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Capítulo 20 - Convites para uma noite

7615 Palavras

-Você está bem Clara? – Marina diz, tocando minha testa com as costas da mão.

- Estou. – Digo aos risos, vendo minha melhor amiga me analisando como se eu fosse um alien. Ela pega meus braços, cutucando algumas vezes, depois indo para minhas mãos ainda cutucando mais, voltando a olhar no meu rosto com uma expressão séria, tocando minha bochecha com o indicador. Quando a vejo focando em querer cutucar meus seios, coloco as mãos na frente enquanto sinto mais vontade de rir – Nem ouse... Por que não estaria, sua doida?

- Porque você sumiu em um dia, faltou à aula no outro, e agora me aparece com a ideia de "vamos para uma balada sábado a noite"? – Ela diz, erguendo uma sobrancelha.

- É ué, uma pessoa que conheço está pensando em ir, e me disse que posso convidar quem eu quisesse. – Digo erguendo os ombros olhando para Marina e Letícia. Tiago também está aqui, novamente fugindo de sua aula – Estou convidando vocês a virem junto.

- Não sei... – Letícia comenta com a voz tímida – Não sou muito de sair, sou bem caseira.

- A ideia é boa. – Tiago comenta em um sorriso animado, abraçando Letícia de lado e voltando seu olhar para mim e Marina – Vai ser divertido, acho que deveria ir.

Letícia o olha de canto – Para ficar encolhida no canto escuro?

- Não estará sozinha, te faremos companhia. – Marina comenta em um sorriso, apoiando seu rosto sobre a mão – Nem todos ficarão na pista, nós mais preguiçosos ficaremos só olhando.

- Vocês já aceitaram ir? – Letícia cerra seu olhar.

Tiago deu de ombros com um sorriso, já Marina concorda balançando a cabeça.

- Eu vou, estou com a cabeça cheia de coisas... – Tiago diz, passando uma mão pela nuca em uma massagem – Vai ser bom espairecer...

- Que tipo de problemas? – Letícia questiona.

Ele faz um gesto negativo com a cabeça – Coisa minha, envolve as aulas... Irei com vocês.

- Certo... Temos nossa resposta. – Digo rindo, olhando para Letícia. – Só falta você.

- Eu não sei se vou me sentir confortável em um lugar desses... Talvez eu não vá. – Ela junta as mãos a sua frente, dando um bocejo.

Mantenho um sorriso no rosto. – Tudo bem, ainda tem tempo para caso mude de ideia.

Ela me sorri fraco, voltando a olhar seus cadernos. Agora que penso um pouco, Letícia me pareceu um pouco estranha de alguma forma. Eu sei que ela é uma pessoa caseira em muitas atitudes e é até esperado ela não querer ir, mas a forma como ela agiu me pareceu diferente.

- Aliás Clara, já informaram a data para a entrevista. – Marina comenta, virando seu celular para mim com uma data e endereço marcado na tela. – Segunda feira agora, no começo da tarde.

- Em plena segunda? – Digo manhosa. Quero saber como terei coragem para uma entrevista de estágio em plena segunda-feira, mas darei meu jeito de no mínimo estar acordada.

- Preparada para me aturar também em um emprego? – Ela caçoa rindo.

- Não... – Rebato da mesma maneira.

- Fez a Marina parecer a pior pessoa. – Tiago da uma risada, olhando de um lado ao outro.

Minha amiga balança a cabeça concordando – Vou me sentir mal assim... – Ela cerra o olhar, encarando o rapaz – Você não deveria estar na sua aula?

- Talvez... – Ele diz pensativo – Que horas são?

Marina vira o celular para o rapaz – Vai dar nove da manha. Acho melhor correr.

- É, acho que preciso ir. – Ele disse, se levantando e avançando apressado em direção a porta, sendo cara de pau o suficiente para sair dando tchauzinho para o professor.

Dou uma risada contida, me virando a minha mochila para pegar minhas coisas. Alcanço primeiro a caneta, e logo puxo o caderno e deixo sobre a mesa. Olho melhor, e percebo que puxei junto outra coisa.

A pasta onde estão todas as runas que Brian me entregou. Até agora as deixei guardadas na mochila, e levada a minha curiosidade, sou tentada a olhar novamente para cada uma das runas.

Abro a pasta, pegando a primeira das runas, a do impacto. A primeira runa que testei, e também a responsável por me fazer desmaiar de cansaço.

A deixo de lado na minha mesa, sei seu efeito, mas quero testar novamente com mais calma, e talvez com menos intensidade. A próxima que está diante de mim é a do molde.

Pela descrição da folha, essa é uma runa capaz de fazer a criação de objetos de minha escolha. Novamente é algo bem vago, será mesmo qualquer objeto que eu quiser? Independente da complexidade, tamanho ou funcionamento?

Existe outro problema, não sei se posso tentar ativar essa runa aqui, no meio da sala da universidade, por não saber exatamente o que irá acontecer. Me lembro muito bem de quando Brian fez aquele punhal surgir em sua mão, e show visual até a lâmina terminar de se formar.

Isso me deixa pensativa, se eu tentar ativar a runa do molde agora, um belo espetáculo luminoso pode acabar acontecendo, e com certeza não vai ser nada legal ter que explicar isso.

- Ei Clara... – Marina diz de repente, já parada ao meu lado com os olhos passeando em cada uma das folhas contendo os símbolos das runas. Seu semblante é de uma criança curiosa, e pelo jeito ela ignora o susto que levei agora. – O que é tudo isso mulher?

- Ah, isso...? – Gaguejo de imediato, correndo os olhos das runas para minha amiga. Como bolar uma explicação assim do nada? – Bem... São... Coisas?

