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Capítulo 25 - Tarde de treinos

11100 Palavras

Bem que eu achei que não deveria esperar muito de Brian. Ele disse que viria logo depois de falar com Ferdinand sobre tudo que descobriu, e até agora não apareceu. Mas diferente de antes, ele deu notícias do quão atarefado estava.

A última notícia foi de hoje cedo, que Ferdinand precisaria ir trabalhar e ele iria preparar algo, e depois da minha aula, ele viria me buscar. Sei que tenho pesquisas a fazer e alguns projetos para pensar, mas tenho algum tempo ainda, e posso tirar alguns dias para praticar o uso das runas.

Pensando agora, a entidade está bem quieta nos últimos tempos. Desde aquela noite, ela não apareceu mais para me atacar, meu colar não reagiu, não aconteceu nada. 

Tudo está tranquilo, e a verdade é que eu não tenho certeza se fico calma ou com medo disso, afinal, não sei quando e nem de onde a entidade pode acabar aparecendo para me atacar.

Eu deveria ficar calma por não ser atacada, mas não ter uma noção de quando será um próximo ataque me deixa bem insegura. Além disso, se eu estiver sozinha acho que posso dar meu jeito abusando do colar de proteção e o pouco que sei das minhas runas, mas se alguém estiver comigo, posso não ser plenamente capaz de fazer algo a respeito.

Estar sozinha e ser atacada por aquela coisa "não é um problema", porque com certeza eu tentaria dar meu jeito e, na pior das hipóteses iria me ferrar por inteira, porém sem colocar ninguém além de mim mesma em risco. 

Mas e se um dos meus amigos estiverem perto?

Meu olhar é atraído para minhas duas colegas de sala. Primeiro a Marina ao meu lado, e depois a Letícia um pouco mais a frente, ambas concentradas na aula, pelo jeito ambas estão bem tranquilas e, provavelmente, com seus pensamentos com um foco bem diferente dos meus.

Se a entidade aparecer aqui agora, eu serei capaz de garantir o bem estar das duas?

A lembrança daquela noite me surge. Marina, Letícia e Tiago estavam lá comigo, todos os meus amigos daqui da faculdade, e também pessoas que conheci com o passar do tempo, e aquela maldita entidade apareceu para nos causar mal... Tentei dar o máximo que podia na hora, e mal consegui desestabilizar aquela coisa.

Aquilo foi frustrante, e estar ou não cansada e caindo de bêbada não era desculpa. Eu não consegui fazer muito por nenhum deles, e tive que deixar as coisas para o Brian resolver. Eu queria ter feito mais, mas não consegui.

Preciso fazer algo para não depender sempre dele. Melhorar meu uso com as runas para não ser um peso, ajudar meu guardião em situações contra a entidade, poder lidar com o problema por mim mesma se ele não estiver presente. Não serei imprudente como da vez que tirei meu colar e me arrependi logo depois, agirei com a cabeça no lugar.

Apesar que um outro pensamento me surge.

Já faz muito tempo, mas eu lembro de quando pude conhecer mais sobre essas tais coisas do Abismo graças ao Brian... Claro, o dia naquele restaurante de fast food, o mesmo em que vi Ricardo pela última vez. Relembrar essa data me causa um aperto no peito.

Mas não é isso que quero me lembrar, já passou da hora de eu parar de sofrer por causa do Ricardo, já passei por muitas coisas e ele não esteve presente, ele apenas me abandonou.

Devo ignorar isso, vamos Ana Clara, foco!

A verdadeira lembrança que me ocorreu, foi o trecho que meu guardião leu naquele livro sobre os seres do Abismo. Se não estou enganada, essas coisas aparentemente não são ruins, e nem são hostis a humanos e outros seres.

Pelo jeito, parece que eles até podem conviver junto da pessoa que estão habitando... Podem haver outros seres do Abismo vivendo com outras pessoas pacificamente. Seres assim parecem ser tão amigáveis, tão diferentes da criatura dentro de mim.

Eu fico me perguntando o que aconteceu para ser diferente comigo.

Tudo bem que ainda não sei muitas coisas sobre essa tal dimensão ou sobre as vidas que podem existir lá, mas algo que eu aprendi por aquele tal livro é que, nem tudo que existe lá no Abismo é ruim. Se essas criaturas podem ser pacíficas, o que houve para esse ser preso na minha mente acabar sendo tão agressivo?

Isso é estranho, as peças não estão se encaixando. Falta algo.

Vamos raciocinar, voltar tudo desde o início e tentar descobrir algo que deixei passar. As coisas começaram com um pesadelo antigo que tornou a acontecer só por... Alguns poucos dias? Não, acho que não foi nem isso.

Eu tive pesadelos por uma semana, que acabaram se repetindo na terrível manhã seguinte logo depois que a Marina me visitou, e foi apenas isso. Logo quando chegou em casa, o Ricardo me convenceu a ir em um psicólogo para tentar dar um jeito no problema.

Caramba, eu tive pesadelos em uma noite, e questão de horas depois aceitei ir a um psicólogo? É sério que eu aceitei isso? O quão tapada eu fui naquela hora?

É, foi como o Brian falou, teria sido melhor só terem tentado me distrair durante o dia que o tal pesadelo iria desaparecer sozinho. Provavelmente ele não teria criado vida, e eu estaria seguindo com a minha vida normal como se nada tivesse acontecido.

O que aliás, acho que não teria acontecido mesmo.

Mas isso ainda não é uma resposta, nem chega perto de ser uma. É apenas a atitude normal que qualquer pessoa teria tido, mas eu não e acabei me enfiando em um baita problema como consequência.

Me lembro bem do dia, e não sei ainda não tenho muitas respostas, porém tenho total certeza que tudo pode se resumir apenas nesse primeiro dia que tive os pesadelos e fui ao consultório do Ferdinand.

Talvez tudo se explique nos primeiros pesadelos que tive.

Espera, um pesadelo... E logo quando fui para a consulta, Ferdinand me lançou em um estado de hipnose, e logo o pesadelo se repetiu... Encontrei a tal porta, e depois disso a entidade apareceu fisicamente pela primeira vez.

Por acaso meu pesadelo que teria criado vida por alguma "energia" negativa vinda dessa tal dimensão... Ou então, uma criatura vinda do próprio Abismo passou pela porta, e incorporou no pesadelo que tive naquele mesmo momento e acabou influenciada?

Outro pensamento me surge agora... Se seguir por essa lógica, então será que a criatura presa dentro de mim hoje não é ruim originalmente, mas sim foi afetada e acabou corrompida pelo pesadelo naquele primeiro momento?

A entidade dentro de mim... Se ela for uma criatura boa em sua essência, mas acabou corrompida pelo meu pesadelo, será que existe chance dela ser purificada? Mesmo sendo ruim, ela poderia se transformar em um ser bondoso e conviver comigo?

Mas... E se tudo que estou pensando agora é loucura, e for um ser além de qualquer salvação?

Hipóteses e mais hipóteses. Eu não sei qual dessas pode ser o raciocínio mais correto... Tentei pensar a origem dessa entidade presa dentro de mim, e acabei cogitando se ela é um ser bondoso ou ruim.

Seja como for, por tudo que pensei, acredito que estou conseguindo chegar a alguma coisa que me dará algumas das respostas que desejo.

Meu pensamento é interrompido ao perceber meu celular vibrando no meu bolso. Me recupero de voltar a realidade assim tão rápido, percebendo a sala de aula em silêncio, e por isso tomo cuidado para não acabar chamando atenção para mim. Assim que desbloqueio a tela, vejo se tratar de uma mensagem de Brian.

Brian: Já estou aqui.
Ana C: Aqui... Onde???
Brian: Ué, onde mais garota? Em frente da sua faculdade.
Brian: Estou te esperando sair.
Ana C: Ah ta, entendi.
Ana C: Estava meio aérea, nem liguei os pontos.
Brian: Falta muito tempo para sair?
Ana C: Não muito.
Ana C: Menos de 10 minutos.
Ana C: Já já eu te encontro.
Brian: Tudo bem, estou te esperando.

E o motivo de alguns dos meus vários sorrisos bobos já está me esperando a alguns poucos metros de mim. Me permito dar um suspiro e desviar meu olhar da tela. É incrível como ele consegue me deixar tão bem apenas mandando algumas mensagens.

Olho para o lado, Marina está digitando algo em seu celular, e novamente meu celular vibra. Estranho isso e volto a olhar para minha amiga, e ela retribui o olhar com um sorriso travesso. Ela mandou algo no grupo que temos. Lá vem ela querendo aprontar alguma coisa.

