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Capítulo 33 - Guardião em pesquisas

5620 Palavras 

Por Brian

Alcanço o que julgo ser a maior xícara que tenho no armário e caminho devagar para o fogão, me servindo de uma nada modesta quantia de café fumegante. Bebo metade em um só gole, sentindo o forte gosto do café na boca, e logo me sirvo de mais uma quantia.

Se fosse nos meus tempos de adolescência, nunca que eu conseguiria tomar essa quantia de café, ainda mais recém saída do bule... E se o fizesse, é certo que eu acabaria acordado por pelo menos duas noites inteiras.

Se bem que hoje em dia, passar duas noites inteiras em claro não é nada para mim.

Seja como for, atualmente vejo o café apenas como algo a ser saboreado das mais diferentes formas, por mais que isso signifique colocar minha saúde em xeque.

Passo uma mão pelo rosto e esfrego os olhos buscando espantar a preguiça que insiste em recair sobre mim, e em meio a passos lentos, retorno para a sala querendo focar novamente na minha leitura.

Ao entrar na sala, escuto o som do chuveiro sendo ligado. Pelo visto, Jenny já está se aprontando para o trabalho. Curioso ela ter começado a se arrumar tão cedo.

Aproveito e abro a porta da sala, passando o olhar pela garagem por um curto instante. Observo minha Mercedes e me perco em admirá-la, sentindo a satisfação de ter conseguido alcançar meu sonho de adolescente crescendo em meu peito. O melhor ainda foi ver o olhar surpreso do meu pai quando fui visitá-lo e mostrei que cumpri com o que sempre dizia a ele, e o olhar de orgulho do meu velho está vivo na minha memória até hoje.

Pensando agora, quero visitá-lo em breve. Espero que minhas férias não demorem a chegar, será ótimo viajar para passar algumas semanas na minha cidade, visitar alguns lugares... E principalmente rever meu velho, colocar toda a conversa em dia e ajudá-lo em sua oficina como eu gostava de fazer quando mais novo.

Minha satisfação se esvai, e no lugar, um desconforto surge em meu peito quando encaro o portão. Para o meu mais profundo alivio mais um dia se passou, e até hoje, ela não voltou.

Suspiro profundamente, retornando para dentro de casa, fechando a porta atrás de mim e avançando de volta ao sofá cama.

Me aconchego preguiçosamente no sofá cama, esticando bem as pernas e deixo o livro aberto sobre minha coxa. Corro a ponta do indicador pela folha para localizar o ponto que parei, dando um pequeno gole de café, e assim que me localizo, retorno para leitura do meu livro.

Mais um dentre os vários livros que li essa semana.

Se não me engano, esse já é o sétimo que leio. E mesmo pesquisando tanto, ainda não encontrei nada que realmente possa ser útil na situação da Clara...

As informações em cada um dos livros são bem extensas sobre várias criaturas "mais comuns", descrições de suas aparências, comportamento, habilidades, fraquezas, e estratégias. Mas quando se trata do Abismo, as informações se tornam muito escassas. São apenas menções isoladas, ou então poucas páginas contando de supostos incidentes.

O problema que não posso considerar apenas suposições, elas  me deixam em meio ao escuro, preciso de algo concreto. Um verdadeiro incidente registrado, para então tomar ter uma base de como agir da forma correta.

Tenho que pensar em alguma alternativa caso não encontre nada nesse livro, buscar por respostas que com certeza, devem estar fora dessas páginas.

Vamos ver, refletindo nas pessoas que conheço... Sei bem que Ferdinand já teve seus anos como guardião antes de precisar se aposentar por causa do incidente da Dama de Preto. Ainda assim, acho que foram mais de dez anos como guardião, e definitivamente isso é tempo o bastante para acontecer muita coisa.

Desde o dia que o conheci enquanto treinava para me tornar um guardião, ele me conta sobre várias de suas aventuras e criaturas que encontrou enquanto não era aposentado... Mas Ferdinand não mencionou nenhuma vez sobre ter lidado com o Abismo. Então pensar nele não me ajuda.

Já a Amanda... Ela sim teve uma verdadeira experiência com o Abismo. Não só uma experiência, duvido muito que ela tenha passado só por uma ilusão como Ferdinand acredita.

Meu palpite é que ela possa realmente ter passado todo aquele tempo dentro do Abismo, mas não tenho como confirmar isso. Lembro bem de como ela estava abalada quando a encontramos, sequer queria se lembrar...

Aquela não era a reação de alguém que passou por "apenas" uma ilusão. O medo dela era real.

O mais estranho de tudo foi que, essa semana Amanda superou o trauma que teve dessa experiência. Isso foi algo inesperado. Não faço a menor ideia do que pode ter acontecido, mas não pretendo abordar o assunto outra vez e fazer com que ela se lembre de tudo.

Aliás, tem aquela tal Tamires. Ela é outra pessoa que diz já ter passado por algumas coisas grandes. Segundo ela, já até teve encontros com uma das crias... Mas nunca cheguei a ter uma conversa longa com ela, quem mantém contato com essa garota é a Clara.

Admito que no começo fui cético demais, não dei tamanho crédito a Tamires e a todas as coisas que falou... Na verdade, ainda não dou tanto crédito assim, só que nesse momento, penso que talvez deveria ter dado mais atenção a ela.

Inclusive, antes de me envolver de fato com essa situação, tudo que ouvia do Abismo eram apenas histórias isoladas. E todas essas histórias envolviam criaturas que não eram horripilantes, bizarras, ou dotadas de grande poder, porém ainda assim eram fora do normal.

Pelo jeito, minhas opções se resumem as minhas próprias experiências. Já lutei contra aquele ser algumas vezes, tenho alguns conhecimentos práticos. Talvez esses encontros tenham a resposta que eu preciso.

O que estou deixando passar?

- Por que essa cara Brian? – Ouço Jenny e viro meu olhos a ela, que vem andando do banheiro com uma toalha enrolada na cabeça, um jeans escuro e uma camiseta de manga longa cinza.

- Apenas pensando um pouco. – Digo voltando a encarar o livro sobre minha perna, dando novos goles longos até terminar a bebida, e deixo a xícara no ombro do sofá. – Não sei o que estou perdendo.

- O caso da Clara, não é? – questiona se sentando ao meu lado. Confirmo balançando a cabeça.

- O único que estou lidando atualmente, e que está exigindo bastante de mim... Estou tentando descobrir um meio de resolver isso de uma vez por todas, a Clara já passou tempo demais envolvida nisso. – Respondo respirando fundo. – Preciso descobrir uma solução o quanto antes...

-Você e Ferdinand não prestam nem um pouco. – Ela diz em zombaria, e reviro os olhos.

- Sabe nossos motivos Jenny. – Rebato de imediato – A Clara é sim uma fonte de informações muito valiosa, com ela conseguimos aprender algumas coisas sim, e se possível eu até gostaria de descobrir mais, ignorei várias tarefas do trabalho para me focar mais... Só que agora, tudo está se tornando cada vez mais perigoso para ela, e mesmo que hoje a Clara tenha as runas para se defender, não quero prolongar isso ainda mais... Não quero que algo pior aconteça com ela.

- Eu amo ver sua preocupação com ela, sabia? – Jenny comenta em um sorriso.

Nos encaramos por alguns longos segundos, mas não resisto e, com um riso, questiono. – E por que você ama isso?

- É divertido. No começo você vivia reclamando da Clara... Eu não podia nem perguntar dessa garota... – Ela ergue os ombros, soltando a toalha do cabelo castanho, o ajeitando com passadas dos dedos.

- E hoje não reclamo mais? – Sorrio de canto, erguendo uma sobrancelha.

- Não. Te ouvir reclamando é o que menos escuto ultimamente. – Jenny diz divertida, se colocando de pé em um pulo. – Na verdade, ultimamente não estou ouvindo, mas sim vendo como você está se esforçando bastante para cuidar dela.

Balanço a cabeça negativamente – Me esforçando tanto que estou aqui em casa, e não com ela... Com certeza sou um ótimo guardião... – Ironizo franzindo a testa, com uma péssima memória surgindo em meus pensamentos.

Não, eu não posso mais me lembrar disso. Isso já ficou para trás.

- Você está aqui a dias pesquisando alternativas para ajudar ela. – Ela embola a toalha em suas mãos, mesmo com seu cabelo ainda gotejando pouco pelas pontas. – É tão obvio para mim como você se preocupa... Posso te perguntar uma coisa?

- Fique à vontade. – Repondo curioso.

Ela me encara com um sorriso de canto. Jenny não diz nada a princípio, apenas passa alguns segundos me analisando – Sou sua melhor amiga e quero que seja sincero comigo, você sente algo pela Clara... Ou melhor, você é apaixonado por ela?

Essa pergunta me pegou completamente desprevenido, tanto por ser tão repentina quanto direta. Fico sem saber o que pensar, e também sem saber como responder. Sentir algo pela Clara, ou até estar apaixonado por ela?

Sim, já pensei nisso por algumas vezes...

Sei que sim, sinto alguma coisa pela Clara. Realmente no começo eu não tinha a menor paciência com ela, e o que eu mais queria era distancia daquela garota. Mas o tempo foi passando, coisas acontecendo e coisas mudando.

Não sei se o que eu tenho é apenas um afeto muito grande por ela, ou se realmente sinto algo maior e mais forte.

O problema é que sempre acabo estranhamente ansioso quando o assunto é a Clara, e isso é ainda maior em todas as vezes que vou encontrá-la. Minhas mãos soam, uma euforia me atinge junto de uma inquietação.

E quando estamos juntos, me sinto bem. Fico leve estando com ela.

Poderia passar horas apenas encostado em algum lugar olhando para ela ou a escutando falar sobre qualquer coisa que seja, por mais que o as vezes assunto seja bem tedioso... Mesmo assim, o som de sua voz me agrada.

Apesar que por várias vezes fico distante justamente para não criar nenhum tipo de sentimento como os que talvez eu já tenha agora. Sei que ela tem alguns problemas de relacionamento não resolvido, e eu sou alguém que, querendo ou não, ela conhece a muito pouco tempo e não sabe muita coisa.

Como posso querer me envolver com ela nessa situação?

Não sei o que é pior no agora, continuar sob esse olhar curioso da Jenny e não saber o que responder a ela, estar confuso sobre como me sinto em relação a Clara, se estou mesmo apaixonado por ela ou não, ou sentir minhas bochechas queimando com essa pergunta tão direta... Tudo junto talvez.

Tento falar algo, qualquer coisa, mas minhas palavras não saem. Tudo que consigo é gaguejar sem parar. Como só uma menção a Clara consegue fazer esse tipo de coisa comigo?

Desvio o olhar para o lado, me dando por vencido que não conseguirei responder, enquanto que escuto as risadas divertidas de Jenny.

- Já tenho minha resposta. – Ela diz, mas continuo encarando a parede. – Você está apaixonado.

- Por que perguntar esse tipo de coisa? – Digo em um fio de voz. Às vezes me impressiono com minha própria timidez.

- Só queria confirmar minha suspeita. – Ela diz com a voz animada enquanto eu ergo uma sobrancelha para essa suspeita dela – Poderia conversar com ela sobre isso, sabia?

Mal sabe ela que eu e Clara sequer tivemos a tal "conversa" que ela mencionou uma vez, aquela que poderíamos nos conhecer um pouco melhor sobre nossas vidas normais, esquecendo um pouco o problema com a entidade que parece estar sempre à espreita... Se nem conversamos sobre isso, como vou dizer para a Clara que posso estar nutrindo algum sentimento por ela?

Sendo sincero, eu gostaria de ter essa tal conversa, mas em um momento de calma entre nós.

Já me peguei pensando nessa possibilidade de sentir algo por ela, e não foi uma só vez. E é muito obvio que acho Clara uma mulher atraente, não só fisicamente... Aquele jeito dela chama minha atenção já a algum tempo.

Já tivemos alguns momentos entre nós, momentos que... Bem... Coisas aconteceriam.

Não é que eu não queria na hora, ou não queira agora. Não tem como não querer. Desde aquele acontecimento na sala na casa dela, aquela maluca consegue despertar meus desejos mais ardentes só com um olhar, e minha mente cogita muitas possibilidades a dois...

Na verdade, quando penso nela, naquele olhar e no jeito imprevisível, sinto a ansiedade de encontrá-la outra vez crescendo em meu peito. Preciso respirar fundo por muitas vezes para manter a timidez sob controle... Minha timidez, e meus desejos...

Desejos que a muito tempo deixei para trás, e acreditava que não os sentiria novamente.

Mas não sei se esses são sinais de uma atração física, ou uma atração sentimental...

- Não acho que posso. – Digo finalmente, após um longo momento pensando – As coisas entre nós não são tão simples... Antes de qualquer coisa, tenho um compromisso de manter a Clara segura até tudo isso acabar... Além disso, Clara ainda tem pendências com alguém, e não quero dificultar as coisas para ela.

- Ao meu ver, isso já está fácil a bastante tempo. – Jenny diz gargalhando, enquanto cerro o olhar para ela – Só preciso me lembrar do que me contou depois daquela noite na balada... Você com ciúmes dela, e na manhã seguinte ela ficando com ciúmes por saber que você "dormiu comigo", mal sabe ela como você demorou pra ir pra cama e dormir de fato... Sei não, acho que vocês se querem, mas não dão o braço a torcer.

- Gostaria que fosse assim tão fácil... – Suspiro pensativo, passando a mão pelo cabelo.

- Ai Brian... Sei que é difícil, mas você precisa superar o que houve no passado... – Ela balança a cabeça negativamente – Você não é mais o mesmo de antes. As coisas não irão repetir com a Clara.

O que ela fala faz sentido, sou diferente de antes.

Sou mais velho e também tenho bem mais experiência do que anos atrás, talvez as coisas sejam diferentes hoje... Isso me faz refletir por mais uma vez sobre a possibilidade de haver algo entre Clara e eu.

Uma parte de mim quer, tanto descobrir o que Clara pode sentir a meu respeito, e também descobrir cada parte e o quão sensual e atraente seu corpo é, além de minhas próprias fantasias secretas... A outra parte de mim acha tudo isso irreal.

- E agora outra coisa Brian... – Volto minha atenção a Jenny – Por acaso você dormiu?

Torço a boca e encaro o chão. Bato os dedos no joelho algumas vezes antes de finalmente encarar minha amiga de longa data – Não dormi desde ontem de manhã.

- Você precisa descansar Brian! – Ela ordena, pegando o livro da minha mão e o fechando. Essa atitude me incomoda, por isso me levanto para tentar recuperar o livro, porém Jenny o acerta no meu peito.

- Sabe que não preciso descansar tanto assim, eu... – Começo a falar, mas ela me interrompe.

- "Eu sou um guardião, e meu corpo é bem mais resistente do que de uma pessoa normal." – Ela repete em forte tom de tédio, o que sempre digo a ela quando estamos prestes a entrar em algum impasse por causa de sua preocupação comigo. – Blá, blá, blá, já sei disso Brian. Já sei que você é um monstro que aguenta muita coisa, da última vez que cuidou de alguém passou quatro noites sem dormir...

- Cinco. – A corrijo.

- Que seja... E depois dormiu por mais de trinta horas seguidas. – Jenny leva as mãos a cintura e me olha fazendo uma careta de brava. Apesar de eu achar ela bem meiga quando faz essa exata careta, sei que está falando sério. Seus olhos escuros praticamente me atravessam – Você é muito mais resistente que as demais pessoas, mas não me impede de me preocupar... Se você cochilar nem que seja uma hora, já será o bastante.

Dou um longo suspiro, passando a mão pelo rosto devagar e a encarando – Certo Jenny... Irei descansar um pouco.

Só não sei que horas irei descansar... Mas é claro que ela não precisa saber disso.

- Muito bem, se estiver descansado conseguirá pensar melhor. – Ela se afasta, seguindo pelo corredor e entrando no quarto que costumava ficar sem uso.

Balanço a cabeça negativamente, seguindo até a porta do quarto e me escoro no batente, observando Jenny sentada na beirada da cama que montei usando uma runa de molde avançada. Ela está calçando um par de botas de cano baixo e com saltos médios – Quer uma carona para o trabalho?

- Não precisa Brian. Sua casa fica muito mais perto do trabalho do que a minha antiga, e os ônibus daqui não costumam estar cheios... – Ela diz se levantando, alcançando um colete de gola alta e o vestindo rapidamente. – Sem falar que ainda está bem cedo, deu até pra tomar café da manhã, coisa que não podia fazer antes... E ainda chegarei adiantada.

- Tem certeza que não quer a carona? – Insisto rindo.

- Eu vou brigar com você! – Ela rebate risonha, ajeitando seu cabelo uma última vez – Você não faz ideia do quanto ajudou me deixando ficar aqui, não pretendo incomodar ainda mais.

- Que isso, não será um incômodo... – Digo rindo balançando a cabeça – Você é minha melhor amiga, não está sendo nenhum incômodo. Aliás, você também já me ajudou bastante várias vezes.

- Sim, mas você nunca me pediu abrigo por ter sido posto pra fora de casa pela família... Acho que isso é um patamar meio diferente. – Devolve gargalhando – Quando vi, você já tinha comprado essa casa.

Ela mencionar o fato de ter sido colocada para fora de casa faz meu sorriso diminuir até desaparecer por completo. Ouvir isso faz meu estomago revirar.

Conheço Jenny desde meu primeiro ano do ensino médio, isso já fazem dez anos. Já perdi a conta de quantas coisas passamos em meio a esses anos. Começos e términos de namoros de ambos, primeiros empregos, confissões e conselhos trocados, primeira vez saindo a noite que originou o apelido pelo qual a chamo até hoje, algumas noites em claro conversando por horas a fio, as várias viagens juntos... Sem contar que ela me apoiou quando decidi me tornar um guardião, e ainda a ajudei a entrar no emprego de hoje.

Não é exagero dizer que é minha amiga mais querida, e saber que minha melhor amiga foi despejada de casa pelos pais sem um motivo aparente me incomoda muito.

- O que está pensando? – Ela me desperta do meu pensamento.

- Nada, só relembrando algumas coisas. – Digo encarando o chão por alguns momentos – Por que não da entrada em uma casa própria? Hoje em dia você recebe o bastante para isso.

- Eu pensei isso quando me acalmei. – Relembro a primeira noite, quando Jenny chegou aqui em casa procurando abrigo. Ela passou horas trancada no quarto chorando e sequer saiu para comer. – Só preciso de um tempo para conseguir me ajeitar.

- Pode ficar aqui em casa o tempo que precisar. – Digo em um sorriso.

- Agradeço, mas preciso mesmo tomar um rumo. – Jenny me sorri, alcançado sua bolsa e saindo do quarto em passos apressados – Estou indo para o trabalho. Promete que vai descansar?

- Ta bem... – Suspiro – Mais tarde cochilarei um pouco.

Ela faz uma careta, chegando perto e me dando um beijo no rosto. – Se for ficar acordado, pense um pouco na Clara, pelo menos você sonhará acordado. – Ela diz dando uma piscada acompanhada de um sorriso, afastando devagar e correndo para a porta. – Se cuida Brian.

Permaneço no lugar por alguns segundos. Pensar na Clara... É provável que isso aconteça.

Volto para o sofá arrastando os pés e tentando retornar a minha linha de raciocínio. Encosto a cabeça no braço do sofá cama e estico as pernas, encarando o teto por alguns momentos.

Alcanço meu celular e olho as horas. Ainda vai dar seis e meia da manhã. Acredito que Jenny estará chegando no trabalho pouco antes das sete.

Meus pensamentos abandonam minha melhor amiga e retornam a Clara. Em dias comuns, acredito que nesse horário ela já estaria acordada para ir a sua aula... Ou estaria brigando com seu sono. 

Qual a chance dela estar acordada uma hora dessas, e ainda por cima, responder uma mensagem minha? Duvido ter tamanha importância assim.

Largo o celular de canto e fecho meus olhos, desistindo da ideia de mandar uma mensagem para Clara. A dias quero conversar com ela, mandar uma mensagem que seja... Mas o que irei falar? Que continuo concentrado nas minhas pesquisas?

Isso não é um assunto de verdade... Só estarei batendo na tecla "entidade" de novo, e imagino que ela esteja farta de conversarmos somente sobre isso na grande maioria das vezes.

Além disso, ela também não me mandou nenhuma mensagem desde a última vez que nos vimos. Ela disse que precisava de um tempo sozinha, e dei esse espaço para ela. Fico pensando como ela tem passado esses dias.

Já que estou no sofá, até chego a cogitar o que Jenny me disse, mas não acho que conseguirei cochilar por mais que tente... Mesmo assim permaneço no sofá, mantendo os olhos fechados e curtindo toda a paz que me rodeia.

Apesar que, ficar tanto tempo dentro de casa pode não ser uma boa ideia. Ao invés de relaxar, tem chance de eu acabar agoniado e, no pior dos casos, me estressando. Quem sabe eu deva sair e espairecer um pouco?

É exatamente isso que farei.

Levanto e corro para o quarto, trocando minhas roupas leves por um jeans folgado, uma camisa simples, uma jaqueta e sapatos confortáveis. Nada de ternos hoje, não penso em aparecer no consultório do Ferdinand mais tarde, então não tem a necessidade de ficar tão formal hoje.

Saio do quarto, alcanço o livro que deixei sobre o sofá, pego a chave do carro ao lado da porta e saio de casa. Dirigir um pouco e sentir o vento no rosto poderá me fazer bem, quem sabe eu realmente consiga voltar as pesquisas e pensar melhor sobre a situação da Clara.

Diferente do meu planejado anterior, acabei parando para comer em uma padaria que costumo frequentar desde que me mudei. Conheço todos os funcionários, se tornaram bons amigos. Eles mantém exatamente a mesma equipe desde o dia que conheci esse lugar, são ótimas pessoas para manter uma amizade.

E o melhor, eles não se importam se decido passar algumas horas relaxando ou pesquisando algo por aqui. Para eles, essa minha atitude é bem rotineira.

O ambiente aqui é agradável, calmo, e com muitas conversas comumente descontraídas, os demais clientes em grande maioria são bem simpáticos. O calor agradável daqui, junto ao aroma de pão francês recém saído do forno, bolos, salgados e várias sobremesas feitas na hora, tudo isso tornam esse lugar quase terapêutico de tão bom...

Acho que poucas coisas são boas assim.

Normalmente sempre paro aqui antes de ir trabalhar no consultório, pego um café da manhã caprichado que pode variar entre um lanche natural completo, uma nada modesta porção de pães de queijo, ou um salgado bem pesado... Hoje foi o dia de comer um risole de presunto com queijo, molho especial e cheddar.

Agora imagino, o que a Clara diria se descobrisse que um dos meus lugares favoritos é uma padaria perto de casa?

Tiro meu celular do bolso e olho as horas. Já passou um pouco das dez.

Desbloqueio a tela e vou diretamente para a as mensagens que troquei com ela pela última vez. Observo sua foto por alguns momentos enquanto um sorriso me surge, admirando sozinho a beleza de seus olhos e seu sorriso... E foi uma surpresa quando a vi de cabelo curto. Ficou diferente, não imaginei essa mudança, mas gostei.

Eu gostaria de vê-la pessoalmente para dizer o que achei.

Meus dedos digitam uma mensagem devagar, qualquer coisa que seja apenas para conversar com ela, mas meu receio me faz apagar cada palavra com o dobro da velocidade que escrevi.

Olho sua foto mais uma vez, e o informativo que esteve on-line a poucos instantes. Um suspiro me escapa e largo o celular sobre a mesa, encarando o prato do rissole que comi a pouco.

Desde o começo dessa semana, estive plenamente focado nos estudos para livrar a Clara em definitivo da entidade, nem cheguei a tirar um tempo para treinar meu corpo. 

Quando Marina me contou que estava hospitalizada e tudo o que aconteceu na viagem, acabei preocupado de uma forma que só fiquei uma vez na vida.

Senti medo. E quando a encontrei naquele metrô, um aperto tomou meu peito.

Pude ver apenas a cicatriz de um corte em seu rosto, mas aquilo foi o bastante para me deixar desnorteado. Sequer quis imaginar a possibilidade de haverem mais cicatrizes como aquela espalhadas pelo seu corpo. Apenas imaginar isso faz minha espinha gelar. Mas ver aquilo foi necessário, abri meus olhos naquele momento.

Não queria mais que ela corresse riscos. A treinei para que ela pudesse se cuidar quando estivesse sozinha, assim como ela mesma queria... Fiquei satisfeito em ver sua dedicação e como conseguiu aprender rápido, mesmo conciliando seus estudos com os treinos. Estava esgotada, mas se esforçando, e como pude tentei cuidar dela.

Mas ao encontrá-la no metro, percebi as verdadeiras proporções dos riscos que Clara está correndo hoje, entendi que não dá mais. Não vale a pena estender isso ainda mais apenas parar tentar descobrir mais alguma coisa.

Ferdinand pode até se incomodar com essa oportunidade por informações sendo jogada fora, mas eu não quero deixar a Clara correndo perigo por mais tempo.

Apesar que estive tão focado nas pesquisas, que desde nosso último encontro lá no metrô não falo com a Clara... Nem sei se aconteceu algo ou não. Que belo guardião estou me saindo. Eu deveria estar perto dela neste momento.

A Clara deve realmente achar que quero ficar longe dela.

Mal sabe ela como eu gosto da sua presença, mas como vou ficar perto dela quando sei da situação complicada do seu namoro... Isso é, se ela ainda estiver namorando... Seja lá a situação atual, aquele rapaz com quem ela namora não vai nada com a minha cara, e tenho noção que já causei algumas dores de cabeça na Clara.

Sei que hoje ela sente alguma coisa por mim, ou as vezes aparenta isso com algumas de suas ações... Não sei, talvez esteja vendo coisa onde não existe.

Mas com certeza, sei que sinto algo coisa por ela já faz algum tempo... Ainda assim, as coisas não são tão fáceis.

É nessas horas que eu gostaria de estar em Belo Horizonte com meu velho. Uma conversa com ele seria uma coisa ótima nesse momento, ele sempre me deu ótimos conselhos em todas as vezes que precisei. Adoraria saber o que meu pai me diria nessa situação.

Até poderia ligar, mas cedo desse jeito... Provavelmente ele já está na oficina, e só atenderia o telefone na hora do almoço. Sem falar que não quero incomodá-lo tão cedo.

Meus pensamentos são interrompidos quando meu celular apita sobre a mesa. Destravo a tela e percebo se tratar de uma mensagem da Marina.

Marina: Brian?
Marina: Responde por favor!

Tá legal... Quando começa assim, não é um bom sinal. Só de ler a mensagem fico apreensivo em saber o que se trata.

Brian: Estou aqui, o que houve?
Marina: Acho que precisamos de você aqui.
Marina: Para tudo e vem pra cá.
Marina: Tipo, agora.
Marina: E isso não é um pedido... Só vem.
Brian: Tá mas... "Pra cá" onde?
Marina: Casa da Clara.
Brian: Tá bem, estou indo agora. Mas me explica o que raios está acontecendo.
Marina: Sabe o Ricardo? Ex da Clara?
Marina: Apareceu aqui, e ele não parece muito certo da cabeça. Acho que ele tá bêbado.
Marina: Os dois estão discutindo agora na sala.

Marina: Tenta vir correndo, por favor. Estou com um mau pressentimento.
Brian: Estou saindo agora.

Praticamente salto da minha cadeira e corro para o balcão. Mal explico a situação para o atendente, apenas lanço uma nota de cem para ele e digo para ficar com o troco. Não tenho tempo agora, só preciso chegar até a casa da Clara.

Entro no carro e o ligo de imediato, pisando fundo a ponto dos pneus derraparem, e me afastando rapidamente da padaria. A casa da Clara não fica assim tão longe da minha, mas não tenho tempo a perder. Sabe-se lá o que pode acontecer.

Não, eu tenho que me acalmar. Preciso manter a calma. É da Clara que estamos falando, treinei aquela garota e sei do potencial dela. Se com a entidade existe dificuldades, com uma pessoa essa dificuldade não existe.

A Clara só precisa manter a calma, não ser arrogante e nem deixar o poder subir à cabeça. Fazendo isso, ela já terá ótimos pontos de vantagem.

Respiro fundo tentando manter a calma, mas é difícil. A preocupação cresce no meu peito, preocupação pela situação que a Clara pode estar, e também preocupação pelo seu bem estar. Sei que ela pode se virar bem sozinha, mas ainda assim me preocupo.