Uma sobrancelha é erguida com minha resposta. – Coisas?

- É, coisas. – Respondo batucando os dedos na mesa, um pouco nervosa. Não são nada demais, então não tem motivo para me sentir nervosa como agora. A sensação que tenho é de, no mínimo, ter sido flagrada fazendo algo íntimo. – Umas coisas que estou estudando.

Minha amiga se mostra desconfiada, e minha resposta parece não ter ajudado – Estranho, parecem símbolos. Nunca vi nada assim...

- É... Nem eu... – Digo em um suspiro, me dando por vencida. – É cada bizarrice que estou sendo jogada ultimamente. É pedir muito uma vida um pouco mais normal?

- Acho que sim Clara. Pense que ninguém tem uma vida como a sua. – Ela diz com um sorriso, pescando uma das folhas de runas, olhando com a mesma curiosidade.

- Com uma coisa sobrenatural presa na minha cabeça? – Um sorriso de canto me surge.

- Ta, tem essas desvantagens óbvias... Mas vendo pelo lado que qualquer coisa pode nos matar uma hora ou outra, sua vida é pelo menos, mais emocionante. – Diz em tom de brincadeira.

- Não tenho como discordar disso... É quase um filme. – Digo rindo.

- Ou um livro. – Marina deu de ombros em uma risada contida, e concordo sorrindo. – Tirando os males, sua vida é sim mais divertida que a de muita gente aqui dessa sala.

- Não estou me aguentando de tanta diversão... – Digo irônica, arrancando riso de Marina.

Ela permanece olhando a folha, apoiando o rosto na mão – Runa do molde?

Reflito um pouco, passando os olhos pela minha amiga e a runa algumas vezes. Não acho que preciso ficar escondendo as coisas dela. Por mais que seja maluca em muitas vezes, ela é uma confidente minha faz anos, e não temos segredos uma da outra. Até posso esconder isso dela, mas não vejo necessidade disso. – Sim, são coisas que estou aprendendo.

Ela volta a me olhar com curiosidade. Seu olhar entrega seu desejo de saber mais, talvez seus olhos peçam para saber muito mais do que a boca poderia dizer.

- É para me defender da entidade... – Digo agora em um sussurro – Eu acho...

- Acha? – Ela ergue uma sobrancelha.

- Ainda estou aprendendo, e algumas delas tem uns efeitos... Peculiares. – Digo ao me lembrar do que acabei causando no meu pai ontem cedo. A runa da sensação é a mais divertida, mas também continuo a vendo como inútil.

Marina da um sorriso – Você sabe como eu amo essas aulas, mas agora estou bem mais interessada em saber mais disso. Viu como sua vida é mais emocionante?

- Eu não te digo nada sobre ser "emocionante". – Reviro os olhos, a fazendo abaixar a runa sobe a minha mesa – Enfim, tenho cinco dessas runas, mas só testei duas, e não sei quanta purpurina vai voar por aqui caso eu resolva testar mais alguma.

Ela contém o riso levando a mão a boca – Sai purpurina dessas coisas?

- Não literalmente, mas tem alguns efeitos visuais. – Digo, e então dou um toque sobre a folha, que minha amiga acompanha atentamente – Se eu ativar uma agora, esse símbolo todo vai começar a brilhar um pouco.

- Uau... Não é uma boa ideia usar aqui na sala. – Ela comenta olhando de um lado ao outro, como se garantisse que ninguém estaria prestando atenção.

- Alguma hora eu te mostro uma delas, só preciso terminar de testar todas antes para saber como funcionam... – Sussurro pensativa.

- Estarei aguardando isso. – Ela sorri, retornando ao seu lugar, voltando sua atenção para o professor. Por mais interessante que o assunto possa ser, para Marina, nenhum assunto poderá ser mais interessante do que as aulas.

Acabo organizando tudo e retornando a pasta para minha mochila. Já conversei muito por agora, acho bom tentar me concentrar na aula.

Intervalo de aulas, acabei saindo da faculdade e estou caminhando apressada para o shopping. Minha vontade de comer um lanche acabou sendo muito maior do que eu poderia querer, e não pode ser de algum trailer, é preciso ser do shopping.

Essas minhas vontades as vezes são tão fortes que parecem desejo de grávida. Medo.

Ainda assim, isso me arranca alguns sorrisos. É divertido, apesar de tão aleatório. Balanço a cabeça, afastando tais pensamentos.

Desvio de algumas pessoas, pego um atalho para o shopping pela entrada do metrô, já indo para as escadas rolantes. Eu me vejo refletindo agora, existem duas entradas para a minha universidade, mas eu sempre uso a entrada que da para o terminal, por mais que essa eu tenha que caminhar um pouco mais para chegar ao shopping, e por consequência, a praça de alimentação no último andar.

De certa forma, eu não estou me ajudando muito... Ou estou, afinal estou andando um pouco mais e me fazendo subir escadas só por fazer essa rota maior. Meu corpo me agradece.

Caminho por dentro do shopping, passando algumas vitrines, namorando algumas jaquetas nos manequins, vestidos longos em outros. Gosto de ver cada uma dessas roupas, me imaginar dentro delas em algum ambiente adequado. Mas por não ter tempo para ir a nenhum desses lugares que imagino, nem penso em comprar. Imaginar, por hora, já me basta.

Passo em frente à outra loja, essa chama minha atenção por outro motivo. Uma loja de jogos. Minhas pernas se recusam a se mover, meus olhos não querem se desgrudar do que está a minha frente, minha mente traz pensamentos que me torturam e causam uma sensação estranha, mas eu me forço a seguir em frente.

