhos, e alguém mais novo como Tiago nunca estaria dentro do radar de Marina, por mais atraente que ele possa ser.

Acabo cedendo ao cansaço, dando um longo bocejo e fechando bem meus olhos. As vozes ao meu redor se silenciam subitamente... Na verdade, tudo ficou quieto de repente.

Ouço um barulho próximo de mim, oculto dentro da escuridão... Não apenas isso, um desagradável ar quente com forte odor podre vem de encontro ao meu rosto, ele é lento, ritmado, é exatamente igual a respiração de algo grande. E do mar de escuridão que existe a minha frente, um vulto semelhante a uma pessoa surge pulando em minha direção muito rápido, agarrando meus braços e me erguendo do chão de uma só vez com suas mãos ásperas como uma lixa, gritando e rugindo para mim se forma extremamente ensurdecedora, com imensos dentes afiados próximos ao meu rosto, olhos em tons vermelhos. Meu corpo é chacoalhado violentamente no ar, meus braços sendo esmagados pela pressão de suas mãos, meus ossos parecem se partir, a dor me atravessa e minha visão embaça. Como se quisesse me estraçalhar com seus dentes, ele abre totalmente sua boca  rasgando a pele jorrando sangue sobre mim, os dentes crescem, e ele avança.

Abro meus olhos, dando um leve pulo e me segurando na minha mesa, respirando ofegante, contendo toda minha vontade de gritar de desespero. Posso sentir meu coração revoltado em meu peito, com repetidas batidas tão fortes que eu poderia dizer que irão começar a doer a qualquer segundo. O suor escorre pelo meu rosto, pingando do queixo a mesa, minhas mãos seguram firmemente as laterais da mesa e meu corpo por inteiro treme. Olho em volta, a luminosidade da sala, enquanto sou confrontada pelos olhares confusos de Marina, Letícia e Tiago.

O que acabou de acontecer?

- O que foi Clara? – Marina para ao meu lado pousando sua mão sobre meu ombro, que acabo me desvencilhando devido ao susto que acabei de ter. Ela me olha com certa surpresa em seu rosto... Na verdade, eu mesma estou surpresa por ter agido dessa maneira.

Olho de um lado ao outro, tentando organizar meus próprios pensamentos. Algo como uma distante risada, tomada por insanidade, parece ecoar pela minha mente. Todos ainda me olham, totalmente confusos. Tenho que dizer algo...

- N... Não foi nada... – Tento dizer, mas nem sei com qual tom minha voz saiu.

Marina me observa atentamente, passando suas mãos pelo meu rosto, mas dessa vez eu não fujo da minha amiga. – Nossa... Você está suando... E nem está quente aqui na sala.

- Está passando mal? – Tiago questiona, se erguendo levemente com uma expressão de total preocupação em seu rosto.

Balanço a cabeça algumas vezes. – Não... Estou bem, eu acho que... Tive um ataque de pânico repentino... – Digo, forçando uma risada, torcendo para que relevem o que acabou de acontecer.

Não deu certo. Eles continuam me olhando

Mas não é isso que ocupa meus pensamentos. Penso em algo nesse momento, por acaso isso teria haver com aquela criatura de antes, com toda aquela fantasia bizarra de sábado... Eu não sei o motivo disso, mas devo retornar ao consultório de psicologia para falar com Ferdinand.

Não sei o porquê... Apenas sinto que devo voltar lá... E é isso que farei.

Estou saindo da faculdade em passos largos, me esquecendo do fato de ainda estar chovendo forte. Pesco meu guarda-chuva dentro da minha bolsa e o abro com dificuldade, xingando sozinha por não conseguir ser tão rápida quanto gostaria.

Corro para o terminal de ônibus, alcançando o celular no meu bolso e toco a tela por algumas vezes, buscando o endereço que Letícia havia pesquisado no sábado. Ela não entendeu nada, mas me passou o endereço sem fazer perguntas, e eu agradeço por isso.

Pelo horário eu sei que não terei problema para pegar um ônibus, nem terei problemas com trânsito, sem falar que abusar do metrô sem integração vai sair caro, então essa é minha escolha. Me encolho embaixo do meu guarda-chuva, esperando o ônibus aparecer, e apesar de demorar um pouco, ele surge em baixa velocidade, parando na plataforma já pronto para o embarque. Fico grata ao planeta por pelo menos o ônibus ter assentos livres, e logo ocupo um.

