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Capítulo 10 - Dia de diversão

10450 palavras

Acho que já fazem pelo menos quatro dias depois da minha ida indesejada para a praia, junto de Brian e Marina, e desde aquele dia não vejo mais o meu suposto "guardião".

Saio de casa todas as manhãs, imaginando que irei encontrar aquele carro dele estacionado em algum canto aleatório da rua, mas sempre me engano.

Imagino que hoje não vá ser diferente, mesmo sendo fim de semana.

Me debruço na janela do quarto, passando os olhos pelos telhados das casas ao redor. É incrível como é fácil se entreter com telhados, caixas d'água, antenas e prédios quando se está sem fazer nada.

Dou um suspiro entediado, virando meus olhos para o céu nublado. Está garoando, mas não é fraco. Perdi a conta de quantos dias está chovendo sem parar.

Enfim, hoje meus pais irão sair para não sei onde daqui a pouco, e só voltarão pela madrugada. Eles mesmos deram a desculpa que tenho mil matérias da faculdade para estudar e o adequado seria eu ficar em casa... Eu poderia dizer que tudo bem, mas por algum motivo, acho que eles estavam querendo se livrar de mim por hoje e não sabiam qual desculpa inventar.

Ao saber disso, decidi adiantar tudo que pudesse, mas abrir o notebook já me deu uma moleza, e entrar na plataforma da faculdade me desanimou de vez. Por que estudar é tão difícil?

Volto a minha cama, deitando de bruços e olhando para a tela, clicando em uma das matérias e esperando o carregamento da tela. A tela branca me faz companhia por alguns segundos, até enfim surgir à tonelada de matérias na tela.

Apoio meu rosto na mão, começando a leitura, tentando ao máximo não me distrair com qualquer coisa que seja.

Eu tentei. Juro que tentei, mas não consegui.

Saco, que matéria chata!

Estou há quase duas horas na leitura de vários tópicos, mas simplesmente não faço a menor ideia se estou aprendendo alguma coisa. Estou em um ponto que estou me forçando a continuar estudando, mas tudo que consigo é me agoniar ainda mais.

Meus pais já saíram a algum tempo, e achei que o silêncio em casa me ajudaria a estudar melhor, mas eu estava redondamente enganada. Parece que ficou ainda pior.

Quer saber? Cansei!

Fecho o meu notebook, ignorando se estou perto ou não do fim de mais uma matéria. Rolo na cama, bufando de irritação enquanto encaro o teto. Tenho que fazer algo, me mexer.

Lanço minhas pernas para fora da cama, me colocando de pé, sentindo o frio do piso subindo pelas minhas pernas. Caminho apressada rumando a porta, pegando minha toalha antes de sair ao corredor. Vou andando ao banheiro, passando minha mão pela minha camiseta, a tirando e lançando ao chão, e o mesmo faço com o shorts que estou vestindo, ou melhor, estava. Adentro o banheiro deixando a porta escancarada, retirando as últimas peças de roupa e lançando pelo banheiro.

Agora que estou sozinha em casa, eu tenho liberdade para me despir a vontade e deixar tudo pelo chão, além de deixar as portas abertas. Depois recolho tudo.

A única coisa que não retiro é meu colar. Com ele no pescoço, me sinto mais segura, e não penso em abrir mão dessa segurança em nenhum momento.

Me coloco embaixo do chuveiro e abro o registro, o bastante para que a água não se aqueça, logo fechando meus olhos ansiosa. Recebo o golpe de água fria no meu rosto, se espalhando apressadamente pelo meu corpo e pesando pelo meu cabelo. De imediato me arrepio pelo frio repentino, me forçando a respirar fundo, mas logo meu corpo se relaxa, acostumando-se gradativamente ao frio que percorre tanto por fora quanto por dentro de mim, como incontáveis fios congelados.

Mantenho meus olhos fechados, inspirando e respirando enquanto abraço a mim mesma. Consigo sentir perfeitamente como a água gelada percorre pelo meu corpo, o movimento de cada gota isolada, propagando o frio ao meu redor.

