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Capítulo 12 - Dia das garotas

8550 palavras

Novamente minha tentativa de criar alguma expectativa com Brian foi por água abaixo. Achei que ele iria me contar mais sobre como resolver meu problema com a entidade, dizer o que ele descobriu, ou no mínimo usar isso como pretexto para começar a conversar um pouco mais comigo. Qualquer coisa nesse sentido.

Mas ele continuou quieto lendo seu livro.

Fiquei quase três horas na casa dele, e tudo que ele fez foi ler... Ta, falar isso é um exagero.

Para não ser injusta com Brian, ele também foi olhar o motor do seu carro e logo depois se dedicou em passar um pano úmido com todo o carinho no mesmo... Enquanto eu, tive que me distrair caçando algo para assistir na televisão, e também passando o tempo xeretando praticamente tudo na sua casa.

O único momento que ele olhou na minha direção para falar algo foi quando eu disse que queria vir para casa, que claro, ele cumpriu de imediato.

Me pergunto, por que continuo tentando esperar algo dele?

Eu não aprendo. Bem, deixa pra lá.

Olho para meu celular desbloqueado sobre minha mesa. Batuco os dedos na tela, abrindo e fechando aplicativos por passatempo. Marina e nem Letícia chegaram ainda, e Tiago deve estar passeando por aí atrás de um rabo de saia.

Dou um suspiro para mim mesma. Não lembro se tinha algo para fazer, algum relatório. Nada. Minha cabeça ta uma bagunça por causa dessa história toda da entidade. Essa confusão toda bem que poderia ter acontecido no meio das férias.

Continuaria sendo difícil, mas eu não precisaria me preocupar com minhas aulas ou no que esqueci de fazer. Poderia me focar melhor em ambas as coisas.

Uma pessoa vem em minha direção, e percebo se tratar de Letícia. Ela me cumprimenta com um pequeno sorriso e se senta, tocando seus próprios ombros em uma leve massagem. – Andou carregando peso?

- Foi, ontem fui ao mercado... – Ela diz entre resmungos de dor – Me distraí com as aulas e acabei deixando os armários esvaziarem até demais.

Tento conter um pequeno riso – Poderia ter usado a entrega em domicilio.

- Olha na minha cara e diz se tenho dinheiro sobrando para esses luxos? – Letícia diz aos risos, alongando seus braços – Prefiro carregar tudo sozinha.

- E por consequência, acaba toda dolorida – Dou de ombros e dou risadas. Letícia revira os olhos, ainda assim mantendo um sorriso no rosto. – Por sorte ainda não passo por esse tipo de coisa, quanto mais eu puder evitar, será melhor.

- Estou com os ombros marcados pelas alças das sacolas... – Ela choraminga, deixando suas mãos sobre a mesa e erguendo o rosto, continuando a se alongar em movimentos lentos – Mas se eu quiser comer algo, ou ter coisas para manter a casa limpa, tenho que comprar e me virar sozinha mesmo.

Somente consigo rir da situação dela, mas é uma boa risada de preocupação. Eventualmente eu terei que passar por esse tipo de coisa, mas eu prefiro não pensar nisso agora.

- Aliás, você está sumida nos grupos. – Ela diz de repente – Mal está falando, e antes você conversava bastante. O pessoal estava perguntando de você.

Confirmo com a cabeça. Agora que estou pensando melhor no que Letícia disse, toda essa história já começou a afetar meu círculo de amizades. – É, ultimamente estou bem ocupada.

Ocupada tentando me manter viva.

Ela fica um pouco pensativa, batendo seus dedos na mesa – Teria haver com aquele rapaz que veio te buscar na faculdade dias atrás?

- Tem tudo a ver com o Brian... – Digo, erguendo as sobrancelhas. – Posso dizer que meus problemas ainda não acabaram.

O olhar de Letícia muda. Ela aparentemente está relutante. – Problemas... Você diz... Aquela coisa?

Confirmo com a cabeça – Aquilo continua aparecendo pra mim. O Brian está me ajudando a passar por isso. – Digo dando um suspiro.

- Como está sendo? – Ela me questiona. Apesar do receio claro que sente, ela também está extremamente curiosa quanto a isso.

Abaixo meu olhar, ficando pensativa. Como explicar para ela toda essa situação?

No primeiro ataque que sofri pela entidade, ela estava presente. Letícia viu somente o primeiro momento, não sabe que já fui atacada por várias outras vezes, muito menos que a criatura que ela viu está diferente de antes, acho que não só em aparência. Ouso dizer que não é só a aparência que está mudando, aquela coisa parece estar ficando cada vez mais forte.

Além disso, Letícia não tem nem ideia do que estou sabendo agora, do tanto de coisa que já presenciei, que pude conhecer nesses últimos dias. Eu sequer imaginava que o sobrenatural realmente existia nesse mundo, quem dirá acreditar nessas coisas.

Tudo parecia uma grande balela para mim, um mundo tão distante e fantasioso, coisas que apenas os velhos ou mais idiotas acreditam, mas agora eu estou pensando bem diferente.

Agora eu soube da existência de seres que pareciam só lendas ou histórias de contos de fadas, criaturas muito maiores do que eu imaginei. Sem dizer que presenciei um homem usando alguma habilidade para reconstruir um estabelecimento, e uma bruxa fazendo um feitiço de proteção realmente funcional. Não fiquei sabendo por terceiros, eu mesma vi.

É difícil não acreditar nessas coisas depois de tudo isso.

É como se eu acabasse de descobrir, e cada vez mais estivesse explorando um mundo novo.

Me pergunto o que mais pode existir por aí.

Minha vida inteira virou de cabeça pra baixo. Novamente me pergunto, como eu posso contar para Letícia sobre essa situação toda?

Olho novamente para ela, hesitando um pouco em responder – Está sendo meio complicado pela entidade não me deixar em paz... Pelo menos Brian está conseguindo lidar bem com a situação.

O olhar dela se suaviza. Preferi evitar falar que Brian foi quem menos fez coisas válidas ultimamente. Se estou viva agora, é por uma grande sorte que o universo está me proporcionando... Mas claro, esse detalhe pode ser ocultado.

Percebemos Marina se aproximando em bocejos. Seus passos são arrastados quase como os de um zumbi, e sua cara de sono é impagável.