Mesmo me distanciando, apenas observar as várias capas dos games na vitrine por poucos segundos me fizeram lembrar de Ricardo, e um aperto recai sobre meu peito.

Não sei se esse é um aperto pela saudade que sinto da presença dele e tento manter guardada, ou se é a dor por causa do que ele fez, e talvez continue fazendo.

Por que Ricardo fez o que fez? Agiu estranho, me deu palavras duvidosas, não me deu notícias por dias, nem se preocupou comigo mesmo sabendo do problema que estou precisando enfrentar por causa da entidade... E quando ele finalmente reaparece, é por estar dando em cima de uma colega minha? Por que Ricardo?

Tudo isso é por causa de ciúme? Apenas ciúme e acha que está agindo para se vingar de mim?

Eu não entendo seus motivos, não sei o que o fez levar por esse lado e agir assim. E a cada dia que passa, tenho mais dúvidas se o que ele sentia por mim era algo verdadeiro ou se foram mais palavras vazias. O que eu sinto por ele segue se apagando, e suas atitudes me fazem questionar ainda mais sobre ele e tudo que existia entre nós.

Será que não sou boa o bastante para ele? Não o atraio mais fisicamente ou sexualmente, e agora ele está atrás de outras pessoas?

Eu o magoei tanto assim que agora ele não quer saber mais de mim?

Será que tudo isso é culpa minha, uma punição por ter errado antes, seja naquela balada pelos efeitos das bebidas? Ou então pelo que quase fiz com Brian?

Eu não queria nada disso... Não queria essa entidade presa dentro de mim, não queria todos esses problemas, esse mundo maluco que agora insiste em me rodear. Por que as coisas aconteceram desse jeito?

Meus olhos caem pelo chão pela tristeza que sinto por tudo ter acontecido de tal forma, eu sei que não sou uma santa, que coisas que fiz foram erradas... Talvez eu não me arrepender de nenhuma dessas coisas me torne ainda mais errada... Será que pedi por isso?

Independente de ser a certa ou a errada... Eu não irei atrás do Ricardo, de forma alguma irei atrás dele. Eu posso amar ele... Não sei se o vejo mais como meu namorado, Ricardo se tornou um estranho de certa forma... Não, desde que ele começou a agir assim, definitivamente, eu não o vejo mais como meu namorado.

Ainda tenho sentimentos muito fortes por ele, negar isso é estar mentindo a mim mesma, mas não irei atrás dele. Não irei atrás dele mesmo que ainda tenha sentimentos, não irei atrás de alguém que me abandonou e não é mais um namorado para mim. Foi ele quem começou a agir como uma criança, e não eu.

Eu quem estou sendo atacada por uma criatura de outra dimensão presa na minha cabeça, não ele. Sou eu quem estou inclusa em um mundo poderes, feitiços e seres que jamais imaginei existirem, só eu sei o que estou passando, e não Ricardo.

Eu não sei se sou idiota ou não, mas definitivamente... Eu não irei atrás dele.

Dou um suspiro, continuando meu caminho pelo shopping. Minha mente briga entre afastar cada um desses pensamentos, ou mantê-los com total intensidade e continuar me martirizando por sei lá quanto tempo.

Por sorte a praça de alimentação está vazia, e isso me agrada um pouco. Pelo menos não terei problemas para pegar uma mesa. Escolho uma das várias lojas, dando sorte de não haver fila e já faço meu pedido. Não são nem 10 da manhã direito e tenho um pouco mais de meia hora ainda, acho que da tempo de comer e voltar sem problemas.

Aguardo por alguns momentos até minha senha ser chamada, pego meu lanche e refrigerante, me preparando para comer. A fome surge antes mesmo de abrir meu lanche, e por consequência afastando qualquer outro pensamento que posso ter.

- Clara? – Ouço atrás de mim, antes que eu sequer possa me servir.

Olho por trás do ombro, vendo Brian parado me observando da mesma maneira séria que me viu da primeira vez, unido ao cabelo mais bagunçado que arrumado. Ele está com um terno diferente do habitual preto, hoje ele veste um terno em tom azul marinho bem escuro, e por cima o mesmo sobretudo estranho que ele parece nunca tirar de cima do terno.

Agora que eu o vejo, começo a cogitar se esse sobretudo cinzento seria algum tipo de "traje de gala de guardião", já que ele sempre está vestindo essa coisa.

Mesmo assim, não posso negar, ele está bonito, acho que atraente, ainda mais elegante do que já é normalmente. Sua presença e porte nesse momento são de atrair muitos olhares para si.

Não o respondo, apenas volto meu olhar ao meu lanche, desferindo uma mordida furiosa no mesmo por ter sido interrompida. Alcanço meu refrigerante e dou um longo gole.

O homem caminha ao lado da minha mesa, puxando uma cadeira e se sentando a minha frente, olhando para a mesa – Está bem cedo para um lanche desses... Gostei disso.

Concordo com um som, e logo assentindo com a cabeça. Mesmo assim não digo nada, volto a morder meu lanche por mais uma vez sem nem ao menos olhar para Brian diretamente.

- Precisamos falar um momento. – Ele diz novamente, e continuo sem o olhar, mas faço um gesto com a mão para que ele continue. – Na verdade, passar notícias de Amanda.

Ele para de falar, como se esperasse que eu me pronunciasse de alguma forma, mas não. Eu não tenho nada a dizer diretamente. Apoio o rosto na mão, alcançando meu refrigerante em mais um longo gole.