Cada segundo se torna mais longo, o som do chuveiro se torna distante. A escuridão devida ao fechar dos meus olhos consegue me aprofundar, como se mergulhasse em um mar vazio. Tudo que posso sentir é o toque da água e o frio percorrendo em meu corpo, atravessando mais e mais fios gélidos em contraste ao calor natural do meu corpo.

Minha mente começa a vagar, lentamente abandonando a escuridão e adentrando um novo espaço, quase irreal. As sensações mudam, os sons se modificam. Não ouço mais o som de um chuveiro ligado, mas quedas d'água como as de uma pequena cachoeira, unido a uma leve brisa quente que acabara de passar pelo meu corpo me causando um leve susto.

Estranho essa alucinação tão repentina, quero abrir meus olhos, mas é como eu já estivesse completamente desperta, a minha sensação é que meus olhos já estão abertos. Não desejo sair disso, não quero parar.

Minha mente e meu corpo desejam continuar com isso, deixar com que cada sensação continue atravessando pelo meu corpo, me relaxando, e aceito essa minha vontade.

O ambiente em si toma mais formas, sinto um movimento gradual passando pelas minhas pernas até minha cintura, unido a um frio contínuo e um pequeno peso no corpo. Olho em volta, me encontrando dentro de um lago com a água até a minha cintura, sentindo o chão que parece ser de pedras bem pouco escorregadias. Ergo os olhos, sendo recebida por um céu ensolarado, característico de um dia de bastante calor. Ao meu redor existem várias arvores, uma trilha atrás de mim a cachoeira, e uma casa de dois andares não muito longe daqui.

Inevitavelmente me cubro com os braços, lembrando-me da minha nudez. Olho em volta, me certificando de que não existe mais ninguém aqui. Pisco algumas vezes, analisando tudo ao redor, mas não vejo nada, nem ninguém. Não ouço vozes, é apenas a natureza e seus sons.

Respiro aliviada após me certificar de estar sozinha. Já não basta estar nua em um lugar estranho, seria ainda pior se alguém me visse assim.

Passo meus olhos em volta, analisando o lago, caminhando em passos cuidadosos em direção da cachoeira. Me sinto livre para um rápido mergulho, e assim faço, aproveitando desse refrescante lago da melhor maneira. Afundo meu corpo e logo me ergo com um sorriso em meu rosto, aproveitando a água pelo meu corpo se aquecendo com o calor deste lugar.

Passo as mãos pelo meu cabelo o ajeitando para trás, sentindo uma calma profunda me inundando cada vez mais. Uma nova brisa quente passa pelo meu corpo, abraçando meus ombros, minhas costas... Mesmo a parte submersa do meu corpo parece ser abraçada por essa brisa quente.

Sinto o chão abaixo de mim se tornando levemente mais íngreme, e o nível da água abaixando e pelo meu corpo, até me ver completamente fora da água do lago assim que alcanço a base da cachoeira. Sem hesitar, passo primeiro a mão pelas quedas d'água, e lentamente avanço, sentindo a água gelada novamente me abraçando, em um novo e profundo contraste com o calor deste ambiente. É tão bom.

Tudo aqui parece perfeito. É um lugar agradável de muitas formas, não sei como cheguei, mas sei que eu permaneceria sempre, me sinto relaxada aqui. Esse ambiente tira um novo sorriso em meus lábios... Apesar disso, algo está me incomodando. Sinto uma pressão sobre meu corpo, algo no ar o torna pesado, além de pressentir que estou sendo observada.

Olho em volta novamente tentando me cobrir com os braços da melhor maneira que consigo, sendo contemplada com uma bela paisagem desse lugar estranho. Volto meu foco ao que é importante, passando meus olhos ao redor, procurando sem parar por entre as arvores, na trilha, seguindo em direção a casa. Não tem ninguém, e respiro tranquila.

- Olha só... Parece que tenho uma visitante... – Escuto uma voz do nada, me pegando completamente desprevenida. Meu corpo estremece e fico estática. A voz veio de cima de mim.