Observamos Marina se sentando, afagando sua bolsa como se fosse um travesseiro – Bom dia meninas... – Ela diz em um sussurro, fechando seus olhos.

Dou uma risada contida e me viro para Letícia – Bom dia... Apesar que, acho que se eu falar qualquer coisa, a Marina não irá me ouvir.

- Estou ouvindo sim... – Ela diz parecendo uma criança manhosa. Ela abre um olho e faz bico, unindo a um rosto bravo. Qualquer risada que eu e Letícia estávamos segurando agora se liberta.

Me encosto na minha cadeira, ainda sem conter minhas risadas. Pego meu celular e começo a olhar alguns PDFs com matérias das aulas, sem sentir vontade de estudar. Eu quero estudar, mas ao mesmo tempo não quero. Me sinto muito agoniada com alguma coisa, mas não sei ao certo o que é.

A realidade é que estou ansiando por fazer várias coisas, ir a vários lugares, andar, correr, ver coisas, praticar outras, mas ao mesmo tempo simplesmente não quero. Essa sensação estranha está martelando na minha mente, espalhando pelo meu corpo em uma irritação que não cessa.

Batuco os dedos na mesa, olhando de um lado ao outro. Tomara que a aula comece logo, acho que será o bastante para me distrair.

O professor está falando sem parar, empolgado em suas próprias palavras. Mantenho o rosto apoiado na mão, tentando ao máximo me manter acordada. Meus olhos pesam cada vez mais, Meu rosto parece cada vez mais difícil de manter erguido. Piscadas cada vez mais longas, bocejos, estou caindo de sono.

Não deveria ter zombado tanto da Marina logo cedo. Aliás, ela é quem mais parece interessada na aula. Olho para ela de soslaio, vendo como seu corpo está curvado para frente e demonstra toda sua atenção. 

Percebo algo, seu celular está em sua mão, e algo parece estar sendo contabilizado na tela.

Ta bem, Marina é a primeira pessoa que conheço que grava as aulas da faculdade. Mais de um ano e meio de amizade com essa maluca, e só agora percebo que ela grava as aulas. Agora faz sentido as caras estranhas que Marina fez nas vezes que falei alguma coisa totalmente sem noção e com nenhuma relação com a aula.

Perco para o tédio, e acabo fechando meus olhos, deitando-me devagar na minha mesa. Minha concentração se mantém vagamente na voz animada do professor. Apenas ouvindo sua voz até me sinto mais animada, mas não o bastante para voltar a olhar em sua direção.

Em cada segundo, sua voz se torna mais distante. Como se afogada em um profundo mar escuro e totalmente denso. Não, não é sua voz, eu sinto como se eu mesma afundasse nessa escuridão, ficando cada vez mais longe de qualquer coisa que signifique realidade.

Meu corpo parece flutuar, mas lentamente continua afundando suavemente, acompanhado do absoluto silêncio que envolve todo o meu ser. Me acalmo, tanto físico quanto mental. A agonia que sinto desaparecem por completo, e tudo que sinto é a calma vinda do silêncio.

Minhas costas tocam algo duro, me sinto deitada no chão. Abro meus olhos, sendo recebida apenas pela escuridão a minha frente. Respiro fundo, abrindo meus olhos. Ergo meu corpo devagar, olhando em volta. Nada. Não existe absolutamente nada aqui.

O chão tem tonalidades claras, como se fosse feito de concreto, sem irregularidades ou desníveis aparentes. Além disso, esse lugar inteiro está alagado. Não é muita coisa, só uma fina camada de água por todo o lugar, acho que não passa de cinco centímetros de altura.

Percebo uma coisa diferente. Minhas roupas mudaram. Olho para mim mesma por alguns segundos, agora estou vestindo uma calça jeans em tons brancos, tênis preto, uma regata sem muito decote, uma jaqueta folgada, e a única coisa que permaneceu igual foi meu colar. Suas cores parecem mais vivas nesse momento.

Não consigo enxergar muito longe. Não é difícil notar que sou um "ponto luminoso" nesse lugar bizarro, afinal, apenas o lugar onde estou é consideravelmente iluminado.

Ok, esse lugar é muito estranho.

Independente disso, não sei onde estou. Me ponho a andar, sendo meus passos na água o único som que existe nesse ambiente. Me concentro em ouvir qualquer coisa que seja, mas isso resulta em nada.

Continuo a caminhar devagar, ainda olhando em volta, me mantendo atenta em tudo. Olho de um lado ao outro, ignorando o som dos meus passos e ao máximo tentando focar meus sentidos na escuridão e no que ela pode esconder. Já passei por situações demais ultimamente, dessa vez estou esperando que algo aconteça de qualquer direção.

Seja a entidade ou qualquer outra coisa que apareça nesse lugar, eu não serei pega de surpresa. Estou preparada.

Me mantenho seguindo, ouvindo apenas meus passos ecoando por todo esse ambiente, mas nada aparece. Ao mesmo tempo que isso me tranquiliza, também me deixa agoniada. Os pequenos passos se alargam, gradualmente se transformando em uma corrida, rumando a lugar nenhum.

Eu corro sem parar, porém nada surge, a escuridão reina em totalidade neste ambiente. O silêncio continuamente se rompe apenas pelos meus passos sobre a água, mas é apenas isso que existe por longos minutos.

Ao longe, algo começa a surgir, um pequeno ponto cinza. Como consigo aumento minha velocidade, estranhando meu corpo não me condenar por tentar correr tão rápido. Aquela coisa que vi ao longe começa a tomar forma, crescer cada vez mais em cada novo passo.

Finalmente me vejo em frente ao que seria aquele "algo". Uma imensa porta de pedra aberta. Olho para seu interior, e tudo que existe é a continuação desse mar de escuridão que me encontro agora. Porém é diferente, dentro da porta tenho a sensação de existir algo, mas não sei exatamente o que é esse algo.

Eu sei que meus olhos não me mostram nada, mas meu instinto diz que existe algo lá dentro.

Antes que eu tome qualquer nova atitude, meu colar se aquece de imediato, e algo interrompe o silêncio desse ambiente. O som que parece ser de um bater de asas, e alguém pisando forte na água, o ruído da água rompe o silêncio. Está atrás de mim, mas não consigo me mover.

A água embaixo dos meus pés está agitada com o impacto do que quer que tenha caído atrás de mim, aos poucos retornando a sua inercia. O silêncio retorna, quebrado apenas por um ecoado gotejar distante.