- Bem... – Ele começa de forma relutante – A Amanda já está um pouco melhor daqueles acontecimentos, menos abalada... Mas ainda assim ela decidiu se afastar da feitiçaria por algum tempo, até se sentir confiante novamente.

Dou mais um gole no meu refrigerante, o deixando na mesa. – É uma pena... – Digo direta.

Me sinto mal por Amanda ter tomado essa decisão, mas entendo que ela passou por uma situação extrema. Eu acredito no que ela passou e me sinto mal por ela, até por também já ter passado por algo parecido com a minha própria entidade...

Se bem que com Amanda, as coisas parecem ter sido mais intensas do que foi comigo... O rosto dela naquele momento me entregou isso, acho que nunca vi uma pessoa tão abatida e amedrontada como ela estava...

Se todas as suposições que tivemos até agora estiverem certas, Amanda precisou enfrentar sozinha uma das crias do Abismo, e simplesmente, não conseguiu fazer nada contra ele.

É impossível duvidar da verdade em suas palavras.

- Infelizmente sim... – Ergo os olhos para Brian. Ele está com seu olhar baixo, passando uma mão no queixo – Isso será ruim. Agora sabermos uma possível fraqueza da sua entidade, e a melhor pessoa que poderia nos ajudar decidiu se afastar da feitiçaria...

Balanço a cabeça novamente – De um tempo a ela. Amanda está traumatizada. – Respondo neutra, dando mais uma mordida em meu lanche.

- Eu sei, mas isso não deixa de ser um problema... – Ele comenta com a mesma expressão, dando um suspiro – E Ferdinand está ainda menos satisfeito com a decisão de Amanda. Está querendo tomar alguma providência.

Termino de comer meu lanche em mais uma mordida, buscando meu refrigerante, dando um demorado gole – É um irmão irritado. Logo ele se acalma.

- Será? – Ele diz erguendo uma sobrancelha.

- Talvez. – Dou de ombros. – Só espere.

Ele assente balançando a cabeça, me olhando novamente. Sua expressão para mim é séria, talvez frigida. O olhar que lança sobre mim é profundo, indecifrável. Parece capaz de atravessar qualquer tipo de barreira que existe em mim e ver cada um dos meus pensamentos, cada um dos desejos que eu posso ter dentro de mim, sejam eles puros ou impuros. Em situações normais eu seria capturada por esse olhar... Me entregaria a esses olhos sem nenhuma resistência...

Já nesse momento, eles não surtem esses efeitos sobre mim.

Mas ainda assim, sei que ele me analisa. O que Brian está buscando em mim, eu não sei.

- Você vai? – Ele questiona de repente, e não entendo a pergunta.

- Para? – Questiono, pescando uma batata e levando a boca.

- A balada... – Não esboço reação. – Jeniffer disse que chamou você também.

Cerro o olhar, mas sem focar no homem a minha frente – Também? – Digo, pescando mais batatas de uma vez, comendo sem cerimônias.

- Ela me convidou também... – Ele diz simplesmente – Mas estou resistente a ir nisso...

- Não se sinta obrigado a ir só por minha causa. – Respondo direta, pegando o copo e girando o liquido dentro lentamente – Eu não penso em tirar o colar do meu pescoço em nenhum momento, o feitiço da Amanda vem funcionando muito bem para me manter segura da entidade, e também estou aprendendo sobre as runas e até sábado terei pego o jeito de cada uma delas... Por isso estarei segura, se for essa a sua preocupação...

Sua expressão muda com o que eu disse. Não parece surpreso, não parece nada. Brian apenas está me olhando agora. Sua boca abre, mas ainda não acabei.

- E caso queira ir fazer outra coisa durante a noite, descansar de suas pesquisas, festejar, sair com alguém, visitar algum lugar, saiba que você estará livre... Se quiser ir para a balada conosco, que seja por sua vontade... – Digo suspirando.

Ele se cala totalmente. Sua boca sequer se move, ele apenas está me olhando sem nem ao menos piscar, porém ainda assim não sei o que existe em seu olhar, menos ainda em seus pensamentos... Só que agora não tenho vontade de saber o que pensa, seja lá o que for.

- Algum problema? – Digo na mesma neutralidade, retirando a tampa do copo plástico, logo virando o pouco de refrigerante que ainda resta na boca.

O frio do líquido junto a todo o gás que ainda resta causam uma estranha sensação de profunda ardência na garganta. A sensação e o sabor percorrem e entorpecem meus sentidos, causando uma sensação agradável ao meu paladar, só seria melhor se eu não sofresse uma pequena falta de ar por causa disso. Discretamente respiro fundo me recuperando, ainda recebendo o silêncio do homem a minha frente.

- Não, nada. – Ele diz, balançando a cabeça por uma vez. – Sabe que não funciona dessa forma.

- Sim eu sei, mas a realidade é que agora, eu não to nem ai para como funciona. Você mesmo disse que não iria ficar se abdicando das suas coisas apenas por minha causa. – Cada uma das minhas palavras soa tão calmas que se diferem muito da irritação que sinto dentro de mim. Irritação, raiva, incomodo, inquietação. Tudo surge, se espalhando por mim sem controle, não a algo em específico, não mais. Eu apenas me enfureci com tudo. Todo meu bom humor desapareceu. – Então se quiser fazer qualquer coisa, faça. Eu não tirarei o colar, então ficarei bem. Portanto não se preocupe.

- Tudo bem, como preferir. Eu apenas queria saber se você iria ou não com seus colegas... – Ele diz simplesmente, enquanto se levanta. Brian me observa por alguns segundos – Eu não estava para pedir uma permissão sua para ir ou não na tal balada, muito menos iria só por ser seu guardião... Se ainda não percebeu, já não preciso te proteger a muito tempo.