Ergo meus olhos, percebendo somente a silhueta de uma pessoa parada sobre a cachoeira, e devido a toda a luz do sol, meus olhos são ofuscados e não consigo ver seu rosto. Pisco algumas vezes, olhando na mesma direção, mas ele não está mais ali. Passo meus olhos em volta, atrás de mim, me certificando de não ser algum tarado... Ou pior, de ser a entidade brincando comigo.

Instintivamente alcanço a pedra do colar entre meus seios, a segurando com força com expectativas de que eu esteja protegida, ao mesmo tempo que tento cobrir meu corpo ao máximo que posso.

O som da cachoeira, antes tão relaxante, agora me impede de ouvir com clareza. Onde ele está?

- Diga-me, o que faz por aqui? – Escuto sua voz novamente em um outro lugar, é diferente da entidade, mas ainda assim não me permito relaxar.

De imediato olho em sua direção, ele está parado na borda do lago, utilizando um pesado sobretudo enegrecido, bermuda e uma camisa em estilo havaiano, cabelos cacheados escuros soltos, em uma pose descontraída com o rosto virado para o lado... Mas estranhamente, não consigo focar em seu rosto, e seu cabelo consegue ocultar boa parte de sua face, não sei como ele é de fato.

Continuo segurando meu colar, mas ele não reage como ocorreu na última vez. Só falta essa coisa ter pifado logo agora. – Aliás, quero saber também, como chegou aqui?

Não consigo responder, não sei nem se tenho a capacidade de falar agora. A vergonha de ter sido pega da maneira como estou agora por um total desconhecido me deixou desconcertada, tanto que sinto meu rosto corar e cada vez mais queimando de vergonha... Pra piorar, ele vira um pouco seu rosto em minha direção e agora, sei que ele continua me analisando por inteira, com esse mesmo sorriso...

Eu nem quero imaginar as mil indecências que esse cara deve estar pensando comigo nesse momento.

O que mais quero agora é correr para longe, me esconder dele, fugir desse olhar estranho, mas não consigo... Estou imóvel diante dele.

- Esse seu nervosismo é bem palpável... – Ele diz dando um suspiro tranquilo, apesar que parece haver algo mais no tom de voz dele...

Pareceu até... Angustia...

Não tenho tempo para pensar nisso. Até imagino estar livre pelo que acabei de ouvir, mas tenho dúvidas ao ver ele se levantando e erguendo os braços por cima da cabeça. Mantenho meus olhos nele, esperando qualquer ação estranha, porém não é isso que acontece. Ele não faz nada, continua ali parado, agora olhando em uma direção aleatória... Na direção da casa.

Passo os olhos em volta, tentando planejar uma rota de fuga. Com certeza conseguirei escapar dele se aproveitar essa distração dele e correr para longe bem rápido. Minhas pernas vão me xingar muito depois, mas esse esforço valerá a pena.

Analiso o caminho, posso pular na água ou correr pelas pedras, essa é a parte difícil. Por sorte está livre quando alcançar o gramado, muitas arvores, acho que consigo me esconder. Volto a observa-lo, ele continua parado no mesmo local sem olhar para mim. Ótimo, tenho como fugir!

Tenho que ser rápida, dou uma última conferida pelo lago e as pedras nessa cachoeira, escolhendo a melhor e mais segura rota para correr dele, talvez correr e saltar no lago em um mergulho, emergir e tentar correr o mais rápido que conseguir para a outra margem. Se eu for rápida o bastante, ele não conseguirá me alcançar caso tente correr atrás. Sim, esse plano está bom o bastante.

Olho para ele de relance por uma última vez antes de me colocar a correr muito, mas tenho uma desagradável surpresa... Ele...

Ele pulou na minha direção.

Não estou alucinando, ele realmente deixou o chão e está se aproximando extremamente rápido de mim como se pairasse no ar. É impossível, como ele pulou daquele ponto da margem do lago até aqui?