Estou com receio de fechar os olhos, caso eu faça isso, aquela coisa pode aparecer outra vez. Desde a última vez que pisquei por mais de três segundos, aquela coisa surgiu, e eu me sentia incapaz de abrir os olhos novamente, a sensação é desesperadora... Além disso, sinto como se houvesse alguma coisa novamente dentro da minha mente, e por algumas vezes tenho a sensação de que algo surge repentinamente a minha frente e logo desaparece.

Mantenho meus olhos na janela, olhando para os carros, as pessoas, qualquer coisa que possa me distrair pelo caminho. Bato as mãos nos joelhos algumas vezes, sentindo o balançar desregulado e cada um dos barulhos que o ônibus faz. Eu gostaria de poder só estar indo para casa, acreditar que tudo já havia acabado, mas tenho a sensação de que ainda está longe de tudo acabar, e sei que devo fazer algo a respeito.

Dou alguns toques no meu celular, acompanhando minha posição pelo mapa, já estou próxima. Aperto o sinal e me levanto, esperando o ônibus parar e eu poder descer. Olho o celular uma última vez, são duas ruas de distância, logo o guardando no bolso da calça. Já reconheço coisas desse lugar. Dou alguns passos para longe do ponto, olhando em volta e já identificando o prédio que eu preciso ir.

As ruas daqui são perfeitamente alinhadas e são arborizadas, coisa que não percebi da primeira vez que estive aqui. Além disso, são claramente movimentadas em algum horário do dia, a julgar pela quantidade de carros que vejo estacionados pela rua, e de alguns pequenos grupos de pessoas engravatadas passando por mim.

Chego na rua onde está o prédio, dando um longo suspiro. Passo em frente a um restaurante, avaliando a lotação do lugar olhando pelas janelas. Fico na expectativa de encontrar Ferdinand ou Brian por entre as várias pessoas, mas não vejo nenhum dos dois. Balanço a cabeça e continuo, finalmente alcançando o prédio.

Entro em passos rápidos, e diferente da primeira vez, eu sigo direto aos elevadores, apertando o botão algumas vezes e cruzando meus braços aguardando. Olho para a pessoa na recepção, que pelo jeito sequer deu atenção ao fato que quase passei correndo. A porta abre, e entro ao elevador em um pulo, já colocando para o andar psicológico. Bato o pé, sentindo o movimento do elevador, sem saber se da primeira vez estava tocando música como está agora.

Acho que da primeira vez que vim aqui, eu estava tão fraca que sequer dei atenção a qualquer coisa. Eu sabia onde vir, mas mal conhecia a rua.

As portas se abrem com um sinal sonoro, e agora me encontro na mesma sala de recepção em tons brancos de antes. Olho em volta, o lugar tem algumas pessoas aguardando, lendo revistas e mexendo em seus celulares. Ignoro elas, e vou direto a recepção, vendo a mesma mulher de antes, olhando concentrada ao seu computador por trás de seus óculos. A medida que me aproximo, ouço o digitar rápido dela no teclado.

- Olá boa tarde... – Digo um pouco sem jeito, atraindo o olhar da mulher. Ela utiliza um fino terninho azul escuro com uma camisa branca, além de um relógio em tons prateados no pulso, e uma discreta correntinha dourada em volta do pescoço, e seu cabelo castanho está perfeitamente preso em um coque discreto.

- Olá moça, já está de volta... – Ela diz dando um sorriso bem amigável, juntando as mãos a sua frente, entrelaçando seus dedos.

- Sozinha dessa vez. – Digo sorrindo – Então nada de arruaça hoje... Desculpa pela última vez.

A moça ri com o que digo – Tudo bem, sem problema nenhum. Como posso ajuda-la hoje?

- É que... Bem... Ai meu pai, eu deveria ter marcado um horário. – Resmungo, olhando para o lado. Acho que foi alto demais, pois a mulher contém um riso, me olhando curiosa – É que preciso falar com Ferdinand.

- Certo... – Ela diz, erguendo sua sobrancelha para mim e movendo levemente o rosto para o lado, logo voltando seus olhos ao computador, digitando algumas coisas. – Foi com ele quem fez a consulta da última vez, certo?

Concordo balançando a cabeça. Assisto ela teclando algumas coisas, enquanto olho para o lado algumas vezes, esperando encontrar Brian passando por aqui. Provavelmente ele irá me ignorar, ou me olhar com desdém como da última vez. Lembro de como ele conversava animado e sorria para a recepcionista, e pensar nisso me causa uma sensação desagradável no estômago, isso sem mencionar a leve sensação de ciúme.