Viro meus olhos a ele, sem a menor vontade de debater. Ele não olha mais a mim, apenas se afasta em passos apressados. Instintivamente viro o rosto, acompanhando ele até desaparecer do meu olhar.

Dou um suspiro, olhando meu relógio de pulso. Menos de vinte minutos para voltar.

Pego todas as minhas coisas, resgato as batatas fritas que ainda tenho e levo para comer no caminho. As aulas serão uma verdadeira tortura pelo restante do dia.

Meus olhos pesam do sono, somado ao meu tédio causado pela aula, e toda a irritação de mais cedo. As horas se arrastaram, e o professor ajudou narrando cada detalhe da matéria do jeito mais desinteressante possível.

Pelo menos deu o horário e posso sair, e diferente do que costumo fazer normalmente, eu arrumo todas as minhas coisas rapidamente e me lanço para fora da sala. Quero sair o quanto antes e voltar para casa, me trancar no quarto e afundar a cabeça nos livros. Estudar vai me ajudar a aliviar a cabeça, sem contar que preciso adiantar as matérias da plataforma on-line.

- Clara! Espera! – Escuto por entre as vozes, Por mais que eu queira dar atenção, não o faço. Só quero ir embora logo.

Passo pela catraca, passando os olhos pelo terminal, vazio por ser próximo do meio dia, mas hoje não tomarei um ônibus, irei de metrô mesmo.

Letícia surge de repente ao meu lado, arfando de leve e me olhando, com algo em uma das suas mãos. Antes que eu identifique o que é, ela estende o objeto para mim. – Esqueceu isso.

Pisco algumas vezes, percebendo se tratar do meu celular. – Ah sim, obrigada... – Digo ao mesmo tempo que apalpo o bolso da minha calça, buscando confirmar que meu celular realmente não estava comigo desde sei lá que horas.

- Estava no chão embaixo da sua cadeira, e do jeito que você saiu igual um foguete... – Ela diz, encolhendo os ombros.

- Cabeça cheia sabe... – Digo dando de ombros, evitando dar detalhes.

Ela assente dando um sorriso – Sim eu sei, e sei muito bem...

Olho para a loira a minha frente, que parece inquieta com alguma coisa. Estou a um passo de apenas me despedir e voltar ao meu caminho, mas acho melhor sondar ela – Algum problema?

- Só queria pedir desculpas por aquele acontecimento... – Sua voz é contida, e seus olhos se perdem pelo chão – Não queria que as coisas estivessem assim para você, muito menos ter que receber aquelas mensagens e fotos... Eu apaguei tudo, mas não sei com qual coragem estou falando com você agora...

Meus olhos permanecem nela, ouvi cada palavra com toda a atenção. De todas as pessoas que tenho amizade, Letícia é a amiga mais recente que tenho, mas já a conheço o bastante para saber que ela não dissimulada a ponto de dar desculpas falsas ou agir dessa maneira. Não, ela não é assim, sua personalidade não é assim.

Balanço a cabeça negativamente – Não precisa se desculpar sobre isso, pelo que vi, a atitude não foi tomada por você mas sim por ele, e em nenhum momento você deu corda para o que o Ricardo disse... Então não tenho porque ficar irritada com você.

- Eu sei, só que me sinto mal por tudo isso... – Ela suspira – Esse é o motivo que não quero acompanhar vocês na balada que comentou.

Levo minhas mãos aos seus ombros, a sacudindo de leve por uma vez – Me escute, eu não estou irritada com você pelo que aconteceu, meus problemas não são com você Letícia. Agora, todo o meu problema e o que tenho que resolver é com o meu até então "querido namorado", que por sinal ainda nem deu as caras para mim.

Ela mantém o silêncio, apenas me olhando estática.

- O que aconteceu não fez você se tornar indesejada, se esse for o problema só esqueça... Eu vou me resolver com Ricardo quando encontrar com ele. – Digo isso, e de imediato as runas que levo comigo na mochila surgem em mente, junto a uma estranha vontade de usá-las para atacar Ricardo, mas não. Eu não farei isso – E aliás, o convite para a balada ainda está de pé para você, caso queira ir.

- Tudo bem, eu pensarei melhor sobre... – Ela diz assentindo, enquanto eu recuo um passo, cruzando meus braços.

Abaixo um pouco meu olhar, ficando pensativa – Só tenho uma pergunta. Ele te mandou mais alguma coisa depois daquilo?

- Não mandou mais nada. – Mantenho meus olhos nela, tentando achar algum sinal que ainda indique uma mentira de sua parte.

Não confio totalmente em Letícia. Sei que ela pode ser totalmente inocente, de fato. Mas também, existe a chance de ela ter algum envolvimento, talvez ainda mantendo contato com Ricardo, ou ela ter seduzido ele para inicio de conversa. Caso ela seja culpada, terão consequências, porem isso não irá isentar o Ricardo da culpa. Eu vi o que ele fez, então ele também está errado.

Mas sem ter certeza, eu não irei acusar Letícia de nada, muito menos irei tratar ela com alguma estranheza. Apenas manterei minhas suspeitas.

- Bem Letícia, se e da licença, tenho que correr para casa... – Digo me despedindo, dando um passo para trás e me virando. – Obrigado por entregar meu celular.

- Disponha, se cuide voltando para casa. – Ela diz em um aceno.

- Igualmente! – Digo, aumentando a distancia entre nós, seguindo rumo ao metrô.

