Capítulo 4 - A Entidade e o Guardião
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Fecho a porta atrás de mim, Ricardo e Letícia já foram para a sala. Eu sinceramente esperava um resultado bem diferente depois de ir a um psicólogo, mas agora eu me sinto diferente. É como se alguma coisa estivesse martelando na minha mente desde que acordei daquela terapia bizarra.
Sons parecem ecoar na minha cabeça, o motor do carro, buzinas, toques de celular, o som da tranca da porta, os meus passos, tudo parece ecoar repetidas vezes, do mesmo jeito como se eu estivesse de ressaca. Sem falar da impressão horrível de incontáveis vozes ecoando na minha mente.
Nem preciso dizer como isso está de dando uma bela dor de cabeça.
Vou para a sala a passos curtos, alcançando o sofá e me sentando. Olho primeiro para Ricardo, que me esperava de pé e acaba de sentar ao meu lado. Ele segura um saco de um drive-thru que passamos antes de vir para casa, mas nenhum de nós sequer tocou nos lanches, por mais que eu estivesse ansiosa para comer algo. É meu lanche favorito e não consigo comer.
Olho então para Letícia, que anda de um lado ao outro. Nenhum de nós fala nada, não temos muito o que falar. Ricardo já saturou qualquer reclamação enquanto ainda estávamos entrando no carro, e agora não temos nem o que reclamar sem ficar ainda mais chato.
Pensando agora, a única recomendação que Ferdinand me deu é que eu voltasse para casa e tentasse me acalmar de alguma forma, me recomendou alguns chás que eu poderia preparar que me ajudariam nisso... Mas algo me incomodou de verdade.
O tom que Ferdinand usou depois que despertei foi muito sério, o bastante para me deixar assustada... Sem contar com aquela mensagem no meu celular que ele sequer tentou explicar... É como se ele soubesse de algo que não sei, e esse pequeno detalhe está martelando meus pensamentos. Balanço a cabeça, tentando afastar quaisquer pensamentos. Percebo então Ricardo falando.
- ...O que o Ferdinand disse sobre chás mesmo? Eles acalmariam? – Ele olha para mim, e então para Letícia, esperando que uma de nós respondêssemos, mas não é isso que acontece. Ricardo então se levanta e me continua – Claro, te ajudariam a se sentir melhor. Irei preparar um para você agora.
- Não precisa, sério... – Respondo, forçando um sorriso. – Acho que é só em caso de eu precisar descansar.
- Tem certeza? – Ele abaixa bem a minha frente, segurando as minhas mãos – Não quer que eu prepare algo para você?
Dou um sorriso um pouco maior. Não tem como eu não achar fofo ele querendo cuidar de mim desse jeito, por mais que muitas vezes ele seja irritante – Tenho sim, não precisa preparar nada. Só ter sua companhia aqui já é ótimo para mim.
- Bem... Acho que estou sobrando aqui. Vou ir na cozinha beber uma água. – Letícia diz, isso faz eu e Ricardo rirmos. Ela então alcança o saco com os lanches da mão de Ricardo, e acenando para nós, ela continua – Quando acabarem, me chamem... Estarei matando quem me mata.
Vemos Letícia saindo da sala, nos deixando sozinhos. Ricardo está me olhando, segurando minhas mãos. Não tenho ideia no que Ricardo está pensando nesse momento. Agora que penso melhor, eu devo ter enchido ele de preocupação, e toda vez que fica assim, ele não sabe bem como reagir.
Ele não me diz nada e apenas fica me olhando, sempre quando ele faz isso, começo a sorrir igual uma boba, e acho que é assim que estou agora. – O que foi?
- Não posso ficar te olhando? – Ele sorri.
- Claro que pode... Só fico sem jeito – Respondo rindo.
- Não quer deitar um pouco? – Ele questiona. Essa foi a melhor ideia que ouvi dele o dia inteiro, e me sinto tentada a aceitar.
- Só preciso levar essas cobertas todas para o meu quarto... – Olho para o lado, antes que eu pense em fazer algum movimento, Ricardo se ergueu e pegou tanto as cobertas quanto meu travesseiro, lançando debaixo dos braços. – Não quer ajuda?
- Pode deixar que cuido disso. Será bom que você descanse. – Ele me responde, dando um beijo na minha testa.
Dou um sorriso, e então digo – Você é um fofo, e fica me mimando desse jeito... Mas antes de irmos... – Me viro em direção a cozinha – Letícia, já pode vir!
Ela aparece no batente da porta, com a mão cheia de bolachas de água e sal nas mãos. Olhando primeiro para mim, e depois para Ricardo, ela diz – Vocês têm certeza? Não querem mais uns 5 minutos?
- Não precisamos. Pode parar de assaltar os armários. – Respondo levando as mãos a cintura.
Ela então sai da cozinha, e rindo, Letícia diz ao passar por mim – Quando precisar desse tempinho é só me falar.