- Desculpe... Seu nome? – Ela diz, sem olhar para mim.

- Ana Clara Santos... – Digo, observando e ficando curiosa com o que ela faz.

Vejo a mulher pegando o telefone, digitando algo e aguardando, batendo a ponta dos dedos na mesa. Ela olha para a tela e então de volta para o telefone – Alô, senhor Ferdinand?... Ah, sempre confundo a voz de vocês, não tenho culpa por perguntar... – Ouvir isso faz eu sentir um frio na barriga por imaginar que possa ser Brian. Droga, por que estou assim, eu tenho que me controlar. – Sim, sou eu idiota. Escute, uma jovem que passou por uma consulta com você no sábado acabou de chegar. Disse que precisa falar com você... Ela se chama Ana Clara Santos... Sim... Certo, irei avisar.

Vejo ela colocando o telefone de volta no gancho, enquanto eu mesma fico em expectativa. Percebendo um homem vindo com uma prancheta em mãos, proclamando um nome e uma pessoa se levantando e o acompanhando. Acompanho o movimento com os olhos, ouvindo portas sendo abertas, e logo então fechadas.

- O senhor Ferdinand já está vindo. Aguarde só um instante. – Ela diz com um sorriso.

Assinto com a cabeça. – Certo, obrigada.

Cruzo os braços e aguardo, me encostando no balcão e olhando para as pessoas enquanto espero. – Quero perguntar algo... – Ouço a mulher falando – É intromissão minha, mas aquele rapaz da última vez era seu irmão mais novo?

- Meu namorado. – Corrijo-a com um pequeno sorriso no rosto. – Por que?

- Nada, só fiquei um pouco curiosa... Na hora tive impressão de ser irmão pelo jeito dele, ai agora eu aproveitei a chance para perguntar. – Não sei se vejo tanta credibilidade nessa resposta, mas decido somente ignorar. Percebo passos vindos do corredor, que atraem tanto minha atenção quanto a dela.

- Que se passa Jeniffer? – Ouço a voz de Ferdinand em um tom divertido, e ele se apoia no balcão, logo olhando em minha direção.

- Essa moça disse que precisa falar com o senhor. – Ouço a mulher, que agora descobri o nome, comentando e logo erguendo seus braços sobre a cabeça.

Ferdinand concorda com a cabeça, estendendo uma mão para mim – Tudo bem, Ana Clara senão me engano... – Afirmo com a cabeça – Siga-me, por gentileza.

Acompanho Ferdinand até seu consultório, assim que entro eu passo os olhos em volta, não encontrando Brian em lugar algum, o que me faz dar um pequeno e discreto suspiro. Me sento no sofá, olhando para Ferdinand que acaba de encostar a porta, dando a volta pelo seu consultório, se sentando bem a minha frente – Servida de algo? Chá? Café? Água?

- Não, obrigada... Estou bem... – Digo, erguendo uma mão. Acabo um pouco nervosa por voltar aqui, novamente eu não sei como reagir.

- Pois bem moça... – Ele começa a falar, alcançando uma xícara sobre um pires para si, servindo-se um pouco de café. Ele caminha lentamente até sua poltrona e se senta, me olhando com curiosidade ao mesmo tempo que beberica seu café – O que a trás de volta?

Aproveito para analisar seu tom de voz. Ele não está tão amigável como da última vez que estive aqui, mas também está longe de estar sério. Bem, e lá vamos nós de novo – Da última vez que vim, eu contei sobre pesadelos... Depois que vim aqui, eles pararam... Mas hoje parece que começaram de novo, de uma forma diferente.

Prefiro evitar de contar os detalhes do que houve no sábado. Aquilo tudo com certeza foi só um grande pesadelo fantasioso. Eu só cheguei em casa, deitei e dormi, não houve mais nada. Não houve nenhuma destruição em casa, que magicamente foi arrumada logo depois... Eu só cheguei e dormi, apenas isso.

Olho para Ferdinand, voltando de todos os meus devaneios. Ele está me analisando – Hm... Diferentes, me conte como.

- Agora se eu fecho os olhos por algum tempo, aquela coisa de antes aparece. – Digo da forma mais direta que consigo imaginar, sem saber se ele vai me levar a sério.

Ele bebe mais um pouco de seu café, deixando a xicara sobre a mesa de centro e então passa uma mão pelo queixo. Percebo que igual a primeira vez, ele usa luvas – Brian me disse que havia cuidado de tudo...

