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Capítulo 22 - Conversas entre amigas

5586 Palavras

- Finalmente em casa, nem consigo acreditar... – Digo em um tom cansado, destrancando a porta e a empurrando com o corpo.

- Depois de uma longa noite. – Marina comenta rindo, entrando logo depois de mim, se espreguiçando com os braços acima da cabeça – Que silêncio, será que seus pais ainda estão dormindo?

- Acho que não... – Olho para a sala, que está com tudo apagado – Podem ter saído, não sei.

Dou de ombros, fazendo um gesto para que minha amiga me siga. Subo ao meu quarto em passos apressados. Pelo menos o remédio que tomei, o caminho que fizemos de volta para casa, junto a todo o sol que precisamos pegar, tudo me ajudou muito a me sentir melhor. E Marina está na mesma situação que eu.

Sem esperar, jogo minha bolsa na cama bagunçada e trato de abrir as janelas, em uma tentativa de amenizar todo o calor que está aqui com um pouco de ar, mas duvido que isso funcione. Apoio os braços na janela, dando um suspiro pensativo.

Tudo que aconteceu essa noite, o que falei com Brian, absolutamente tudo está criando um verdadeiro nó em sensações na minha cabeça. Ele disse que nunca dormiria comigo naquele estado em que eu estava durante a noite, mas mesmo assim, hoje cedo fez menção de que iria me beijar... Só não o fez por Marina ter aparecido.

Sensações e sentimentos. Disse isso a ele, e Brian parece ter entendido... Mas lembrar daquele momento, de estarmos tão próximos. Não sei como me sinto, inquieta talvez, ansiosa por algo.

Meus pensamentos se rompem no momento que escuto algo sendo deixado sobre a estante. Me viro, notando dois copos cheios de água na estante, e Marina mexendo na minha bolsa com certa urgência – O que foi, sua doida?

- O que foi nada, quanto antes tomarmos isso, melhor. – Ela comenta apressada, tirando duas caixinhas de pílulas do dia seguinte da minha bolsa, as abrindo e pegando as cartelas de cada uma, virando seus olhos a mim rapidamente – Eu não quero ser mamãe e nem titia... Então por isso Clara, vamos tomar logo essas coisas.

Dou risadas, vendo minha amiga me estendendo uma das cartelas – Certo, eu também não quero. Mas não sei se você precisa.

- Amiga, primeiro de tudo, eu não estava me aguentando de pé ontem. – Marina retira o único comprimido da cartela, o lançando a boca de uma vez, pegando o copo e dando longos goles contínuos até ao copo estar vazio, recuperando seu fôlego ao respirar fundo – Segundo... Não lembro o que fiz, não lembro com quem fiquei... E quando acordei, estava abraçada de conchinha com o Tiago, acho que prefiro me garantir.

Dou risadas assentindo – É, tem razão. Bem melhor nos garantirmos. – Digo repetindo o gesto da minha amiga, tomando meu comprimido de uma vez, porém não esvaziando o copo.

- Certo, agora que já fizemos o que podíamos... – Marina diz, levando as mãos a cintura e me olhando com curiosidade – Onde estão as tais runas?

- Na bolsa... – Digo me jogando na cama, abrindo minha bolsa preguiçosamente, pescando as folhas e mostrando a Marina. Gostaria de levantar, mas minha cama bagunçada está bem mais confortável do que eu poderia imaginar.

Ouço Marina fazendo sons com a boca, e logo se sentando ao meu lado – Como funcionam?

- É uma coisa estranha... – Dou uma risada, olhando a minha amiga – Não sei explicar como funcionam... Só funcionam.

- Nossa, que grande explicação Clara. – Marina comenta aos risos, ainda olhando as folhas com seu olhar tomado pela curiosidade. – Eu nunca vi nada assim antes.

- Eu também não, achei maluco quando vi essas coisas pela primeira vez. – Termino de falar, e as lembranças da primeira vez que usei uma das runas me vem em mente. Respiro fundo e me sento, olhando para as folhas na mão de Marina – Você não vai lembrar de ontem, mas usei duas dessas runas.

- E eu perdi? – Ela exclama de repente, apoiando ambas as mãos no colchão, me olhando enquanto faz bico – O quão bêbada eu podia estar...?