Ricardo cerra o olhar para ela – Por que está comendo bolachas, e não seu lanche?
Letícia olha de um lado ao outro – Porque eu estava com fome, mas queria comer o lanche junto de vocês dois?
Dou risada – Não precisa se incomodar, pode comer sem problema.
Seguindo primeiro, Ricardo sobe em direção ao meu quarto, Letícia logo atrás, e eu por último. Antes que eu termine de subir a escada, tenho uma sensação estranha.
Sinto uma pontada de dor na minha cabeça e pressinto mais alguém aqui, e instintivamente olho para trás. Não tem nada. Ué, que estranho.
Ignoro isso e vou para meu quarto. Ao entrar encosto um pouco a porta, Ricardo já estava ajeitando meu travesseiro no lugar, e tinha separado a coberta na ponta da cama. Sendo mimada assim, eu não terei vontade de fazer nada o dia inteiro, tenho que pensar em alguma forma de agradecer Ricardo por estar cuidando tanto de mim, mesmo eu sento má agradecida.
Ele olha para mim, dando espaço para que eu me deite, tiro meu tênis apenas, e então me deito. Ele senta na beirada da cama, passando a ponta dos dedos no meu rosto
- Não vai tirar toda essa roupa? – Ele me pergunta.
- Por favor Ricardo... – Letícia para bem a minha frente, se abaixando. – Não é hora de você ser um tarado.
Acabo rindo com esse comentário. Ricardo coça a sobrancelha com a ponta do dedo, e então responde – Não estou sendo um tarado. Só acho melhor tirar essa blusa para poder ficar mais confortável.
- Vou fingir que acredito. – Respondo, me sentando na cama. Admito que ficar na cama de blusa e jeans não é uma ideia muito agradável, principalmente no calor que está fazendo hoje, mas não estou com vontade de tirar nenhuma peça do meu "grandioso" visual de hoje – Se o assunto é ficar deitada, então é uma coisa que posso fazer com qualquer roupa.
- Você é maluca. – Letícia me responde rindo.
Rindo junto, mas logo se calando, Ricardo me pergunta – Clara, você está se sentindo melhor?
Olho para ele, posso ver em seu rosto como está preocupado, e isso não diminuiu em nenhum momento. Tudo que ele já fez por mim hoje, veio aqui em casa em um dia de chuva pesada, tomou um baita banho, e ainda continuou cuidando de mim, e ainda não é nem meio dia. Tudo que posso fazer agora é agradecer ele, e o melhor é ser sincera, eu realmente não me sinto melhor. – De verdade, não muito... Desde que saímos de lá, estou com uma sensação estranha.
- Sensação...? – Letícia me olha, erguendo uma sobrancelha. Ela endireita sua postura, olhando para Ricardo e então para mim – Pode explicar melhor?
- Não dizei dizer... É como se... Se algo estivesse... – Paro de falar. Uma dor de cabeça terrível surge de repente.
Levo minhas mãos à cabeça, sentindo como se ouvisse algo dentro da minha mente... Passos... Batidas... Vozes... A dor se torna mais intensa a cada segundo, minha cabeça parece que vai explodir. A dor é tanta que parece se espalhar pelo meu corpo. Não consigo me conter, eu grito. Com todo o folego que tenho eu grito de dor, me contorcendo de agonia. Eu pisco algumas vezes, mas não enxergo direito.
Tudo se apaga, e então a volta. Tento olhar em volta, meu rosto está úmido, estou chorando de dor. Tento enxergar Ricardo, ele está bem a minha frente, mas não consigo olhar para ele. A dor não deixa.
Uma outra vez tudo apaga, e então voltou de novo. Tudo apaga uma última vez, e assim permanece. A dor começa a passar aos poucos. Escuto as vozes de Ricardo e Letícia, mas não entendo o que dizem. Estou ofegante, sentindo meu corpo suando. As dores diminuem aos poucos, pulsando menos na minha mente, até finalmente sumirem, me deixando com a respiração desregulada.
Volto a enxergar melhor, meu quarto está todo escuro, a luz que temos é apenas o pouco que entra pela janela. Tudo aqui está calmo, o barulho da chuva do lado de fora é tudo que podemos ouvir. A escuridão aqui se mantem, agora me vem em mente que algo não está certo.
Eu não sei como, mas tenho certeza que algo aqui está muito errado.
De repente a luz liga novamente, qualquer vestígio das dores que senti desapareceram por completo, como se nunca tivessem existido. Levanto meu olhar aos poucos, vendo algo a minha frente. Uma nevoa escura e alguém parado... Espera, O que?
Diante de nós, bem em frente a porta, uma figura deformada, imóvel e sorrindo para mim. Mas, esse é... É a mesma coisa que apareceu nos meus pesadelos. Como?
Como essa criatura está aqui agora, bem diante de nós? Isso deve ser uma alucinação, um outro pesadelo. Isso não pode ser real. Olho para Ricardo e para Letícia... Eles não olham para mim, estão olhando para essa coisa. Eu começo a tremer. Como isso é possível?