Mari: Que cara de apaixonada é essa Clara?
Mari: Pensando no Brian?
Tiago: Ah não...
Tiago: Sério que eu perdi uma cara apaixonada da Clara?
Tiago: Por que não tirou foto disso Marina?
Mari: Tirar uma foto no meio da aula... Claro...
Mari: É uma ótima ideia Tiago...
Mari: Simplesmente ótima, maravilhosa.
Mari: Chance de eu ser pega não é nem um pouco alta. 
Mari: Não quer me amar de mais outro jeito não?  
Tiago: Será que senti uma ironia?  
Mari: Imagina, que isso. Ironia nenhuma.  
Mari: E então? Estou esperando senhorita Ana Clara.  
Mari: Você senta bem do meu lado, e estou agora vendo você lendo as mensagens e não respondendo nenhuma. Não finja que não está olhando!

Seguro meu riso por um segundo, virando o olhar para Marina que está tapando a boca com a mão também segurando a risada.

Ana C: Eu estava apenas ocupada assistindo essa maravilhosa interação de vocês dois.
Ana C: Mais divertida, impossível.
Ana C: Mas... Não me deixa quieta em Marina?
Ana C: Nem nas aulas...
Let: Duvido a Marina deixar algo passar.
Ana C: Concordo...
Mari: Difícil ignorar quando você está bem ao lado com uma cara de quem está nas nuvens.
Let: Tá... Eu concordo com a Marina nesse ponto. 
Let: Você parece nas nuvens mesmo.
Tiago: Somos dois. Eu também concordo. 
Mari: Você nem está aqui na sala, volta pra sua aula garoto! 
Tiago: Me deixa Marina! 
Ana C: Eu só estava pensando em algumas coisas minhas.  
Mari: Aham, sei...  
Tiago: Sabe que não tem nenhum problema admitir que está caída por ele, não é?  
Ana C: Claro que sei, e muito bem.  
Ana C: Digo o mesmo a vocês dois.

E é agora que eu deixo de ser o foco da conversa, para a minha sorte. Posso respirar aliviada e deixar a Marina e o Tiago se resolverem sozinhos. 

Agora que tenho certeza do sentimento mútuo entre os dois, meio que quero muito ver como essa conversa vai se desenrolar.

Ana C: A Letícia é a única que se salva
Let: Obrigada por me livrar dessa.
Tiago: Do que está falando?
T
iago: Alguém me explica? Pode ser você mesmo Marina.  
Mari: Não é nada! Me erra garoto!  
Mari: Aliás Tiago... Você não deveria estar prestando atenção na sua aula?  
Tiago: Sim talvez, se eu estivesse em aula né? 
Mari: O que? 
Tiago: Saio mais cedo que vocês, esqueceu?  
Tiago: Quem deveria estar prestando atenção na aula é você.  
Tiago: Que coisa feia em Marina... Logo você mexendo no celular em aula, isso não se faz.  
Tiago: Eu não esperava isso de você, uma pessoa tão dedicada as aulas...  
Mari: Vai caçar o que fazer!!! Me erra garoto chato!!!  
Tiago: Tá bom, tá bom, também te amo sua maluca. Depois irei te encher mais, fui!

Aperto os lábios com o que acabo de ler, e viro os olhos para Marina. Ela está estática com os olhos arregalados para o celular. 

Ela olha de um lado ao outro em uma expressão de espanto completo, até seu olhar finalmente encontrar com o meu.

Se for errado ou não, eu não sei dizer, mas minha vontade de rir agora é gigantesca.

Minha melhor amiga pende o corpo na minha direção, apoiando sua mão na minha mesa. Sua expressão continua sendo de surpresa – Você leu isso? – Cochicha cm a voz trêmula.

- Ah sim, li cada palavra. – Digo dando um sorriso de canto, apoiando o rosto na mão, a olhando de soslaio. – Tiago falando que te ama em tom de brincadeira.

- Eu sei que foi de brincadeira. – Uma irritação está presente em sua voz, erguendo sua mão vagarosamente, mostrando que está tremendo. – Eu sei... Mas então, por que estou assim?

Agora sou eu quem está surpresa. Marina está tremendo por isso, e com certeza eu não esperava por isso em nenhuma situação – É uma coisa que nós duas queremos saber. – Respondo.

Ela respira profundamente uma vez, soltando todo o ar pela boca – Eu não acredito que fiquei desse jeito por causa disso. – Marina move sua mão acima de seu seio, tocando por alguns segundos – Meu coração está batendo tão rápido que está quase pulando pra fora do peito. Eu não posso ser tão iludida assim.

- Eu não sabia que gostava tanto assim do Tiago... Sempre achei que você gostasse dos mais velhos – Sussurro junto a um curto riso.

Começo a guardar minhas coisas, sendo acompanhada pelo olhar de Marina, que logo começa a fazer o mesmo que eu – Eu também estou sabendo disso agora. Nunca fiquei assim antes.

- Só respire e não deixe esse ocorrido subir à cabeça. – Digo dando de ombros – Qualquer coisa, converse com ele sobre isso.

- Falar com ele sobre isso é algo que não sei se faço... Mas, seguirei o conselho de não deixar subir a cabeça. Não quero enlouquecer por isso. – Ela comenta, terminando de guardar suas coisas, enquanto lanço minha pesada mochila nas costas – E não pense que eu esqueci.

- Esqueceu de...? – Tento me fazer de desentendida.

- Que história é essa de "cara de apaixonada"? – Letícia questiona assim que nos aproximamos da porta, onde ela já nos aguardava.

- Só a Marina cismada comigo. – Respondo rindo – Não teve nada disso.

- Cismada nada, eu sei o que vi. Estava toda apaixonada. – Marina cerra seu olhar me analisando – Aliás, vamos comer algo antes de ir embora?

- Não posso. – Respondo, recebendo o olhar de ambas – É que o Brian está me esperando ai na frente já faz uns minutos.

Letícia da um sorriso de cumplicidade com Marina – Acho que descobrimos o motivo da suposta cara de apaixonada.

- As coisas fizeram tanto sentido agora. – Marina da uma risada. – Marcaram de sair juntos, isso explica tudo.

Essas duas, francamente. Apesar que eu não consigo fazer outra coisa além de rir – Não é nada do que vocês estão pensando. Só iremos resolver algumas coisas e mais nada.

Marina ergue os ombros rindo – Se está falando né... Mas sabem... Acho que podemos marcar alguma coisa para curtir.

- Nada de baladas e boates! – Letícia praticamente implora.

- Relaxa que também quero evitar algo assim por muito tempo. – Marina diz pensativa, enquanto passamos pelas catracas. Inevitavelmente acabo olhando em volta, buscando pelo meu guardião em qualquer lugar que seja – Praia! o que acham? – Ouço minha melhor amiga falando, o que chama minha atenção.

- Adorei, faz muito tempo que não vou para a praia. – Letícia diz animada.

- Sim, por mim tudo bem, gostei da ideia... – Digo olhando novamente em volta, encontrando Brian parado ao lado dos corrimãos aos pés das escadas, e sem perceber sigo em direção a ele, tendo a noção que ambas estão vindo atrás de mim – Então, vamos combinando a praia já para esses próximos dias.

- Vamos nos falando, agora vai se divertir... – Marina comenta rindo, passando por mim e dando um aceno – Cuide bem dela Brian! – Ela comenta de forma maldosa assim que passa pelo meu guardião, e Letícia apenas acena dando risadas.

- Pode deixar... – Ele junta as sobrancelhas sem entender, acompanhando minhas amigas com o olhar, as cumprimentando com um discreto gesto. Brian volta sua atenção a mim, apertando seu olhar ainda com um ar de confusão – O que foi isso?

- Coisas de Marina, nem queira saber. – Digo rindo, o vendo arquear suas sobrancelhas.

- Se está dizendo... Vamos? – Ele diz, levando as mãos aos bolsos do jeans escuro que está usando.

Assinto com um sorriso bobo, seguindo com ele. Aproveito para olhar meu guardião, vendo que por mais uma vez ele está com roupas bem descontraídas, diferentes de seus ternos. Uma calça jeans clara, uma camiseta branca justa no corpo e tênis compõem seu visual... E claro, aquele sobretudo cinza que ele nunca tira.

Uma curiosidade me surge, e agora que estamos andando pela calçada seguindo a direção oposta a qual eu costumo fazer sempre, irei aproveitar a chance de perguntar.

- Escuta Brian, quero saber sobre uma coisa. – Digo e recebo seu olhar curioso. Me aproximo, segurando o tecido do sobretudo que já me chamou a atenção por outras vezes – Por que está sempre vestindo isso?