E o pior não é isso, em suas costas tenho a nítida visão de um grande par de asas enegrecidas...

Em um simples piscar de olhos e ele já está aqui, bem a minha frente pousando na mesma pedra que estou, ostentando um sorriso e expressão tranquila em seu rosto e um profundo olhar cravado em mim.

Com o susto de sua aproximação tão repentina e o medo de tomar um esbarrão dele, dou um passo para trás, pisando em falso e escorregando. Meu corpo começa a pender para trás, e diferente da queda que eu estava esperando, sinto um braço correndo em volta da minha cintura e me puxando para perto. Meu rosto bate em seu peito e minhas mãos agarram forte no sobretudo que veste, e assim consigo me manter erguida. 

Pisco algumas vezes, passando uma mão no rosto retirando os incessantes respingos da cachoeira e também os fios do meu cabelo, vendo melhor a situação em que me encontro. Ele me impediu de cair e agora me observa.

Não existe malícia ou desejo em seus olhos, seus olhos são apenas um profundo abismo – Não sei ao certo como chegou, mas este não é um lugar para você... Te mandarei de volta, só peço que feche seus olhos por um segundo.

Estranho completamente o que ele acabou de falar. Como confiar nele?

Bem, ele já conhece meu corpo inteiro de tanto que me analisou e mesmo assim não parece estar me desejando. Já estou sendo segurada por ele e agora não sei se tenho como fugir, o que tenho a perder agora...?

Sigo sua instrução e fecho meus olhos, apesar de relutante com essa minha escolha. É apenas por um segundo, tempo insuficiente para fazer qualquer coisa.

Respiro fundo tentando manter totalmente minha calma, por mais difícil que isso seja. Continuo sentindo seu braço me segurando com firmeza e me deixando de pé, levemente se afrouxando como se desaparecesse aos poucos.

O som proveniente da cachoeira se torna abafado em cada novo segundo, a sensação de calor e a brisa pelo meu corpo se esvaem até desaparecerem por completo, restando apenas um grande mar de escuridão a minha volta, a única coisa que sinto é o chão gélido, além de uma fina camada de água sob meus pés... Não sei por que, mas não sinto que esse lugar seja fruto da minha imaginação.

Me canso disso, está estranho demais, por isso abro meus olhos novamente.

Estou surpresa, olhando em volta sem acreditar no que meus olhos me mostram. Estou de volta no banheiro de casa, debaixo do chuveiro ainda ligado com mais potência que antes, sentindo a água gelada correndo sem parar pelo meu corpo.

Pisco algumas vezes incerta do que vejo, mordendo meu antebraço também. A dor da minha mordida é aguda e gemo de dor, minhas pernas tremem e uma lágrima escada do meu olho, e vejo o resultado. Continuo no banheiro de casa, com a certeza de que estou mesmo acordada, e tudo que estou vendo é real e não um sonho.

Mas mesmo assim, aquele lugar por inteiro, a cachoeira, o lago, aquela trilha, até mesmo aquela pessoa... Tudo que vi pareceu tão real, eu senti tudo, cada sensação, cada momento. Eu estive realmente lá, não pareceu um sonho em nada.

Balanço a cabeça algumas vezes, estou viajando demais. Fecho o chuveiro e saio, agarrando minha toalha e enrolando no corpo, saindo em passos apressados em direção ao meu quarto. Depois recolho minhas roupas.

Entro no meu quarto, indo diretamente para a janela olhando o clima, que obviamente, está chuvoso. Ai saco, será que não pode parar de chover só um pouco?

Que se dane, eu vou sair e respirar um pouco, estando chovendo ou não.

Demorei pouco mais de meia hora para me vestir, mas estou pronta. Acabei optando por uma longa camisa de flanela vermelha cheia de botões por cima, uma camiseta preta com estampa de um dragão com rosas e pétalas brancas por baixo, uma calça jeans não muito justa, e por fim, confortáveis tênis escuros que deveriam servir para caminhadas, mas uso apenas por estilo.