Respiro fundo, conseguindo uma nova quantidade de coragem. Meu colar se mantém aquecido, o brilho dele surge, porém logo se apaga e meu colar esfria, adquirindo uma tonalidade cinzenta que nunca vi antes... Não tem outra forma de dizer isso, meu colar parece que foi desativado.

Passo meus olhos de um lado ao outro esperando encontrar qualquer coisa além da porta a minha frente, sem nenhum sucesso. Respiro fundo e de uma vez, me viro para confrontar o que está atrás de mim. Porém uma luz forte surge do nada e ofusca minha visão, me obrigando a cobrir os olhos.

Algo semelhante a um sussurro invade meus ouvidos, palavras são ditas tão suavemente como uma brisa primaveril, mas são tão baixas e vagarosas, que mal consigo entender ao certo o que está sendo falado, ou por quem está sendo falado.

Devagar, abro meus olhos, me deparando com um ambiente iluminado o bastante para ofuscar meus olhos. Meu corpo pesa de cansaço, e sinto que estou sentada. Ergo minha cabeça, me encontrando na sala da minha faculdade.

O que será que aconteceu?

Que pergunta Ana Clara, eu só cochilei de tão parada que está essa aula.

Ergo os braços sobre a cabeça, me espreguiçando o máximo que consigo para afastar o cansaço, ao mesmo instante que dou um largo bocejo. Nossa, que cansaço. Que tédio!

E pra variar, tive mais um sonho maluco. Pelo menos devo olhar pelo lado bom, esse não foi mais um dos meus pesadelos, somente mais um sonho bem estranho.

Olho para frente, meu professor continua falando sem parar. Novamente apoio meu rosto na mão, com uma vontade de bocejar outra vez e sentindo meus olhos pesando.

Eu preciso sair daqui, só tenho que arranjar uma desculpa.

De soslaio olho para Marina. Pela sua cara, e também pelo brilho em seus olhos, ela ainda está encantada com essa aula. Não sei como ela consegue isso...

Viro meu olhar para Letícia, e com a loira consigo me identificar bastante. Ela está com a mesma expressão entediada que eu devo ter no rosto neste momento.

Pego novamente meu celular, decidindo em passar algum tempo pelas minhas redes sociais em busca de qualquer coisa que possa me despertar um pouco.

Vamos lá, aqui deve ter algum vídeo de crianças brincando, pratos de comida, experiências malucas de paginas que eu não sigo, alguma balada que com certeza gostaria de evitar devido as minhas experiências recentes, ou uma super viagem ao exterior de algum ex-colega de escola que me deixa depressiva, refletindo se já fracassei na vida.

Justamente o que aparece na primeira postagem é uma maldita foto de viagem para os Estados Unidos, não sei que parque é esse, mas é extremamente bonito e tem uma paisagem incrível, além disso olha o tanto de neve, esse céu noturno bem aberto... Que sonho.

Ver isso me faz pensar em como esse é um mundo tão distante do meu, tão diferente, e pelo visto muito mais agradável. Tão único, como eu gostaria de ter essa vida. Ter essa viagem para mim e parecer tão feliz como essa pessoa. Tão aparentemente bem, distante de problemas, conquistando mil coisas a mais do que eu, aparentemente com uma vida perfeita e feliz.

Sei bem que tudo é aparência de uma rede social, que essa pessoa deve ter mil problemas e preocupações, mas todas essas aparências, essas fotos, essas várias viagens apresentando tanta felicidade e sucesso, uma vida que está sendo devidamente bem aproveitada e quase sem nenhum problema aparente... Uma vida tão melhor que a minha.

Direi como algumas pessoas que conheço... Que inveja gospel.

Parando pra pensar um pouco, acho que olhar redes sociais não foi uma ideia tão boa assim. Agora me sinto um lixo humano que não progrediu em absolutamente nada na vida.

Abandono meu celular sobre a mesa, dando um suspiro para mim mesma, agora com meu novo passatempo de tentar melhorar meu péssimo animo, além claro, de sobreviver ao tédio, quando algo chama minha atenção.

Meu colar começou a se aquecer de repente. Alcanço ele dentro da minha camiseta, encarando fixamente seu brilho e o seguro com força. Olho para os lados, mas ninguém parece ter percebido essa reação do colar, é quase como se apenas eu estivesse vendo.

Se está reagindo assim, é por que algo está próximo. Reparo em um detalhe, as luzes começam a ficar mais fortes em cada segundo. De relance olho para o alto, mas as lâmpadas estão tão fortes que mal consigo encará-las por muito tempo, e acabo cobrindo os olhos.

Repentinamente um estouro ao longe ocorre, e todas as luzes se apagam, além disso o som do ar condicionado do prédio também parou, o que indica uma queda de energia geral.

Todos começam a se levantar, falando alto e dando risadas, acho que voltei para a quinta série. Aproveito toda essa bagunça e começo a guardar minhas coisas na bolsa, ainda atenta com o brilho incessante do meu colar. O que me incomoda não é a falta de energia, mas sim a possibilidade daquela coisa estar por perto.

Se ela aparecer aqui agora, vai ser um desastre completo.

A entidade tem uma estranha fixação em mim, isso já reparei faz tempo. Então talvez se eu sair daqui o quanto antes, as pessoas da minha e de outras turmas podem acabar saindo dessa situação ilesa... O problema vai ser dar um jeito de lidar com aquele pesadelo sozinha.

Olho de um lado ao outro, torcendo que a luz volte, mas é uma esperança inútil. Aqui com certeza tem algum gerador reserva, e se as coisas não normalizaram até agora, é um motivo ainda maior para se preocupar.

Lentamente meu colar se esfria e seu brilho cessa, mas nada da luz voltar. Meus colegas de sala, apesar de estarem em conversas, não fazem nenhuma arruaça na sala. Vantagens de se estar na faculdade e não na escola.

Acho que tirei uma opinião precipitada demais. Alguns rapazes ligaram as lanternas de seus celulares e começaram a apontar uns nos rostos dos outros, sem falar que começaram uma bagunça ridícula.

Sinto uma mão tocando meu braço, quando me viro, percebo ser Letícia – Está barulhento demais. Que tal irmos esperar lá fora?

Ao seu lado, percebo Marina com a mão nos ouvidos – Vamos logo Clara, isso aqui ta horrível.