- Ah, isso aqui? – Ele olha para si mesmo por alguns segundos – Essa roupa é diferente, existe uma avançada runa de defesa nela, que é responsável por aumentar a resistência natural do meu corpo. E também, me garante mais proteção contra várias coisas... É como se fosse um tipo de armadura.

Pisco algumas vezes, dessa vez já não tão impressionada como eu achei que ficaria. Na verdade, acho que lidei até bem ao saber disso. Talvez eu já esteja tão acostumada a essas coisas malucas que já nem me altero tanto ao descobrir algo novo.

- E realmente funciona? – Preciso aprender a não fazer perguntas tão idiotas. Acho que já vi coisas demais para precisar perguntar logo isso.

Enquanto andamos, retiro minha mochila das costas e a seguro pela alça enquanto caminhamos, quase a ponto dela tocar o chão.

- Funciona e muito bem. Se eu receber algum golpe, ele será amortecido a ponto de eu não sentir quase nada no corpo, além que efeitos de runas ou elementais não funcionam por completo... – Ele diz, passando uma mão pelo queixo – Te darei um exemplo prático, se eu não estivesse usando essa roupa naquela noite da boate, com certeza teria perdido meu braço.

Um calafrio me percorre ao escutar isso. Apesar de estar bêbada, as memórias daquela noite agora são nítidas para mim. Eu lembro de cada momento daquele confronto. As imagens repassam minha mente em um filme descontrolado, que me trazem desconforto.

- Mas eu vi como você estava machucado na manhã seguinte... Então... Não acho que funcione tão bem como está dizendo... – Digo desviando meu olhar.

- Acredite, teria sido pior se eu não estivesse vestindo isso... Muito pior. – Responde imediatamente, me fazendo engolir seco. Muito pior?

- Mas... – Começo a falar, pensando em uma maneira de fugir desta lembrança – Mas você já estava usando isso na primeira vez que te vi lá no consultório. – Digo ao me lembrar desse pequeno fato.

- Digamos que eu gosto de ser alguém, no mínimo, precavido. Nunca se sabe quando alguma coisa pode aparecer, então é bom estar preparado sabe. – Ele deu de ombros. – Nesses momentos, não é só poder de ataque que deve ser levado em conta, também é preciso manter uma defesa relevante para poder continuar vivo.

Torço um pouco a boca ao ouvir isso, me fazendo ter lembranças imediatas de Ricardo. Ele dizia exatamente essas coisas sobre os joguinhos dele, e me arrisco a dizer que era quase desse mesmo jeito. – Falando essas coisas, você me faz lembrar de um certo alguém...

- E esse certo alguém falou no mesmo contexto que estou falando agora? – Brian questiona sem nem me olhar, enquanto chegamos ao seu carro, que diga-se de passagem, hoje estava bem longe da entrada da faculdade.

Agora entendi o motivo de achar o carro diferente na última noite. Apesar da mesma coloração preta, de restante ele está realmente diferente. As peças da carroceria, capô e rodas foram alteradas por outras mais esportivas, além de ter um aerofólio instalado na parte traseira.

Agora o carro de luxo está mais semelhante a um modelo que fugiu de alguma pista de corridas ilegais, por mais que por dentro pareça inalterado.

Penso em responder, mas ele vira seus olhos a mim, como se soubesse do que, ou melhor, de quem estou falando. Ele deve ter entendido que eu me referi a Ricardo. – Não, foi em outro contexto – Respondo.

- Entendo. – Ele diz e ouço o destravar das portas, porem Brian não entra no carro. Seu olhar permanece em mim, analítico e calmo, parecendo decifrar o que tento ocultar dele com todas as forças – Vocês se acertaram?

Acabo me surpreendendo com Brian sendo tão direto e preciso com sua pergunta.

Minha vontade é tentar me fazer de desentendida total, mentir que nos acertamos, falar qualquer coisa que seja, fugir do assunto de alguma forma, mas... Não é a atitude mais certa, pelo menos eu sinto isso. – Não. As coisas se tornaram ainda mais complicadas.

- Se incomodaria de me falar como? – Ele é bem direto e seu tom mostra que seu interesse sobre isso é genuíno, apesar de Brian estar claramente tomando cuidado com suas palavras.

Dou de ombros – É simples, ele sumiu por dias. Não falou mais comigo... Ele me abandonou.

- Por minha culpa? – Questiona sem nem esperar, apoiando suas mãos no carro.

- Mais ou menos... Bom, eu não tenho nenhuma certeza sobre isso. – Digo em baixo tom, recebendo um olhar confuso do meu guardião – De começo eu acho que foi sim. Ricardo tinha um ciúme muito grande de você, só sua presença o incomodava e ele agia de forma diferente, era ridículo... Depois daquele dia na lanchonete, ele sumiu para não falar mais comigo.

Brian assente abaixando o olhar – E até agora nada de ele dar notícias... E te conhecendo, duvido muito você ter ido atrás dele.

- Eu tive notícias dele, mas do pior jeito... Ele deu em cima da Letícia. – Digo com pesar na voz por precisar voltar nesse assunto, não apenas isso.

A repulsa cresce em meu peito por lembrar o quão errado e baixo ele foi por isso. Não sou santa, também fui uma traidora e não nego isso, mas ele quem cometeu erros primeiro... Se bem que isso nem de longe é uma justificativa...

Na verdade, eu nem lembro mais quem errou primeiro, mas nenhum de nós é certo agora.

O homem a minha frente faz uma careta, uma de quando se recebe uma péssima notícia. Não sei se é uma expressão irônica ou se ele realmente considerou o peso que isso tem para mim.

Brian assente abaixando o olhar – Agora entendi quando disse complicado... Não imaginava que eu pudesse estar afetando tanto as coisas.

Balanço a cabeça negativamente repetidas vezes – Não se desculpe... Sabe, você está certo Brian, eu já não iria atrás do Ricardo antes. Não só porque meu orgulho não permitiria, mas também por causa de toda a situação que estou vivendo.

- Clara... – Brian tenta falar, mas aperto os lábios e ergo uma mão, o fazendo se calar.

- Não... – Digo irritada. Balanço a cabeça uma vez, com o olhar perdido pelo chão, mas logo encarando Brian novamente – Sabe o que mais? Ele sabia... Ele sabia desde o começo que minha cabeça estava a prêmio para essa entidade. Ele estava lá. Lá no começo, na maldita primeira vez que aquela coisa apareceu e me atacou, ele estava lá! Ele viu tudo que aquele monstro podia fazer desde o início... E sabe o que o Ricardo fez? Nada! Saiu andando!

Me afasto do carro, dando passos para trás, acompanhada pelo olhar do meu guardião. Largo minha mochila ao chão e passo as mãos apressada pelo cabelo.

- Ao invés de ficar ao meu lado e tentar me ajudar a passar por isso, ele perdeu a cabeça por ciúme e só foi embora! – Viro de costas para Brian, eu já estou gritando de tanta raiva que sinto agora, mas eu não estou nem ai. – Ele foi embora Brian, olha que lindo. Agora me diz... Eu devo ir atrás dele? Eu devo me acertar com ele? A resposta é não! Eu não quero, e eu não vou! Não preciso do Ricardo, não preciso de alguém igual ele que me abandonou quando eu mais precisava! Ele que vá para o inferno!

Eu explodi...

Eu explodi, perdi a cabeça, perdi meu controle, finalmente soltei o que estava entalado na garganta já a tanto tempo... Só agora reparei o quanto estou gritando de raiva, eu não faço isso... Minha respiração está alterada, praticamente ofegante pela minha ira e toda a angustia que essa situação me causa.

Tudo isso só mostra o quão revoltada eu estava com toda essa história, e principalmente o quanto eu estava tentando afundar isso dentro de mim.

Passo ambas as mãos pelo rosto tentando me acalmar, inspirando fundo e logo bufando. Eu não consigo recuperar a calma, parece mais difícil a cada segundo. 

Ando de um lado ao outro, querendo expelir todo esse estresse para fora de mim. Eu podia estar negando tudo. Negando muito e me esforçando para conter, mas não dá. Não mais.

Isso pesa demais... Pesa demais dentro de mim, eu tentei conter. Tentei ignorar a dor e todo o peso no meu peito o máximo que podia, fingi que não existia e só quis seguir em frente... Mas tem como fingir por mais tempo.

O pior é que nem chorar de raiva eu consigo.

- Me diz uma coisa... – Digo abraçando a mim mesma, ao mesmo momento em que aperto os olhos – Eu sou alguém tão ruim assim?