Estou agora analisando meu reflexo em frente ao espalho, passeando as mãos pelo cabelo algumas vezes buscando ajeitá-lo da forma mais agradável que puder. Pra que alisar ou deixar extremamente arrumado, se vou correr o risco de molhar nessa chuva toda?

Vai assim mesmo, meio liso, meio ondulado. Está agradável desse jeito.

Dou uma analisada no meu visual de hoje, sem tentar ajeitar ou alinhar mais nada, e estou plenamente satisfeita com o que vejo, estou ótima. Simples e sem maquiagens, mas ainda assim me vejo bonita.

Meu visual de hoje me arranca um sorriso de satisfação.

Alcanço meu celular sobre a cama, pego minhas chaves e lanço aos bolsos da calça. Saio pelo corredor, recolhendo todas as roupas que deixei espalhadas pelo caminho. Lanço todas de qualquer jeito no meu quarto, fechando a porta logo em sequência.

Pensei em mandar mensagem para Marina e Letícia, marcarmos de sairmos todas juntas, assim em cima da hora mesmo. Conhecendo ambas, eu sei que aceitariam um convite assim tão do nada numa boa, mas não... Quero e vou me divertir inteiramente sozinha hoje, esse será meu dia de relaxar.

Desligo tudo do segundo andar e desço para a sala. Da escada mesmo me certifico de não ter nenhuma luz ligada, nada. Perfeito, posso sair sem me preocupar, e como meus pais vão ficar fora até muito tarde, tenho liberdade para sair e voltar tarde também.

Saio de casa apressadamente, trancando a porta e me virando, pronta para começar a andar. Que maravilha, esqueci do guarda-chuva, mas tudo bem. Vou ir correndo até o ponto, não irei me molhar tanto.

Antes que eu de o primeiro passo, me dou conta de algo. Aquela Mercedes preta tão característica, estacionado um pouco acima da rua. Brian.

Ignoro ele de imediato, e continuo seguindo na direção que eu planejei.

A medida que ando, ouço o som do motor do carro sendo ligado, e lentamente a aproximação do carro, me alcançando lentamente até estar me acompanhando quase no mesmo ritmo dos meus passos.

Reviro os olhos e paro de andar, quase no mesmo tempo que o carro também para. A janela já está bem aberta, mas mal consigo olhar para ele.

Me abaixo para olhar Brian nos olhos, sem me apoiar no carro – O que quer?

- Oi pra você também. – Ele diz, erguendo uma sobrancelha. – Saindo sem guarda-chuva, não está com medo de ficar doente?

- Eu me cuido... Aliás, o ponto de ônibus e o metrô são perto, não vou me molhar tanto. – Digo, imaginando o quão seca consegui ser em só uma frase.

Vejo ele balançando a cabeça negativamente e olhando para frente. – Entra ai, te darei uma carona para seja lá onde você está indo. – Ele diz em um tom calmo, batucando seus dedos no volante.

Franzo o cenho encarando Brian. Ver a cara dele me incomoda, o fato dele ter simplesmente sumido com minha melhor amiga para transar ficou fixo na minha mente. Outros amigos meus já fizeram isso e Marina disse que pode aproveitar bem com todos, mas simplesmente Brian é o único quem fez isso e me irritou profundamente.

- Agradeço a oferta, mas não quero carona. – Respondo ríspida, já cogitando a ideia de só sair andando e não dar mais nenhuma resposta a ele. 

O homem faz uma expressão de estranheza assim que nego. Ouço o som da porta do carro sendo aberta, e logo vejo ele surgindo do outro lado, vindo caminhando em passos ruidosos pela rua molhada até mim, e aproveito para olhar ele de cima a baixo.

Como sempre ele está trajado em um belo terno aparentemente novo e bem cuidado, esse é completamente preto e muito bem alinhado, colete, camisa e gravata compartilham da mesma coloração escura. Arrisco dizer que é feito sob medida de tão bem ficou em Brian, está muito idêntico ao um executivo.