Ele começa a rir de forma destorcida, sem parar de me encarar. Seus olhos estão arregalados e cravados em mim. Tenho consciência que se eu me mexer, ele vai saber. Pela primeira vez eu o analiso. Seu corpo é ainda mais magro do que nos pesadelos, esquelético e com uma tonalidade acinzentada, estranhamente deformado, tem cicatrizes, muitas por todo o corpo, pequenos cortes abertos, e possuí o que parecem ser estacas e facas fincadas por todo seu corpo.
- Olá olá Clara... – Ele diz de repente. Sua voz é arrastada – Se lembra de mim?... Eu sou sua sensação estranha... Melhor que seu pesadelo... – Ele deu um passo a frente junto ao som do que parecem ossos estralando. Isso não pode ser real. Não pode. Coloco as mãos na boca, evitando gritar, mas já choro de horror com o que vejo.
- O que é isso? – Ricardo diz com a voz baixa, ele se levanta, ficando na minha frente.
- De onde essa coisa veio? – Letícia se afastando com medo nos olhos.
- Por que está tão assustada...? – Ele diz, posso ouvir que ele deu mais um passo pesado no chão, posso ouvir o rachar do chão com toda a força dele. Um temor me percorre, atravessa minha espinha, meu corpo não se move, apenas está tremendo em choque – Tremendo... Tremendo... Tremendo... Eu gosto disso... Você... Seu corpo... Sua alma será minha!
Vejo Ricardo avançando em direção a essa coisa que também avançou. Ricardo tenta impedir, ficando na frente e tentando segura-lo, ele tem dificuldade, é empurrado para trás e quase perde o equilíbrio. Eu levanto da cama, bem em tempo de ver Ricardo sendo levantado do chão de uma vez por apenas uma mão, e arremessado contra o teto em um forte e ruidoso impacto, batendo com tanta força que até o ventilador de teto e parte do teto é danificado, vindo ao chão junto com ele.
Eu tento chegar perto, porém sou golpeada no rosto antes de alcançar meu namorado. Sinto meu corpo levemente erguido, e sou arremessada ao chão, com força o bastante para um zumbido começar na minha cabeça.
Pisco algumas vezes, a coisa continua olhando para mim. Estou zonza, não consigo levantar por mais que eu queira. Toco o canto da minha boca, percebendo o vermelho forte do meu sangue na ponta dos meus dedos.
Volto a olhar, Letícia bem ao lado da coisa, ela está sendo totalmente ignorada. Consigo ver ela puxando uma gaveta do móvel ao lado da cama e jogando contra a coisa com toa a força. Letícia consegue acertar o braço dele, já pegando uma segunda gaveta sem perder tempo. Ela avança, eu vejo que ela acerta o rosto dele o que o faz virar com o impacto. Tudo que havia na gaveta foi ao chão, e a própria gaveta quebra sua lateral.
Ela tenta acertar a coisa uma outra vez, mas parece que a gaveta só atravessou o corpo dele. Letícia é agarrada pelo braço, levantada no ar com facilidade e jogada na minha direção, se chocando no guarda-roupa e caindo no chão, de uma forma que até eu sinto o impacto.
Eu olho para ela, mas ela parece estar desacordada. – Vocês dois... Não tenho interesse... Não se metam, ou começarei por vocês... – ele diz em voz baixa, quase cantarolando de uma forma distorcida. Sua voz parece ecoar pelo quarto.
Ele se vira novamente para mim, pendendo a cabeça para o lado, enquanto um sorriso surge em seu rosto. Não parece haver nenhum machucado do golpe que recebeu de Letícia.
Ele da um passo pesado, a nevoa fica mais densa. Ele curva o corpo para frente com os braços soltos arrastando a ponta dos dedos pelo chão, se aproximando lentamente de mim, abrindo sua boca em um largo sorriso. Seus passos esmagam o chão de tão pesados, seu olhar avermelhado pulsa intensamente. Tento me afastar, mas meu corpo dói demais. Eu posso ver, ele está saboreando o meu terror.
Me arrasto, e ele continua me olhando. Não tenho como sair daqui, estou cercada em meu próprio quarto. Ele estende a mão em minha direção, posso sentir como se um gigantesco vazio se aproximasse de mim. Quando iria me tocar, eu fecho os olhos com força, e posso ouvir um barulho muito forte, a porta do quarto sendo aberta com um forte golpe.
Abro meus olhos, a coisa está olhando em direção ao barulho, tento enxergar o que entrou, mas é muito rápido, um vulto escuro se movendo, vejo um corte aparecendo na barriga da criatura. O corte feito liberou uma fumaça negra junto com o que pareciam gotas de sangue em um tom verde-escuro que manchavam todo o chão. Mais um movimento e um outro grito era ouvido, e outro, e mais outro, a mesma névoa com sangue escuro surgiam, se espalhando pelo chão do quarto. A figura que atacava se moveu para trás da coisa, tão rápido que mal pude enxergar direito quando parou bem a minha frente, quase como uma muralha viva.