- Vou te mostrar uma delas. – Dou uma risada ao ver como sua expressão se ilumina outra vez, e logo pego uma delas de sua mão – Vamos ver... Essa daqui acho que é a runa da luz, eu usei ontem contra a entidade... Quer começar por ela?

- A vontade Clara. – Marina sorri, subindo na cama e sentando em perna de índio, não satisfeita ela pega meu travesseiro e o abraça forte, me olhando atentamente. Sua expressão é de uma verdadeira criança curiosa.

Deixo a runa a minha frente me sentando com as pernas cruzadas, enquanto esfrego as mãos, olhando fixamente a runa. Olho para Marina por uma vez, colocando um dedo em frente à boca, e ela confirma balançando a cabeça. Tudo bem Ana Clara, eu sei como fazer isso. Já fiz por algumas vezes e deu certo, ou quase. Posso tentar e conseguir de novo, já sei pelo menos um pouco de como fazer isso.

Fecho meus olhos, respirando fundo por uma vez, me concentrando em mim mesma, em minha respiração, nas sensações que percorrem meu corpo. Eu entendi isso, entendi que minha concentração deve estar direcionada a mim mesma, as minhas sensações e ao meu corpo. Se esse é o segredo, então eu consegui descobri-lo.

Inspiro e respiro calma, suave e sem pressa, e como se aceitando um chamado silencioso, as sensações emergem em meu peito, bem dentro de mim, e como suaves ondas elas percorrem meu corpo, porém está diferente da primeira vez. As sensações agora são maiores, mais intensas do que antes. As pequenas ondas de antes, agora são maiores e um pouco mais frequentes.

É pouco, mas ainda assim sei que agora é mais forte do que antes.

Será que isso é por eu estar aprendendo mais, pegando o jeito e as sensações surgindo com mais força cada vez que eu tento?

Não sei, mas estou conseguindo. Cada vez que tento, parece mais fácil que da vez anterior, mais rápido. Busco por essas sensações, e elas vem a mim. Maiores e mais fortes.

Ergo minha mão esquerda, respirando fundo e transferindo toda a energia que sinto para ela. São tímidas, porém as sensações serpenteiam pelo meu corpo, indo devagar por dentro do meu braço até a palma da minha mão.

O que fazer agora? O que fazer agora? Eu não me lembro!!!

Droga, estive tão perto, eu não sei mais o que fazer. Não me lembro das instruções, não faço a mínima ideia do que preciso fazer agora.

Sei que devo projetar toda essa energia concentrada para fora do corpo, mas como posso fazer isso? Devo apenas expelir de uma vez, deixar que tudo exploda como fiz contra a entidade?

Droga, o que eu faço agora, eu não sei. Eu... Eu tenho que improvisar.

Pense Clara, eu deixei explodir da última vez, e o que consegui? Criei uma grande explosão de luz, que com certeza seria forte o bastante para poder ofuscar a visão de alguém por muito tempo, eu aprendi essa forma de uso na noite passada. Se eu deixar sair tudo de uma vez, irei uma explosão de luz... Mas...

E se eu comprimir tudo em um único ponto?

Será que isso daria certo?

Aperto meus olhos, concentrando tudo em um único ponto da minha mão. As energias se reúnem em uma forma diferente do que já senti. Elas movem-se lentas em um vórtice, e sei que estão emergindo do meu corpo. Apenas sei disso.

- É incrível... – Ouço Marina dizer em um sussurro.

Devagar, abro meus olhos, e sobre a palma da minha mão está uma pequena esfera de luz branca. Seu brilho é intenso, percebo o calor emanado dela, e a conexão desta luz com minha energia é facilmente perceptível.

- Deu certo... – Digo em um sorriso, vendo a esfera luminosa se tornando instável aos poucos, ao mesmo tempo que ela se torna transparente.

Em uma tentativa de manter a luz em toda sua força, com a mão livre seguro meu pulso, tentando manter a energia fluindo para minha mão. Mesmo de olhos abertos e focados na luz, pressinto que ainda tenho o controle da energia fluindo dentro de mim.