Mantenho a velocidade, tentando seguir pelo caminho mais rápido até a casa dela. É pouca coisa, poucos minutos.

Meu celular vibra outra vez em meu bolso. Alcanço ele sem desviar meus olhos da avenida. Dividindo minha atenção entre olhar para frente e olhar a tela, consigo desbloquear o celular, que abre diretamente na mensagem recebida.

Marina: Brian!!!
Marina: Socorro!!!

Alguma coisa aconteceu. Alguma coisa muito grande.

Sequer sei definir o que estou sentindo nesse momento. O frio na barriga aumenta ainda mais, engulo em seco lendo essa mensagem. Bato o dedo no botão de ligação e aguardo, enquanto mantenho o máximo de foco possível na direção.

Chama uma vez. Chama duas vezes. Chama três vezes. Vamos Marina, atenda!

A ligação chama por mais algumas vezes até finalmente cair. Sem esperar lanço meu celular de lado e foco em frente, apertando minhas mãos no volante e pisando fundo no acelerador.

O motor do carro ronca com toda a força e o carro dispara. Costuro o trânsito e avanço o mais rápido que consigo, desviando de carros e motos que insistem em aparecer no caminho.

Sinal vermelho!!! Droga, por que justo agora?

Bato uma mão no volante e desvio o olhar para o lado, focando no ônibus parado ao lado, esfregando uma mão no rosto impacientemente. Se não houvessem carros parados a minha frente, eu poderia furar o semáforo e seguir em frente, ficar aqui parado é horrível, a preocupação só cresce enquanto cada segundo parece uma eternidade.

O sinal finalmente abre e volto a acelerar, passando por todos os carros que antes ficavam no meu caminho. Em questão de poucos minutos já saio da avenida e sigo pelas ruas, forçando o motor ao limite para chegar o quanto antes.

Alcanço a rua da Clara e sem esperar, vou direto para a frente da sua casa, onde tem um SUV estacionado bem em frente à entrada. Desligo o carro e saio, encarando a porta da casa que está aberta... E o pior, está tudo muito quieto.

O que raios aconteceu ali dentro?

Fecho a porta do carro e vou correndo para a entrada sem perder um único segundo que seja, engolindo em seco e torcendo que as coisas não sejam tão graves.

Entro apressado na casa, parando de imediato com o estrago que encontro. Parte do corrimão da escada está destroçado, e a televisão arrebentada próxima aos meus pés. Papeis, restos de quadros, pedaços de madeira do corrimão e muitos cacos de vidro estão espalhados pelo piso...

E como se já não bastasse todo esse estrago, ainda encontro Ricardo desacordado próximo a porta, com um filete de sangue caindo por um corte lateral em seu rosto. Me abaixo e vejo seu pulso... Fraco, mas ainda está vivo.

Olho para o topo da escada, onde vejo alguém caído. Forço um pouco os olhos, e a julgar apenas pelo tom do cabelo e o pouco do rosto que consigo ver, aquela deve ser a mãe da Clara.

- Hoje não haverá um bater de asas... – Ouço a voz da Clara vindo da sala, atraindo minha atenção de imediato. Sua voz é seguido pelo forte ruído de algo sendo golpeado e o som de alguém arfando de dor, e logo mais um golpe.

Avanço em passos apressados, parando de imediato quando entro. A cena a minha frente me deixa completamente sem reação.

Clara está próxima a parede, de pé e de costas para mim. Seu rosto está voltado para baixo e ela segura um homem que nunca vi antes pelo pescoço, o obrigando a permanecer ajoelhado bem a sua frente. O homem está ofegante, com os braços caídos em volta do corpo, aparentemente sem forças. Ela está erguendo o punho cerrado, pronta para acertá-lo por mais uma vez.

- C... Clara? – A chamo em um sussurro, e de imediato ela para seu ataque.

Ela ergue seu rosto, e então vira-o vagarosamente para mim. Seus olhos encontram-se com os meus, neles existem o que parece surpresa por me ver... Mas não são os olhos da Clara que conheço.

Eles adquiram um tom avermelhado vivo, que da surpresa muda para a completa insanidade, enquanto que de seus lábios um largo sorriso tomado pela loucura toma forma.

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