- Talvez... – A resposta vem rápida e é direta. Aperto mais os olhos, irritada com tamanha sinceridade vinda dele. – Mas ele também não é lá grandes coisas, ele me aparenta ser pior... Não sei da história inteira, mas pelo que imagino, nenhum de vocês é muito certo nessa história toda... Deve existir parte da culpa em ambos os lados.

Ouço passos, e logo uma mão pousa sobre meu ombro. Eu me assusto de leve com esse toque, por ser completamente inesperado.

- Mas infelizmente Clara, você não tem tempo para pensar nisso. – O tom de voz de Brian agora soa mais sério – Portanto, vamos embora.

- Só isso? – Digo ainda irritada mas agora focando minha raiva em Brian, retirando a mão dele do meu ombro, me virando para encará-lo. A proximidade entre nós me desconcentra, e seu olhar igualmente sério me desestabilizam. Mesmo comigo irritada como estou, Brian sequer se move ou se intimida, ele permanece me olhando sério e inabalável. – Eu acabei de surtar aqui, falei como me sinto... Abri meu coração, e você só fala "vamos embora"?

- É claro, você mesma acabou de dizer que não precisa dele. E antes já mostrou que não precisa dele, eu confio em você quanto a isso... Além do mais, eu não estou em posição de dizer algo para você fazer, afinal, ir atrás do Ricardo é uma escolha sua... – Ele respira fundo – Mas você tem problemas maiores para resolver agora, que irão decidir se você continuará viva ou não... Por mais que não queira, são esses problemas que devem ser resolvidos primeiro.

Cruzo os braços e desvio o olhar. Ele coloca as mãos nos meus ombros, me fazendo voltar a olhar para ele, porém não consigo achar palavras.

- Entendo que esteja irritada já a muito tempo com tudo isso, que o que mostrou agora talvez não deva ser nem metade do que esteja sentindo de verdade e tem muito mais que ainda quer dizer... – Ele hesita alguns momentos, porém seus olhos continuam em mim. Esses olhos fazem eu querer me encolher – Talvez eu esteja soando indiferente e parecendo não me importar com você, mas não é isso... Me importo com você e a forma como se sente, mas minha preocupação agora está com o seu bem estar em relação a entidade, e eu me preocupo principalmente que você continue viva, para que em breve você possa e ter a chance de resolver seus demais problemas com calma.

Aperto a boca sem deixar de encarar meu guardião – Isso não é o bastante para diminuir minha vontade de chutar seu carro... – Resmungo.

- Viu? Você já está bem, até está fazendo piadas... – Ele diz com um meio sorriso que acaba cortando toda essa tensão, e lentamente sua mão vem ao meu rosto, passando os dedos pela minha bochecha em um carinho. Sem me conter, eu sorrio também, aproveitando desse carinho tão acolhedor – É uma piada, não é? Se chutar meu carro, nós iremos andando.

- Não foi uma piada, mas prometo tentar não fazer isso. – Digo, e meu sorriso some aos poucos.

Fico pensando o que dizer a seguir, porém meus pensamentos desaparecem quando Brian me puxa para perto e me envolve em um carinhoso abraço, encostando meu rosto em seu ombro. 

É repentino e inesperado, mas é justamente o que eu mais estou precisando agora, e sem hesitar o abraço de volta, apertando os olhos e ficando em silêncio.

Meu coração bate forte e aperto ainda mais meu olhos. Mesmo no silêncio que nos envolve, cada vez mais estou confortada por sua presença – Desculpe ter te usado para desabafar... Ou melhor, por ter te feito ouvir meus berros.

- Relaxe, você estava precisando. Acabei puxando esse assunto também, então tenho minha parcela de culpa... – Ele sussurra descendo a mão devagar ao meu ombro até se afastar de mim. Brian olha para algo no chão e se abaixa, pegando minha mochila e a limpando com alguns leves tapas – Seja como for, sei que conseguirá dar um jeito nisso.

- Espero mesmo conseguir. – Digo respirando fundo, o vendo dando a volta no carro.

Brian da de ombros – É o que eu acredito... Agora, podemos ir?

Acabo assentindo e entro no carro sem esperar. Momentos depois ele entra, deixando a minha mochila atrás do seu banco. Percebo uma alta quantidade de sacolas sobre o banco de trás, o que chama minha curiosidade, mas decido não perguntar.

- E para onde vamos? – Questiono o olhando.

- Para minha casa, lá que poderei te treinar e ver o que consegue. – Ele diz, ligando o carro.

Dou um suspiro, me encostando no banco. Quero tentar esquecer todo o assunto mais pesado que tivemos agora a pouco, mas é difícil. Ainda me sinto irritada, tantas coisas, sentimentos ruins que surgiram e agora não querem desaparecer.

Eu só gostaria que as coisas não fossem assim tão difíceis.

- Está com as runas? – Brian me questiona antes que eu saia do carro.

Viro meu olhar para ele. Seu semblante, apesar de parecer saber a resposta que irei dar, ainda parece carregar um pouco de curiosidade. – Estou sim, nunca fico longe delas.

- Ótimo. – Ele diz, colocando a mão no bolso da calça e saca uma pequena argola com duas chaves, e a lança para mim, que por pura sorte consigo pegar – Preciso deixar umas coisas na cozinha, pode ir abrindo a porta para mim?

- E minha mochila? – Ergo uma sobrancelha, olhando para o banco de trás.

- Eu levo, não se preocupe. – Ele olha para o painel, desplugando o pen drive do rádio. Pen drive que deixei guardado na minha mochila por muito tempo só esperando uma chance para poder trazer algum som diferente para esse carro e causar uma surpresa em Brian. Ele vira seus olhos a mim, erguendo as sobrancelhas – Levarei isso aqui também.

- Não vi você reclamando quando coloquei minhas músicas para tocar. – Dou risadas e faço minha melhor cara de inocente, saindo do carro e já seguindo para a porta da casa.

- Isso porque não tive tempo para reclamar. Você não esperou um minuto sequer para começar a cantar. – Ouço meu guardião falando, e logo o som da porta do carro se fechando pode ser ouvida, porém em nenhum momento me viro para olha-lo.

- Me da um desconto. Já tive problemas demais para tentar ligar qualquer música nesse carro maluco. – Digo erguendo os ombros para mim mesma – É tecnologia demais para mim.

Abro a porta e deixo a luz da sala ligada, voltando meus olhos ao guardião. Ele está tirando sacolas e mais sacolas de mercado do banco de trás. Ele encosta a porta e, diferente do que eu esperava, ele ainda para ao lado do porta-malas e ainda tira mais algumas sacolas.

Fico olhando a imensa quantidade de sacolas que ele tenta carregar de uma vez, parecendo nem se cansar muito – Quer uma ajuda? – Ofereço.

- Não, isso tá leve. – Ele diz sem demonstrar esforço na voz. 

Brian ajeita tudo e vem caminhando na minha direção lentamente, carregando uma quantidade nada suave de coisas que, posso dizer tranquilamente, serem uma compra de mês lá de casa. E claro, não posso esquecer da minha ilustre mochila com alguns bons cadernos, blusa e tralhas ajudando a fazer peso.

Apenas acompanho Brian passando por mim e indo para a cozinha, despejando aquela montanha de compras sobre a mesa. Imagino que ele possa falar qualquer coisa, porém não é isso que acontece. Ele começa a guardar tudo sem falar absolutamente nada, e apenas me limito a observar tudo que ele faz.

Me pergunto como ele ainda tinha dinheiro para comprar tudo isso para a casa, logo depois de ter modificado tanto o carro como andou fazendo... Imagino que modificar uma Mercedes por inteira não seja uma coisa muito barata. 

Nesse momento, todas as vezes que Brian reclamava sobre peças de carro começa a fazer muito sentido para mim...

Mas se eu me lembro bem, esse carro está bem longe de estar quitado, então por consequência, as coisas voltam a perder o sentido lógico.

Em resumo: Não entendo o Brian.

Ele bate suas mãos algumas vezes e retira seu sobretudo, deixando sobre uma cadeira, se virando para mim – Quer comer algo?

- Não, agradeço. – Digo erguendo uma mão.

- Tem certeza? – Ele insiste, apoiando uma mão na mesa – Você não comeu nada desde que saiu da sua aula, precisa se alimentar... Te preparo algo, não irei demorar.

- Tenho certeza absoluta. Estou sem fome nenhuma. – Dou um meio sorriso.

Ele assente, seguindo para fora da cozinha, retirando minha mochila de suas costas e me entregando – Pois bem... Então, se quiser ir se aquecendo, fique a vontade. Antes de começarmos, só irei tomar um banho.

Apenas concordo e sigo para o sofá, enquanto Brian se afasta de mim. Pego as folhas com as runas, e de um pequeno bolso, alcanço a caixinha com a pedra azulada onde a runa do raio está guardada.

