Capítulo 57 - A cria mais temível
6525 Palavras
Meu corpo não reage de forma alguma diante das figuras a minha frente. O choque de ver esse homem aqui me faz esquecer totalmente da dor no meu estomago ou qualquer outro incomodo pelo meu corpo.
Quaisquer dores são insignificantes agora.
Sinto meu corpo inteiro tremer de medo diante desses dois, minhas pernas fraquejam e não sei com quais forças ainda continuo de pé. Já tivemos a maior dificuldade para conseguir enfrentar a entidade, quem iria imaginar que o Cara do Casaco apareceria acompanhado de um dragão maior que esse prédio?
É aquele tipo de coisa que não dá pra prever.
Ele permanece estático, sentado na beirada da laje apoiando o rosto sobre a mão, enquanto o forte vento faz seu longo cabelo e roupas voarem livremente. Seus olhos passeiam por cada um de nós, mantendo um curto sorriso enquanto nos analisa continuamente. Da mesma forma que aconteceu no nosso último encontro, não faço ideia do que se esconde atrás desse sorriso, muito menos desses olhos.
O colossal dragão de escamas negras também nos observa atentamente. Seu imenso par de asas estão abertas, essas sendo tão grandes que é difícil enxergar as pontas, chega ao ponto de cobrirem parte do céu. Seus movimentos são lentos devido ao imenso tamanho de seu corpo, mas é possível ouvir os movimentos que o dragão faz.
- Há alguns minutos... – O homem começa a falar de repente, sem olhar diretamente para mim ou para meu antigo guardião – Reparei uma estranha movimentação e o surgimento de várias presenças desconhecidas, algumas bem fortes... Porém uma delas desapareceu assim que cheguei... Enfim, não esperava encontrar tantas pessoas, muito menos uma construção desse porte. Como vocês chegaram aqui?
Sua pergunta não tem uma resposta. Talvez pela incerteza da maioria dos presentes, e pelo medo que Brian e eu sentimos nesse momento. Seus olhos voltam em minha direção, e acho que ficou mais do que óbvio que a pergunta foi feita para mim.
Engulo em seco. Mesmo que eu possa dar uma resposta, não consigo abrir a boca para dizer qualquer coisa que seja. Meus pensamentos não conseguem se acalmar para serem postos em palavras, e cada novo segundo só me deixa mais aflita.
- Ei... – Escuto um sussurro contido ao meu lado. Olhando para a pessoa, vejo se tratar de uma garota que já vi algumas poucas vezes pelos corredores da faculdade – Vi um pouco do que aconteceu lá embaixo, como você e seu amigo lutaram com aquela coisa... Eles não parecem amigáveis... Acha que podem fazer alguma coisa contra esses dois?
Ela olha fixamente para mim, logo voltando sua atenção ao dragão e se encolhendo de imediato, ignorando totalmente o homem a sua frente. Essa criatura colossal é o que mais está assustando a todos, mal sabem eles que esse homem é um perigo tão grande quanto o monstro atrás dele.
Olho de soslaio para Brian. Somente seu olhar é o bastante para dizer que é impossível enfrentarmos esses dois, ainda mais na nossa condição atual, mesmo assim sutilmente ele balança a cabeça negando.
Amanda teve sérios problemas quando enfrentou apenas o Cara do Casaco, e acho que ela fez isso estando no seu melhor estado. O que eu e Brian podemos fazer contra dois deles, ainda mais tão esgotados?
- Desculpa, mas não... – Sussurro de volta para a garota. Minha voz está tremula, enquanto encaro principalmente o homem a minha frente. O encontrei poucas vezes, mas foi o suficiente para descobrir que ele esconde muito atrás dessa simples aparência – É impossível pra nós... Eles estão em um nível diferente daquela entidade de antes...
O imenso dragão se mexe de repente, aproximando a cabeça do telhado. Os tons vermelhos do céu tingem suas escamas enegrecidas que reluzem como se fossem feitas de algum metal. Sua aproximação me faz recuar um passo e me encolher de medo, o que aconteceu com todos os demais a minha volta, que acabam gritando.
Parando a cabeça próximo ao Cara do Casaco, o dragão abre sua imensa boca por onde um sufocante ar quente escapa numa nuvem esbranquiçada. Apenas ser tocada por todo esse ar quente me faz suar por inteira.
- Por que não eliminamos todos de uma vez...? – Uma voz estrondosa como um trovão ecoa no ar, e perplexa encaro o dragão sem nem piscar. Esse bicho fala?
- Não é necessário Alaarn... – O homem responde sem sequer se abalar. De canto de olhos ele observa o dragão, mantendo o sorriso calmo – Um mesmo final aguarda cada uma dessas pessoas naturalmente. Portanto, não é preciso apressar tanto as coisas...
Meu Deus, agora que me toquei nesse detalhe... Essa coisa é o Alaarn?
A Tamires já esteve de frente com isso?