Inspiro o mais fundo que consigo, soltando todo o ar pela boca, repetindo o processo mais uma vez. As ondas por dentro do meu corpo se estabilizam, correndo suavemente e se guiando sozinhas a minha mão, fazendo a esfera recuperar sua força aos poucos.

Repentinamente a energia que reuni em meu corpo desaparece, a esfera perde seu brilho e se esvai em uma pequena e suave explosão muda.

Minha mão cai sobre a cama, e percebo que o símbolo da runa que antes brilhava, agora perde seus tons, retornando a uma simples imagem. Respiro fundo, sentindo um pouco de cansaço recaindo sobre meu corpo gradualmente.

Cada vez que uso as runas, o cansaço me atinge. Seja um cansaço mais extremo, ou então um mais suave como o de agora. Parece ser algo que ocorre ao usar qualquer uma das runas, sem exceções. Consequências de usar a energia do meu corpo.

- Ufa... – Deixo escapar, junto a um sorriso – O que achou?

- Eu... – Marina gagueja um pouco em uma expressão espantada – Eu nem sei o que te dizer.

Um riso me escapa – Legal né? É complicado, mas estou conseguindo aprender bem cada runa. Qual você quer ver agora?

- Posso escolher? – Ela diz sorrindo animada, e eu assinto balançando a cabeça. Ela pega as runas em suas mãos, olhando os símbolos lentamente, deixando um em cima da cama, substituindo a runa anterior – Essa aqui.

Olho sua escolha atentamente. – Hm, a runa do molde, nunca testei essa... – Digo pensativa.

- Runa do molde? Essa é a mesma que eu vi na faculdade? – Questiona e confirmo dando uma risada. Marina me olha de canto com um sorriso travesso, enquanto ajeita as runas em suas mãos – Já sabemos qual que iremos testar. O que ela faz?

Penso um pouco, me recordando o que eu li há um tempo, junto das instruções – Acho que cria um objeto que eu desejar.

- Caramba... O que você quiser? – Apenas ergo os ombros em resposta.

- Não sei... Só testando para sabermos. – Digo aos risos, alongando os braços a minha frente. Marina compartilha da minha animação, se ajeitando a minha frente – O que posso criar?

- Uma chave? – Ela diz zombando.

- Serve, é só um este mesmo. – Concordo, fechando meus olhos tentando me concentrar.

Ouço Marina aos risos – Sabe que eu estava brincando, não é Clara?

- Eu sei, mas foi uma ideia razoável. Agora quieta, preciso me concentrar. – Digo mostrando a língua, e logo sorrio me preparando.

Sinto um pouco de dificuldade desta vez. Levo mais tempo nas minhas tentativas de me concentrar, as energias parecem muito mais tímidas agora, mas lentamente elas surgem, percorrendo suaves, não como ondas, mas como brisas. São muito mais leves que antes.

Não sei o motivo dessa diferença, penso agora se são por causa do meu cansaço, ou da intensidade causada pela minha concentração. Horas essa energia se mostra como ondas suaves e mais encorpadas em seus movimentos, porém outras vezes são lentas e suaves, além de muito discretas. A diferença é gritante, por mais que em essência, ainda seja a minha própria energia.

Abro os olhos, focando minha visão na palma da minha mão. Quero testar algo, direcionar toda a energia que acumulei em um lugar que eu estiver olhando, sem perder a concentração.

Não funciona, assim que meus olhos se abrem, boa parte do que sinto desaparece de imediato. Tento manter o que puder, mas não adianta, e tudo que concentrei desaparece.

Solto todo o ar que estive prendendo sem perceber em meu peito, respirando ofegante parecendo até que corri uma maratona. Olho minha mão, sem acreditar no que aconteceu, eu estive indo bem, e do nada tudo desapareceu – Não deu certo...

Viro meus olhos para Marina, que olha da minha mão aos meus olhos por algumas vezes, porém ela não me diz nada.

- Preciso tentar de novo! – Digo sentindo a frustração por não ter dado certo, mas não vou desistir disso, quero conseguir.

Foco meu olhar na runa, juntando minhas mãos sobre a folha sem fazer pressão. Fecho meus olhos em um aperto, sabendo como eu talvez esteja com uma expressão irritada.