- Ah Clara, uma coisa... – Ouço meu guardião falando, o que automaticamente leva minha atenção a ele. Acabo notando uma toalha e algumas roupas leves debaixo de seu braço – Por favor... Nada de invadir meu quarto como da última vez.

- É só você trancar a porta ué. – Dou um sorriso de canto, dando de ombros. – Eu nem faria nada, mas já que mencionou isso, talvez eu apareça lá... Sabe que posso considerar isso como um convite, não é?

Ele me olha surpreso, e eu poderia dizer que ele está preso ao chão. Brian aperta um pouco a boca enquanto olha de um lado ao outro, aparentemente sem jeito.

Ele cerra seu olhar e se vira de uma vez, e posso escutar ele sussurrando "eu e minha boca grande" enquanto se afasta devagar, me deixando com meus risos animados, que logo cessam quando já não o vejo mais. O curioso é que Brian não saiu resmungando, acho até que ele disse isso com certa animação.

A casa fica em silêncio, que é rompido pelo som do chuveiro iniciado ao longe, que por um instante atua em mim como se fosse mesmo um convite. Será que eu deveria esperar ele no quarto como da última vez, mas já na cama e com roupas a menos?

Olho fixamente na direção do quarto dele, e com um sorriso travesso, vou até o corredor na ponta dos pé e espio. Para minha surpresa, encontro a porta do seu quarto aberta.

Espera um pouco, será que aquilo foi mesmo um convite?

Meu corpo avança devagar, e meu peito bate forte conforme avanço. O som do chuveiro parece mais alto do que da última vez, e com as mãos no batente, espio o quarto, temendo ser pega pelo meu guardião.

Se bem que, se isso acontecer, não irei reclamar.

Minha atenção vai para a porta do banheiro, a qual vejo entreaberta. Eu não deveria fazer isso... Eu não deveria fazer isso, não deveria...

Quando dou por mim, minhas mãos empurram devagar a porta, e por entre todo o vapor e o vidro levemente fosco do box, enxergo meu guardião. 

Meu corpo incendeia com a visão que tenho. Seu corpo por inteiro, seus traços, seus movimentos, tudo nele faz meu corpo enlouquecer em desejo e implorar por ele.

Neste momento, muito mais do que qualquer outro, ele é uma tentação para mim. Uma a qual não quero fugir, mas sim agarrar e não soltar mais. 

Minha mente vai longe... Imaginando como seria estar debaixo daquele chuveiro com ele, sentindo seus toques, suas mãos passeando pelo meu corpo e sua boca percorrendo minha pele. Imaginando como é sentir seu corpo com o meu, seu calor, sua intensidade. 

Imaginando como deve ser me entregar ao prazer com ele.

Quero descobrir cada sensação, sentir tudo, eu só preciso entrar... Apenas mais um passo...

Num estalo desperto de todos esses pensamentos, e imediatamente paro o que estou prestes a fazer. Sacudo a cabeça negativamente e volto apressada para a sala, ignorando esse meu pensamento sem noção, e começo a dedicar toda a minha atenção em praticar até que ele volte... Mas vai ser difícil querer me concentrar depois que vi tudo isso. Foco Clara.

Foco... Foco... Nada de pensar no meu guardião debaixo de um chuveiro a poucos metros.

Nada de pensar em como faríamos aquele banheiro pegar fogo juntos... Nem em como eu saciaria todo o meu fogo sem o menor arrependimento.

Ai Meu Deus, que fogo... Assim vai ser difícil.

Bem... Vamos lá... Brian disse para ir me aquecendo, mas isso significa tentar algo?

Talvez, mas usar as runas significa gastar minha energia e correr o risco de ficar fadigada muito rápido... E digamos que Brian não é a melhor das pessoas quando o assunto é acordar alguém. Não quero tomar outro banho de água gelada nesse sofá.

Se fosse um banho de água quente, e ainda mais com um certo alguém... Espera, não! Não pense nisso, se controla Ana Clara!

Bem... Ficar cansada depende da runa que eu tentar usar, e também de como usar.

A de impacto definitivamente é a runa que melhor sei usar, mas em contraparte é a que mais me esgota. A do raio se mostrou uma péssima opção na primeira tentativa, apesar de se assemelhar a do impacto. A runa da velocidade esgotou tanto a mim quanto Marina depois que o efeito passou. A do molde eu não sei usar, e a da sensação me parece ser bem idiota, sem contar que não tenho a menor ideia de qual o verdadeiro uso dela.

Querendo ou não, acho que precisarei questionar Brian sobre como usar cada uma delas.

Hm... Como seria o Brian usando a runa da velocidade? Será que as coisas ficaria melhores?

Ai... Preciso abaixar todo esse fogo... Mas tá difícil, tudo me faz pensar nele...

Tá, voltando... A única runa que usei e não me desgastou tanto foi a da luz. A primeira vez que a usei foi contra a entidade, e eu estava bêbada, então eu já estava caindo de cansaço. A segunda vez foi mostrando a Marina, e me lembro que não acabei tão cansada.

Já sei por qual começar.

Me ajeito no sofá sentando em perna e índio, encostando minhas costas da forma mais confortável. Deixo a runa da luz entre minhas pernas, junto as mãos com as palmas viradas para o alto, fecho os olhos e respiro fundo.

Vamos lá, eu sei bem como isso funciona. Tentar esvaziar a mente, respirar fundo e me concentrar em mim mesma. Sempre quando faço isso, as sensações começam a aparecer. É fácil, pelo menos parece mais fácil agora. Inspirar profundamente, e respirar calma.

Tranquila e suave, não estou em perigo agora, posso levar o tempo que eu precisar, acumular a energia que achar necessária. Sem pressa Ana Clara, apenas se concentre.

Os poucos sons a minha volta desapareceram, apenas existe a mim, unida as sensações que emergem do meu interior. As sensações surgem em meu peito semelhantes a uma chama, que logo se espalham em pequenas ondas ritmadas por dentro de mim. Não apenas isso, me sinto em uma estranha união ao silêncio, ao ambiente. A brisa do cômodo toca meu corpo em uma suavidade pertencente somente a ela, abraçando meus braços e percorrendo tímida pelo meu corpo.

Essa mesma brisa que antes apenas me abraçava, começa a entrar pelo meu corpo, unindo-se ao que antes já me percorria. A chama que deu origem a todas essas sensações se expandem, alimentada pela brisa de antes. É quente, me aquece e aconchega, além de ser calma.

Respiro fundo, soltando todo o ar pela boca e erguendo uma mão. Sei o que fazer, guiar toda essa força interna para uma parte do meu corpo, e então decidir. Um clarão luminoso, ou comprimir toda a energia reunida em um único ponto?

Acho que um clarão irá me desgastar mais rápido, então tentarei pelo modo mais discreto. Por isso, começo a reunir tudo na palma da minha mão. As energias serpenteiam meu corpo, lentas e discretas, deixando uma estranha sensação de frio no espaço que antes ocupavam, por mais que eu saiba que nada realmente tenha mudado.

Ao momento que tudo se reúne, comprimo toda a energia ao mesmo tempo que guio para fora do meu corpo. Mesmo de olhos fechados, consigo perceber uma forte luminosidade bem a minha frente e o calor sobre minha mão. Um calor que vem de algo próximo, e com isso, tenho a total certeza de que consegui.

- Impressionante Clara! – Ouço de repente, me pegando tão desprevenida que grito de susto.

Abro os olhos rapidamente, vendo a esfera branca perdendo seu brilho muito rápido até se tornar transparente, e se esvai na minha mão em um estouro silencioso, exatamente como da primeira vez.

Estou ofegante, não só pelo cansaço, mas principalmente pelo susto. Pisco algumas vezes, notando Brian sentado no chão bem a minha frente, mantendo os braços cruzados e me encarando com um sorriso.

Ele está com os cabelos pouco úmidos jogados para trás e alguns fios rebeldes caídos pela sua testa, está vestindo uma camiseta regata vermelha justa ao corpo bem definido e uma calça preta folgada, além de estar descalço. 

Apenas por olhar para ele me faz lembrar de tudo que vi no banho, e nesse instante sinto minha boca secar, e meu corpo voltar a esquentar. Minha vontade agora é sair desse sofá, sentar em seu colo e deixar que a natureza faça o resto entre a gente. 

Respiro fundo sentindo meu corpo tremer de desejo, deixando de olhar para ele... Preciso me concentrar para não ficar imaginando seu corpo por debaixo dessas roupas, nem em todas as coisas que estou louca para fazer com ele na primeira oportunidade... Desse jeito, não conseguirei treinar. 