- Eles não são nada além de parasitas invasores neste lugar... – Novamente a voz ecoa no ar. Os olhos do dragão que estão focados nas costas do homem, se viram para nós e um rugido agressivo pode ser ouvido – O que ganha os mantendo vivos?
- Nada em especial. Talvez... Encontrar humanos aqui no Abismo... – A atenção do homem retorna a nós, e seu sorriso cresce um pouco – ... Amoleça meu pouco coração... Ver isso me faz vislumbrar certas coisas...
- Você tem um coração? – O dragão questiona em desdém.
- Minha irmã insiste que sim, e ela não costuma mentir. – Responde. – Meio que acredito nela.
Um instante de silêncio se arrasta e o assoviar do vento pode ser ouvido perfeitamente. O dragão então ergue um pouco sua cabeça, e acho que em uma ação automática todos acompanham seu movimento que transmite imponência e pavor.
Não sou nenhuma especialista em entender expressões de dragões, mas acho que ele está nos encarando com desdém.
- Como chegaram até aqui Clara? – Escutar meu nome me deixa nervosa, e relutante volto os olhos para ele.
Inspiro profundamente, e solto todo o ar pela boca em uma bem sucedida tentativa de recuperar minha calma – Foi aquela entidade que estava em mim.
- Achei que ela havia desaparecido. – Responde erguendo uma sobrancelha.
- Foi uma surpresa pra mim também, acreditei mesmo que ela tinha sumido. – Explico pousando minhas mãos na cintura – E tudo aconteceu muito rápido. Do nada toda a faculdade apareceu aqui, e a entidade nos atacou... É tudo que sei.
Ele segue me olhando, não sei se acredita no que eu disse – Só isso? – Pergunta.
Aceno a cabeça levemente – Sim, é tudo que eu sei.
Ele passa a ponta dos dedos pelo queixo em um semblante pensativo – Entendo...
Um detalhe me vem em mente – Não sei se ajuda, mas... Eu acho que a entidade pode ter se tornado uma cria do Abismo antes do exorcismo.
- É, pode ser... – Ele diz encarando o chão, ainda no mesmo ar pensativo – Acho que uma cria do Abismo teria poder o bastante para fazer algo desse tipo...
- Talvez esse também seja o motivo que ela tenha continuado viva depois do ritual de exorcismo que fiz. – Constato e o Cara do Casaco concorda com a cabeça.
- Acho que tem uma questão mais importante agora. – Brian se pronuncia avançando um passo, atraindo toda a atenção para si. Ele até pode tentar manter alguma postura, mas eu que o conheço um pouco sei que ele está bem inseguro. – Existe alguma saída daqui?
Escutamos uma risada curta ecoando forte pelo céu, claramente vinda do dragão. Ele nos encara de cima – Existe alguma saída do seu mundo? – Diz sarcástico.
- O que? – Ouço Brian sussurrando.
O dragão abaixa sua cabeça vagarosamente, parando bem próximo do telhado e encarando Brian diretamente – Para vocês humanos, existe alguma saída do seu mundo?
- Não existe uma saída física daqui para a terra. – O Cara do Casaco os interrompe – São planos dimensionais diferentes, por isso uma passagem convencional é inexistente.
- Espera um pouco... – Sussurro avançando alguns passos, e tantos pares de olhos voltados a mim finalmente começa a incomodar – Existem as portas.
Segurando uma risada, o Cara do Casaco me olha – Você considera portas abertas mentalmente como uma passagem convencional?
- Elas são uma passagem, não é? – Insisto juntando as sobrancelhas.
- Então... Até são... – O homem diz em uma careta, e suas sobrancelhas vão ao alto – Mas você lembra o que aconteceu quando aquele bicho passou pela porta e entrou na sua cabeça, certo?
- Nesse caso as portas não são opções, poderíamos acabar igual à entidade. – Brian cruza seus braços e encara o chão por um curto instante, e então volta a observar o homem – Espera, você disse que não existe uma saída física... Mas não disse que não existe nenhuma forma de sairmos daqui...
- Exato, você está certo. – O homem sorri de canto com o que Brian disse – De fato existe uma maneira de irem embora daqui... Uma "saída".
- E qual seria essa saída? – Brian insiste.
Erguendo os braços ao lado, o Cara do Casaco sorri mais – Eu mesmo.
Olho em volta, meu ex guardião parece não ter entendido muito bem o que o Cara do Casaco quis dizer. Além disso, me dou conta de quanta gente saiu da parte coberta e veio para o terraço ver o que está havendo. Esse lugar está lotado, mas apesar disso, apenas eu e Brian estamos próximos dele, os demais estão acuados próximos à porta.
Mesmo tão cheio, as várias pessoas ao redor não parecem estar entendendo muita coisa da nossa conversa. Na verdade, para eles deve ser tanta coisa maluca acontecendo num só dia que deve ser difícil processar tudo.