Mal concordo, e minhas amigas me puxam para fora da sala. Consigo pegar minha bolsa no último instante e sou arrastada para fora.

Se eu queria algo que quebrasse meu tédio, eu consegui.

Só não queria que fosse em uma situação que me deixasse assim tão apreensiva.

Por motivos assim eu adoro minhas amigas. Ao invés de voltar para casa, Letícia deu a ideia de sairmos, acabamos que viemos ao shopping.

Esperamos por algum tempo na faculdade, mas nada da luz voltar. Acabamos saindo, e descobrimos que houve um curto na parte elétrica e será preciso ficar pelo menos um dia sem aula para fazer os reparos.

Liguei para Ricardo e perguntei se ele gostaria de me encontrar no shopping, mas ele disse que não poderia, por precisar agilizar algo em sua casa, ajudar a mãe a fazer uma limpeza pesada pelo jeito. Bom, fazer o que. Dia das garotas!

Aproveitaremos da nossa animação juntas, andando pelo lugar, livre para olharmos e falarmos o que quisermos. Da última vez que saí, foi um verdadeiro desastre em alguns pontos, mas dessa vez as coisas serão muito melhores.

Caminhamos tranquilamente pelos corredores, Marina e Letícia falam de alguma coisa que não dou atenção, por estar distraída com panfletos de uma loja de decorações não muito distante de onde estamos.

Acabo me afastando um pouco e vou ver mais de perto, me perdendo em cada um dos objetos nas vitrines. Andando devagar, chego em frente a uma loja de roupas, algumas em particular que acho horríveis.

São roupas masculinas e femininas com umas estampas tão estranhas. Além disso, ao meu ver as cores são feias demais, não combinam nem um pouco, eu não conseguiria vestir nenhuma dessas roupas... Acho que são roupas só para quem realmente gosta.

Apesar disso, consigo gostar de um vestido azul marinho que está em um dos manequins mais ao canto. Ele é bem longo com uma gola rolê e sem mangas, além de não ser tão justo... Isso sim eu consigo me imaginar vestindo sem o menor problema.

Reparo em um detalhe estranho enquanto olho melhor o manequim. Eu podia jurar que a cabeça dele estava voltada para frente, e não... Virada para mim. Que estranho.

E prestando mais atenção, não só ele. Todos os outros manequins na vitrine, apesar de estarem com os corpos voltados para frente, suas cabeças estão todas viradas na minha direção.

E não sei se eu estou alucinando... Mas até os manequins dentro da loja estão me encarando. 

- Clara? – Ouço quando alguém toca meu ombro, me dando um susto. – Está tudo bem?

Pisco algumas vezes, vendo se tratar de Marina. Olho outra vez para cada um dos manequins, que desse vez não estão com as cabeças viradas para mim. Nem os da vitrine, e nem os demais dentro da loja.

- Está sim... – Desconverso, dando alguns passos para trás – Só estou olhando as roupas, mas são feias... E estão muito caras.

Minha melhor amiga ergue de leve a sobrancelha, olhando para a vitrine de soslaio e logo voltando a me olhar – Então tá né... E tenho que concordar, são feias mesmo. Enfim, o que podemos fazer?

- Alguém aqui está a fim de comer algo? – Letícia diz em uma animação tímida.

- Eu topo agora, o que acham de um lanche? – Respondo com minha empolgação renovada. Falar de comida é uma das coisas que me faz esquecer totalmente dos problemas.

- Não sei se vou em um lanche... – Marina diz pensativa, ela está olhando para o chão com uma expressão de quem está contando os próprios passos. – Talvez eu almoce, ainda não sei.

- Um almoço também é uma boa ideia, mas se eu pegar um prato agora, provavelmente vou acabar estragando por jogar metade fora. – Letícia diz dando de ombros. Ela percebe que tanto eu quanto Marina estamos olhando em sua direção, o que a faz se encolher por inteira – É que... Não consigo almoçar antes do meio dia. Coisa minha.

Sinto vontade de rir com suas explicações e de sua timidez, mesmo sendo só com a gente. Imagino como ela não fica assim toda tímida com o Tiago fazendo aqueles convites para posar em mil fotos diferentes.

- Sabe que se escolher um lanche grande, ele pode servir como almoço, não é? – Questiono sorrindo de canto.

- É claro que não. – Letícia devolve balançando a cabeça – Um almoço é preferencialmente uma refeição muito mais completa e variada.

- Eu me referi em matar a fome, nem pensei em ser saudável. – Dou risada erguendo os ombros.

- Se olharmos por esse ponto, você tem razão. – Letícia concorda gargalhando.

- Podemos pensar assim. – Marina começa, estalando os dedos perto do rosto e nos olhando de canto com um sorriso – Lanches possuem saladas variadas, carne de hambúrguer, e também vem acompanhado de batatinhas fritas e suquinho. Tudo que uma refeição saudável tem.

- Claro, com certeza os lanches daqui do shopping tem tudo que uma refeição tem. – Letícia diz irônica, continuando a rir – Só precisa tirar o "saudável" da frase, de resto tem tudo mesmo.

- Marina, não piora as coisas. – Digo e todas começamos a rir juntas.

Apesar da conversa descontraída, olho em volta algumas vezes... Tenho a sensação de estar sendo observada.

- Acho melhor decidirmos isso lá na praça de alimentação. – Marina sorri passando uma mão na outra, olhando em direção a uma vitrine – Aliás, sei que é pra relaxarmos, mas mudando rapidinho de assunto... Alguém aqui está tendo saco para estudar naquela plataforma da faculdade?

Torço o nariz só de lembrar disso – Bateu o tédio lembrar... Aquilo da sono!

- Não é? – Marina ergue as mãos – Eu não consigo ter pique pra estudar naquilo. Eu fico agoniada demais.

- Você também sente que a parede fica mais interessante do que a matéria? – Questiono dando risada das reações de Marina.

Ela ergue suas sobrancelhas ao máximo, e ao escutar as gargalhadas de Letícia, eu não consigo me controlar – Minha filha, eu fico mil vezes mais interessada em contar a quantidade de rachaduras na tinta do meu quarto...

- Vocês acham tão complicado assim? – Letícia diz aos risos, olhando de mim para Marina.

- Tenho certeza disso. – Marina diz convicta. – De começo até da para aguentar as cinco primeiras linhas, depois disso fica chato demais!