Tento acalmar minha respiração, acalmar meu corpo, mas isso se mostra mais difícil do que imaginei, e cada vez mais, isso vai me irritando. Tento mais e mais. Calma, espirar, tentar me aprofundar, sentir tudo, mas não é fácil, as sensações dentro de mim são ínfimas, praticamente nulas. Continuo tentando, mas algo acontece, que senti antes com tamanha facilidade simplesmente se apaga dentro de mim. Parece até que nunca fiz isso antes.

Obro os olhos novamente, olhando Marina, que pelo visto, não está entendendo nada, só está vendo que estou ficando cada vez mais brava.

Irritada e tomada pela minha frustração, soco minha cama com toda a força, encarando a folha que mal se alterou. Fecho a mão para golpear a cama por outra vez, porém Marina me impede, segurando meu punho, pousando a outra mão no meu ombro.

- Calma Clara... – Ela diz em um tom suave, apesar de seu olhar preocupado. – Se irritar não vai te ajudar.

Não a respondo, apenas aperto a boca e desvio o olhar para o lado. Estou irritada, mas ela está certa, isso não vai me ajudar. Paro de fazer força e ela ao mesmo instante solta minha mão, a deixando ir de encontro com a cama.

Ela vem ao meu lado e me da um abraço forte, encostando minha cabeça em seu ombro enquanto passa uma mão pelo meu cabelo – Só se acalma... Não deu certo agora, mas vai dar certo quando tentar depois...

Respiro fundo, me sentindo acolhida pela minha amiga, tentando relaxar o máximo que eu puder. Mas por mais que eu queira deixar para lá, continuo me perguntando por que não deu certo. Isso martela na minha cabeça.

Alcanço a runa na cama, a encarando por alguns segundos. – Eu irei conseguir...

- Sim, você vai Clara. – Ouço o tom tranquilo de Marina me acalmando, e me permito dar um pequeno sorriso e continuar acolhida por ela. – Sabe, é bem estranho não ser eu quem está recebendo colo.

Dou uma risada – Por que diz isso?

- Porque eu que sou a amiga moleca que vive fazendo besteira, e precisa ser amparada pela amiga sensata. – Ouço seu riso, enquanto fecho os olhos por alguns segundos – Está tentando tomar meu posto?

- Não, prefiro continuar sendo a amiga sensata. – Digo respirando fundo. Saio de seu abraço, olhando para as runas por uma última vez – Deixarei para tentar de novo mais tarde.

- Viu? Já voltou a ser a amiga sensata. – Marina sorri, pescando todas as folhas, as deixando de canto na cama. – Então, o que acha de uma pausa?

- Uma pausa, mas eu tentei tão pouco... – Digo, mas logo balanço a cabeça negando. A verdade que essas runas usam muito de mim. Ficar abusando só vai acabar me desmaiando. – Tudo bem, acho que é uma boa ideia.

- Ta bem, me conte sobre você e o Brian. – Marina é tão direta e repentina, que as vezes chega a me assustar.

- Só se me falar sobre você e o Tiago. – Digo em provocação, dando um sorriso de canto. Ela se mostra surpresa, mas acaba assentindo um pouco receosa. – Certo, o que quer saber?

- Como as coisas estão indo... – Ela ergue as mãos, voltando a se ajeitar na cama – Lembro que você disse que tinha um fogo por ele, como está isso?

Ergo meu olhar, pensando mais a respeito. Essa manhã eu e Brian falamos sobre isso, sabemos como é algo difícil para ambos, tanto momentos quanto sentimentos. Eu mesma ainda não tenho tanta certeza de como me sinto, ou do que pensar.

- Está bem presente... – Digo rendida, voltando a olhar minha amiga – Sabe, muitas vezes no meu dia, meu pensamento é ele... Pensar ou estar com ele me causa uma sensação boa, ele mexe comigo de umas maneiras que eu me sinto uma adolescente. Não é só uma atração ou um desejo como foi no começo, mas não sei se o que tenho agora é um sentimento... Afinal, vivemos nos desentendendo, brigando por motivos bestas.

Minha amiga me olha atenta, da mesma forma como faz com os nossos professores. Por um segundo, eu me senti um deles.

- O que você acha que sente por ele? – Ela me questiona.

- Não sei... Acho que estou apaixonada. – Digo dando de ombros. É o que mais me faz sentido agora e não sei dizer de outra forma – Mas me diga, paixão é um sentimento?