A única coisa que rompe o ar empresarial que Brian carrega, é seu sobretudo cinzento. Além disso, Brian está com seu cabelo quase por inteiro jogado para trás sem muito capricho e alguns fios caídos pela testa, além de estar sem barba.

Ele para bem a minha frente com um olhar sério. Ele demora a dizer qualquer coisa, tento não transparecer o quanto isso me desconcerta – Qual o problema garota?

Cruzo os braços e ergo as sobrancelhas, tendo que olhar para cima para conseguir encara-lo nos olhos e também manter minha postura. – Problema nenhum. E você, tem algum?

- O meu mais recente problema, é o meu trabalho estar me dando problema por estar bem estranha. – Ele diz, levando as mãos aos bolsos.

Esse atrevido, outra vez me tratando só como um simples trabalho. Brian me irrita mais em cada vez que faz isso, ele deve fazer de propósito.

- Então por que não se livra do seu trabalho? – Não contenho mais minha irritação.

- Não posso "me livrar" de você. Devo mantê-la viva. – Ele diz com uma expressão séria.

- E com certeza esse trabalho está sendo muito difícil, não é? – Digo revirando os olhos. Com minha mão direita, bato o indicador em seu peito em tom acusatório – Com certeza está muito atarefado com seu trabalho. Precisando estar sempre por perto para dar sua proteção, se dedicando a cumprir com o que disse naquele ritual...

Brian está estático me olhando, mas não diz nada... E é bom que não diga, afinal ainda não disse tudo o que eu quero.

- Está ocupado demais que não pode fazer mais nada da sua vida, você não está podendo sair para fazer suas coisas de tão árduo que está sendo seu trabalho. Sua dedicação é tanta que seu "trabalho" não está precisando aprender a se defender sozinha por não tê-lo por perto... Ah é, e está tão puxado que você não pode mais descansar, não pode sair para se divertir, não pode nem transar muito por ai.

Brian ergue suas sobrancelhas com o que digo, pelo jeito surpreso com cada uma das minhas palavras. Ele cerra seu olhar, encarando o chão alguns segundos – Você... Você ouviu o que acabou de dizer?

- Tive uma ótima ideia meu caro. – Digo, batendo o dedo em seu peito ainda mais forte, dessa vez quebrando sua postura imóvel como uma rocha, o fazendo mover o ombro – Está dispensado do seu trabalho!

Ele pisca algumas vezes – O que?

- Isso mesmo que você ouviu! – Digo raivosa, agora batendo minhas duas mãos em seu peito com força, o fazendo dar alguns passos para trás. Brian me olha sem reação. – Está dispensado do seu trabalho, vai embora! Vai aproveitar sua vida e seu carro, não é isso que você queria?

O homem a minha frente continua me olhando sem dizer nada. Pela sua expressão, ele está em choque. É bom isso, pude falar tudo que estava me irritando. Diz que vai me proteger, e a última coisa que vejo é isso.

Brian balança a cabeça negativamente algumas vezes, dando um passo a frente – As coisas não são simples assim Ana Clara.

- Ah, olha só... Agora você sabe meu nome.... Bem, acabei de tornar simples. Você não tem que fazer mais nada, eu já estou protegida e posso me cuidar sozinha. – Digo firme, disposta a passar o dia todo nisso se for preciso.

Brian cerra seu olhar. Alguns segundos se passam com um silêncio pesado entre nós. O som da chuva se intensifica a nossa volta e é o único som que ouço, mas isso não me abala. Travamos uma batalha que palavras não são necessárias, nossos olhos são nossas armas e apenas com eles mantemos nosso embate.

- Você tem certeza disso? – Pergunta de repente. Seu tom grave me pega desprevenida de tantas formas, que por algum motivo meu corpo se aquece em excitação.

Não apenas isso, seu olhar firme e seus lábios encurvados para baixo, a pele e cabelos úmidos pela chuva trazem um ar provocante a ele, a postura rígida e inabalável que assume diante de mim, os efeitos que sua presença causam em mim... Tudo me excita, quero agarrar ele. Por que isso logo agora?