A maioria deve acreditar que tudo isso é um pesadelo que não conseguem acordar... Mas uma coisa é certa. Só olhar para seus rostos é o bastante para saber que estão bem desconfiadas.
O silêncio instalado no lugar é rompido por alguns sussurros vindos detrás de mim. Tantas conversas que, pelo pouco que ouço, não levarão a lugar nenhum. Não acho que possa contar com alguma dessas pessoas nessa situação.
Voltando meu olhar ao homem a minha frente, tento raciocinar sobre o que ele disse. A saída daqui seria ele mesmo, o que será que ele quis dizer com isso? O que será que não estou me lembrando sobre ele?
Encaro meu pulso, observando a pulseira de ouro que o Cara do Casaco criou na última vez que me encontrei com ele, e num estalo uma lembrança me surge – Por acaso isso tem alguma relação com a "vontade"?
- Vontade? – Brian questiona sussurrando.
Ergo os ombros – É, esse é o nome do poder que ele tem. – Nisso, ergo o braço com a pulseira e sacudo levemente – Foi ele quem me deu isso aqui na última vez que encontrei ele, criou essa pulseira na minha frente... E depois abriu um portal e sumiu...
Brian tem uma expressão no mínimo estranha no rosto. Não sei se é pelo fato que "ganhei um presente" do Cara do Casaco, pela minha péssima escolha de palavras e ter dado a entender que estive me encontrando com ele nos últimos tempos, ou então se é porque estive com o causador de muitas dores de cabeça e sequer contei para ele.
- Vejo que ainda se recorda do nosso último encontro Clara... – O Cara do Casaco diz de repente, atraindo nossa atenção. Ele ergue sua sobrancelha, encarando meu pulso – Me impressiona o fato que você ainda tenha e esteja usando essa pulseira. Achei que a essa altura, já teria jogado ela fora.
- Isso aqui é ouro, você acha mesmo que vou ser doida de jogar fora? – Respondo brincando, e ele aumenta o sorriso, rindo baixinho – Inclusive, você ainda não me respondeu.
- Certo... – Ele apoia novamente o rosto sobre a mão – Você acertou, estou me referindo à vontade. Posso enviar todos vocês de volta... Se bem que, o ideal será apagar a memória de todos antes... Afinal, o que viram aqui pode ser potencialmente traumático.
- Isso tudo é mentira! – Alguém acusa aos gritos de repente. Uma mulher mais velha se aproxima, e algumas pessoas com uma expressão fechada vêm logo atrás. Identifico ela como sendo uma das professoras, elas aponta o indicador para o Cara do Casaco e continua – Você não pode fazer nada disso!
Olho surpresa para a professora, e outra pessoa se pronuncia. Dessa vez um homem, que a julgar pelo terno folgado e bastante desalinhado, é um dos controladores de acesso – Você ta só tentando se aproveitar dessa maluquice toda pra se achar o bonzão e mandar em todo mundo.
Algumas das pessoas trocam olhares entre si e novamente sussurram coisas. O Cara do Casaco sequer se moveu, ele acompanha tudo com os olhos.
- Acho que ela está certa. – Um rapaz emerge do mar de pessoas e aproxima-se da professora em passos largos – Pensem, não é conveniente demais tudo isso acontecer e ele aparecer com uma solução mágica?
- Isso mesmo, isso tudo é enganação dele. – O controlador de acesso se pronuncia novamente.
- Fala sério, quem aqui está acreditando em meia palavra do que ele diz? – A professora se pronuncia novamente, olhando para todos ao redor. A maneira como ela fala expressa bastante autoridade, e muita gente está pendendo a ficar do lado dela. – Tudo que ele diz é mentira! Ele só pode estar querendo nos enganar!
- Aliás, quem é ele? Alguém já viu ele na faculdade antes?! – O rapaz exclama.
- E essa garota? – Ouço uma voz feminina, e empurrando algumas pessoas, uma garota surge apontando para mim, e já entendi que as coisas vão piorar muito. – Ela é daqui por acaso?
- Acho que essa aí é do curso de administração. – O rapaz diz novamente, e vários pares de olhos recaem sobre mim. – Já vi ela na sala do curso algumas vezes, o que tem ela?
- Vocês também repararam que ela estava de papinho agora com esse esquisito? – A garota diz novamente balançando o indicador na minha direção e apontando para o Cara do Casaco, e diante da multidão se aglomerando a minha frente, acabo recuando um passo.
- E não foi ela que estava brigando com aquela coisa lá embaixo? – Outra pessoa diz em meio a um grito, essa não consigo ver quem é por estar no meio de todas essas pessoas.
- Foi ela sim! E junto dela estava esse estranho que veio buscar ela algumas vezes. – Dessa vez apontam para Brian, que está calado olhando toda a bagunça.