Os olhos dela caem pela cama em um semblante pensativo – É uma boa pergunta... Acho que sim, um sentimento intenso, mas acho que é puramente físico.

Cerro meu olhar, dando um pequeno sorriso –Pode ter razão.

- Talvez Clara... Você sente algo por ele, mas tem dúvidas do que pode ser. – Marina ergue os ombros – Não é uma boa ideia fazer algo estando com dúvidas.

- Concordo com você, e eu saí de um relacionamento difícil com Ricardo, não quero entrar em um outro relacionamento que não tenho ideia de como será. – Dou um suspiro pesado, deixando meus olhos caírem pela cama – Gosto do Brian, cada dia esse sentimento parece mais forte, quero estar com ele, na presença e companhia dele... Mas ao mesmo tempo, as dúvidas também ficam fortes.

- Sei que ele é alguém divertido e que da para se manter uma boa conversa – Contenho um riso ao ouvir o que ela diz. Brian divertido, isso é algo bem raro de se ver, e não deixo de ver graça – E claro, eu acabei piorando tudo dando detalhes de como é intenso na cama.

- Para Marina, não me faz lembrar, não quero ficar com mais vontade! – Dou risadas a empurrando de leve – Tudo bem, eu sei que sou idiota por me sentir assim por ele, sendo que nunca recebi nem um abraço dele.

Minha amiga balança a cabeça em um riso divertido – Acho que precisa reavaliar seus quesitos para se apaixonar por alguém Clara.

- E eu acho que você tem que me contar sobre o que existe você e o Tiago. – Rebato, já cansada de falar só de mim. Ela também tem coisas a me dizer.

Não vejo uma reação no rosto de Marina. Ela não parece surpresa, incomodada, animada, nada. Marina apenas me olha sem se alterar em nada.

- Isso não é obvio Clara? – Um sorriso de canto surge dela – Eu só sou louca por ele.

- Simples assim? – Ela confirma com a cabeça – Imaginei que tivesse algo a mais.

- Não tem. Por que acha que em vários momentos eu olho para ele, ou fico enciumada quando ele fica brincando de dar em cima de várias outras garotas? – O que ela diz tem sentido, é verdade. Qual o sentido de ela ficar agindo estranho todas vezes que Tiago faz de suas brincadeiras.

Penso por um momento, tentando acreditar nela – Mas e a reação que você teve hoje quando acordou e ele estava dormindo com você?

- Imagine estar caindo de bêbada sem saber de nada do que está acontecendo, e no segundo seguinte acorda abraçada com a pessoa que gosta. – Ela me ergue as sobrancelhas em um sorriso travesso – Eu não acreditei naquilo, nem sabia o que dizer.

Não consigo segurar meu riso, a forma como ela faz parecer tão óbvio me diverte. Tinha apenas as minhas suspeitas antes, mas Marina sempre negou e disse preferir muito mais os homens mais velhos do que os mais jovens. Acho até que ela já disse que um rapaz mais jovem que ela não teria muitas chances, e ela preferia cortar as esperanças logo de cara.

Mas agora, ela está dizendo que é apaixonada por um rapaz mais jovem, que não parecer ter quase nada dos homens mais velhos que ela já saiu antes. Ver como Marina admite assim com tanta certeza e tranquilidade, foi no mínimo engraçado de tão irônico, além que um mundo de coisas se encaixaram.

Será que conto para ela que Tiago se sente quase do mesmo jeito?

É de se pensar, a muito tempo ele já demonstrou algum interesse nela, veio me perguntar a respeito de Marina e do motivo de ela agir estranho em certos momentos. Além disso, ontem a noite quando estávamos voltando da balada. Eu lembro vagamente como o rapaz esteve cuidando dela com bastante carinho, os olhos dele mostravam seu cuidado e toda a preocupação que tinha.

Me pergunto agora, o que impede esses dois de acabarem juntos em definitivo, além deles mesmos e suas convicções?

- Da pra parar de rir menina? – Marina me chacoalha de leve. Eu tento, mas não consigo me acalmar de imediato. – O que é tão engraçado?