Passo os olhos ao redor, buscando ter certeza de que Brian não está aqui em nenhum lugar. Bom, depois de como foi meu tratamento no shopping mais cedo, tenho a sensação de que ele não vai querer falar comigo tão cedo. Aliás, algo surge em minha mente em cada passo que dou rumo à plataforma abaixo do terminal. Brian comentou que já não precisa mais me proteger faz tempo, e isso martela na minha mente.

O que exatamente o fez pensar nisso?

A entidade continua presa a mim, e até apareceu recentemente, e está obvio que pode reaparecer em qualquer segundo. Ele diz isso por causa do colar que levo comigo? Ou seria por causa das runas em meu poder?

E as runas também é algo que me deixa pensativa. Mencionei elas, porém meu guardião sequer deu atenção... Bom, isso na verdade não me impressiona, já que ele apenas me entregou as mesmas e me deixou a própria sorte para aprender.

As vezes eu gostaria de entender por que só existe homem complicado ao meu redor. É tão difícil ter uma pessoa normal ou que me faça bem?

Meus devaneios são rompidos com a chegada ruidosa do metrô. Suspiro afastando todos os pensamentos que tenho, novamente eu tenho a ideia de que preciso me distrair de alguma forma.

Encosto no lado oposto ao que irei descer, me apoiando em uma das barras, deixando escapar um suspiro cansado. Olho as portas fechando, e um novo pensamento percorre minha mente, eu gostaria de ter minha vida normal de volta, mas cada vez isso parece mais distante das minhas mãos. Apenas acordar cedo, sair para minha aula, planejar e seguir por uma carreira, ganhar meu dinheiro e conquista coisas... Eu preferia isso... Preferia?

O que Marina me disse volta a ecoar na minha mente. Ela está certa quando diz que minha vida é mais "emocionante" que a das demais pessoas... Claro, não do melhor jeito, mas ainda tem mais emoções realmente. Conhecer um mundo novo foi algo que eu esperava ao me tornar adulta, mas o mundo que estou descobrindo é diferente, muito diferente do que eu esperava. Criaturas e magias, isso é algo que está apenas no imaginário das pessoas, mas vejo isso com meus próprios olhos, já manifestei esse poder com minhas mãos.

Eu realmente prefiro ter minha antiga vida de volta, e deixar para trás todo esse novo mundo, junto a todas as coisas que posso ver ou fazer?

Minha vida antiga, ou a minha vida atual? Qual eu prefiro? Qual é meu desejo?

Esses são pensamentos que se chocam em minha mente. Tirando ter um monstro preso dentro da minha cabeça, e também esquecendo o fato de ser atacada, eu acho que gosto de como as coisas estão agora.

Minha atenção volta ao meu celular, sequer o olhei por todo o dia. Estou cheia de mensagens do grupo da classe, mensagens dos meus pais e do grupo da família. Começo um debate mental se respondo ou não, mas de repente meu celular apaga.

Imagino se algum tipo de travamento, mas quase no mesmo momento as luzes do vagão se apagam, ao mesmo tempo que o metrô vai parando sobre a ponte. Mais essa agora.

Um burburinho começa, conversas paralelas junto a reclamações. Alguns falando sobre se atrasar para o trabalho, outros falando de querer chegar logo em casa, e o questionamento mutuo entre todos: Será que voltaremos a nos mover logo?

Olho por cima do ombro por um momento, tentando identificar onde eu posso estar agora, mas tudo que vejo são os trilhos, as barras laterais, um prédio grande como um galpão alto, um morro com muito mato, torres de energia e muito matagal. Apesar de ter feito esse trajeto várias vezes, tenho uma certa dificuldade de identificar onde estou agora, isso que dá pensar demais.

Caminho ao outro lado do vagão, tentando procurar algum lugar que seja no mínimo conhecido. Toco minhas mãos, sentindo a porta de metal estranhamente quente e olho ao redor, e para minha desagradável surpresa, ainda estou próxima à estação Santo Amaro, o que é praticamente do lado da minha faculdade de tão perto.

Me desencosto da porta e olho em volta. Pessoas e mais pessoas estão em seus celulares, praticamente falando apenas sobre estarmos parados mas com feições de quem não está nem ai.

De repente meu colar começa a brilhar entre meus seios, o que atrai totalmente minha atenção. Seguro a pequena pedra entre os dedos, sentindo o calor irradiado dela junto ao seu brilho.

Ela apenas reage caso tenha alguma coisa por perto.

Repentinamente todas as portas do metrô são abertas permitindo uma forte corrente de ar quente invadir o vagão, me pegando desprevenida e fazendo com que eu recue um passo. Olho para o lado, onde as pessoas se perguntam novamente o que está acontecendo. Minha primeira vontade é saltar para fora do metrô, mas lembro que a entidade pode estar a espreita, então me contenho.

Calma Ana Clara, pense um pouco, estou usando meu colar de proteção, então a entidade não pode me tocar, além disso estou próxima da estação. Se eu decidir voltar, poderei chegar ao terminal em pouco menos de dez minutos andando.

Enquanto todos ainda estão olhando em volta, levo minhas mãos a porta e coloco a cabeça para fora, olhando em volta sentindo todo o calor do dia. Olho para baixo, certa de continuar essa loucura. Escolho o melhor lugar e então salto para fora do vagão, apoiando meu corpo na grade de ferro da ponte, sentindo o vento e o calor passando por mim e meus músculos tencionando após o impacto com a barra, além da minha tentativa de manter o equilíbrio. Me apoiando, vou andando pela lateral do trilho, sentindo uma forte vertigem ao olhar para baixo junto a uma sensação de desequilíbrio, o nervosismo me surge e minha respiração se acelera, além que minhas mãos estão tremendo.