- Ai não... – Digo sem nem ao menos perceber. Um calafrio sobe pela minha espinha. Aquilo tudo realmente aconteceu, minha tentativa de imaginar que foi só um delírio acabou de desaparecer, que beleza.

Ele continua me olhando, pendendo seu corpo para frente sem parar de me olhar por um segundo que seja – Preciso que me diga, somente então poderei te ajudar.

Tenho que tentar me acalmar, organizar meus pensamentos. Tudo bem, pela lógica realmente aconteceu. Eu vim aqui, me lembro desse lugar, lembro que falei com a recepcionista, com Ferdinand, a terapia de hipnose que fiz, e agora sei que Brian realmente esteve em casa.

Hesito por um momento, mas a essa altura, o que pode me acontecer? Não acho que sairei daqui rendida por dois homens de branco, sendo jogada dentro de um carro com destino ao manicômio mais próximo.

- Ta, tudo bem... O que aconteceu é que, depois que cheguei em casa, aquela criatura dos meus pesadelos apareceu na minha casa e me atacou... – Digo, esperando qualquer descrença de Ferdinand. Ele sequer se move, não demonstra uma reação estranha. O homem continua me olhando atentamente – Não era um pesadelo, ele estava ali.

- Bem a sua frente... – Ele comenta, e eu confirmo – E depois?

Abaixo o olhar, me forçando a relembrar o que aconteceu. – A criatura apareceu, nos atacou... Quase morremos, mas o Brian apareceu e nos defendeu. – Ferdinand cerra seu olhar quando digo isso – Depois disso, o Brian foi embora, e não aconteceu nada estranho, até hoje... Comecei a ter visões daquela coisa só de fechar os olhos...

Vejo Ferdinand respirando fundo, retirando os óculos de seu rosto e esfregando os olhos por alguns segundos, como se não houvesse dormido direito – Certo. Temos um problema bem grande, obviamente Brian não eliminou aquele ser. Agora ele está se recuperando e voltando a te atacar aos poucos.

Mantenho meu silêncio, sem saber exatamente o que dizer. Nesse momento eu me pergunto quanta coisa esse psicólogo pode saber, e aliás, quanta coisa ele deve me esconder.

- Depois que o Brian nos salvou, ele explicou algumas coisas sobre aquela coisa... Disse que eu estava segura por algumas horas... Voltaria aqui primeiro para te falar o que houve, e retornaria a minha casa para ver como eu estava... – Dou um suspiro de frustração – E ele não voltou.

Balançando a cabeça, ele me observa – Entendi... Você tem tempo para esperar?

Ergo as sobrancelhas, estranhando essa pergunta – Acho que tenho. Por que?

- Temos a algumas coisas para resolver com Brian.

Acho que estou neste sofá esperando por quase meia hora. Desde que Ferdinand disse que precisamos resolver algo, ele me pediu para esperar... E assim o fiz.

Durante todo esse tempo, estou tentando me manter calma. Tanto por estar nesse lugar sozinha com um psicólogo bem estranho, quanto pelo fato de estar para encontrar com o rapaz que me permitiu ficar viva até hoje.

É cada situação que eu entro...

Dou um suspiro, olhando em volta. Ferdinand abriu um livro com uma capa acinzentada, se sentou em sua mesa e começou a ler, apoiando o rosto sobre uma mão e com uma expressão séria em seu rosto. Apesar de querer ver o que ele está lendo, encher ele de perguntas, eu me contento e mantenho meu silêncio.

Escuto o som da maçaneta, o que faz Ferdinand erguer sua cabeça. Eu olho em direção a porta, e Brian entra na sala aos risos com Jeniffer logo atrás o acompanhando, com uma blusa levemente molhada debaixo do braço. Ver os dois juntos me da um pouco de ciúme, mas ignoro isso de imediato.

- Nos falamos depois Brian... – Ouço Jeniffer falando próxima de seu ouvido, deixando a sala que nos encontramos, fechando a porta, deixando apenas o silêncio dentro deste ambiente. Brian nos observa, erguendo as sobrancelhas enquanto deixa sua blusa sobre o braço do sofá.

- Então meu consagrado... Acho que temos que conversar. – Ferdinand diz, com um tom descontraído até demais em sua voz. Eu olho em sua direção, ele mal se levanta de sua cadeira.