- Você se saiu bem, gostei do que vi. – Ele diz, e de soslaio o vejo apoiando ambas as mãos no chão.

- Precisava ter me assustado? – Resmungo com a voz falhada, sem saber se estou irritada pelo susto, ou se estou me contendo para não agarrá-lo.

- Ué, achei que você tinha me notado. – Ele diz com um olhar inocente – Saí do banho faz uns minutos, aliás, entrei na sala falando perguntando por onde você queria começar... E vi o que estava fazendo.

Cerro o olhar, desconfiada da veracidade de suas palavras – Sério isso? – Ele confirma balançando a cabeça – Eu não te ouvi.

- É, pela sua concentração, realmente não deve ter me escutado chegando. – Ele diz rindo, passando uma mão pelo queixo enquanto me observa. – Você pegou bem o conceito inicial, e já pude perceber algumas coisas sobre você.

- Tipo? – Digo em um tom curioso, ainda respirando fundo.

- Primeiro Clara, você ainda leva algum tempo até conseguir se concentrar... – Ele cerra seu olhar em mim por alguns segundos antes de continuar. Em nenhum momento ele deixa de me estudar em cada detalhe, o que me deixa bem sem jeito – E ao que parece, você ainda precisará refinar seu uso de energia para não se cansar tanto.

Concordo com a cabeça, sendo que isso é totalmente óbvio para mim, principalmente a parte sobre me cansar – E como posso fazer isso mesmo?

Ele me observa com um semblante pensativo – Antes quero que me explique do começo ao fim, como você descreve suas ações, até conseguir ativar as runas.

A pergunta me pega desprevenida. Cruzo os braços, refazendo todos os passos mentalmente para então contar a ele – Bem... Eu tento me concentrar primeiro, não pensar em nada que me distraia. Depois de me concentrar, uma chama cresce dentro de mim, não sei descrever mas é uma força interna, ela se espalha pelo corpo a cada segundo, e aquelas sensações de ondas percorrem ao corpo... E por fim, eu guio tudo isso para poder ativar a runa que eu quero.

Ele balança a cabeça repetidas vezes enquanto me ouve – Entendi, você usa tudo. Alguma vez, você já tentou usar apenas um pouco dessa força interna?

- Apenas um pouco? – Questiono curiosa, e pela maneira como ele diz, isso agora me parece ser tão obvio. Mas sendo sincera, eu não me lembro – Acho que não... Talvez só uma ou outra vez.

- Está explicado. – Ele responde sorrindo sem deixar de me olhar. Brian ergue sua mão esquerda, onde segundos depois percebo a runa entre minhas pernas começar a brilhar, e uma luz emanar de sua mão. – Seu cansaço é devido a você usar toda a força do seu corpo, mesmo nas runas mais simples. Você se desgasta muito, e não tira o potencial máximo da runa.

- É tão simples assim? – Ironizo.

- Mais ou menos. – Ele da de ombros, fechando o punho fazendo o brilho cessar – Apesar que preciso admitir algo. Apesar do seu uso de energia precisar ser melhorado, seu domínio sobre elas pode ir muito longe, você demonstrou uma capacidade interessante.

- Por que diz isso? – Ergo uma sobrancelha.

- Simples minha cara. Tente ativar a mesma runa da mesma maneira que acabou de fazer, e eu te explicarei o motivo. – Ele me sorri, seu olhar mostra sua expectativa. Cada vez mais, Brian demonstra estar interessado – Mas dessa vez, tente de olhos abertos.

- O que? – Questiono, olhando de um lado ao outro – Mas assim eu não consigo me concentrar...

- Tente. – Ele insiste, cruzando seus braços outra vez.

Não tenho outra escolha pelo visto. Ergo minha mão e tento por mais uma vez. De olhos abertos é mais difícil, afinal muitas distrações se mostram presentes. Qualquer coisa acaba sendo uma distração. Mas eu devo ser capaz de fazer, mesmo que só um pouco.

Aperto os olhos, tentando me concentrar em mim, porém as sensações são vagas, difíceis de sentir em sua totalidade. Elas surgem e logo desaparecem, algumas são mais fortes, e outras mais fracas, mas todas eventualmente desaparecem.

A frustração de não estar conseguindo vai me irritando cada vez mais. Meu humor já não estava muito bom antes, e agora mais isso para me irritar?

Junto a minha irritação, algo surge dentro de mim. A força interna que almejo aparece, mas muito mais intensa do que antes, é mais forte, quente e dominante. Mas ao mesmo tempo, é extremamente mais difícil de me concentrar e manter tudo isso sob controle. Não posso desistir, tenho que me concentrar.

Respiro fundo, focando meu olhar a palma da minha mão. Tento repetir tudo, mas as energias não me obedecem, não vão para onde quero como nas vezes anteriores, permanecem movendo-se livremente dentro de mim. Me forço mais e mais, sinto um suor inexistente caindo pelo meu rosto. Por que não funciona?

Não precisa ser do corpo inteiro, apenas de uma única parte. Mas como fazer isso, se sequer consigo controlar tudo isso como fiz antes?

Olho de relance para Brian, que continua apenas me olhando atento com os braços cruzados, em seu rosto está nítida sua expectativa pelo meu rendimento. Uma dica seria muito útil agora, mas não parece que terei uma. Ele só me assiste, ansioso por algo que não sei se consigo.

Repito o ato de respirar fundo, focando minha mão outra vez, e finalmente tudo começa a se mover. Mas não precisa ser toda a energia, apenas um pouco.

Com dificuldade, é isso que tento fazer, guiar tudo a minha mão, focar nesta energia deixando meu corpo e tomando forma, e é isso que acontece.

A runa entre minhas pernas volta a brilhar, e pequenos pontos luminosos surgem da minha mão e começam a se unir em um único ponto, e gradualmente uma esfera luminosa toma forma. Sua intensidade não é tão grande, mas o brilho é contínuo, e posso sentir o calor vinda dela.

- Isso, desse jeito... – Brian diz sorrindo, atento a tudo. Ele se aproxima devagar, olhando de mim para a runa, tocando minhas mãos suavemente – Assim mesmo... Está indo muito bem Clara, continue assim... Agora, tente manter a runa ativa...

Quero perguntar como fazer isso, mas tenho medo de falar qualquer coisa e acabar perdendo a concentração. Na verdade, eu tenho medo de me mexer um pouco que seja, e acabar perdendo tudo que conseguir agora, que por sinal, está complicadíssima de manter.

Sei que estou respirando com o máximo de cautela, apertando os dentes e mal pisco. Minha mão e meus dedos tremem, e logo isso se espalha ao meu braço devido a todo meu esforço. Tenho medo de acabar fracassando na frente dele com o menor movimento que fizer.

Apesar de não saber como fazer isso, a esfera permanece ativa. Ela brilha sem parar sobre a minha mão, e não parece estar instável. Devagar, relaxo o corpo e a luz não se dissipa. Aproximo um pouco a mão do corpo, e ela segue da mesma maneira, inalterada. 

Tento mover a mão por mais algumas vezes e a luz permanece, e só então viro meu olhar para Brian. Consegui fazer o que ele me disse, com muita dificuldade, mas consegui.

- Muito bem Clara, e agora, veja bem essa esfera. – Ele diz apontando, e faço o que ele me pede, ainda sem entender. – Nem eu e Ferdinand conseguimos ter esse controle e manipulação de forma tão precisos na runa da luz como você está mostrando ter... A forma como utilizamos é priorizando sua eficiência sem nos focarmos na manipulação de forma, por isso nenhum de nós conseguiu criar uma esfera dessas como você, e essa é uma das mais básicas.

A surpresa pelo que ele acaba de falar acaba tirando meu foco da runa, e ela começa a se desestabilizar e a força da luz vai se dissipando. Repito o gesto de Brian e fecho minha mão, e ao mesmo instante a esfera tem seu estouro mudo e desaparece no ar. Neste momento respiro fundo para recuperar o folego que perdi sem perceber, e o cansaço me atinge.

- Entende agora quando eu disse que possui uma capacidade interessante? – Ele diz animado, se levantando. – Acredito que, por consequência, a runa do molde foi fácil para você.

- Ah, então... – Digo, desviando o olhar. Não nego que me senti orgulhosa por saber dessa minha "capacidade". Mas agora ele tocou nesse assunto de outra runa não sei como responder, afinal, é uma das runas que sequer sei como usar. – Digamos que não foi assim tão fácil...

- Como não? – Ouço seu tom surpreso – Se consegue dar forma a runa de luz, a do molde fica bem mais fácil.

- Eu não consegui usar ela... – Digo em um fio de voz, sem olhar para ele.