As pessoas que ainda estão no metrô me olham pelo vidro, e por cima do ombro vejo alguns saindo dos vagões e fazendo o mesmo caminho que eu, acho que acabaram encorajados pelo meu ato nada prudente.

Avanço me apoiando, chegando próxima da estação. Avanço meu passo, chegando na plataforma, sendo recebida por alguns olhares de estranheza. Decidi não esperar, posso ser culpada por isso?

Logo os olhares vão para as demais pessoas vindas atrás de mim, algumas estão rindo da situação, outras estão irritadas. Seja como for, tenho que andar um pouco nesse sol até alcançar o terminal, e é isso que farei.

Além do mais, algo mantem minha atenção presa. Até o momento minha pedra de proteção não parou de brilhar... O que está acontecendo?

Seja o que for, deixarei para lá. Tenho mais o que pensar quando chegar em casa

Finalmente o dia da balada, poderei relaxar.

Estou agora em frente ao espelho, passando os dedos pelo cabelo terminando de ajeitá-lo, deixando algumas mechas caindo pelos ombros e boa parte pelas costas. Preferi deixar solto nessa noite, acho que fiquei bem mais bonita assim. Não exagerei em nada em maquiagem, melhor ficar mais discreta nesse quesito hoje.

Olho para minhas roupas, um curto shorts jeans claro, junto a uma camiseta escura, com uma gola ampla deixando um dos meus ombros a mostra, e longa o bastante para cobrir meu shorts, além de não tão justa ao corpo, e um par de tênis. Discreta também, mas ainda assim me agrada.

E o indispensável continua no meu pescoço, a única parte que mostra do meu colar é a pequena cordinha escura que sempre sustenta a joia.

- E então, já podemos ir? – Marina questiona, olhando algo em seu celular. Ela está vestida com um short escuro quase do mesmo tamanho que o meu, uma regata decotada e um pequeno colete cinza por cima.

- Acho que sim... – Digo pensativa, ainda olhando meu reflexo – Será que essa roupa está realmente boa?

- É claro que está... – Ouço ela dizendo, e percebo ela voltando a me olhar pelo reflexo no espelho – Fico feliz que tenha desistido da ideia de ir de calça nesse calor.

- Sabe que ficaremos fora até tarde, não é? – Questiono rindo, enquanto ela se levanta.

- Sim eu sei, mas calor é calor, talvez fiquemos até de madrugada, e se estiver frio, damos um jeito de resolver na hora. – Ela diz rindo mais do que eu.

- Só acho que me darei mal com isso. – Zombo, pegando minhas coisas e minha bolsa. Não sei se serão necessárias ou se irão funcionar, mas também decidi por levar as minhas runas. Nunca se sabe – Depois não reclame se ficar doente por tomar friagem e sereno na madrugada.

- Eu irei dar uma risada e gritar "Não me arrependo de nada!". – Ela proclama rindo, erguendo o punho para o alto e saindo do meu quarto.

Balanço a cabeça negativamente e saio também, encostando minha porta tentando mascarar a bagunça que deixei sobre a minha cama. Arrumarei quando voltar para casa. – Quero só ver se vai ter toda essa animação.

Descemos as escadas, vendo Tiago e Letícia no sofá em um silêncio constrangedor devido ao meu pai estar bem na frente deles com uma expressão analítica. Coitados, os dois mal se mexem na presença do meu pai, nem sei o que estão pensando.

- Então, vamos? – Digo, atraindo a atenção de todos.

- Agora mesmo! – Tiago exclama, saltando para longe do sofá. Ele parece aflito, olho para meu pai e ele da uma pequena risada.

Com certeza meu pai estava assustando Tiago de alguma forma.

- Como vai ser isso filha? – Meu pai questiona por mais uma vez – Vai vir para casa? Ir para a casa da Marina?

- Não sei ao certo pai... Dependendo do horário, vou para a casa da Marina. – Digo, checando todas as minhas coisas na bolsa.

- O Ricardo também vai? – Essa pergunta do meu pai é nova, e sinceramente, eu não estava esperando nem um pouco por isso.

Volto meu olhar ao meu pai, sem saber bem o que dizer. – Infelizmente ele não pode ir... Está trabalhando muito ultimamente.

- Entendo... – Ele diz assentindo. – Certo filha, se cuide no caminho.

- Tudo bem, ficarei bem... E quanto a nós, não vamos perder mais tempo – Digo sorrindo, enquanto sigo para a porta acompanhada de todos.

Saio junto com todos, dando sorte do meu pai não me fazer mais nenhuma pergunta. Assim que saímos, me permito olhar o visual de Tiago, ele está vestido em uma camiseta justa ao corpo, uma calça jeans folgada com rasgos nas pernas e de tênis, sem falar dos dreads bagunçados. Já Letícia está melhor arrumada em roupas e maquiagem mais discretas, uma camiseta sem decotes, calça e também utiliza tênis, e mantem seus longos cabelos loiros soltos.

A noite está quente, e o céu estrelado. A lua brilha forte essa noite, me trazendo uma sensação de paz muito grande. É uma noite agradável.

- Qual caminho iremos fazer? – Ouço Letícia questionando.

Penso um momento, passando a mão no rosto – Vamos pegar o metrô, e iremos até a Praça da Sé... Marquei com as meninas dentro da estação.

- Onde as conheceu? – Tiago questiona.

Olho para ele, cogitando se respondo ou não. Ele parece entretido demais brincando com um de seus dreads entre os dedos e parece ter dito apenas no automático – Bem... Conheci Jeniffer no próprio consultório psicológico, ela é a recepcionista, e a Tamires foi quase à mesma coisa.