- Só você e o Tiago, agora só verei os dois como um provável casal. – Digo zombando, vendo minha amiga fechando a cara – Poderia conversar com ele.

- Não posso. – Ela suspira – O Tiago e eu somos muito diferentes, de mundos muito diferentes, ele é um garoto que quer bagunçar do jeito dele, e eu uma garota que quer bagunçar do meu jeito.

Cruzo os braços a encarando. – Não sei se entendi, vocês dois são bagunceiros, então já é meio caminho andado.

- Tiago não é um garoto muito atento, ele é de um espírito livre que ainda precisa crescer, ter mais seriedade nas coisas... E eu sou uma bagunceira que pelo menos sabe o que quer na própria vida. – Ela me olha balançando a cabeça negativamente – Ele não tem objetivos certos, não cresceu ainda, é um garoto que ainda não entende como um relacionamento funciona... Eu quero, mas sei que agora não tem chance de dar certo.

- Então, pensa em esperar ele amadurecer? – Questiono, pendendo a cabeça para o lado.

- Não, acho que é idiotice demais. – Ela diz em um riso – Vou ignorar o que estou sentindo por ele, apenas seguir em frente... E se em algum momento acabar acontecendo de eu e o Tiago nos entendermos e tivermos momentos juntos, eu ficarei feliz.

Penso um momento com o que ela acabou de dizer. Parece tudo muito simples, muito "lindo" assim desse modo, mas algo ainda me incomoda nessa ideia dela. – Espera um pouco, você vai só ignorar o que está sentindo, e deixar isso nas mãos no universo?

- Mais ou menos isso. Conter meus sentimentos, e só seguir em frente. – Ela da de ombros dando um sorriso – Sei que é uma ideia idiota, não precisa me dizer isso.

- Chamar de idiota é pouco. Se você gosta dele, por qual motivo vai querer só esperar que as coisas se ajeitem? – Questiono séria.

- Eu não quero me iludir esperando por algo que não sei se vai acontecer. – Ela diz, sua voz é calma mas seu suspiro indica sua frustração. – Posso querer estar com o Tiago, mas não quero me iludir ou arriscar sem ter certezas. Não quero me machucar.

- Não tiro sua razão ao pensar dessa forma. – Ela está certa, não pode ficar se arriscando e se frustrando por não dar certo. É verdade que temos que nos arriscar em certos momentos, mas outros temos que pensar com cautela. E entrar em um relacionamento assim é um dos momentos que devemos ter cautela – Eu te entendo Marina, de verdade.

- Sei que sim... – Ela junta as mãos sobre suas pernas – E sobre o Ricardo? Como você se sente?

Dou uma risada, mas eu mesma não sei se é de frustração ou deboche – Não tenho certeza sabe? ... Pensar nele antes me causava muitas coisas, eu me alegrava, sorria sozinha igual boba, sabia que sempre teria alguém ali para mim, mas agora não me sinto assim, me sinto mais sozinha... Não tenho repulsa do Ricardo, mas não tenho mais vontade de estar com ele, quero distância dele.

Ela não me diz nada, mas mantém toda sua atenção em mim.

- Eu não o vejo mais como meu namorado. – Digo dando de ombros – Acho que não o vejo assim faz tempo. Depois da forma como ele agiu, tomado por raiva e ciúmes, me deixando sozinha nesse problema com a entidade, desaparecendo por dias sem falar nada, pra quando eu ter notícias dele, é por ele estar dando em cima de uma amiga... Não quero alguém assim na minha vida.

- Ele não tentou falar com você em nenhum momento? – Ela questiona séria.

- Não. – Balanço a cabeça – Quando eu tentava mandar mensagem, ele só visualizava e não respondia. Chegou um momento que parei de tentar, e resolvi me afastar de vez.

- O mais certo que você fez foi se afastar... – Marina diz me observando – Ele sabia como era sua situação, e mesmo assim se afastou de você por um motivo pequeno. Como estar com alguém igual o Ricardo?

- Não estou mais. O Ricardo me abandonou, e só decidi esquecer ele. – Dou de ombros, encarando a janela – O que quer que nós dois tivemos tempos atrás, hoje não existe mais.

Marina lança as pernas para fora da cama e se levanta em um pulo. Ela vira seus olhos a mim, em uma animação que só vejo nela – E você amiga, consegue coisa melhor... Ou aliás, se não achar coisa melhor, fica melhor sozinha!