Controlo meus próprios risos – Você nunca passou por isso Letícia?

Ela nega rindo, balançando a cabeça por algumas vezes. – Em alguns momentos só dei umas bocejadas. Nunca passei disso.

- Se preocupa não, também vai passar por isso muito em breve. – Marina sacode uma das mãos, ostentando um sorriso divertido em seu rosto – Já ta no caminho, até final do semestre você dorme em cima do notebook.

Letícia gargalha ainda mais, curvando levemente seu corpo para frente – Prefiro não passar por essa experiência.

- Tem que passar, é gostosinho. – Digo em zombaria – Você só vai acordar com o rosto todo marcado das teclas, e talvez babando um pouco... E é melhor do que dormir em cima do celular.

Vejo como a mais velha ergue as sobrancelhas, segurando os risos – Como se isso fizesse parecer mais chamativo Clara.

- Olhe pelo lado bom... – Marina da de ombros mantendo o riso – É um tratamento para a insônia excelente, não conheço melhor.

- Com essa propaganda toda, eu estou começando a acreditar. – Letícia diz, olhando para Marina e cerrando o olhar – Me conte uma experiência de uso desse "tratamento".

Vejo minha melhor amiga parando de rir, cruzando seus braços e olhando para o alto, fazendo uma careta pensativa. – Uma experiência... – Ela diz, fazendo eu e Letícia nos entreolharmos em risos contidos – Bom, era duas da manhã, tempo de calor e eu estava fritando na cama. Decidi estudar um pouco para aproveitar o tempo, e pronto. Ronquei mais alto que um serrote.

Começo a gargalhar com isso, e Letícia segura as risadas levando a mão a boca, porém fracassando logo em seguida. As vezes Marina simplesmente não existe.

- Acho que uma turbina de avião faria menos barulho que eu naquela noite... – Meu Deus, Marina não para, cada vez ela fala algo melhor. Se continuar com isso, vou acabar sofrendo de falta de ar de tanto rir.

Curvo mais meu corpo para frente, me apoiando no ombro de Marina para que eu não caia, ao mesmo tempo que tento controlar minhas risadas. A cena faz com que todas nós comecemos a rir juntas. – Chega... Chega... Tempo... – Digo quase totalmente sem fôlego. Se eu tivesse sofrido um ataque de cócegas, não teria chegado a esse estado.

- Que foi? – Minha melhor amiga faz um rosto inocente – Ainda não cheguei no ápice da coisa.

- Esse não foi o ponto máximo? – Ouço Letícia questionando. Eu já quero rir, e ainda mal ouvi qual a próxima besteira de Marina. – Fala vai, acho que não da pra piorar.

- O ápice foi simples. Coisa pouca de verdade. Eu só derrubei o celular na minha cara, e acordei pulando de susto. – Ela diz dando de ombros, me fazendo cobrir o rosto com as mãos.

- Quem nunca derrubou o celular no rosto pelo menos uma vez? – Letícia comenta com risadas mais controladas.

Olho para as duas, enquanto me abano recuperando meu fôlego – Concordo, tem gente que passa por isso uma vez por semana.

Balanço a cabeça algumas vezes, olhando para uma loja de eletrônicos enquanto as meninas começam um outro assunto que de imediato, não sei qual é. Fico observando os aparelhos, e viro meu olhar para elas novamente.

Mantemos o passo, chegando à praça de alimentação. Está bem cheia, mas por sorte ainda existem algumas mesas vazias. Começamos a decidir juntas o que iremos comer, já que Marina diz que irá nos acompanhar em um lanche assim que nos sentamos. Falamos entre nós por poucos minutos, ajuntando os valores que temos, até realizarmos nossas escolhas.

Ofereço-me para ir fazer o pedido e as duas guardam a mesa, e Marina diz que irá pegar tudo quando formos chamadas, e assim fica decidido.

Levanto e sigo para a fila. Não está muito cheia, apenas umas quinze pessoas para três caixas, não vou perder mais do que meia hora de vida aqui. Cruzo os braços e aguardo.

Olho de um lado ao outro, enrolo o cabelo no dedo indicador, acompanho os funcionários correndo entre anotar e entregar os pedidos. Olho os painéis, os lanches e os vários preços, torcendo para que ande logo.

Por cima do ombro, olho em direção a mesa. Marina está olhando algo em seu celular, e Letícia olhando em volta. Dou um suspiro, vendo duas atendentes com pranchetas se aproximando. Percebo elas anotando os pedidos das pessoas a minha frente, e entregando uma pequena folha logo em seguida.

Assim que chegam em mim, digo cada um dos nossos pedidos torcendo para não ter errado nada. Em uma ação quase robótica, ela anota a tudo sem sequer olhar para mim, destacando a pequena folha perfeitamente e me entregando. A partir desse ponto, a fila anda muito mais rápido. Em pouquíssimo tempo faço os pedidos, pego e volto a nossa mesa com a senha.

Agora, é apenas esperar.

- Ufa, demorou, mas aqui estão nossos lanches! – Marina diz em uma risada, equilibrando uma bandeja plástica em cada mão, colocando devagar sobre a mesa como se pousasse uma daquelas naves espaciais dos filmes.

Olho pela mesa, identificando meu lanche somente depois que Letícia retira a o seu lanche, junto a seu copo de refrigerante, visivelmente gelado. Fico olhando as porções de batata frita, me sentindo tentada e pescando algumas para comer. Não é apenas a aparência, elas estão saborosas, imagino meu lanche.

Pego meu refrigerante e dou um pequeno gole, alcanço meu lanche e deixo a minha frente, me preparando para comer, e percebo que Letícia ainda não começou a comer – Algum problema?

Vejo ela apoiando o rosto na mão, encarando fixamente algo na mesa. Movida pela curiosidade, acompanho seu olhar, encontrando o lanche simplesmente imenso que havia na bandeja. Ergo as sobrancelhas em surpresa – De quem é esse monstro ai? Tem certeza que pegou o pedido certo Marina?

Marina da risadas das nossas reações. – É o pedido certo, esse aqui é o meu.

- Seu? – Letícia questiona, sua reação de surpresa é impagável. Ela cerra o olhar, encarando o lanche agora nas mãos de Marina – ...Dois, três... Meu pai, são quatro hambúrgueres?

Vejo Marina confirmando balançando a cabeça como uma criança. Ela volta seu olhar ao lanche e começa a comer. Batuco os dedos na mesa, olhando de uma para a outra – Sabe Letícia, meio que quero ver como isso vai acabar...

- Não só você Clara... – Ela diz um pouco relutante, voltando seu olhar para seu próprio lanche, e faço o mesmo.

- Aliás, tenho que te perguntar Clara... – Marina diz de repente – Como andam as coisas entre você e o Brian?

Estranho essa pergunta, mas ignoro a primeiro momento e fico comendo. As duas me encaram, esperando uma resposta. – Acho que estão bem ok...

- Só ok? – Ela insiste, erguendo as sobrancelhas e dando mais uma mordida no lanche.

- Acho que sim... – Digo, um pouco relutante, dando mais um gole do meu refrigerante.

Letícia me observa – Conte mais sobre ele, como está a amizade entre os dois?

Olho para as duas, essa curiosidade tão repentina delas é estranha. Tudo bem, não vou negar que ele é alguém que realmente chama a atenção, seja por aparência, vestimentas, e ainda mais pelo que já fez na frente dessas duas – Bem, acho que a amizade está fluindo.

- Só acho que poderia ser mais do que apenas fluir. – Marina diz com um sorriso de canto, continuando a comer, com cada vez mais voracidade.

Cerro meu olhar – E por que a senhorita acha isso mesmo?

- Bem Clara, nós duas já vimos que é alguém bonito... – Letícia da um gole de refrigerante, deixando copo sobre a mesa. Acompanho seus movimentos – Bastante atraente, tem um carrão, está te mantendo viva contra aquela coisa...

- É muito bom de cama... – Marina diz repentinamente, me fazendo desviar o olhar, cobrir o rosto com uma mão e dar uma risada pelo seu comentário. Agora não me sinto mais incomodada por saber que ela fez o que fez com Brian, estou bem quanto a isso.

- Esse detalhe ai eu não sabia... – Letícia contém um riso. – Como sabe disso mulher?

- Fiz um teste prático. – Marina diz dando de ombros com um sorriso de satisfação.

Olho para ambas, controlando o riso – Essa esperta usou a teoria do pastel. Nada demais.

Marina cerra o olhar – Pera Letícia, você sabe da coisa que apareceu e atacou a Clara?

- Sei sim. Eu estava perto quando apareceu da primeira vez... – Ela diz, abaixando seu olhar e ficando pensativa. – Naquela vez, o Brian apareceu e salvou o nosso pescoço.

Agora Marina vira seus olhos para mim – Essa mesma coisa já apareceu outras vezes? E você não me contou Ana Clara? – Seu tom não demonstra uma irritação, mas seu olhar é sério.

Desvio meu olhar para o lado, dando um gole longo de refrigerante na tentativa de ganhar tempo para não responder essa, e talvez as futuras perguntas de Marina.

As vezes ela não parece minha melhor amiga, mas sim uma namorada maluca e que fica querendo cuidar de mim a todo momento.

- Então né... – Começo a dizer, ainda sem olhar para elas – Digamos que não achei necessário falar que tem uma criatura sobrenatural presa dentro de mim.

Ouço Marina bufando – Eu nem sei o que te falar... Pelo menos você está bem.

- Sim, no momento estou bem... – Por sorte, Marina não faz nenhuma nova pergunta. Algo volta a minha mente com um estalo. – Quero saber, por que falar no Brian assim tão do nada?

- Interessou foi? – Marina da um sorriso maldoso – Só fiquei curiosa sobre como estavam as coisas, se você não tem um interesse em dar alguns pegas nele...

Inevitavelmente, fico sem jeito com o que Marina diz – Olha, posso até sentir uma grande atração por ele sim... Talvez esteja com um fogo difícil de controlar e toda uma vontade de agarrar aquele homem, mas eu não posso. Eu namoro, esqueceu?

- Não esquecemos disso – Letícia diz rindo, dando de ombros – Mas pode fantasiar.

- Quem ta falando de pegar ele aqui é você. Eu só perguntei da amizade entre vocês, e cogitei de você dar uns beijos, não ir para a cama com ele... – Marina diz dando risadas, e por mais que eu esteja desconcertada, também acabo rindo.

- Vou te falar Marina, eu estava doida de inveja por você ter ido na frente e aproveitado com o Brian, mas agora quero perguntar... – Digo chegando perto, como se fosse sussurrar algum segredo para as duas – Ele é realmente tão bom assim?

Marina da risadas nada contidas – Ótimo e incansável... Eu estava exausta e satisfeita, e ele ainda estava indo com tudo.

Balanço a cabeça com um sorriso de pleno interesse. – Uau, gostei. Eu quero! – Digo e olho para minhas amigas, que dão risadas discretas.

- Você iria amar uma noite com ele. Se quer saber mais, eu vou falar... – Marina diz em um tom maldoso, claramente querendo atiçar todas as minhas vontades e desejos por Brian. Se for essa sua intenção, então ela está conseguindo muito bem. Essa garota sabe como instigar vontade nos outros. – Imagina um homem que não cansa, faz em todos os lugares da casa, e faz ver estrelas.

Minha mente começa a viajar com todas as possibilidades do que eu poderia fazer com aquele corpo... Explorar e tocar cada parte dele com minhas mãos e boca... Espera, o que eu estou pensando?

Se controla Ana Clara, não deixe todo o fogo subir a cabeça!

- Eu quero saber por que estamos falando do Brian nessa mesa? – Digo, acho que minha voz não saiu tão firme quanto eu gostaria.

- Ah, é só porque ele está bem ali. – Marina diz com sorriso brincalhão.

- Que? – Digo, erguendo uma sobrancelha.

Vejo as duas apontando discretamente em uma mesma direção – Eu vi ele quando levantei pra me alongar, e a Letícia já o viu também. – Marina diz rindo – Levanta ai e da uma olhada.

Hesito um pouco, me levantando e olhando na direção que apontam. Para minha surpresa, é realmente Brian. Ele está com um prato já vazio a sua frente, um copo em sua mão e um livro aberto sobre a mesa. Seu rosto está apoiado na mão livre, e seu semblante é o mesmo sério que sempre vejo nele, claramente concentrado em sua leitura. Repentinamente, ele olha exatamente para mim, como se soubesse perfeitamente que eu já estivesse o observando.

Sinto minhas pernas bambearem pelo seu olhar em mim. Lentamente me sento, sem saber ao certo como estou me sentindo. Tudo isso é efeito da atração que sinto por ele?

- É, pela sua cara, você viu ele. – Marina diz em uma risada, continuando a comer.

Balanço a cabeça confirmando – Sim, e ele me viu também.

Vejo um sorriso no rosto de Letícia – Olha só, troca de olhares na praça de alimentação do shopping, cena de filme em.

Me sinto um pouco nervosa, mas o motivo disso é desconhecido. – Acham que devo ir falar com ele? Posso fingir que não reconheci.

- Essa desculpa não vai colar, mas não precisa ir lá se não quiser. – Marina da de ombros.

Deixo meu lanche sobre a mesa, passo um papel no rosto e me levanto. – Quer saber... Vou lá só dizer um oi para ele, já volto.

- Estaremos te esperando. – Marina diz em um aceno.

Me afasto da mesa, indo até onde Brian está. Seus olhos voltaram ao seu livro, cada vez mais concentrado. Minha vontade não é exatamente de falar um "oi" como fiz parecer a minhas amigas, mas saber exatamente o que ele está fazendo justo aqui. A cidade é imensa, com mil lugares para comer, seria coincidência demais ele vir parar justo aqui, na mesma praça de alimentação que eu.

Só falta esse maluco estar me seguindo.

Seus olhos se desgrudam do livro e vem diretamente a mim. Apesar da vontade de parar de andar e deixar minhas pernas tremerem de novo sob seu olhar, me mantenho firme – O que faz por aqui?

- Trabalhando... – Ele diz em um tom tranquilo. Ele da um último gole no que parece ser suco, voltando dedicar sua atenção ao livro.

Cerro o olhar e cruzo meus braços – Trabalhando?

- É, lembra o que eu disse sobre me manter por perto de você, mas não parar de fazer as coisas que eu gostaria? – Ele diz, erguendo seus olhos para mim, enquanto fecha o livro. Ele da de ombros – É isso que estou fazendo... Bom, tecnicamente falando, não acho que agora estou fazendo uma coisa que gostaria.

- Então... Você está me seguindo? – Digo, erguendo as sobrancelhas.

- Esse é um jeito meio agressivo de ver essa situação... – Ele comenta, passando os dedos pela lateral de seu rosto – Mas acho que sim, da pra ver dessa forma. Apesar que agora, eu estou me perguntando se estou parecendo um marido psicótico.

Balanço a cabeça negativamente, apoiando minhas mãos na mesa e pendendo meu corpo para frente – As meninas já te perceberam. Acho que você não é muito bom em ser discreto.

- Sei que me notaram já faz algum tempo, não tentei ser discreto. – Ele baixa o olhar para si mesmo – Alguém vestindo um terno extremamente alinhado como esse meu, com um sobretudo cinza que com certeza não vende nas lojas de shopping, quando eu poderia vir com roupas mais descontraídas. Com certeza eu chamaria bastante atenção...

Ergo o rosto e dou um lento suspiro, voltando a olhar para ele – Prefere continuar ai sozinho chamando atenção, ou quer vir se sentar conosco?

- Se eu puder continuar minha pesquisa sem muita interrupção... – Ele diz, tomando o livro em suas mãos.

- Não posso garantir que não iremos atrapalhar. – Ele ergue uma sobrancelha – Quando estamos juntas, gostamos muito de falar.

Ele balança a cabeça negativamente, se levantando lentamente – Tudo bem, tentarei me manter concentrado como puder.

Dou um sorriso vitorioso, me virando e voltando a minha mesa. Devido ao barulho ao nosso redor, não escuto nossos passos e nem sei se me diz algo. A única coisa que sei é que Brian está me seguindo.

Chego à mesa onde as meninas estavam. Elas olham para mim, e logo viram seus olhos para Brian. Puxo a cadeira e me sento – Estou de volta. Demorei muito?

- Não, relaxe. – Marina diz em risos, ainda concentrada em seu lanche.

Olho para Brian, que lentamente puxa a cadeira e senta-se, deixando seu livro sobre a mesa, logo a sua frente. – Olá moças. – Ele diz com um leve aceno.

Volto a comer, sentindo meu lanche um pouco mais gelado, apesar disso ainda está saboroso. É bom terminar antes que ele vire um bloco de gelo.

Passo os olhos pela mesa. Letícia está dando longos goles em seu refrigerante, olhando para Marina que não desiste de seu lanche, e continua comendo sem parar. Contenho uma vontade de rir e olho para Brian. Eu esperava que ele já teria voltado a ler, mas não é isso que acontece. Ele está apoiando o queixo na mão, com seu olhar atento fixo em Marina.

- Eu contei direito? São quatro hambúrgueres nessa coisa? – Ele pergunta, olhando para mim e logo em seguida para Letícia.

- Contou certinho, e acho que aquilo ali é bacon... E cheddar... – Letícia diz em risos, aproximando e olhando mais de perto.

- Até hoje não sei como a Marina nunca engordou. – Digo rindo.

- Estou bem distante de engordar, esse meu corpinho lindo não muda – Marina diz em pequenos risos. Ela está olhando para o lanche algumas vezes – Eu nem cheguei na metade e já estou triste. O que estou fazendo da minha vida?

Nos entreolhamos por alguns segundos, sem conseguirmos nos segurar. Começamos a rir sem parar com Marina.

Andamos pelo shopping em um ritmo lendo. Seguimos dessa forma por Marina se sentir pesada depois daquele lanche absurdo. Eu evito de olhar para ela, se eu o fizer, não duvido que começarei a rir sem parar pela sua expressão de derrota.

Ela sofreu, mas conseguiu terminar aquele lanche sozinha. Nós ficamos perplexos assistindo ela concretizar esse feito sem ajuda.

Uma coisa eu preciso admitir. Marina tem coragem, e não é pouca.

Olho para Brian, que da frequentes olhadas para frente, e logo em seguida retorna ao seu livro. Seu olhar mudou para algo mais focado após alguns minutos e não disse mais nada. Fiquei curiosa, mas preferi não perguntar nada a ele. Brian mencionou uma pesquisa, mas apenas isso. Eu gostaria de saber exatamente o que ele está lendo com tanto interesse.

Agora, não estou tão certa se foi uma boa escolha fazer Brian andar conosco. Claro, é melhor ele por perto do que nos seguindo como um lunático. Mas também, Letícia e Marina propositalmente não estão colaborando muito comigo.

Elas não dizem nada que dure mais do que um minuto antes do assunto morrer. Agora seria uma ótima hora para me inventarem uma conversa e me puxarem para perto, e não largada tão próxima de... Um cara que nem está olhando em minha direção.

Quero saber, por que estou me sentindo tão incomodada apenas com a presença dele? Eu sou uma demente por acaso?

- Aliás Brian... – Ouço Marina, e sem conter minha curiosidade olho em sua direção, e meu guardião faz igual – Pode explicar que tipo de ligação você tem com a Clara, e também com aquela coisa?

Volto minha atenção a ele, curiosa com o que ele vai dizer. – É meio complicado, mas vou tentar deixar de um jeito bem simples... – Brian da um suspiro, sem sequer desviar o olhar de seu livro – Podemos dizer que sua amiga está com a cabeça a prêmio por causa de um bicho sobrenatural, e eu sou o cara que está tentando manter ela viva.

Marina olha para mim, esperando alguma confirmação. – Não tem muito mais sobre o que explicar. Ele resumiu bem as coisas. – Digo tomando a frente.

Marina cerra seu olhar – E tem alguma previsão da Clara se livrar dessa coisa?

- Não tenho como afirmar, não temos muitos conhecimentos sobre essa criatura. E não quero preocupar vocês, mas a entidade pode aparecer aqui a qualquer instante... – Nesse momento fico semelhante a uma criança, olhando de Brian para Marina por repetidas vezes – Vai ser uma repetição daquele ocorrido da praia.

Letícia e eu nos entreolhamos, dando de ombros uma a outra. Só nos resta acompanhar o assunto desses dois – Vamos torcer para que não apareça.

- A entidade tomara que não... – Letícia diz de repente, olhando fixa em uma direção – Mas uma outra pessoa apareceu bem ali.

Percebo alguém vindo em nossa direção. Um rapaz girando a chave de carro no dedo indicador, olhando diretamente para mim, cada vez mais próximo. Ricardo.

Apresso meu passo indo ao meu namorado, abrindo meus braços e o abraçando forte, sem deixar que ele diga qualquer coisa.

- Consegui agilizar tudo, e vim aqui para te ver... – Ele diz em um sussurro, passando sua mão pelo meu cabelo suavemente.

Me afasto e olho para ele, com um sorriso bobo no rosto. Ele mantém o abraço, e lentamente seu olhar desgruda de mim e vai ao pequeno grupo que eu estava. Percebo que seus olhos e sua expressão se endurecem lentamente. Tenho uma ideia de qual seja o motivo dessa mudança.

- O que ele faz aqui? – Ricardo diz em um tom sério, ainda sem me olhar.

Torço a boca. – Encontramos com ele aqui no shopping. Não tem por que se incomodar.

- Quem mais encontraremos nesse shopping hoje? – Ouço Letícia dizendo aos risos.

- Os rapazes daquela turma de pedagogia noturna seriam uma ótima ideia. – Marina diz rindo.

Reviro os olhos, virando para elas. Já estão bem próximas de nós, dando risadas entre si. Brian continua com os olhos em seu livro, acho que alheio a tudo que está acontecendo. Seus estão atentos, movendo-se rapidamente como se estivesse devorando cada palavra.

Ignoro a leitura de Brian, e me concentro no potencial problema a minha frente. Tenho que fazer algo para que meu namorado não invente de surtar aqui. – Me alegra que tenha conseguindo vir me ver.

Ele me da um sorriso – Consegui agilizar lá no mercado, e vim te ver.

Ergo uma sobrancelha encarando meu namorado. Espera ai, mercado? Ele não estava ajudando algo na casa dele?

Olho em volta, buscando palavras para tentar questionar meu namorado. Olho minhas amigas, que sequer entendem minha expressão. Respiro fundo uma vez – Mercado? Você não disse que estava ajudando sua mãe ou algo assim.

Vejo Ricardo erguendo suas sobrancelhas em um olhar surpreso. Definitivamente, isso não está me parecendo uma coisa boa. – Sim, claro minha querida. Eu estava ajudando lá em casa, mas minha mãe falou que precisava passar no mercado para comprar algumas coisas, umas carnes e legumes sabe...

Cruzo meus braços, ainda olhando para ele. Seu tom de voz me passa firmeza, e olhando pela sua expressão física, ele está calmo e descontraído... Mas tem alguma coisa que não está se encaixando. Por algum motivo, não consigo acreditar no que Ricardo está me dizendo.

Ele está mentindo.

- Espera, mas ent... – Sinto uma mão pesada recaindo sobre meu ombro, e paro de falar de imediato. Olho na direção da pessoa, é Brian.

- Desculpe atrapalhar a conversa de casal, mas... Precisamos ir garota... – Ele diz em um tom sério, fechando o livro em sua mão.

Estou surpresa por ele ter simplesmente agido assim de forma tão repentina. Franzo o cenho até assumir uma expressão irritada. Retiro sua mão de meu ombro sem o mínimo de delicadeza e o encaro irritada – Como assim "precisamos ir"? Não ta vendo que estou ocupada resolvendo algo mais importante?

Sua expressão é calma e quase indiferente, porém seu olhar sério me faz estremecer e me sentir uma criança indefesa. – Eu não estou brincando garota, a coisa é séria. Precisamos ir, e é agora.

- E por que precisam? – Ricardo toma a minha frente, cruzando os braços.

Vejo Brian olhando para Ricardo com indiferença, e logo revirando os olhos – Eu descobri algo que pode tirar a entidade de você. Por acaso isso é motivo o bastante, ou ainda precisa de mais?

O que Brian acaba de dizer me deixa estática. Meus pensamentos se perdem junto ao seu tom de voz. Meu corpo estremece e não sei como reagir a essa situação.

Seu olhar se mantém sério sobre mim. Me sinto desarmada diante dele. Olho em volta, buscando por alguma ajuda, mas tudo que vejo são todos parados nos mesmos lugares, me observando esperando uma resposta minha – E então Ana Clara? Temos coisas para resolver, será que podemos ir?

Engulo em seco, relutante sobre o que fazer. É minha vida, minha liberdade. A chance para que eu possa voltar à normalidade. Apesar de relutante, eu concordo em ir com Brian.

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