- Acho que lembro da Jeniffer... – Letícia comenta pensativa – O Brian também vai?

- Não sei. – Respondo de imediato.

Marina apressa o passo, envolvendo seu braço ao meu – E eu tenho uma outra pergunta, por que você não falou a verdade do Ricardo para seu pai?

- Qual verdade? – Digo a olhando de canto, um pouco mais séria.

- Que vocês não estão nem se falando mais. – Ela comenta como se tomasse cuidado com cada uma de suas palavras.

- Por que hoje é dia de aproveitar. – Falo da forma mais direta que posso – Eu nem tive como falar com ele, afinal ele desapareceu por dias e ficou dando em cima de outras pessoas... Além que nem considero ele como meu namorado... Nem faço questão de ver ele de novo.

- Certo... Então o que acham de mudar de assunto? – Tiago comenta animado – Vamos pensar no quanto vamos curtir essa noite até não aguentarmos mais?

- Gostei disso garoto, bem melhor pensarmos nisso. – Marina o incentiva nessa mudança de assunto, e tanto eu quanto Letícia assentimos.

Apenas conversamos, rimos e descontraímos, mantendo o passo até chegarmos ao metrô. Faço meu máximo para esquecer tudo que poderia me incomodar, me concentrando apenas na noite que nos aguarda.

- Olha só quem apareceu! – Jeniffer nos diz em um tom animado unido a um largo sorriso amigável, se levantando de um dos bancos da plataforma e vindo até nós, me recebendo com um caloroso abraço que de imediato retribuo. – E acompanhada!

- Desculpe se demoramos muito. – Digo rindo, me afastando devagar, já nos colocando a andar para fora da estação. Observo meus amigos por cima do ombro, eles nos seguem aos risos.

- Que nada, não demorou nem um pouco. Cheguei faz pouco tempo. – Ela comenta animada.

Apenas sorrio para ela, me virando aos meus amigos e andando de costas – Vamos as apresentações, pessoal, essa é a Jeniffer que falei mais cedo... – Digo e todos lançam um cumprimento, enquanto giro sobre os pés fazendo meu cabelo voar e cair sobre meus ombros, voltando a andar corretamente – E Jeniffer, esses são Letícia, Tiago e Marina... Somos do mesmo curso, apenas Tiago é de outro curso.

- Por que não disse que Jeniffer era uma moça tão bonita? – Tiago diz imediatamente em um tom brincalhão, levando uma mão ao queixo, mantendo um sorriso de canto.

- Controle-se garoto... – Marina diz cerrando as sobrancelhas, golpeando o estomago do moreno com o cotovelo, porém Tiago pouco se abala – Você mal conheceu ela e já quer dar em cima?

- Só estou sendo gentil... – Ele diz rindo, passando a mão no local golpeado – Mal de fotógrafo freelancer, desculpe se fui grosseiro.

- Por mim está tudo bem, nem cheguei à balada e recebi um elogio. – Jeniffer diz em uma risada animada – Se outros homens falarem apenas isso, ou receberem cotoveladas iguais essa de agora, eu garanto que vou me divertir muito.

- Pode deixar que eu cuidarei desse aqui. – Marina diz em um sorriso maldoso – Garanto que, se ele não se comportar e soar incomodo a você, vai apanhar bastante.

- Eu dispenso isso. – Ele diz rindo erguendo uma mão a Marina – Não irei me comportar, mas irei me comportar.

- E isso faz algum sentido? – Letícia questiona em um riso.

- Todo o sentido. – O rapaz ergue seus ombros, em uma expressão tranquila – Eu não vou me comportar sobre curtir e dar uns beijos a noite toda, mas irei me comportar de só fazer isso com quem me quiser.

- Veremos quanto a isso. – Digo erguendo uma sobrancelha, passando meus olhos ao redor, e voltando minha atenção a Jeniffer – Onde está a Tamires? Ainda não chegou?

Ela confirma balançando a cabeça – Chegou sim, mas disse que estava se sentindo sem ar, e está nos esperando lá fora... Pelo jeito, Brian está com ela.

Apenas assinto sem me pronunciar. Então ele veio, justamente quando está ficando difícil de lidarmos um com o outro. Por mais que eu queira, o que mais parece surgir entre nós é uma inimizade, dentro de curtos momentos quando nos damos muito bem.

Eu não sou nenhuma santa, sei que dificulto muito as coisas, e Brian também, mas todas as vezes que penso que existe algum progresso, tudo vai por água abaixo. Por esse motivo, eu não ligo para o que irá acontecer, se terá ou não amizade, se eu sou ou não um trabalho.

Já disse isso a mim mesma várias vezes, deveria ter sido mais firme nessa minha decisão.

Quando dou por mim, já estamos saindo da estação, e sentada em uma das laterais está Tamires, teclando algo em seu celular, porém seu olhar parece preso em algo distante. E do lado oposto, de pé e com as mãos nos bolsos da calça está Brian.

Ele está vestido em roupas mais leves, uma camisa polo comum e um jeans, além daquele seu comum sobretudo cinza. É diferente ver Brian com roupas que não sejam um terno, mas a diferença se rompe quando uma de suas peças de roupa é algo que já vi tantas vezes.

Penso em questionar o motivo de estarem tão longe, mas acho melhor não tocar nesse assunto.

Assim que saímos da estação, faço as devidas apresentações de todos os meus colegas a Tamires, e ela acabou sendo igualmente amigável como Jeniffer. Com todos já reunidos, sem muitas cerimônias seguimos direto para a balada.

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