- Eu espero. – Digo rindo e logo me levantando – Agora preciso de uma água, essa conversa toda me deixou com sede.

- Podemos comer algo também? – Marina faz um olhar pidão, igual uma criança.

- Sim, claro ou com certeza? – Digo rindo, pegando suas mãos e a puxando para fora do quarto.

- Na verdade, acho que preciso de um banho primeiro. – Marina diz, olhando para si mesma por algumas vezes – Acho não, realmente preciso.

- Eu te empresto umas roupas. Acho que também estou precisando de um banho urgente – Digo rindo.

- Quer vir comigo e tomamos um bom banho juntas? – Marina ergue uma sobrancelha e faz uma expressão de menina atrevida, logo começando a rir com sua própria brincadeira e eu vou no embalo – Prometo me comportar para não demorarmos muito.

- Você é doida Marina? – Questiono passando os dedos pelos olhos, contendo o riso.

- Um pouco. – Ela ergue seus ombros – Só com minha melhor amiga.

- Eu dispenso sua proposta, fica para a próxima. – Digo gargalhando animada, vendo Marina fazendo bico e logo começando a gargalhar comigo.

- Se fosse o Brian você iria correndo, agora banho comigo você dispensa. – Ela diz manhosa, cruzando seus braços – Boa melhor amiga, vou me lembrar disso.

- Vai não, eu encomendo um banho seu com o Tiago e você me perdoa. – Rebato sorrindo e a encarando de soslaio, vendo como ela fica vermelha, mas ao mesmo tempo eufórica.

No fim, acabamos dando risadas juntas, descendo para a cozinha, decididas a fazer um café da manhã decente que não tivemos na casa do Brian por sairmos tão rápido.

Acho que já chega de uma conversa séria. É bom ver que o bom humor, as maluquices, e principalmente o clima leve já voltaram.

Estou na cama deitada de bruços, olhando mais uma série de textos muito bons para curar a insônia de qualquer pessoa. Concentro-me ao máximo na minha leitura, além de curtir todo o silêncio que meu quarto me proporciona neste momento.

Apesar das dores no corpo que ainda insiste em me atacar, com o aditivo das pontadas da dor de cabeça, preciso me manter em dia com a faculdade.

Meus pais chegaram pouco depois da Marina ir embora, nessa hora eu já tinha começado a estudar, e estou assim já fazem umas duas horas. Por sorte, meus pais estão em seu modo mais preguiçoso e posso estudar tranquila.

Apoio o rosto na mão, lendo mais e mais tópicos pelo notebook tentando ao máximo absorver todo o conteúdo possível. Sei que adiantei muitas coisas, mas ainda falta ler muita coisa, talvez eu tire a tarde inteira para estudar. Além disso, tenho que lembrar de organizar meus documentos para amanhã.

Se a Marina pensa que me esqueci que amanhã temos aquela entrevista de estágio, ela está bem enganada.

- Filha? – Ouço minha mãe me chamando, rompendo minha concentração quase que de imediato. Ela está parada na porta me olhando – Aquele seu amigo está aqui.

- Amigo? – ergo uma sobrancelha.

- Aquele colega de escola que veio aqui a uns dias. – Cerro o olhar com o que minha mãe diz, tentando desvendar de quem ela está falando. – Todo bem vestido...

- Ah ta, o Brian! – Digo me levantando da cama, parando logo em seguida – Espera, por que ele está aqui?

Caminho até minha mãe, que tem a mesma interrogação no rosto que eu – Não sei, ele disse que precisava falar com você.

Fico curiosa com isso enquanto caminho para fora do quarto. – Tudo bem, obrigada mãe. Verei o que ele quer.

Passo pelo corredor e paro na escada, observando Brian. Ele está parado com as mãos nos bolsos, e logo seus olhos vem a mim. Meu coração erra uma batida apenas com esse olhar dele, tenho que me controlar.

Dou um suspiro, descendo as escadas, sendo acompanhada pelo seu olhar atento em cada pequeno movimento – Vim ver como você estava, e se havia chego bem em casa. – Ele diz sem rodeios.

- Como pode ver, cheguei sim. – Digo, apoiando o corpo no corrimão. – Fiquei um tempo de bobeira, mas ai comecei a estudar. Por que?

- É que... – Ele começa a falar – Você estava com dores, além da ressaca, e mesmo assim foi embora bem de repente. Pensei que poderia ter acontecido algo.

Dou um sorriso de canto, balançando a cabeça negativamente – Só quis vir para casa, eu precisava da minha cama.

- Entendo. – Me responde simplesmente.

- E você? O que ficou fazendo? – Digo, cruzando os braços.

- Depois que você e Marina foram embora, cuidei de algumas coisas em casa... A Tamires e seu amigo Tiago foram pouco depois, deixei Jenny em casa, e passei aqui para ver como você estava. – Ele diz me observando sem parar. – Mas não irei ficar, preciso me encontrar com Ferdinand.

- Vai contar o que aconteceu na noite passada? – Questiono com os flashes de tudo que aconteceu retornando a minha mente.

- Preciso. Tudo que aconteceu ontem é uma verdadeira mina de informações. – Ele leva as mãos aos bolsos – Eu nunca imaginei que uma criatura do abismo poderia possuir alguma coisa como aquela coisa de ontem, muito menos modificar a estrutura física como ocorreu... Além disso, ele está mais forte e resistente do que antes.

- Eu sei... – Abaixo meu olhar. – Realmente é bom que o Ferdinand saiba.

- Sim, é necessário aos nossos registros. Nunca imaginamos tais coisas, nosso conhecimento era muito limitado até então... E agora, cada vez mais temos novas informações. – Ele diz em um sorriso – Entendo porque Ferdinand e Amanda tem tanto interesse em você Clara. Nada disso seria possível se não fosse você.

- Deixa disso. – Digo rindo balançando uma mão – Você vai fazer eu me sentir uma boba por estar sendo perseguida por um ser do abismo, além de estar correndo um baita risco de vida.

Ele me lança um sorriso de canto, balançando a cabeça negativamente – É uma verdade garota... Eu preciso ir, quanto antes contar tudo a Ferdinand, melhor para nós.

- É uma corrida contra o tempo? – Digo sorrindo, me desencostando da escada e indo até a porta, abrindo para Brian.

- Mais ou menos isso. Se a entidade está mesmo ficando cada vez mais forte, demorar mais é o mesmo que colocar você em ainda mais riscos. – Ele comenta saindo de casa, e eu trato de acompanhá-lo – Não posso permitir que isso aconteça.

Sorrio com o que ele diz – Obrigada Brian.

- Agora se sente protegida? – Ele diz em tom de zombaria, me olhando por cima do ombro.

Dou uma risada – Um pouco sim, mas não se iluda. Você ainda é péssimo nisso.

- Irei melhorar. – Ele diz mexendo no meu cabelo de repente, descendo seu toque a minha nuca em um leve carinho. Seu toque me arrepia de imediato e o ar me foge. Meu corpo estremece em sensações mistas apenas ao sentir seu toque. – Preciso ir Clara. Vai se cuidar?

- Sim... – Digo com a voz tremula. Ele não para seu carinho e continua me olhando.

Ele me sorri, e agora me parece óbvio. Brian deve saber bem o que está me causando.

- Antes de ir, quero dizer algo. – Ele comenta, levando ambas as mãos ao bolso da calça. Ele balança a cabeça com um sorriso nos lábios – Ontem à noite, percebi que utilizou algumas das runas que te entreguei, usou a da velocidade em mim aliás...

Eu não esperava por esse assunto tão de repente. Então ele realmente percebeu.

- Você se saiu muito bem Clara, sabia que você conseguiria. – Ele constata com um sorriso diferente dos anteriores. Nunca imaginei que um sorriso pudesse deixar alguém tão bonito como faz com Brian. E ainda mais o que ele diz, foi algo até normal mas que por algum motivo me deixou sem palavras – Fico feliz por não ter me enganado a seu respeito, você realmente me impressiona garota.

Ele se vira e caminha em direção ao seu carro, dando um leve aceno. Por algum motivo, eu não consigo responder. As palavras me abandonaram.

Tudo que consigo é olhar ele se afastando, enquanto suas palavras ecoam na minha mente.

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