- Absoluta. Eu não preciso de você e da sua "proteção"! – Respondo respirando fundo para tentar me controlar.

Ele balança a cabeça por uma vez, dando um passo atrás – Tudo bem... Você é quem sabe.

Acompanho Brian com o olhar, ele da a volta no carro e entra sem olhar para mim. Eu espero que ele vá dizer mais algo, mas não é isso que acontece. Brian apenas fecha a janela do carro e parte, acelerando devagar.

Fico plantada vendo-o sumindo da minha vista ao virar em uma esquina. Perfeito, se ele queria se ver livre de mim, então agora ele está. E aliás, eu também estou livre dele. Ambos saímos ganhando nisso.

Mas se eu saí ganhando, por que uma parte de mim está tão incomodada com todo o desenrolar que essa conversa teve?

Droga, essa discussão toda deixou minhas roupas mais molhadas do que eu gostaria, mas por sorte, não é nada extremo... Bom, é extremo sim, mais um pouco aqui e meu cabelo vai começar a pingar sem parar, terei que dar um jeito de me secar no metrô.

Ignorando tudo isso, volto a andar apressada, rumando a estação sem olhar para trás.

Um dia só meu está me aguardando.

Estou ouvindo o anuncio da próxima estação do metrô, identificando a característica voz da linha azul do metro. Internamente estou me preparando para descer na Sé. 

Ai... A terrível estação lotada no ponto central de São Paulo... E a julgar pela quantidade de pessoas me esmagando no vagão, andar por aqui sem esbarrar nos outros é um sonho distante.

O metro diminui a velocidade e então para, logo abrindo as portas. Corro e salto para fora do metrô, não me atrevendo a encarar a bagunça das escadas rolantes e me deslocando para as escadas normais. Prefiro evitar toda a bagunça.

Meu plano de hoje é basicamente sentar na praça da Sé para olhar as pessoas, descer para a Liberdade e passar em um bom restaurante de comida japonesa para saborear um bom lamen, ou quem sabe um café gelado com um croissant de chocolate que sempre me da água na boca.

Muito provavelmente irei passear pelos shoppings e olhar as várias lojas. Amo observar as roupas estampadas com variados personagens e as várias esculturas nas vitrines, sem falar das várias outras decorações que enchem meus olhos...Não sou aficionada nessas coisas, mas uma roupa ou alguma decoração que achasse mais meiga, eu não teria dúvidas em comprar.

Em outras palavras, o mesmo que vou todas as vezes que passo na Liberdade.

É só uma pena que esse clima chuvoso me impede de ir ao Jardim Oriental. Aquele lugar é simplesmente lindo de tantas formas que sequer sei descrever. Isso sem mencionar as várias artes espalhadas em vários lugares. É um dos pontos que mais gosto em São Paulo. 

E para minha noite, quero encontrar uma boa balada e ficar lá até altas horas para esquecer do mundo e todas as minhas preocupações. Sábado no centro, com certeza terá uma balada.

O caminho se torna mais livre à medida que vou para a saída, tomando as escadas rolantes dessa vez. Conforme subo, a luz do dia se torna mais presente, apesar do clima chuvoso. Pelo menos aqui não está mais tão forte, pelo menos isso.

Saio da estação, caminhando rumo ao centro da praça em passos calmos. Meus olhos correm das pessoas para as construções da praça da Sé. A beleza da Catedral Metropolitana cada vez mais próxima à medida que caminho, do outro lado posso ver o Palácio da Justiça, encantada com a arquitetura. Gosto de olhar essas coisas, imagino quanta história esses lugares devem ter.

Mantenho meu passo, encantada com a arquitetura do lugar... Já passei por aqui tantas vezes, mas sempre fico encantada com tudo.

Sigo por uma avenida, rumando em direção a estação Liberdade. Apesar de achar a praça da Sé um lugar bonito, não devo me limitar a ficar parada apenas nele... Além disso, está tudo molhado por causa da chuva, não poderei sentar para olhar tudo.