Posso ver ele desferindo golpes como cortes incessantes, e então um som que parece de um forte golpe, tão forte que consigo sentir o impacto no meu corpo e até nas coisas em volta.
- Suma! – Escuto essa voz familiar, antes de uma luz e uma intensa explosão de cor branca e dourada surgir totalmente do nada, arremessando a coisa contra a parede e a fazendo desaparecer de uma vez, sem deixar vestígios.
Um silêncio absoluto se espalha no quarto. Posso ouvir uma respiração pesada bem a minha frente, quase em um suspiro. Estou surpresa, olhando melhor na direção dessa figura diante de mim, ainda sem entender o que acabou de acontecer em tão poucos segundos.
Quem está a minha frente é alto, quase imponente. Ele me olha por cima do ombro, não sei o que vejo, se é desprezo ou indiferença para mim, ou se é só fruto da minha imaginação. Ele se vira, eu percebo ser o mesmo rapaz que estava na sala de Ferdinand mais cedo.
Está vestido com o mesmo fino e diferenciado terno, escondido por um sobretudo cinza escuro muito estranho, de gola alta e com estranhas placas que parecem ser de algum metal escuro presos na altura da cintura, vejo pequenas correntes presas em sua cintura, parecendo ser de um relógio de bolso, e detalhes que pareciam metal presos no tecido em seus ombros e cintura, mas percebo ser apenas uma estranha costura. É uma estranha noção de estilo, mas na minha situação atual, eu não tenho o que falar nada sobre estética em roupas.
- Você está bem? – Ele pergunta, se abaixando devagar bem na minha frente. Sua voz foi quase seca, mas soou até suave para mim.
Eu não respondo de imediato. Eu estou sem reação com tudo que acabou de acontecer aqui. Eu tento falar, mas minha voz sai fraca – Eu... Estou sim...
- E vocês dois, como estão? – Ele pergunta, sem sequer se virar. Eu percebo agora que Letícia já estava erguida e com a mão na cabeça, e Ricardo começava a despertar, resmungando de dor.
- Eu acho... Acho que estamos bem... – Letícia diz, soltando alguns gemidos doloridos. Ela tenta manter a postura ereta, mas não consegue fazê-lo por muito tempo, voltando a curvar o corpo, apoiando na cômoda – Muito doloridos, mas bem. Obrigado por salvar nosso pescoço.
Ainda não sei o que dizer. Continuo no chão, olhando na direção dele. Olho novamente para Ricardo, e tento alcança-lo, quase me arrastando pelo chão. – Ricardo, você está bem? Por favor, diga que sim...
- Está tudo bem Clara... Eu estou bem... Meu corpo está todo ferrado, mas vou sobreviver. – Ele diz, tirando o que restou do ventilador de cima de seu corpo. Entre um gemido e outro, vagarosamente o ajudo a se erguer. Ele abana sua roupa, tirando os pedaços de concreto que estavam nele. Eu o olho por inteiro, tentando ver se ele não está com nenhum machucado mais grave, mas por sorte ele não parece ter sofrido nenhum outro ferimento sério. Ricardo então olha para mim e diz – E você, está bem? Aquela coisa te machucou?
- Ele não me feriu tanto, estou bem... – Eu respondo, sentindo os dedos do meu namorado passando pelo canto da minha boca. Meu corpo está quente, tanto que eu não consigo sentir dor nenhuma agora, mas tenho plena noção de como eu vou sofrer mais tarde. Espero que minha mãe tenha alguns analgésicos. Mesmo assim eu me olho, procurando por algum machucado, mas não acho nada. – Estou bem mesmo.
Letícia então fica séria, olhando desconfiada para esse rapaz. – E quem é você mesmo?
- Meu nome é Brian... Assistente do Ferdinand... – Responde, sacando um pano branco do bolso de seu terno, e assim limpando a faca em sua mão em movimentos calmos e aparentemente precisos. Eu sequer tinha notado essa faca, muito menos em um modelo desses.
- Bem... Obrigado por ter nos salvado... – Eu agradeço, ficando um pouco acuada.
- Não é hora para isso... – Ele diz de repente em um tom calmo, sem desviar os olhos da faca, analisando sua lâmina cuidadosamente quase como se estivesse se vendo no reflexo no ferro. Posso dizer que ele sequer está se importando com a situação agora, acho que está hipnotizado. De repente ele olha para cada um de nós – Aquilo pode, e vai voltar a qualquer hora.
- Mas... Mas o que é aquela coisa? – Ricardo pergunta. Posso perceber como sua voz carrega a dor que ele está sentindo.
- Podemos dizer que é uma entidade sobrenatural. E pelo jeito veio do Abismo... – Ele responde, eu não sei como reagir.
- Entidade? Abismo? – Letícia questiona. São coisas que eu queria perguntar, mas sequer consigo organizar meus pensamentos.
- Isso mesmo. Aquela coisa apareceu aqui por você ter aberto à porta. – Brian suspira por um longo período. Ele olha na minha direção, me analisando de cima a baixo com uma expressão de puro tédio. – Agora, parece que ele vai brincar de te perseguir.
- Que? Porta? – Questiono, sem entender. – Eu não abri porta nenhuma.
Ele balança a cabeça – Pelo visto você não se lembra... No consultório você disse que encontrou a porta...
- E por que essa coisa está fazendo isso? – Letícia pergunta. Eu tenho que agradecer ela por estar perguntando tanto.
Pela expressão que fez, acho que ele pensou em responder, mas parou antes de falar qualquer coisa. O vejo dando alguns passos calmamente pelo quarto e então finalmente responde – Vou falar a verdade, eu não sei ao certo... Pelo que entendi quando vocês passaram na consulta mais cedo, ele era só um pesadelo que essa garota ai estava tendo. Mas por algum motivo ela encontrou e abriu a porta, e agora a coisa toda ganhou vida e se tornou real... – Ele olha para mim novamente. – Antes de qualquer coisa, eu quero saber, por que vocês foram em uma consulta de psicólogo?
- Foi minha ideia. – Ricardo diz, erguendo a mão.
- Ah... Ta, entendi... – Ele leva uma mão em frente aos olhos e balança a cabeça por algumas vezes unido a um suspiro. – Teria sido melhor se ela não tivesse ido. Talvez passando um dia se distraindo, a própria mente dela teria apagado o pesadelo e a criatura iria junto.
- Nós falamos que foi uma má ideia... – Letícia ergueu as mãos. Ricardo a encara em uma expressão irritada, como se a mandasse calar a boca.
Vejo Brian olhando para Letícia. Ele torce a boca e concorda com a cabeça – É, mas.... Agora já foi, fazer o que né.
- Mas e agora? – Pergunto. – Se essa coisa voltar, o que vai dar pra fazer?
- Por agora... – Ele para, passando uma mão pelo rosto. Pelo jeito, está pensando em alguma coisa – Eu acho que não tenho muita escolha, também pelo pedido de Ferdinand, vou ter que protege-la por enquanto... Claro, se você me permitir.
Ricardo entra no meio, agarrando Brian pela gola da camisa. Isso foi tão de repente que eu dou um passo para trás com o susto. Pelo que eu vejo no rosto de Brian, ele mal se abala com a atitude do meu namorado. – E por que a Clara deve confiar em um estranho como você, que invadiu a casa dela?
- Porque, se fosse para confiar em um inútil como você, acho que à uma hora dessas ela já estaria morta... – comenta arqueando as sobrancelhas e dando um sorriso de canto, afastando a mão de Ricardo com um tapa. – Preciso lembrar de quem foi a ideia de levar a garota aí para um psicólogo por causa de um mero pesadelo?
Essa resposta não agrada Ricardo. Não me agrada.
Eu olho para Letícia, mas ela está tão paralisada quanto eu. Nenhuma de nós esperava isso. Me forço para frente, tentando chamar a atenção de Ricardo, mas ele me ignora. Ambos se encaram, um tenso e o outro calmo, mas não havia como Ricardo discutir... Afinal, é verdade que ele não conseguiu fazer nada e querendo ou não, a ideia foi dele, nós gostando disso ou não.
Novamente eu tento trazer Ricardo para perto de mim, tentando acalma-lo – Ei Ricardo... Olha pra mim... Respira, calma...
Ricardo agora me olha, ele está sério demais. – Como vou ficar calmo?
Eu sinceramente, não sei o que responder. Eu sei bem que meu corpo inteiro está tremendo, então como vou passar calma para ele. – Ficar bravo agora não vai adiantar...
Ele bufa, olhando para mim, e então para Brian. Voltando seu olhar para mim, ele então me fala, quase em um sussurro. – Confia nele?
De cara eu estranho essa pergunta. Sinceramente eu não esperava isso, mas eu entendo Ricardo, sei onde ele quer chegar. Penso que ele me questiona por ciúme, mas é pura questão lógica. Independente de ter nos salvo, ele é um desconhecido que invadiu minha casa.
Eu balanço a cabeça negando, quase de imediato. – Não! Eu não confio... Mas estou pensando em aceitar a oferta dele.
- Por que?! – Ricardo reclama, sua voz foi carregada de indignação.
Eu suspiro, tentando entender ele. Olho na direção de Letícia buscando algum auxílio, mas acho que não seria uma boa ideia. Não devo enfiar ela ainda mais nisso – Que outra opção eu tenho?
- E então? Aceita minha ajuda? – Brian questiona de repente, atraindo nossa atenção.
- E por que eu deveria? – Retruco. Eu me viro para ele e cruzo os braços – Sério, por que eu devo aceitar qualquer ajuda sua?
Ele da de ombros, agora que percebo que a faca que ele segurava desapareceu, não está em nenhum móvel, e nem mesmo parece que ele guardou em algum momento. Brian então começa a falar – Porque neste momento, eu sou o único aqui neste quarto que tem condições para te tirar dessa situação... Ou no mínimo, te manter viva por mais algumas horas. – Responde de uma forma sarcástica. Se eu buscava qualquer tipo de conforto vinda dele, então eu quebrei a cara.
- De verdade Clara... – Letícia começa a falar, eu a olho – Acho que é agarrar essa chance... Quero dizer, vendo a situação toda que passamos, se ele realmente pode te ajudar, é o melhor a se fazer.
- Ah não, você também?! – Ricardo questiona. Eu encaro ele. O que será que ele está pensando?
- Não é questão de ser "eu também", é questão de que a menos de cinco minutos atrás apareceu uma coisa do nada, que em segundos surrou todo mundo aqui! – Letícia termina de falar, ela caminha na direção de Ricardo, apontando na direção de Brian – E aquele ali foi o único quem conseguiu fazer alguma coisa! Você deveria agradecer ele por sua namorada ainda estar inteira!
Eu abaixo meu olhar, pensando no que dizer. Não sei como falar, Ricardo de repente ficou mudado, no rosto dele posso ver como ele está irritado com tudo isso, mas não posso mentir. Não para ele – Ela tem razão. Se tem alguém que pode me ajudar nessa situação, acho que pode ser ele.
O jeito como Ricardo me olha é estranho. Ele me condena com o olhar ao mesmo tempo que balança a cabeça, recuando um passo – Tudo bem! Tudo bem! Faça do jeito que quiser!
Ricardo sai do quarto com passos pesados, posso ouvir ele indo embora, descendo as escadas. Ver isso me surpreendeu, mas não perco mais nenhum segundo e vou atrás dele. Eu alcanço a escada, ele já está passando pela porta da sala. – Ricardo! Espera!
Ricardo bate a porta com força, tanta que parece que os vidros da casa inteira tremeram. Ele me ignorou totalmente. Não sei o que fazer, tudo isso me deixou sem chão. Escuto passos em minha direção, vejo ser Letícia. Ela para ao meu lado, e então me diz – Escutei a batida, o Ricardo foi mesmo embora?
- É, ele foi... – Eu bufo, encarando escada abaixo, sem focar em nada e me sentindo desolada nesse instante. – Pode dizer adeus a sua carona de volta para casa.
- Vou tomar outro banho na volta para casa... – Letícia zomba em uma clara tentativa de amenizar o clima. Eu forço um sorriso olhando para ela.
Olho na direção da porta do quarto, Brian está saindo, andando calmamente em minha direção, com as mãos nos bolsos de seu sobretudo. Ele olha para mim e para Letícia por algumas vezes, sem falar nada. – Dei um jeito no seu quarto. – Ele diz do nada.
Eu e Letícia nos entreolhamos, ela está tão confusa quanto eu. Vou para meu quarto, e assim que entro, está tudo igual antes, como se nada tivesse acontecido. Olho para meu guarda-roupa, ele está inteiro. O ventilador está no teto como se nunca tivesse sido arrancado, e o teto está inteiro. Meu quarto, inteiro, perfeito. Mas como?
- Como fez isso? – Eu questiono, olhando para Brian.
Ele da uma risada, vindo em nossa direção – Imagino que você ainda more com seus pais, e com certeza eles te dariam uma boa bronca se vissem o estado que seu quarto estava.
- Mas... – Letícia começa a falar.
- De nada. – Ele a interrompe.
Eu e Letícia nos entreolhamos outra vez. Isso está se tornando demais para mim. Preciso perguntar. – Quem é você?
Seu olhar endurece um pouco, ele se torna mais sério. – Isso não importa, mas pelo menos sou alguém que pode te ajudar. Você aceita?
Cruzo os braços, olho para Letícia. Ela da de ombros como resposta. Desvio meu olhar, pensando melhor – Você vai me dar algumas respostas?
- Precisamente... – Ele responde de imediato – Explicarei o que está acontecendo.
Estou sentada na beirada da minha cama, Letícia está ao meu lado. A nossa frente, Brian se acomoda na cadeira do meu quarto, ele pende o corpo para frente e junta suas mãos, e ele permanece nos olhando. Aproveito melhor para ver meu quarto, ele está realmente inteiro, não tem o menor sinal que seja de que aconteceu alguma coisa aqui. Olho por tanto tempo que esqueço a primeiro momento o que devo perguntar a ele.
Realmente não sei por onde começar. São tantas coisas explodindo na minha cabeça neste momento – Então... – Começo, fazendo uma pequena pausa –Você tem algo para nos explicar.
- A vontade. – Ele diz com um tom tranquilo – O que quiser, pode perguntar.
Eu baixo meu olhar, e então digo – O que é aquela coisa, e por que aquilo surgiu?
- Como eu disse, aquilo é uma entidade, originada no Abismo... – Ele olha de um lado ao outro, e então continua a falar – Podemos só chamar como "entidade do Abismo" para ficar mais fácil. Ao que tudo indica, ele ganhou vida quando você abriu a porta.
Letícia para um segundo, ela então pergunta, cerrando seu olhar – Abismo?
- Sim, talvez vocês encarem isso como fantasia, mas é uma verdade... – Ele começa a dizer, sem desviar o olhar de nós.
- Depois do que passamos hoje... – Eu começo, e dou um leve sorriso – É difícil não acreditarmos no que você vai nos falar.
Brian sorri, balançando a cabeça positivamente. – Pois bem... Normalmente, a mente humana é um baú de segredos, seja na psicologia, tentando desvendar vários segredos escondidos em camadas e mais camadas... Estado de hipnose causada devido à aplicação da atenção concentrada, ajudando a desbloquear partes da mente que muitas vezes nós mesmo desconhecemos... Ou então em crenças, com o estado de concentração tão alta onde as pessoas podem atingir um transe quase completo... Atingindo um Nirvana em inércia e concentração da mente.
Meu Deus. Esse Brian é um palestrante de tanto que fala.
- Você falou e falou, mas não entendi nada – Letícia comenta, eu tenho vontade de rir, mas me controlo. O sentimento de não entender nada é mútuo.
Ele sorri – É ai que a coisa muda, para poder explicar o abismo, devem entender que ele tem parece ter muito haver com a mente das pessoas. O Abismo é como uma outra dimensão... Uma dimensão estranha e muitas vezes hostil, que não sabemos muito a respeito, afinal, ele não é muito estudado na psicologia... – Brian se encosta na cadeira, batendo um dedo no próprio joelho – Sendo sincero, não é estudado por ninguém.
- Mas por que não? – Questiono quase na hora.
Ele pensa um pouco, olhando para baixo como se avaliasse algo – São muito poucos aqueles que conseguem entrar no Abismo... Tão poucos que nem temos registros significantes em livros. Só alguns escassos relatórios com informações limitadas.
Paro por um segundo. Olho para Letícia, ela está tão sem palavras quanto eu. Tenho que perguntar mais algo – Você falou sobre uma porta... E eu lembro que encontrei uma quando estava no consultório do Ferdinand. O que era aquela porta?
- Aquilo é o que mais me deixa pensativo... – Ele diz de repente, baixando seu olhar. Eu estranho essa reação dele – Aquela porta é, literalmente, o acesso para o Abismo.
- A porta para uma outra dimensão... Que incrível... – Letícia diz ao meu lado, tenho até a impressão de ela estar encantada ao saber disso. – Mas... Por que essa porta apareceu para a Clara?
Eu vejo Brian mudando seu olhar, ele passa a mão no queixo, cerrando seu olhar em minha direção – Seu estado no sono induzido que Ferdinand aplicou, pode ter sido tão profundo, que permitiu você encontrar essa porta... É meu palpite.
Eu paro por um segundo. – Mas eu abri a porta, e depois disso eu acordei.
Letícia olha para mim, e então ela questiona – Ela ter aberto essa porta muda alguma coisa na vida dela?
- Na vida dela... Particularmente, acredito que não terá uma mudança significativa, até por que você despertou e não atravessou a passagem, mas mesmo assim você já sofreu uma influência do Abismo só de abrir a porta. – Na hora entendo o que ele quer dizer, meu pesadelo que ganhou vida.
Eu junto às mãos em frente ao corpo, sentindo um calafrio subindo pela minha espinha quando penso no meu pesadelo vivo – Ele vai voltar, não é?
Um longo silêncio se arrasta no quarto. Ele não me responde de imediato, eu entendo qual a resposta. Letícia tenta me dar um conforto me dando um abraço. Brian então solta um suspiro e fala – Sim, ele vai. Mas não tão cedo, eu te garanto.
- Como você pode ter certeza disso? – Pergunto.
- Eu consegui ferir ele mesmo ele não tendo um corpo totalmente físico... Estando em sua maioria em uma forma espectral, cada ferimento é mais difícil de se curar... – Ele deu de ombros, e então continuou falando – Querendo ou não, ele precisará se recuperar antes de pensar em tentar te atacar de novo.
- Espera ai, como você sabia que iria acontecer alguma coisa? – Letícia acaba de perguntar algo realmente interessante. Eu olho dela para Brian, ansiando por uma explicação sobre isso.
- Eu não sabia. – Ele responde simplesmente, me deixando atônita. Ele me observa por alguns segundos, e então continua – Depois que vocês saíram, Ferdinand já estava atento quanto a isso. Ele percebeu que você é mais um dos casos de pessoas que relataram ter vislumbres de estranhas portas aparecendo na mente durante algumas terapias anteriores a sua, mas diferente de todos os outros, somente você teve um contato tão repentino e maior com a porta.
- Isso ainda não parece explicar muita coisa... – Eu falo, mas então começo a ligar os pontos na minha cabeça. – Espera...
- Você percebeu que faz todo o sentido, não é? – Brian termina de falar, e diante do meu silêncio, ele continua – Ferdinand e eu já sabíamos sobre as portas, e quando você falou que conseguiu abrir uma, Ferdinand ficou maluco. Não sabemos nada no que o Abismo pode afetar uma pessoa, e principalmente com você reclamando de pesadelos... Mas sabemos que algo habita aquele lugar. Assim, ele ficou preocupado com seu bem-estar, e me mandou vir atrás de você para ficar de olho, e termos certeza que nada aconteceria.
- Eu tenho que agradecer, você por ter nos ajudado na hora, e Ferdinand por ter pensado tão rápido – Digo em um sorriso. Ele balança a cabeça para mim. – Mas como você conseguiu acertar aquela coisa?
- É verdade, também estou curiosa... – Letícia diz. – Eu acertei uma gaveta nele, mas depois passou direto como se não tivesse nada ali.
- Acho que você conseguiu acertar um golpe de sorte quando ele estava sólido, além que estava distraído... – Ele responde, seu olhar parece que ele parabeniza Letícia por conseguir acertar a entidade. Ele então estende uma mão em minha direção, de uma forma que me sinto tentada em segurar firme e não soltar, mas me contenho e não o faço. Olhamos para a mão dele, e sem explicação, de sua palma começa a emanar um pouco de luz com tons brancos e dourados, essa que fica um pouco mais forte por alguns segundos sem ofuscar minha visão, e percebo que algo toma forma em sua mão. Quando a luz cessa, ali está a mesma faca que ele usou antes. – Mas você não usou a arma certa para isso.
O que é isso? Eu nem consigo falar de tão surpresa, ele... Ele fez uma faca surgir na mão dele? Como assim?
- Usando uma dessas, da para lidar com alguns desses seres... – Ele diz, logo então ele faz um gesto a faca começa a desaparecer novamente, quase como se estivesse sendo absorvida pelo seu corpo. – Mas não funciona sempre, nem com todos... Mas nem pensem em perguntar mais, afinal estarei falando demais sobre coisas que vocês não precisam saber.
Nós duas nos entreolhamos, chocadas com o que acabamos de presenciar.
Vemos ele se levantando indo até a porta do quarto. Agora que parei para pensar, eu ainda não dei uma resposta para ele. Eu penso, ele me deu algumas explicações, por mais que minha mente pareça estar explodindo com tantas dúvidas, mas não devo pensar nisso agora. – Bem, eu aceito sua oferta...
Ele para por um segundo, olhando para mim. – Pois bem, então logo começaremos a tratar de sua segurança... Por agora, você está segura, e sua amiga não precisa se preocupar, afinal não tem uma ligação com a entidade.
- Posso confiar em você? – Letícia questiona.
- É uma escolha sua confiar, mas posso garantir que está segura – Ele responde, e então vira seu olhar para mim. – O problema é com ela.
Letícia se levanta, e então diz – Trate de cuidar bem da minha amiga.
- Eu irei... – Brian responde, ele continua em direção a porta – Por hora, preciso voltar para o consultório do Ferdinand e informar o que aconteceu. Assim que terminar por lá, voltarei para checar você.
- Espere... – Eu o chamo, me sentindo um pouco desesperada por ficar sozinha aqui em casa, ainda mais com aquela coisa por ai, podendo aparecer a qualquer momento. Ele vira o rosto lentamente para mim, e ficamos nos encarando. Quero acreditar e até confiar nele, mas não sei se consigo, e aliás... Eu ainda tenho uma dúvida, besta mas tenho. – Me diz... O que você é?
Brian fica em silêncio, olhando para mim. Seu olhar me deixa sem jeito, mas não sei o porque de me sentir assim.– Antes, eu podia ser chamado de assistente de psicólogo. Mas devido a todos esses acontecimentos de hoje... Acho que agora me tornei o seu guardião – Eu o observo, totalmente em silêncio – prometo que irei te proteger. Tem minha palavra.
Brian então deixa o quarto, e posso ouvir ele descendo as escadas, e por fim a porta do andar de baixo sendo fechada. Olho para Letícia, não sei o que dizer.
- É, vamos torcer para ele conseguir te ajudar mesmo... – Ela diz em um tom apreensivo, eu concordo com a cabeça. – Não sei se podemos confiar nele.
- Eu também não sei, mas espero que sim... – Penso um pouco. Depois do que vimos hoje, acho que só posso confiar nele
Sinceramente, eu gostaria de ter outras opções. Eu não quero ter que depender dele nem de ninguém para permanecer viva, mas sozinha eu não sei se tenho chances. Não vou desprezar a única chance que tenho.
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