- Ué... Não? – Ele sussurra confuso – Bem, ela é um pouco mais complicada para iniciantes, mas nada assombroso. A reunião da energia é a mesma, mas você precisa mentalizar o objeto que deseja, e imaginar ele tomando forma na mão.

- Era preciso imaginar ele tomando forma? – Questiono, e ele confirma com a cabeça – Deve ter sido por isso, eu só imaginei o objeto, mas não dando forma a ele.

- É a etapa final. É com uma versão específica dessa runa que consigo dar forma para as armas que uso – Ele diz, erguendo o braço e tocando suas tatuagens em ambos os braços.

Antes eu achei que eram apenas linhas e símbolos estranhos tatuados em seu corpo, mas agora sei identificar melhor o que são as tatuagens que Brian tem pelo corpo – Você... Tem runas tatuadas pelo corpo...?

- Apenas duas, você já... As viu, não lembra? – Ele diz erguendo uma sobrancelha, e de cara me lembro da primeira vez que estive aqui e o peguei saindo do banho... E lembro também do que vi poucos minutos atrás, com muitos detalhes. –Ambas são do molde, uma voltada para lâminas e outra para armas de fogo, apesar da minha preferência em usar apenas o molde de lâminas.

- Entendi... – Digo assentindo, tentando não me perder em pensamentos errados, e fracassando miseravelmente nisso. Algo me surge em mente, uma runa que usei, mas nunca entendi bem seu propósito – E a runa da sensação... Para que essa serve?

- O próprio nome dessa já diz. Você escolhe uma sensação em específica, pode ser de cheiros, sabores, noção de temperatura, fome, dor, prazer, disposição, cansaço... O que quiser, e lança sobre a pessoa alvo. – Ele diz calmamente.

Algo me surge em um estalo – Espera... Tem que escolher uma sensação?

- Sim, você escolhe uma sensação, decide se aumenta ou diminui, e a runa obedecerá sua vontade. Se você ativar essa runa em qualquer pessoa ou em si mesma, sem antes escolher uma sensação e se deseja intensificar ou não, a runa vai enlouquecer e o alvo vai ter todas as sensações diminuídas e aumentadas drasticamente de forma aleatória... – Ele para de falar, cerrando seu olhar para mim – Por favor Clara, não me diga que você lançou essa runa em alguém...

Não respondo em palavras, mas assinto tímida.

- Ai não... – Ele diz, levando ambas as mãos ao rosto e assim permanece. Ele nem tenta conter, apenas começa a gargalhar sem parar – Quem foi a vítima disso?

- Meu pai... – Digo em baixo tom, e Brian simplesmente solta risadas animadas. Nunca vi ele rir tanto como está fazendo agora – Para de rir de mim! Não é engraçado!

- É sim. – Ele me responde, apoiando o rosto na mão e me olhando, mantendo um largo sorriso divertido no rosto. Ele tenta respirar, mas logo volta a rir – Caramba, você usou uma runa de sensação pura no seu velho? Como que foi isso garota?

- Foi na primeira manhã que eu estava com as runas... – Eu até tento ficar séria, mas não consigo e já estou rindo antes de terminar de falar – Eu estava bem curiosa e decidi testar ela, e o papai foi a cobaia da vez... Ele começou a sentir tantas coisas de uma vez que saiu correndo da cozinha em menos de um minuto.

Ele ri animado com o que eu acabei de contar, e secando uma lágrima que surge no canto de seu olho. Brian tenta se conter, mas logo volta a rir – É a primeira vez que escuto que alguém testou uma runa de sensações desregulada no próprio pai. Não imaginei que pudesse ser assim tão engraçado. – Comenta entre os risos e tentando respirar.

- Para de rir Brian! – Reclamo, mas eu mesma estou rindo também. Não posso negar, também acho muita graça nisso. – É com meu pai, tadinho dele.

- Só paro de rir se você parar primeiro. – Ele diz entre os risos, encostando a cabeça no assento do sofá, cobrindo o rosto com uma almofada e rindo ainda mais.

Respiro fundo e tento uma pose de séria, que se desmonta nos primeiros dois segundos e voltamos a rir juntos. 

- Pelo menos agora sei como usar a runa da sensação de forma certa. – Digo rindo, dando de ombros. – Tadinho do papai, não farei algo assim de novo.

- Por favor, se algum dia for lançar uma runa desregulada em alguém de novo, me chame antes. Eu vou querer assistir isso. – Brian solta um largo sorriso, endireitando sua postura.

- Pode deixar, será o primeiro que irá ver. – Concordo rindo.

- E agora Clara, vou te ensinar algo sobre outra runa... Ou tentar – Ele tenta conter as risadas respirando fundo. Ele puxa o ar e solta pela boca, aparentemente mais calmo e, juntando as mãos a sua frente, Brian volta a me olhar – Mas para isso, precisamos de um copo ou uma garrafinha com água, ou qualquer coisa que dê para lançar...

- Eu pego um copo de água – Digo, já me levantando. Mas me ergo tão rápido que sinto uma leve tontura. Minha visão se torna levemente mais turva, e as coisas começam a girar, sem contar que sinto meu corpo um pouco mais pesado.

- Cuidado Clara. – Brian se põe de pé de imediato, levando suas mãos a minha cintura me dando apoio o bastante para que eu não caia. De imediato, apoio minhas mãos em seus ombros, olhando no fundo de seus olhos – Você já está sentindo a fadiga por manter a runa de luz ativa, ela gasta energia conforme você a mantém... E ainda por cima nem comeu nada... Não quer descansar um pouco ou comer algo?

- Não precisa, estou bem... Estamos só começando. – Digo em um sorriso, e a tontura passa. Me afasto dando alguns passos atrás, sem conseguir ignorar a nossa proximidade – Vou lá buscar a água.

Brian me olha por alguns segundos, em seu olhar enxergo ele tentando ter certeza da veracidade das minhas palavras – Tudo bem, estarei esperando lá fora.

Assinto e me viro, seguindo para a cozinha. Penso em pegar o primeiro copo que vejo no armário, mas acabo optando por uma garrafinha um pouco maior. A encho de água quase até transbordar. Me viro e volto para a sala, que já está vazia.

Avanço para fora de casa não sentindo mais nenhum cansaço aparente. Ao sair, meu guardião já espera, encostado no carro como se fosse um daqueles rapazes de filmes americanos.

- Prontinho – Digo em um sorriso, erguendo a garrafinha.

- Ótimo, segure isso. – Ele diz, lançando algo pequeno para mim, que consigo segurar um pouco sem jeito. Olho o que é o objeto, vendo ser a runa do raio. – Aula dupla agora.

Olho alguns segundos a pequena pedra, a girando entre meu dedos – Aula dupla?

- Sim, runa do raio e do impacto. – Ele me sorri, se afastando do carro e abrindo uma distância de mim. – Você irá testar duas coisas de uma vez. Ativará a runa do raio e lançar de sua mão, e também quero que tente transferir a energia em algo fora de seu corpo, e só então liberar como na runa de impacto. Ambos você lançará em mim.

Ergo as sobrancelhas com o que ele diz. – Você tem certeza disso?

- Absoluta, eu ficarei bem... Por isso, não se segure. – Ele parece bem tranquilo e até bem confiante, mas não deixo de me preocupar. Ele está sem aquele casaco dele, e nem está com nenhuma runa próxima de si. Ao que vejo, todas as runas estão sobre o capô do carro... Ao meu ver, ele está completamente desprotegido. – Quando quiser Clara, já estou pronto!

Respiro fundo, soltando todo o ar pela boca. Se ele quer assim, então eu farei.

Mantenho meu olhar nele, tentando me concentrar para que a energia se reúna dentro de mim por mais uma vez. Aperto a pequena pedra na minha mão, refletindo por alguns segundos enquanto mantenho meu olhar fixo nele.

Lembro o que Brian diz, não é preciso concentrar muita força em uma pedra de runa, se eu exagerar, o que aconteceu naquela noite irá se repetir. Uma carga de energia extrema vai aparecer de uma só vez. Apenas um pouco é necessário.

Da mesma forma que fiz antes, tento me concentrar apenas na pedra e em reunir aquelas sensações dentro de mim. Respirar se mostrou o segredo, ou pelo menos algum tipo de atalho... Seja o que for, é nisso que irei investir.

Devagar, começo a sentir a energia nascendo em meu peito. ela é fraca e instável, mas eu não me darei o luxo de reclamar. Com esse pouco de energia, aperto mais meu punho, tentando guiar essa força a minha mão, a pedra reage e se aquece, sua energia me atravessa, e alguns pequenos raios surgem em sons discretos que mostram sua carga elétrica.