- Era ela quem estava lá embaixo antes, e agora também é ela quem está de conversinha com esse esquisito. E se os dois estiverem juntos nisso?! – A garota de antes diz apontando para mim sem parar, e as vozes de todos começam a se aglomerar.
- Faz todo o sentido, eles estão querendo aproveitar toda essa bagunça pra mandar em todo mundo aqui... Na verdade, eles devem ser os culpados de tudo isso! – A professora nos acusa aos gritos enfurecidos, seus olhos queimam em ferocidade.
- É Clara, acho que você ficou famosa... – Brian diz ao meu lado, olhando tenso para todas as pessoas nos acusando.
- Só eu? – Respondo sem desviar os olhos deles, tentando escolher qual insulto atropelado irei ouvir a seguir. – Os ânimos deles já se alteraram demais, não faço ideia de como resolver isso...
Antes que eu diga qualquer outra coisa, alguém acabou de arremessar um objeto na direção do Cara do Casaco. Percebo que se trata de um caderno que passa próximo ao seu rosto, ele porém, sequer se abala. – E você desce daí! Se vocês são os culpados, vocês tem que sumir!
O dragão aproxima mais do Cara do Casaco, e mesmo olhando para as várias pessoas, os insultos enfurecidos não param – Humanos são sempre uma piada... Me pergunto o que você conseguiria comandando algumas dúzias de ratos assustados como eles... – Ele diz de repente, enquanto que o homem apenas ergue os ombros em resposta. É uma surpresa que sua voz estrondosa não fez todos se calarem.
Várias pessoas pegam objetos e começam a arremessar contra mim, Brian, e também contra o Cara do Casaco. Cubro a cabeça com os braços, e Brian entra na frente impedindo que algumas das coisas me atinjam, quando uma parede de sombras é erguida a nossa frente, impedindo que qualquer outra coisa nos atinja.
De relance olho para o Cara do Casaco, ele está com uma mão apontada em nossa direção, mas sua atenção está focada em todos, que xingam e continuam jogando coisas contra ele. Todos estão mesmo ignorando o fato que uma parede de escuridão apareceu de repente?
Eles não param. Continuam arremessam copos, lixeiras, placas, até mesmo um extintor de incêndio é arremessado. Muitos dos objetos passam por ele, alguns outros o atingem em cheio, mas o Cara do Casaco continua imóvel diante da multidão enfurecida, ele inclusive, continua sorrindo tranquilamente.
De repente, me dou conta que uma cadeira foi arremessada, e apesar de passar longe dele, acaba acertando outra coisa, e um rosnado irritado pode ser ouvido.
A cadeira acertou Alaarn.
Todos se calam imediatamente, o próprio Cara do Casaco está com os olhos arregalados. Boquiaberto ele rapidamente vira seu rosto para o dragão, que já está erguendo sua cabeça, e em meio a um rosnado enfurecido, chamas surgem em sua boca.
- Calma Alaarn! Não faz isso! – Ele grita erguendo uma de suas mãos, porém o dragão não cessa o movimento, e uma baforada flamejante sai de sua boca.
Sem qualquer reação apenas observo a imensa onda de chamas vindo em nossa direção. Ouço os gritos desesperados por todos os lados, mas eu mesma não consigo gritar. Não consigo me mover, meu corpo inteiro não tem forças diante disso. Não consigo fazer nada.
De repente um manto enegrecido surge cobrindo todo o telhado do prédio, nos fazendo mergulhar no mais profundo escuro. Ruidoso impacto das chamas pode ser perfeitamente ouvido acima de nós, posso sentir o impacto atravessando meu corpo e fazendo o prédio tremer.
Consigo observar o Cara do Casaco. Ele está de pé com uma de suas mãos erguidas, e dela uma quantidade impressionante de escuridão está sendo liberada para o céu e cobrindo boa parte do prédio. Graças a ela, boa parte das chamas espalham para os lados e caem sobre as arvores que rodeiam o prédio da minha faculdade.
O barulho ensurdecedor cessa, e o véu sombrio sobre o prédio se dissipa, permitindo que a pouca luminosidade do céu nublado volte a iluminar tudo em seus tons vermelhos. Me dou conta que uma boa quantidade de fumaça se vê presente, acho que a floresta está queimando.
O dragão mostra seus dentes e por entre eles, novas fagulhas flamejantes surgem. Ele abre a boca para uma nova baforada, porém uma imensa mão moldada de trevas atinge sua mandíbula em um baque pesado. O dragão ergue seu rosto com o impacto, e a imensa mão fecha a boca do dragão, impedindo um novo ataque.
- Já acabou? – Ouço o Cara do Casaco dizendo, enquanto mantém sua atenção totalmente voltada ao dragão negro. Mesmo que sua voz tenha soado calma, ela foi completamente intimidadora. Diante da falta de ação do dragão, a escuridão se dissipa e ele volta a ficar livre. O Cara do Casaco vira para as pessoas e os encara, dessa vez seu semblante para nós é diferente. Seu olhar, sua presença, tudo nele se tornou completamente assombroso – Ótimo... Agora, quanto a vocês...