Sendo assim, devo andar e aproveitar vários outros lugares. Minhas andanças não se resumem em ficar parada aqui.

Meu passo, de apressado gradualmente se torna mais lento, calmo o bastante para seguir rumo a liberdade e ainda assim olhar tudo a minha volta. Tenho o dia todo, então pressa não é necessária. Além de lugares, posso olhar as pessoas tranquilamente, admirar as belezas, e claro, os vários rapazes por aqui.

Alguns são lindos e não tem como não admirar por alguns momentos... Olhar não tira pedaço.

Vou caminhando com o meu melhor olhar analítico. Rapazes mais jovens, homens mais velhos, muitos olham em minha direção, alguns trocam um olhar comigo de maneira bem mais respeitosa, já outros me olham como se me admirassem e até troco sorrisos com alguns que atraíram mais da minha atenção, e claro que tem aqueles que me olham de cima a baixo como se nunca tivessem visto uma mulher na vida. Esses tipos chegam a me dar vontade de rir de tão ridículos.

Se continuar desse jeito, vou acabar esquecendo a ideia de olhar rapazes bonitos e vou me concentrar em olhar esses caras mais "peculiares" e me segurar para não dar risadas.

Com certeza se meu namorado souber que estou andando por ai olhando os mais diferentes caras, ele vai acabar dando uma leve surtada, como se ele já não tivesse surtado por outros motivos... Mas com certeza não vai saber, e por estar olhando para me divertir internamente, não estou fazendo nada de errado.

Me distraí tanto em pensamentos que me dou conta que meu restaurante favorito está aqui perto, então me concentro em ir nele comer algo, e depois daqui vou procurar por algo para me entreter.

A escuridão do lugar é rompida pelos diversos feixes de luz. A música alta inunda meus ouvidos e cada um dos meus pensamentos, as batidas fortes atingem dentro do meu corpo, aumentando ao limite toda a animação que sinto.

Pulo em conjunto com todas as pessoas, danço aproveitando ao máximo do ritmo da música, canto mesmo sem saber se ainda tenho voz, dou risadas, comecei mais amizades de balada, encontrei antigas amizades, bebo o quanto posso apenas da minha própria lata de cerveja... Estou aproveitando, estou curtindo uma balada do jeito que eu quero e mereço.

Me encontro em uma pequena roda com mais seis pessoas. Todos eles eu já conheço de baladas anteriores e temos uma sólida amizade formada na balada, até já acompanhei alguns deles para casa, e o inverso também já aconteceu quando bebi demais. Todos aqui estão servindo-se de suas próprias bebidas, apontando ao palco onde o DJ está, todos rindo de algo que não tenho ideia do que seja. Não tenho ideia de que horas sejam, eu perdi toda a noção de tempo desde que entrei aqui nessa balada, mas a realidade é que não sei se quero sair.

Uma das meninas do grupo pega na minha mão repentinamente, me puxando novamente a pista de dança, e vejo todas as outras vindo em sequência. Aceito ser puxada, chegando ao meio da bagunça, imediatamente sendo contagiada pela eletrônica, em cada batida intensa. De imediato me entrego ao ritmo, dançando como se meu corpo tivesse vontade própria.

Olho para todas as moças a minha volta, elas se entregam a tudo na mesma forma que eu faço, não temos porque nos contermos. Os rapazes estão de canto, nos observando com sorrisos de canto de boca, olhares de cima a baixo em mistos de desejo e encantamento. É difícil não gostar disso, saber que olham e nos desejam, e que se eu quiser, poderei ter qualquer um deles a qualquer momento. Não é difícil interpretar seus olhares, estão babando, por mais que não queiram demonstrar e disfarçam com seguidos goles de cerveja, ou conversas impossíveis de ouvir por causa de todo o barulho, mas é óbvio que falam de nós.

Mas a realidade é que não to nem aí em saber o que falam.

A única coisa que quero é me divertir de todas as formas que der vontade, eu posso. