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Capítulo 39 - O retorno

5435 Palavras

Por Brian

O caminho de volta está sendo extremamente complicado por muitos motivos.

Todo aquele confronto com a entidade no corpo da Clara me desgastou muito mais do que eu imaginava. Eu não esperava acabar tão machucado como estou agora.

Levei um tempo até recuperar o folego depois de tudo e finalmente consegui me sentar.

A pouca luz dessa noite me impediu de ver o real estado do meu ombro esquerdo, mas sei que o corte foi muito profundo já que a dor piorava a cada segundo. Precisei arrancar parte das minhas roupas e improvisar um curativo usando minha camisa.

Não foi o melhor dos curativos que já fiz, e talvez até posso piorar o meu ferimento causando alguma infecção... Mas seria ainda mais arriscado deixar o ferimento aberto. Sei que consegui estancar o sangramento um pouco que fosse, e eu já conseguia mover o braço minimamente, mas isso só me causava mais dor.

Quando terminei meu curativo improvisado, vesti outra vez meu sobretudo, agora com a intenção de proteger meu tronco do vento frio.

Me forcei a ficar de pé devido a fraqueza, e fui para os destroços do galpão o mais rápido que pude. Procurei por algo que pudesse restringir os movimentos da Clara, por sorte, nem todo o lugar tinha cedido, e o fogo tornavam as coisas bem melhor visíveis, então foi até fácil procurar.

Um dos primeiros achados que tive foi do longo punhal enegrecido que a entidade usou para me atacar, estranhamente ele não desapareceu. Passei meus olhos rapidamente pelo punhal, e é realmente idêntico ao que a Clara criou antes. Exatamente o mesmo tamanho, todos os detalhes e formatos, com a exceção clara de sua cor profundamente escura que cobre todo o gume até o punho, e de que na base da lâmina existe uma pedra avermelhada encaixada...

Pensando agora, tudo faz sentido. Com certeza, aquela pedra é uma runa de fogo, mas não faço a menor ideia de como a entidade conseguiu algo assim.

Não tinha como guardar o punhal, e caso eu levasse para o carro, acabaria perdendo segundos preciosos, então apenas atravessei a lateral da minha calça para conseguir levar comigo, e depois largava no carro. O fio gélido da lâmina na minha perna me incomodava, mas ignorei.

Levei um tempo procurando, mas consegui encontrar uma corda e alguns cabos para prender o corpo desacordado de Clara.

A carga elétrica que lancei nela era muito mais que suficiente para incapacitar a Clara verdadeira, mas e quanto à entidade que controla seu corpo?

Esse era o meu questionamento enquanto me reaproximava de seu corpo desacordado, sei que no meu estado atual, não aguento segurar um segundo confronto. Então por esse motivo, fiz questão de prender seus braços e pernas, e também passei a corda em volta de seu corpo para restringir ao máximo seus movimentos.

Caso acordasse no caminho de volta, meu palpite é que ela ainda ficaria presa por bons minutos.

Durante todo o tempo que a prendi e a levei para o banco de trás do carro, fiquei apreensivo se ela iria acordar ou não. Fiz tudo o mais rápido que pude, mas ainda tentando ter o máximo de cuidado para não machucar a Clara ainda mais, e a cobri com o cobertor que sempre guardo no porta-malas do carro, tanto para protege-la do frio, como disfarçar seu corpo quando estiver dirigindo por São Paulo.

Se eu achava que amarrar a Clara e colocar no carro só com um braço era a parte difícil, dirigir de volta está sendo meu verdadeiro desafio. Meu corpo inteiro dói muito, tanto dos golpes que levei mais cedo na casa dela, como também os mais recentes do galpão. Sem falar que meu ombro está queimando e a dor nele é de longe a pior.

Já perdi a noção de quanto tempo estou na estrada, e estou percebendo que aos poucos minha visão vai se embaçando, e o mais preocupante, um sono cada vez mais pesado está recaindo em mim. Sacudo a cabeça na tentativa de me manter acordado e esfrego a mão nos olhos repedidas vezes. Essa fraqueza toda deve ser por causa do sangramento no meu ombro.

Ativo a luz de teto e me ajeito no banco em uma tentativa de me despertar. Olho de relance para trás, me certificando de que Clara continua coberta. Agora ela parece estar dormindo tranquilamente, e graças a luz consigo olhar melhor para ela. Sua pele perdeu sua cor natural e agora está com tons acinzentados, e os olhos parecem um pouco mais fundos, os lábios estão secos e os cabelos também perderam um pouco da cor...

Nesse momento, Clara se assemelha muito a um cadáver.

Penso em tocar seu rosto e me certificar de que ela ainda está quente, mas meu simples movimento faz meu ombro doer. O máximo que consigo fazer com a mão esquerda é manter o volante na mesma posição ou girar de leve.

Penso por um momento, e ajeito o espelho para que eu possa me manter de olho nela, mas claro que para isso preciso me manter acordado. Abro a janela ao máximo e me encosto no banco, sentindo o vento frio atingindo meu rosto. A queda brusca da temperatura é o bastante para que eu consiga despertar.

Uma placa se aproxima, mas minha visão está fraca a ponto de eu não conseguir distinguir bem quantos quilômetros ainda faltam para chegarmos a São Paulo. Se ainda faltar muito, não sei se conseguirei chegar ao consultório.

Agora que pensei nisso, preciso avisar Ferdinand que consegui resolver a situação. Tento alcançar meu celular que continua largado do mesmo jeito no outro banco e novas pontadas de dor atravessam meu corpo. Um gemido me escapa junto a um arfar, mas consigo pegar meu celular e voltar ao banco, sofrendo um pouco para conseguir digitar o número do meu chefe.

Quando finalmente consigo e vejo o número do meu chefe surgindo na tela do computador de bordo, largo meu celular sobre minha perna, e arranco a lâmina que deixei presa na calça e jogo sobre o outro banco. Volto minha atenção ao celular, colocando o volume da ligação no máximo pelos botões do volante, e volto a me concentrar na estrada escura.

Leva um tempo, mas logo a ligação é atendida – Brian? – Ouço uma voz feminina. Amanda.

- Sim, sou eu... – Digo com a voz mais fraca do que esperava. – Estou voltando.

- Ótimo, já estamos te esperando. – Ela diz com a voz eufórica, e consigo escutar ela conversando com alguém. – Como a Clara está?

- Desacordada. – Digo sacudindo a cabeça mais uma vez. Minha visão voltou a se embaçar.

Um suspiro com som estourado sai dos alto falantes do carro, tão alto que uma careta surge no meu rosto pela dor de cabeça causada. – Ela não facilitou mesmo...

- Esperávamos por isso... Não é uma surpresa... – Se já não bastasse minha voz, meus olhos vão pesando cada vez mais. Passo a mão pelo rosto outra vez e pendo o corpo para mais próximo da janela com o objetivo do vento me manter acordado, mas a posição é tão desconfortável que volto a me ajeitar no banco.

- Você teve muito trabalho? – Ela questiona, seu tom é sério.

Dou algumas piscadas longas até demais – Sim, você não tem ideia... Mas foram muitas coisas, acho melhor eu falar quando chegar.

Isso se eu conseguir chegar até lá. E no meu estado, isso parece ser cada vez mais difícil.

- Onde você está agora? – Ouço, mas a voz de Amanda pareceu um pouco ecoada.

- Olha... Eu não sei... – Digo procurando por qualquer placa, mas é em vão. Por perto não tem nenhuma sinalização e a luz do farol não ilumina nenhuma placa relevante, e mesmo se passasse uma placa agora, não garanto conseguir enxergar. Olho para a tela do computador de bordo ao lembrar-me do GPS, mas sem um destino programado, ele não servirá de nada. – O que sei é que estou seguindo no sentido de São Paulo.

- Meu Deus, onde vocês foram parar? – Ela pergunta indignada.

- Longe... – Suspiro – Bem longe.

- Tudo bem... – Agora é a vez dela de soltar um suspiro – Tem alguma previsão de quanto tempo falta para chegar?

Penso por um momento, tentando puxar na memória quanto tempo levei para voltar na outra vez, mas infelizmente até meus pensamentos agora estão nebulosos. Palavras se formam e logo desaparecem da minha mente.

- Brian? – Ela me chama, e meus olhos buscam a tela. Minha visão embaça um pouco.

- Acho que ainda falta uma hora. – Consigo dizer, voltando a encarar a estrada.

Os sons começam a ficar cada vez mais distantes até se tornarem ruídos estranhos que não consigo mais interpretar. A voz de Amanda que antes eu conseguia distinguir bem também desaparece, ecoa distante e mal consigo prestar atenção em suas palavras. Meus olhos vão pesando e gradualmente minha visão acaba completamente embaçada...

E tudo apaga.

Um impacto repentino atinge a lateral do carro pelo lado do condutor com o som forte de metal sendo raspado, e logo em seguida o carro é lançado para a direita. Um golpe de vento bate no meu rosto junto de um barulho muito alto de pneus derrapando. A ferida no meu ombro pulsa com toda a intensidade e me força a abrir os olhos de uma vez.

Percebo como o carro está descontrolado na pista, e me obrigo a segurar o volante com toda a força. Giro o volante o mais rápido que consigo forçando ao máximo para não deixar o carro capotar. Ele está rápido demais, desgovernado correndo para fora da pista.

Piso fundo no freio e um ruído forte de derrapada invade meus ouvidos, mas é tarde demais. O carro está muito rápido e vai para fora da pista invadindo o gramado. O terreno instável faz meu carro sacolejar com muita força, e para piorar é íngreme tornando a tarefa de conseguir parar muito mais difícil.

Puxo o freio de mão e piso fundo no freio ao mesmo tempo, tentando controlar o carro usando meu braço ruim. É difícil mas todo o gramado consegue diminuir muito a velocidade, até que finalmente consigo fazer minha Mercedes parar.

Solto um grito por causa da dor, agora completamente desperto pela adrenalina que caiu sobre mim nesse instante. Respiro fundo e pisco várias vezes, mesmo com a adrenalina, a dor é tamanha que estou arfando.

Bato as costas no banco e ergo a cabeça, sentindo meu ombro latejando. De imediato levo minha mão boa ao local dolorido, mas tudo que consigo é fazer a dor piorar ainda mais. Aperto os dentes gemendo, e fecho os olhos tentando resistir a dor que recai sobre mim.

- Brian?! – Ouço a voz desesperada de Amanda vindo dos alto falantes. Fico imóvel, respirando fundo e encarando a tela fixamente enquanto escuto novos gritos – Você está bem? O que aconteceu?! Brian!!!

Resmungando um pouco respirando fundo. Pendo o corpo para frente e encosto o rosto no volante, sem conseguir responder de imediato – Brian?! Brian?! Você está ai?! – Dessa vez é a voz de Ferdinand, com o mesmo desespero de Amanda.

Aperto os olhos, encarando a tela alguns segundos. Pego meu celular que está sobre o carpete do carro, e o aproximo do rosto – Estou aqui... – Digo com a voz fraca, ainda ofegante pela dor.

- O que houve?! – Ferdinand para de falar, interrompido pela irmã.

- Escutamos o barulho, o que aconteceu?! – Amanda está visivelmente mais desesperada.

- Eu desmaiei... – Digo respirando fundo passando uma mão pelo rosto e olhando para os lados. Está tudo mal iluminado e os faróis iluminam pouco a minha frente. – Acabei batendo o carro, e agora... Estou fora da rodovia...

Silêncio do outro lado da linha. Por algum tempo, apenas alguns ruídos do que parecem ser passos apressados podem ser escutados.

- Não se preocupem, estou bem... – Por um segundo olho para mim mesmo, avaliando meu estado atual e principalmente, o tamanho da mentira que acabei de contar. Definitivamente, eu não estou nada bem, mas esse é um detalhe que preciso ignorar agora.

Olho para Clara pelo espelho retrovisor, ela continua da mesma forma. Desacordada no banco de trás e ainda, parece que mal se moveu depois de toda essa movimentação.

Respiro fundo voltando minha atenção para o local que estamos. O terreno é íngreme e todo esse gramado alto poderá dificultar muito as coisas para mim, mas não tenho muitas opções, preciso sair daqui para levar a Clara... E preciso fazer isso agora.

Giro o volante com toda a força, solto o freio de mão e com isso o carro cede um pouco para frente. Piso fundo tentando manobrar o carro, mas ele se move muito pouco e bem devagar.

- Eu irei te buscar, onde você está agora? – Ouço Ferdinand novamente.

- Você vai ficar onde está... – Rebato olhando para o alto, esperando que meu carro tenha potência o suficiente para conseguir volta a rodovia. Passo o carro para o manual e piso no acelerador com mais força, na ilusão deu que meu carro irá tirar torque do nada para sair desse lugar. – Não sei onde estamos e muito menos em qual altura da rodovia... Até você chegar já terá passado muito tempo e isso é algo que não temos agora!

Principalmente com o meu ferimento. Talvez até aguentaria esperar chegarem, mas não acredito que eu duraria muito depois disso.

- Mas... – Amanda tenta falar, mas eu a interrompo.

- Não tem outro jeito. – Digo enquanto giro o volante, ajustando o carro aos poucos. Quando finalmente posiciono o carro de um jeito adequado, piso fundo no acelerador, o motor ronca forte e aos poucos o carro sobe o pequeno morro.

O sacolejar volta, dessa vez mais lento que antes mas igualmente pesado. Forço o motor ainda mais mantendo meus olhos no conta giros. O motor está atingindo as sete mil rotações do tanto que estou forçando, e ainda não estou na metade do morro.

Estou temendo que em algum momento poderei escutar alguns estouros debaixo do capô, e por consequência, o carro fundindo de vez... Mas por muita sorte, isso ainda não aconteceu.

- Você tem certeza disso? – Amanda me questiona.

Não tenho certeza, mas definitivamente não temos muitas opções. É preciso. – Sim, tenho total certeza. Eu falei que iria levar a Clara de volta, prometi isso para a melhor amiga dela, e é isso que eu vou fazer! – Tento passar o máximo de convicção.

Ouço um suspiro pesado do outro lado da linha, e começo a ajeitar o carro. Não consigo subir a elevação se virar o carro de volta para a estrada, aliás acho que nem conseguiria fazer isso sem atolar o carro antes. Terei que improvisar.

Talvez acelerar e seguir paralelo a estrada, e quando o carro tiver velocidade o bastante, ele poderá subir o morro e voltar a estrada, e é isso que tento. Acelero o máximo que posso, o carro balança, mas devagar ele vai subindo.

Apesar da dificuldade, consigo subir o morro e consigo voltar para a rodovia, e apesar da baixa velocidade, o carro se descontrola um pouco ao sair de todo aquele gramado. Consigo ajeitar o carro na pista, volto o câmbio para o automático e piso fundo, acelerando ao máximo.

Dessa vez as dores não me abalam muito, o susto do ocorrido acabou me despertando o bastante por agora. Preciso aproveitar esse surto de energia para tentar cobrir o maior espaço que puder.

O motor ronca forte conforme acelero. Olho de relance no velocímetro, ele sobe cada vez mais já ultrapassando os 170km/h, e continua a subir cada vez mais, tanta que o vento frio que entra pela janela trás a sensação da minha pele estar sendo cortada.

Encaro Clara pelo retrovisor, preocupado por ela estar tomando todo esse vendo, mas ela continua desmaiada e envolta na coberta que deixei.

Quando tudo isso acabar, definitivamente eu não contarei a ela tudo que aconteceu essa noite... A menos que ela pergunte.

- Brian!!! – Minha atenção volta ao celular e logo o alcanço entre minhas pernas.

- Estou aqui, consegui voltar para a estrada. – Pela forma como consegui falar agora, sei muito bem que estou desperto. A adrenalina realmente faz efeitos imensos no corpo de uma pessoa.

- Ta, e você ainda não sabe onde está? – Ferdinand questiona.

- Não faço ideia, mas sei que estou seguindo de volta para a cidade. – Digo olhando para estrada e de volta para Clara algumas vezes.

- Quero que faça algo. – Ele começa – Se estamos conseguindo falar agora é porque tem sinal onde você está... Então, nos envie sua localização em tempo real para termos uma ideia de quanto tempo levará para chegar.

Pego meu celular e vou dando toques na tela. Minha atenção se divide entre manter a direção e conseguir enviar minha localização. Levo algum tempo mas consigo enviar a minha posição, e jogo meu celular outra vez sobre a perna.

- Já estamos acompanhando. – Ferdinand fica alguns segundos calado – Está longe ainda. Pedirei para Jeniffer ir para a recepção quando você estiver perto de chegar.

- Jenny está ai? – Cerro as sobrancelhas, como se eles conseguissem ver minha expressão.

- Está sim. – Aperto a boca ao saber disso.

- Mas... – Começo a falar, tropeçando nas palavras – A essa hora? O que... O que ela ainda está fazendo ai?

- Tivemos um problema no nosso banco de dados. – Ferdinand da uma pausa respirando fundo, mostrando um aparente cansaço – Pouco antes do horário de saída dela, nosso sistema começou a dar problema e várias coisas foram perdidas. Jeniffer costuma fazer backups diários para esse tipo de situação e quis ficar para resolver hoje mesmo e poupar trabalho na segunda-feira.

- É, faz sentido... – Só a possibilidade de encontrar Jenny me preocupa. Minha atenção vai ao meu ombro ferido. – Ela sabe que estou indo?

- Não, nós não contamos nada a ela. – Ouço e respiro fundo.

Reflito por um momento o que posso fazer, se devo avisar sobre meu estado ou qualquer coisa que seja. Se eu falar, talvez acabe piorando ainda mais a situação por deixar todos nervosos... Mas aparecer de surpresa no meu estado também não será uma boa ideia.

- Eu gostaria que ela soubesse o mínimo possível... – Meu olhar cai um pouco – Ou não soubesse de nada disso.

- De qualquer forma, ela irá saber alguma hora. – Ferdinand comenta. – Você sabe como as coisas costumam aparecer para aquela garota, mesmo sem ela querer descobrir.

- Sim, isso é verdade... Se não tiver jeito de esconder isso da Jenny, então peço que conte para ela que estou indo, mas não dê muitos detalhes. – Suspiro.

- Verei o que posso fazer para manda-la para casa. – Ele me responde. – Se possível, ajudarei com o trabalho dela para dispensar Jeniffer o quanto antes.

- Obrigado por isso. – Respondo voltando minha atenção a estrada.

Prefiro omitir a situação, falar só causaria mais preocupação do que o necessário. Deixarei Clara com eles e não irei incomodar Amanda. Tanto ela quanto Ferdinand precisam estar concentrados para auxiliarem a Clara.

Tentarei improvisar algo na enfermaria no térreo do prédio quando chegar... Isso se a sala estiver aberta, caso contrário terei sérios problemas.

Mas agora... A única coisa que preciso fazer é aguentar o suficiente para chegar ao prédio.

Apenas espero ter forças o bastante para isso.

Por algum tipo de milagre, consegui chegar a cidade. Para evitar chamar atenção das pessoas ao redor e conseguir chegar ao consultório, fechei todos os vidros e apaguei as luzes do carro, mas nem de longe esse seria o pior dos problemas.

Já faz algum tempo que minha adrenalina caiu e meu corpo voltou a doer... Mas não tanto quanto antes, a dor está menor, mas isso nem de longe é uma coisa boa.

O curativo porco afrouxou e parou de ser útil pouco antes de chegar em São Paulo, e tive a noção que voltei a sangrar igual antes... Sensação não, o tecido do meu sobretudo está com uma grande mancha escura e sinto minha pele úmida.

O que significa... Já perdi muito sangue...

Mesmo que eu esteja perto agora, está difícil conseguir ficar acordado.

Meu corpo está pesado e o cansaço está cada vez maior. Meus olhos pesam e mal tenho forças o bastante para continuar segurando o volante, e não tenho ideia de quantos sinais vermelhos já devo ter furado.

Se bem que não faz muita diferença. Está tudo escuro, e as poucas coisas que vejo a minha frente estão bem embaçadas. Estou penando muito para conseguir me lembrar do caminho, e estou tentando não pisar fundo no acelerador e acabar entrando em algum lugar.

O lugar onde estou é familiar, mas não tenho certeza se estou na rua certa. É uma rua que parece calma, acho que está bem iluminada, não tenho certeza.

Gostaria de continuar falando por ligação com Ferdinand e Amanda para que me confirmassem se estou perto ou não, mas o celular dele ficou sem bateria... Ou será que foi o meu?

Nem consigo me lembrar mais.

Pisco algumas vezes, mas cada vez que fecho os olhos, eles insistem em permanecer fechados por muito mais tempo que eu poderia querer...

Eu estou cansado... Querendo dormir...

Um baque me pega completamente desprevenido, e a dianteira do carro se ergue em um pulo. Demoro um pouco para perceber que estou parado em algum lugar iluminado, e a frente do carro está inclinada.

Respiro fundo me encostando no banco, sentindo meu ombro pulsando em uma dor que já a algum tempo eu não sentia. Levo minha mão sobre o ferimento, mas não consigo aliviar a dor, ela pulsa, queima intensa que todo meu corpo sente a dor. Aperto os dentes soltando um gemido de dor, arfando tentando me recuperar, e devagar a dor vai suavizando aos poucos...

O alivio da dor é seguido de um calafrio... Um mórbido calafrio que corre por toda minha pele.

Perco a pouca força que ainda tinha no braço, o aperto que fazia na minha mão vai desaparecendo, afrouxando... E minha mão desliza sem força, caindo sobre minha perna.

O sono se torna cada vez maior, e meus olhos pesam e vão se fechando.

Minha força e consciência se dissipam...

Pensamentos somem, carregados para longe deixando apenas o profundo silêncio...

A escuridão me rodeia, me abraça, suave e acolhedora...

E com essa escuridão... Sinto frio...

Um frio que vai além do corpo... Ele é profundo, invade meu corpo, minha mente... Meu ser...

É estranho... É algo imenso, mas suave... Está percorrendo, sinto o frio percorrendo vagaroso dentro de mim, como vinhas crescentes, espalhando-se pela minha pele, penetrando meu corpo com seu frio profundo até atingirem meus ossos...

É frio... Gélido... Sinto esse frio correndo dentro de mim... Está me envolvendo... Congelando...

Então... Essa é a sensação que as pessoas tem ao morrer?

A sensação... Não é tão ruim como sempre pensei...

Sempre pensei que isso doeria mais... Que seria mais assombroso... Assustador...

Mas não... Pelo jeito... Morrer não é assim tão ruim...

- Ele veio parar longe... – Um som distante surge ecoado em meio a escuridão.

Parece uma voz...

Espera... Se for uma voz... É conhecida? ... Quem será?

- Olha o estado desse carro... – Ouço outro som surge, em um timbre diferente mas tão longe quanto o primeiro, e logo desaparece. – Meu Deus... Ajudem aqui!

- Eu não esperava que ele estivesse em um estado tão ruim. – Um terceiro som ecoado.

- Vocês dois sabiam disso? – Um dos sons se repete, mais rápido... Desesperado talvez...

Vozes, muitas vozes... Gostaria de saber o que está acontecendo.

Até tento abrir meus olhos, mas estão pesados... Pesados demais, não consigo.

- Irei na frente e levarei a Clara... – Ouço de repente. – Vocês duas cuidem do Brian.

O silêncio se instala outra vez.

Apesar de não escutar mais nada, algo repentino acontece. Uma onda de calor, pequena e tímida cresce devagar. Ela é calma, e apesar de me transmitir uma certa aflição vinda dele, está afastando o frio, e me sinto acolhido.

Ele me parece familiar, acho que já senti este calor envolvendo meu corpo antes... Mas é estranho, onde eu já senti isso?

O frio ainda se mantém presente em meu corpo, mas não com toda a intensidade de antes. Ele diminuiu bastante, e o calor volta devagar, e com isso vou me sentindo melhor... Pouca coisa, mas melhor do que antes.

- Brian está pálido... – Volto a escutar, apesar de ecoado, parece próximo – E o corte foi muito grande, essa camisa não parou o sangramento.

- Ele tem pulso? – Outra voz surge.

- Muito fraco, mas tem. – Quero entender o que está acontecendo, mas sequer tenho forças para distinguir algo ao meu redor. – Terminei o feitiço para os primeiros socorros, vamos levar ele para o prédio.

Por mais que eu queira ouvir mais, tentar fazer qualquer coisa que seja, tudo se silencia.

Tudo agora é tão estranho. As coisas parecem que perderam todo o sentido, imagens me surgem e logo desaparecem em profundas trevas. Lugares surgem em pequenos flashes, pessoas, crianças, coisas acontecendo, sensações que me atingem e logo desaparecem.

Momentos estranhos vem por entre a escuridão ao meu redor, imagens turvas emergem aos poucos, pessoas falando mas não ouço suas vozes. As vezes um senhor aparece, seguido de alguns momentos... Uma mesa com cadernos espalhados e coisas escritas, ele sentado à minha frente falando sem parar...

Esse senhor é alguém que me traz uma sentimento de respeito apenas de olhar a ele, e aos poucos sua imagem desbota e esvanece como se levada pelo vento. Seria esse meu velho pai?

Logo após sua imagem desaparecer, outra toma seu lugar. Muda para um ambiente, o senhor de antes está presente, próximo de mim... E alguém na porta, uma mulher saindo com algo em suas mãos, parecem... Malas de viagem?

Quem é essa mulher? Eu... Não consigo me lembrar ao certo...

Acho que vi algo assim... Ah sim, aquele dia que ficou marcado na minha memória. Como poderia esquecer?

O dia que minha mãe decidiu pegar suas coisas e ir embora para viver com outro, alguém que daria a vida que ela sempre quis e seria muito mais conveniente e proveitoso a ela...

Foi a última vez que vi e falei com minha mãe, me lembro bem daquele momento e também da dor que senti... Eu não tinha nem dez anos.

Agora eu entendi o que está acontecendo, estou revendo momentos da minha vida.

Essas imagens desbotam e somem da minha cabeça, dando espaço novamente ao denso vazio que me cerca. Diferente do que imaginei, ele não se perpetua, não sou enviado a nenhum lugar, a um céu ou a um inferno... Novas imagens me surgem.

Tempos com muitos outros jovens, um lugar que parece ser uma escola. O ambiente me parece isso... Deve ser onde eu estudei na minha adolescência. Alguns rostos me são familiares, alguns me trazem uma euforia por poder vê-los, e outros me causam certo desgosto. Não lembro de nenhum destes rostos e muito menos o nome de cada uma dessas pessoas... Mas sei que já os encontrei em algum momento.

Apenas um desses rostos me é mais familiar. Não lembro de seu nome, mas conheço seu rosto, conheço muito bem esses traços. Algo que tenho certeza é que essa é a pessoa que tive a amizade mais próxima e duradoura da minha vida, a qual passamos por muitas coisas juntos, muitos momentos que agora passam a minha frente... Qual seu nome mesmo?

As imagens de antes são rompidas e dissipam, e aos poucos uma nova surge, trazendo apenas uma única pessoa. Uma mulher de olhar e expressão dura é quem surge a minha frente.

Aquela expressão fechada no rosto, os braços cruzados em uma postura imponente, aqueles lábios encurvados para baixo e seu olhar severo me encarando de cima... Apenas ter seu olhar sob mim é o suficiente para me assustar... Acho que eu conhecia alguém assim, exatamente desse jeito... Foi alguém que me ensinou muitas coisas. Minha professora, de quando comecei a treinar para ser um guardião.

Essas imagens desbotam em cinza e diluem em minha mente, e por entre uma estranha nevoa um outro rosto surge.

O rosto de uma moça, um sorriso diferente, um sorriso especial que nunca mais pude ver... Um que me faz sentir felicidade, tristeza, o calor do afeto, e principalmente saudade... Essa pessoa... Ela foi importante para mim... Importante demais, alguém pela qual eu me entreguei e amei como nunca fiz... Mas seu nome... Quem é ela?

Rever momentos da vida, nunca esperei que passaria por algo assim. É diferente de qualquer coisa que eu tenha passado antes.

Aos poucos, tudo volta a ficar quieto. Um grande espaço escuro, sem sons, sem nada. Me sinto flutuar nesse lugar estranho, e por mais que eu tente ver se existe algo a minha volta, a escuridão vazia se perpetua por todos os lados como um imenso véu de trevas sem fim. Isso seria algum tipo de limbo?

Mas algo me intriga... Me sinto flutuando, mas também sinto meu corpo pesado.

Além disso, existe uma sensação... Um sabor estranho na minha boca, não sei exatamente o que é, mas com certeza não é algo agradável.

- Fiz o que pude, mas não posso continuar aqui... – Ouço ecoando bem ao longe. – Preciso ir...

- Tudo bem eu entendo... E te agradeço por tudo que fez agora... – É a mesma coisa de antes, vozes distantes, dessa vez consigo distingui-las melhor.

- Eu é quem agradeço... Você quem viu e reconheceu o carro passando... Se não fosse por você... Só gostaria que não tivesse visto tudo isso...

- Agora faz sentido toda a pressa do Ferdinand para me mandar para casa...

Tento me mexer, mas agora meu corpo parece pesar uma tonelada, e até meus olhos teimam em não abrir. Só prestar atenção nessa conversa não me basta. Tento me mover, e pontadas de dor correm pelo meu corpo me fazendo gemer.

- Ele está acordando? – Escuto uma voz mais desesperada e o ruído que parecem ser de passos apressados. – Brian!

Demora um pouco, porém consigo vencer o peso nos meus olhos. Um clarão branco ofusca minha visão e mal consigo distinguir o que tem a minha frente. Bem ao meu lado tem um grande borrão, que devagar vai tomando forma.

- Ele acordou Amanda! – Ouço a voz eufórica, e devagar consigo ver que é Jenny.

Movo o rosto devagar para olhar tudo ao redor, mas ainda está tudo bem embaçado. – Onde... Estou? – Minha voz sai em um sussurro rouco, enquanto tento me erguer.

- Calma, não se esforce. – Ela diz em um sorriso, passando uma mão pelos olhos, e começando um leve carinho pelo meu cabelo – Descansa, você precisa... E muito.

- Você pode ficar e cuidar dele? – Ouço a voz de Amanda, e só agora me dou conta que ela também está aqui.

- Pode ir Amanda, não sairei daqui. – Sua atenção se volta a mim, e os passos apressados de Amanda podem ser ouvidos, cada vez mais distantes – Como está se sentindo Brian?

- Fraco... Cansado... – Digo rouço, tentando erguer meu braço sem sucesso. – ...O que houve?

- Resumindo tudo o que eu sei, vi seu carro passando em alta velocidade e parando no meio da calçada, quase batendo no poste. Você estava bem machucado, pálido e quase morto com a Clara amarrada no banco de trás. Ferdinand correu com ela para seu consultório, e Amanda ficou para cuidar dos seus machucados...

Ouço tudo com o máximo de atenção que posso, e querendo ou não me impressiono com o resumo que Jenny fez. – Entendo... – Sussurro. – Então... Eu consegui trazer a Clara...

- Sim, você conseguiu. – Ela sorri, sem parar o suave carinho.

Respiro aliviado. – É bom saber isso...

- Eu prometo te contar tudo com calma depois, mas primeiro você precisa se recuperar... Você se levou ao limite de novo Brian... – Ela sussurra – Descansa...

Vejo seu sorriso calmo, e acabo sorrindo junto. Fecho meus olhos sem tentar brigar com o peso do meu corpo, e permito que o cansaço recaia sobre mim, e adormeço sem forças.

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