O homem desaparece como um vulto do local alto onde se encontrava, e gritos de susto podem ser ouvidos logo atrás de nós. Brian e eu nos viramos para ver o que está havendo, e encontramos o Cara do Casaco em meio a todos, com sua mão pousada gentilmente sobre o ombro da professora que até a poucos minutos lançava suas acusações e objetos sobre ele.
O olhar da professora mistura espanto e pânico absoluto.
O mais completo silêncio recai sobre nós, todos o encaram com semblantes assustados, e aparentemente estão incapazes de se mover. Neste momento, é possível escutar perfeitamente assoviar do vento e também o barulho do fogo queimando as arvores.
- Quero lhes dizer uma coisa... – Diz calmamente, enquanto o olhar da professora vira temeroso para ele – Esta região não é um dos locais mais seguros, existem muitas criaturas ao redor deste prédio que ainda são violentas e não atacaram porquê nós dois estamos aqui... Vocês estarem vivos agora, é apenas um mero cuidado meu.
De um segundo ao outro, um imenso cristal transparente surge envolvendo completamente o corpo da professora. O pavor é unanime nas expressões de todos, até mesmo eu estou sem palavras diante do que acabou de acontecer.
O cristal lentamente começa a emitir um vapor branco, e a cada segundo ele fica cada vez mais fosco, ocultando o corpo da professora em seu interior. Só então entendo que a professora acabou de ser congelada.
O Cara do Casaco ergue uma de suas mãos, e uma estranha chama azulada surge. Ele fecha seu punho extinguindo a chama numa névoa azulada, e logo em seguida, exatamente a mesma coisa acontece com todos as demais pessoas ao redor dele.
Todos são envolvidos pela mesma prisão de gelo que a professora, e pelas suas expressões no interior do gelo, eles mal tiveram tempo de entender o que estava acontecendo.
O sombrio homem se afasta do pilar de gelo que envolve a professora, levando as mãos aos bolsos do seu sobretudo, enquanto o ar frio visivelmente se espalha pelo telhado, tanto que arrepios percorrem toda minha pele.
Após um sepulcral silêncio, sons de rachaduras surgem, e percebo grandes fissuras surgindo em toda a extremidade do gelo que prende a mulher, e em questão de segundos o mesmo passa a acontecer com o das demais pessoas, enquanto que o Cara do Casaco mal olha para eles.
As prisões de gelo se partem uma a uma, e todos aqueles que estavam aprisionados em seu interior desabam no chão em quedas abafadas. As pessoas estão com olhares estáticos, todas assombradas e tremendo sem parar, todos incapazes de se erguer.
- Então... Esse é o poder da vontade? – Olho para Brian, ele está boquiaberto encarando o Cara do Casaco. Seu queixo treme e seu olhar está abalado, assustado diante disso. – A Amanda... Tentou enfrentar isso? – Ouço ele dizer em uma voz tremula.
Virando seu olhar sobre o ombro, o Cara do Casaco encara a todos no chão. Ele está muito diferente do homem que vi até agora. Ele não exibe nenhum sorriso, sua postura não apresenta nenhuma descontração, seu olhar sombrio demonstra a ameaça que ele realmente é.
- Que fique claro para cada um de vocês... – Ele volta a falar, erguendo uma mão e imediatamente uma aura avermelhada envolve o corpo de todos, fazendo os vários pedaços de gelo espalhados pelo chão derretam ao ponto de evaporar. Devagar as pessoas param de tremer, até serem capazes de se mover novamente, e olham assombradas para ele – Se eu quisesse, todos nesse prédio já estariam mortos... Porém, não é essa minha intenção.
Voltando seus olhos a nós, o Cara do Casaco se aproxima de mim e Brian. Ele me abraça com um pouco mais de força como se isso pudesse me sentir um pouco mais segura. Se fosse em qualquer outra situação eu até poderia me sentir mais protegida... Mas diante desse monstro, acho que isso é simplesmente impossível.
Neste momento, ele é tão assustador quanto o colossal dragão atrás de si.
Ele para seu caminhar perto de nós, nos encarando de cima numa expressão inflexível, e meu corpo inteiro treme de medo. Sua boca encurvada para baixo e seus olhos fixos em nós, e mal sei o que esperar a seguir.
Sua presença é quase como uma personificação das trevas.
Ele respira fundo, soltando o ar pela boca. Ele ergue seus braços se espreguiçando por longos segundos, logo abrindo um novo sorriso brincalhão e numa expressão muito mais leve do que a de segundos atrás – Desculpem pelo Alaarn. Acho que deu pra reparar que ele não gosta muito de pessoas... Ainda bem que ele não está irritado hoje... E acho que não ajudei muito, as vezes não consigo pegar leve.
Apesar de seu tom de voz leve e também suas risadas, nenhum de nós se atreve a dizer qualquer coisa. Olho fixamente para ele, ainda pensando em como reagir ou o que dizer. Talvez a primeira coisa que eu deva fazer é parar de tremer, e tirar da cabeça a ideia de correr daqui... Afinal de contas, tenho minhas dúvidas se isso daria certo.
- Certo, acredito que vocês dois estão mais calmos do que eles, e também são os dois de mais alto nível por aqui... Então, será com vocês que continuarei essa conversa. – Ele continua falando, e engulo em seco tentando acreditar que ele não vai nos fazer passar pelo mesmo que os outros.
- Qual conversa? – Brian questiona com cuidado.
- Ué, sobre mandar vocês de volta? – Devolve erguendo uma sobrancelha, olhando do meu antigo guardião a mim algumas vezes. – E então, o que me dizem? Vai dizer que não querem?
Reflito sobre isso, mas foram tantas coisas em tão pouco tempo que no agora, as palavras me fogem. Nem sei definir o quão tensa estou diante disso tudo, e por mais que eu saiba a resposta que eu daria a ele, não encontro forças para falar uma palavra.
- Olha... Eu vou entender caso vocês não confiem em mim e, por consequência, decidam por negar a minha oferta. – Ele comenta calmo, olhando para as pessoas ao redor que se encolhem assustadas – Também entendo caso vocês queiram tentar a sorte aqui no Abismo. Se for essa a situação, então saibam, eu irei embora de imediato e não voltarei a incomodá-los...
Brian se levanta e, respirando fundo, também me ergo, sem tirar os olhos do Cara do Casaco.
Ele passa seu olhar por todos, e lentamente seu sorriso aumenta. Ele assiste as pessoas no chão sendo amparadas pelas demais, e aos poucos sendo levadas para longe dele.
Logo então, ele aponta descontraído na direção ao dragão negro. – Porém, não posso garantir a sobrevivência de vocês com o Alaarn por perto, ele odeia humanos sabe? ... Ele quase me matou quando nos encontramos da primeira vez, ele é tão forte quanto eu. – Seu olhar apresenta um desafio lançado a todos, e seu sorriso mostra o prazer e diversão que está tendo com o silêncio de todos – A decisão... É de vocês...
Ele está claramente nos incitando a aceitar sua proposta.
Assisto a hesitação de todos, até finalmente alguns começarem a conversar entre si, mantendo suas atenções no Cara do Casaco a todo momento. – O que você acha Clara? – Brian pergunta.
- Não tenho a menor ideia... – Respondo abaixando os ombros – De qualquer jeito, nossa situação já não está boa. Não temos muitas opções...
- Será que dá pra confiar nele? – Sussurra encarando o homem de soslaio.
Nego com a cabeça – Já o encontrei outras vezes, mesmo assim não tenho certeza. Não sei se ele nos enviará de volta ao nosso mundo, ou se vai nos jogar num lugar ainda pior... – Em um suspiro, ergo meus olhos para o imenso dragão por longos segundos – E se negarmos, a situação que nos espera também não é nada boa.
- Talvez... – Brian começa, e olho no fundo de seus olhos – Talvez devêssemos arriscar aceitar essa proposta... Vimos o que esse dragão pode fazer e nem sabemos se esse é o limite dele, negar é morte certa.
- Eu concordo... – Sussurro abaixando o olhar – Acho que nem nos meus melhores dias conseguiria segurar um poder daqueles...
- Nós temos uma decisão? – Brian sussurra, e concordo com a cabeça – Vale arriscar.
- Antes disso, quero perguntar uma coisa. – Digo de forma que atraio a atenção do Cara do Casaco para mim. – Você consegue mesmo mandar todos de volta? Lembro que em outras vezes, você disse não conseguir fazer algo por estar cansado.
Ele solta uma risada curta – Sim e isso é verdade. Usar a "vontade" é extremamente exaustivo, ainda mais por repetidas vezes. Por isso prefiro minha escuridão... Só que no agora estou em perfeitas condições, por isso acredito não ter problemas em usar a vontade mais uma vez.
Olho para Brian por um momento, em seguida olho para todos atrás do homem. Alguns me observam em expectativa, pelo visto a decisão final realmente será minha.
Diante dessa situação, balanço a cabeça levemente – Tudo bem... Nós aceitaremos sua proposta.
- Pois bem... – Ele sorri de canto – Irei recuperar todos que se machucaram e apagarei as lembranças de todos como disse que faria, e então os mandarei de volta. Porém, se acontecer algo que remeta aos acontecimentos de hoje, as memórias da pessoa virão à tona.
Nenhum de nós diz qualquer coisa. Não sei se essa foi à escolha certa, mas estou decidida a arriscar. Afinal, acho que na nossa situação atual, temos muito pouco a perder.
Sombras surgem em torno do Cara do Casaco, até se moldarem num imenso para de asas de pura escuridão. Elas se abrem e num movimento ele se lança ao céu, pairando a uma distância considerável de nós.
De repente uma sombra imensa surge atrás de nós, e me virando, vejo o grande par de asas abertas. O dragão bate suas asas iniciando uma ventania extrema. Cubro o rosto e consigo ver o corpo colossal do dragão se erguendo do chão, voando para longe do prédio e rumando para algum lugar desconhecido do Abismo.
Voltando meus olhos ao Cara do Casaco, sua figura sombria se destaca no céu vermelho e é impossível não vê-lo. Ele está ergue suas mãos e aponta na direção do prédio, e nesse instante, busco a mão de Brian e a seguro com força.
Trocamos um olhar preocupado e apreensivo. Se ainda existe algo a dizer um para o outro, diremos sem usar uma palavra sequer, afinal consigo entender tudo que ele tem a me dizer apenas lendo seus olhos. Nossos dedos se entrelaçam num aperto confortável, e ele gesticula afirmativamente com a cabeça.
Nesse curto momento, consigo me sentir segura e certa da escolha que fiz.
Volto meus olhos para a figura que representa o Abismo, esperando por algo que não sei exatamente o que é. Aos poucos, toda a dor e cansaço do meu corpo vão desaparecendo, consigo respirar mais leve e também me sentir mais leve.
Meus pensamentos tornam-se confusos e turvos ao passar de cada segundo. Minhas lembranças dissipam da minha mente como se fossem sopradas ao vento, tudo se torna estranho e confuso, meus olhos não focam em mais nada, e de repente, tudo apaga.
O ar escapa dos meus pulmões de repente, meu corpo soa inteiro do calor que estou sentindo e estranho à repentina barulheira que não parece muito distante de mim. Ao abrir meus olhos, eles são ofuscados pela estranha e intensa luminosidade sobre mim, e piscando algumas vezes, consigo enxergar melhor o lugar onde estou.
A princípio não sei direito onde estou, parece o terraço de um prédio, isso explica todo o calor e também a luminosidade. E além de mim, várias outras pessoas estão na mesma situação, despertando com expressões confusas. Inclusive, Brian está aqui também.
O que aconteceu?
- O que está fazendo aqui? – Questiono Brian, enquanto fico de pé com dificuldade. Quanto tempo será que estou largada no chão?
Resmungando com a mão na cabeça, Brian me olha – Não tenho certeza... Lembro que nós tínhamos marcado de nos encontrar, mas nem lembro de ter saído de casa hoje.
- Então, você não vai saber dizer o que aconteceu? – Ele responde erguendo os ombros.
- Gostaria, mas não vou conseguir. A última coisa que lembro foi de ter deitado para dormir, e então acordar aqui. – Ele olha passa seus olhos ao redor – Aliás, onde é aqui?
Eu também quero saber. Vou para o parapeito do prédio e olho em volta. A princípio demoro um pouco para identificar as ruas, porém reconheço o terminal Santo Amaro logo a frente quase que de imediato, e logo entendo o local onde estamos.
Olho para Brian sobre o ombro, que aguarda minha resposta – Estamos no telhado da faculdade.
- Ta bem, então a pergunta é como chegamos aqui. – Ele diz confuso, e uma movimentação começa próxima a porta do lugar.
Várias pessoas se amontoam nas portas, algumas entrando no telhado, outras saindo. Sem contar o fato que todos estão falando ao mesmo tempo, dificultando bastante entender qualquer coisa.
- Só um minuto Clara... – Brian diz abaixando seu olhar e apalpa seus bolsos de repente, pegando seu celular e atendendo uma ligação e andando para um local mais afastado de toda essa bagunça. Ele vai conseguir, o telhado é grande. – Ferdinand? ... Ei, calma... Calma, eu estou bem sim, por quê todo esse desespero? O que houve?
Olho para meu antigo guardião se afastando aos poucos enquanto passa uma mão pelo pescoço, e devido à distância entre nós e o todo barulho, já não consigo mais ouvir o que ele está falando com seu chefe.
Respiro fundo olhando ao redor, tentando lembrar o que aconteceu e como vim parar aqui na faculdade, mas por mais que eu tente, não consigo lembrar de nada. Gostaria que alguém pudesse me explicar, mas a julgar pela cara de todo mundo, duvido que isso vá acontecer.
Vejo Marina surgindo pela porta com uma expressão que mistura confusão e também curiosidade. Ao me ver, ela abre um largo sorriso amigável e vem em minha direção.
- Finalmente achei alguém conhecido. – Ela diz risonha ao se aproximar – Ah Clara, antes de qualquer coisa... Sabe dizer como eu vim parar aqui? Não lembro nem de ter saído da cama...
- Estou tentando descobrir a mesma coisa. – Dou um meio sorriso e ergo os ombros – Também não faço ideia.
Marina solta um suspiro frustrado, levando as mãos à cintura – Qual será a maluquice que aconteceu dessa vez? – Antes que eu possa responder, ela fica na ponta dos pés olhando para algo atrás de mim – Não é o Brian bem ali?
- Sim, é ele mesmo. – Respondo sem nem me virar, e Marina muda sua expressão – O que foi?
Ela olha de um lado ao outro, e então chega mais perto – Você já conversou com ele sobre aquilo? – Pergunta num sussurro.
Nego com a cabeça – Nem tem como. Ainda nem fiz o teste.
- Onde está o teste que comprei para você? – Questiona me encarando fixamente.
- Na minha bolsa... – Digo olhando para mim mesma, e então correndo os olhos pelo chão na esperança de encontrá-la largada, mas não é o que acontece. –... Que eu não sei onde está agora.
Cruzando seus braços, Marina revira os olhos – Fazer o que, fica pra próxima... Inclusive, ele está vindo pra cá.
Viro-me para ele, e encontro Brian com uma expressão estranha. Ele está com os olhos voltados ao chão e com uma mão na testa, estando nitidamente atordoado com algo. Nunca o vi com uma expressão dessas antes.
O que será que Ferdinand pode ter dito que o deixou tão abalado?
- Algum problema? – Questiono assim que ele se aproxima, porém não obtenho uma resposta. Ele continua correndo seus olhos pelo chão. Tenho até a impressão de vê-lo tremer. – Brian?
Seus olhos erguem a mim e depois para Marina. Ele está boquiaberto e seu olhar tem algo que não sei dizer o que é. Sua expressão se tornou indecifrável nesse instante.
Brian respira fundo tentando falar algo, porém leva alguns segundos até finalmente expressar alguma palavra – Desculpe Clara, mas eu... Eu tenho que ir... É que... Surgiu uma emergência, preciso ir encontrar Ferdinand o quanto antes...
- Ah... – É tudo que consigo expressar diante de sua reação. Alguma coisa muito grande deve ter acontecido mesmo. – Tudo bem, eu entendo... Nos falamos depois?
- Sim... – Diz em voz baixa – Sim, eu te ligo assim que puder...
Dito isso, Brian vira e saí apressado do telhado desaparecendo por entre as várias pessoas, deixando a mim e Marina sem entender muita coisa. O meu único palpite é que ele estava desesperado, mas não sei com o que... E nesse estado apressado dele, duvido ter uma resposta.
- Tá... – Marina comenta de repente – Isso foi muito estranho...
- Sim, muito estranho mesmo... – Digo num suspiro profundo, torcendo a boca. – Bom, se estamos aqui, a Letícia e o Tiago também devem estar. Vamos atrás deles?
- Na falta do que fazer né? – Marina brinca passando seu braço pelo meu ombro, me arrancando um sorriso divertido, e seguimos de volta para o prédio.
Depois de um tempo procurando, conseguimos encontrar Tiago pelos corredores. Porém não encontramos Letícia em nenhum lugar da faculdade. Talvez ela nem esteja aqui, ou por não encontrar ninguém, já tenha ido embora.
Não julgo se ela tiver feito isso. A faculdade virou uma verdadeira baderna por ninguém ali saber direito o que estava acontecendo, então aproveitando essa brecha, Marina e eu voltamos a nossa sala onde encontramos nossas coisas largadas.
Isso só gerou mais perguntas do que pode ter acontecido, mas são todas perguntas que não temos a menor ideia de qual seja a resposta.
De qualquer jeito, recolhemos tudo e agora estamos saindo da faculdade e rumando ao shopping. Já que ainda está muito cedo para ir para o trabalho, decidimos que seria uma ótima ideia passar o tempo por lá.
Antes de sairmos, Marina disse que eu poderia aproveitar o momento para fazer meu teste, só que não o encontrei na minha bolsa. Talvez esteja em casa, ou quem sabe eu tenha perdido. Bom, seja como for, não quero pensar nisso agora, minha barriga revira de nervosismo só de pensar nessa possibilidade.
Olho meu celular por mais uma vez, e desde o momento que Brian saiu do prédio, não consegui mais falar com ele. Mandei algumas mensagens perguntando se estava tudo bem, e apesar de chegarem, ainda não foram visualizadas. Pelo último horário de visualização, ele nem mexeu mais no seu celular.
Estou preocupada com ele e com o que pode ter acontecido, ainda mais por ter visto ele daquele jeito, mas não ficarei insistindo. Esperarei que ele me ligue, como disse que faria.
Seja como for, estou leve, tanto corpo quanto mente. Não estou com mil tensões no corpo, e meus pensamentos, apesar de nebulosos, estão calmos, e de uma forma que eu não me sentia já há algum tempo. Tenho a sensação que um peso invisível foi tirado dos meus ombros, e finalmente consigo me sentir em paz.
E com certeza, essa é uma sensação que a muito eu esperava ter.
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