Como a runa do impacto, devo reunir tudo, e lançar para fora do corpo. Recuo meu punho, focando o olhar no meu guardião. Os sons dos raios se tornam mais intensos, sua força intensifica, e com tudo que tenho, golpeio a minha frente com um soco. Um estrondoso som de um trovão surge e com toda a velocidade, raios disparam contra Brian.

Por um segundo me preocupo com ele, não consigo ver Brian por trás da luminosidade, tudo que enxergo por um instante é um imenso feixe branco azulado rodeado de feixes elétricos menores. Não tenho noção de como, mas consigo enxergar perfeitamente todo esse poder, e para minha surpresa, algo acontece.

Os raios que lancei desaparecem no ar, e uma forte corrente de ar passa pelo meu corpo de repente, me obrigando a proteger o rosto contra o vento e poeira levantada. Pisco algumas vezes, tentando entender o que aconteceu.

Brian está intacto, parado com seu punho erguido em minha direção, com um sorriso de satisfação no rosto junto a um olhar animado. – Muito bem Clara, você se saiu muito melhor do que na primeira vez. Agora, faça o mesmo com a água! Não se desconcentre!

Não sei como ele conseguiu sair ileso disso. Minha vontade é de perguntar, mas agora não é o momento, minha animação não me permite, e uso ela como combustível para tentar outra vez. Desta vez é mais fácil, as energias vem a mim muito mais rápido, mas tento me concentrar no que ele pediu antes, apenas com a garrafa.

Um fio gélido toda a energia vinda da pedra em minha mão passando por dentro de mim. Antes a eletricidade se concentrou em volta da minha mão, desta vez, ela percorre meu braço e envolve a garrafa. Parece até que a runa ignora todo o plástico e foca só na água.

Sem acreditar encaro a garrafa em minha mão sem sequer piscar. Querendo ou não, é difícil para mim não se perder no quão irreal isso consegue ser, além de totalmente impressionante.

A empolgação crescente em mim não pode ser contida, o largo sorriso que tenho transforma-se em risadas animadas pelo que estou vivendo hoje. Ao encarar meu guardião, ele deve saber como estou agora. Sua expressão mostra que ele está se divertindo, assim como eu... Sem dizer que ele parece estar apreciando da minha animação.

Hora de tentar.

A deixo em frente ao corpo, abaixando um pouco, e em um movimento rápido ergo minha mão, e o que sai de imediato é um feixe luminoso. O raio se moldou no que parece ser uma grande onda elétrica. E sem perder tempo, Brian faz um movimento oposto ao meu.

Ele ergue sua mão e a abaixa em toda a velocidade, a onda que lancei parece colidir com algo no ar, e uma nova onda de vento é se encontra com meu corpo.

Cubro o rosto com a mão livre me protegendo da repentina ventania e viro meu olhara Brian. Ele está com o corpo inclinado para frente e sua mão abaixada. Me encarando com um sorriso, meu guardião parece aguardar ansioso meu próximo movimento.

Sem esperar, ainda sentindo toda a energia fluindo pelo meu corpo, unida com toda a animação pulsante correndo em cada parte do meu corpo, deixo a garrafa na lateral do meu corpo novamente giro o braço, e uma nova onda é lançada.

Semelhante a uma crescente varredura elétrica, ela avança contra Brian, que se erguendo rapidamente, por mais uma vez move-se de forma oposta a minha, recuando seu punho e balançando o braço em um giro lateral. De imediato um forte vento atinge meu corpo do mesmo lado que Brian se moveu, e o raio que lancei é atingido tendo sua trajetória alterada e indo contra a parede.

Olho para onde o raio acertou. O local ficou com uma marca, muito parecido com o de um corte, além que pequenos raios permanecem percorrendo ao redor do local atingido.

A energia dentro do meu corpo corre intensa, explosiva, percorrendo até meu braço, e som dos raios se intensifica, a força e a luz emanada estão maiores, porém o cansaço está cada vez mais presente, e quando finalmente dou por mim estou ofegante e suando muito.

Minha boca e garganta estão secas e sinto queimar até meu peito conforme respiro fundo. Sinto minhas pernas tremendo pelo cansaço crescente, meu cabelo cola no meu rosto pelo suor, sem falar que já estou notando minha visão embaçando de leve... Mesmo assim, avanço outra vez.

Corro em sua direção, saltando assim que chego perto com a garrafa erguida, pronta para um último golpe. Aperto a mão com toda a minha força, prestes a descer um último ataque com o restante do conteúdo da garrafa. A energia cresce junto com toda a força que faço, e ataco.

Uma última onda de vento me atinge, forte o bastante para que eu solte a garrafa e ela voe para longe, onde não sou mais capaz de vê-la. Brian está a minha frente com um sorriso e olhar intenso, meu corpo se encontra com o dele em um impacto desengonçado, ele abraça minha cintura com um braço, e com o braço livre ele segura minha mão que antes estava com a garrafa.

- Você foi muito bem... Do jeito que eu esperava. – Ele diz em voz baixa com um largo sorriso de satisfação, olhando em meus olhos... Tão perto... Tão intenso...

- Mesmo? – Digo um pouco sem voz, tanto pela falta de ar das minhas ações, quanto por estar tão próxima dele quanto agora.

- Sim... – Sussurra ainda bem perto – Você usou bons ataques agora com uma ótima força, se qualquer um tivesse me atingido, eu estaria imobilizado... Talvez até desmaiado.

Dou um sorriso bobo, respirando fundo e me permitindo relaxar. Mas não sei se relaxo da adrenalina, ou do seu toque... Somente relaxo.

- Agora, a sua aula. – Ele diz calmo, olhando primeiro para a parede onde o raio atingiu, e logo então encara o chão. Em ambos os lugares, existem marcas parecidas com cortes, e um pouco mais fundo alguns furos mais profundos. Foi onde o raio atingiu naquela onda, e arrisco dizer que os furos são causados por gotas de água, mas talvez eu esteja exagerando – Como pode ver, a runa do impacto não é apenas ataque. Ela pode ser usada como uma defesa, por repelir objetos, projeteis, pessoas, e até mesmo a força de outras runas, ou de feitiços.

- É uma runa mais útil do que imaginei. – Digo enquanto olho em volta. O chão e parede estão molhados, e uma carga elétrica se mostra presente junto a sons de pequenos raios. A runa em minha mão ainda brilha nos tons brancos azulados, mas logo essa luz se esvai. – Não só um ataque, mas também uma defesa... Gostei.

- Você só precisa lançar uma onda de impacto igual ou um pouco mais forte do que a que foi lançada contra você, e poderá se defender. – Volto meu olhar a ele, que sorri sem parar.

- E caso não seja mais forte? – Questiono curiosa.

- A defesa não será eficiente, e você acabará machucada... – Ele me diz, ficando em silêncio por um instante – Quando for para se defender, não se segure. 

Fico o olhando como se fosse uma criança, e com um sorriso eu concordo – Certo, irei me lembrar disso professor Brian. – Digo rindo vendo ele assentindo, me perdendo na leveza em seu rosto.

Acabo bocejando, sentindo um cansaço maior que antes caindo sobre mim – Pelo visto, você se desgastou um pouco... Vamos entrar e comer algo.

- Não... – Digo me afastando de leve, tentando me manter de pé – Vamos continuar. Eu aguento.

Ele sorri de canto me olhando nos olhos – Clara... – Ele insiste em um sussurro – Sei que você está empolgada, mas se forçar demais não te fará bem, pode acabar passando mal de fraqueza ou talvez desmaie de cansaço... Você não comeu ainda, vamos fazer uma pausa.

- Ta bom... – Digo manhosa, desviando o olhar.

Ouço ele rindo baixo – Depois nós continuamos, não se preocupe.

- Depois praticaremos mais? Promete? – Faço um rostinho pidão.

- Com certeza. – Ele continua sorrindo, me soltando devagar mas sem deixar de me tocar, e me guiando de volta para casa. – Você já está se saindo bem, melhor do que imaginei. Com mais um pouco de prática, você poderá usar cada uma dessas runas do melhor jeito.

- Com muita prática você quer dizer. – O corrijo, arrancando uma gargalhada de Brian.

- Sim, muita prática. – Ele me olha de canto – Mas pelo que estou vendo, não é nada impossível para você garota.

Concordo balançando a cabeça em um sorriso de uma criança feliz, me deixando ser guiada para casa. Apesar de cansada pelo meu esforço de agora, me sinto animada por isso, por aprender mais, por me sentir desafiada a algo novo.

Não sei definir em palavras exatas, mas quero sentir mais dessa animação.

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