- Pode dizer, o que se trata? – Brian comenta, passando diretamente até a mesa de Ferdinand, sem sequer olhar na minha direção. Nesse momento, sinto como se eu não existisse.

Ferdinand fecha seu livro, e então olha para mim. Brian me observa por cima do ombro, da mesma forma indiferente de antes. – Se trata sobre aquela garota bem ali. Você terminou o seu trabalho?

- Terminei, fiz o que me pediu. – Brian diz, cruzando seus braços. – O que ela faz aqui?

- Ela veio dizer os resultados do seu trabalho. – Ferdinand diz com um sorriso de canto, me olhando e gesticulando para que eu me levante. – Clara, é sua deixa.

Acabo me levantando, chegando perto de Brian. Ele me observa, cerrando o olhar – A criatura não desapareceu. Na verdade, ela já voltou a me atacar.

- Sim, como o esperado. – Ele diz simplesmente.

Olho para ele, sem acreditar na forma simplista que ele me respondeu. Cruzo os braços, começando a me irritar. – Como o esperado? Você disse que iria voltar em casa.

- Por que não voltou Brian? – Ferdinand o questiona, com um tom mais sério.

Ele desvia os olhos de mim, mas também não olha para Ferdinand – Eu ia voltar... Vim aqui como disse que faria, mas no caminho... Tava muito calor, passei na frente de um bar... Sabe como é, eu parei para beber algo e me refrescar. Acabei esquecendo.

Encaro Brian, que não olha para nenhum de nós. – Não acredito nisso, você tinha falado que iria me proteger, voltaria em algumas horas... E só te vejo agora, praticamente três dias depois.

- Dias não são formados por horas? – Brian me observa, arqueando uma sobrancelha.

Eu não acredito que estou ouvindo isso. Continuo encarando ele, cada vez mais inconformada com essa resposta que acabei de receber. – Clara me disse que você prometeu proteger ela. Isso é verdade?

- Eu não sei... Eu prometi? – Brian olha para nós dois.

- Sim! – Respondo, agora bufando. Definitivamente, me estressei com esse cidadão.

Ferdinand respira fundo por uma vez, claramente incomodado. Provavelmente ele já se irritou com esse meu princípio de discussão com seu assistente. – Certo, então a situação muda um pouco. Se você prometeu que iria proteger ela, então é isso que você irá fazer.

- Por que eu deveria? – Brian refuta quase de imediato, apoiando suas mãos na mesa, mas mantendo a calma em sua voz – Até onde sei, não assinei nada que me obrigue a proteger ela.

- Ainda não assinou... – Ferdinand da um sorriso de canto – Deu sua palavra rapaz, e isso basta. Que confiança posso ter em você se der sua palavra como homem, e simplesmente não cumprir por birra?

Agora sou eu quem dou um sorriso e olho para Brian. Me diverte ver como ele está sendo pressionado, e não quero que isso pare agora. Ele bufa, mas não diz nada.

- Aliás, eu posso tornar isso ainda mais fácil! – Ferdinand diz, com um tom divertido em sua voz e mantendo um largo sorriso no rosto, mas que por algum motivo eu não sei se gosto. Brian e eu acabamos por nos entreolhar nesse momento. – Você assinará o contrato sim rapaz. E caso se recuse a isso, eu como seu superior imediato, irei providenciar uma desculpa bem convincente para que receba uma bela suspensão de cinco dias aqui do trabalho. E sabe o que isso significa, não é?

Passo os olhos dos dois homens, Ferdinand reage como se acabasse de contar uma piada, enquanto Brian acabou mudando sua expressão para como se acabasse de sentir uma forte dor de estomago, ou algo bem próximo a isso. – Não faça isso chefe, eu vou tomar um desfalque gigantesco se fazer isso.

- Eu sei. É por isso mesmo. – Ferdinand gargalha. – Afinal, um Mercedes como aquele seu não é barato, e muito menos se paga sozinho. Uma semana de faltas com certeza seria péssimo para seu orçamento.

O mais jovem bufa, franzindo a testa e olhando para baixo. – Tá, por quanto tempo?

- Somente até tudo isso acabar, e essa jovem estar livre da criatura... – Ferdinand diz mantendo um sorriso em seu rosto, que lentamente se desmancha. O tom brincalhão do homem desaparece por completo – Você percebeu, não é? Uma passagem para o Abismo não é algo que aparece todos os dias, e quando aparece é difícil de ser fechada, não posso te garantir um tempo.

- Podem ser dias ou semanas, não é? – Brian questiona, se mantendo sério.

- Exatamente. Depende de como a Clara reagir a tudo, e ainda mais na forma como a entidade aparecer. – Ferdinand da um suspiro – Em todos os casos, ela precisa ser protegida. Ela é uma verdadeira mina de informações que podemos conseguir.

- Oi, ainda estão me vendo aqui? – Balanço uma mão, chamando a atenção de ambos. – É de mim que estão falando, sabiam? Não estou gostando nada do rumo que essa conversa ta tomando.

- Em outras palavras... – Ferdinand da um suspiro. – O que aconteceu com você é um evento muito raro, e é a chance de estudarmos melhor.

Olho para ambos, dando um passo atrás. – Meu Deus, isso está piorando... O que vocês são?

Torcendo a boca, Brian balança a cabeça negativamente, já Ferdinand mantém um olhar sério para mim – Nós somos guardiões. Pessoas responsáveis por proteger aqueles que possuem um elo forte e são ameaçados por eventos sobrenaturais... Sejam esses vindos da Terra, Abismo, Inferno, e até mesmo do Céu.

- Que? Do céu? – Arqueio as sobrancelhas, incrédula.

- Ficaria surpresa com o quanto os anjos podem ser problemáticos... – Ferdinand diz com pesar na voz. Percebo que por alguns segundos ele passa os olhos pelos braços, e então retorna a mim. Ele sacode uma mão para mim – Mas deixa isso pra lá. O que importa é que você tem esse elo, e precisamos fazer com que ele suma... Assim poderá viver normalmente como o restante das pessoas... Suponho que seja isso que deseja.

Posso gostar da ideia de uma ou outra aventura de vez em quando, mas algo tão bizarro assim não está dentro dos meus planos. 

Tudo que estou sabendo parece ser uma grande fantasia de criança. Algo tão maluco que parece um sonho maluco que não acaba nunca. 

Dou um suspiro, praguejando em voz baixa – É, só quero voltar a minha vida... Isso é pedir demais?

- Faremos isso por você... – Ferdinand assente com a cabeça – Faremos o que pudermos para que possa voltar a sua vida o mais breve possível... E então Brian, o que me diz?

- Fazer o que... Trabalho é trabalho... – Ouço Brian resmungando, e acabo cerrando o olhar. Esse cidadão está me vendo só como um trabalho?

Olho para ambos, um pouco incomodada. – Clara, você e Brian precisarão realizar o contrato para que ele se torne de fato seu guardião e possa te manter protegida da entidade...

Ergo a cabeça, respirando fundo – Acho que não tenho outra opção... Como vai ser isso?

Olho para o rapaz mais jovem, ele passa uma mão pelo cabelo um pouco inconformado, e se aproxima de mim em passos lentos erguendo levemente seu braço em minha direção. Seu semblante é neutro – Irei criar o elo entre nós. Preciso que segure minha mão.

Fico um pouco relutante quanto a isso, e faço como ele pede. Seguro sua mão, sentindo a firmeza que ele aplica, o bastante para conseguir me deixar desconcertada, e longe de ser excessiva para me machucar. Brian fecha seus olhos por alguns segundos, erguendo sua outra mão em frente ao peito, muito semelhante a posição de uma reza.

- Neste espaço, ao toque do próximo minuto, um elo será formado. O nascer de um elo que simboliza união, companheirismo e proteção. A união entre o poder e o propósito da proteção. Eu simbolizo a salvação e preservação, você simboliza a minha motivação... Meu poder é o seu poder... Sua vida é minha vida... Pela sua vida... Eu serei seu guardião...

Ouço cada palavra de Brian, me sentindo paralisada. Não sei o porquê disso, mas apenas me entrego em cada coisa que ele acabou de falar, mesmo que ele tenha dito cada palavra de um jeito tão seco. Ao momento da última palavra, algo acontece.

Um estranho brilho emana do espaço entre nossas mãos, unido a um calor que começa a correr pelo meu braço, espalhando pelo meu corpo em cada pequena parte. Um fio dourado surge do pequeno espaço entre nossas mãos, girando em torno de nossos braços e unindo-se a nossa pele, logo desaparecendo.

Lentamente, o show de efeitos especiais desaparece, me deixando boquiaberta com o que acabei de ver.

Lentamente nossas mãos se abaixam. Apesar da seriedade em seu olhar, posso sentir calma por algum motivo que desconheço. – Está feito Clara... A partir desse momento, sou seu guardião. 

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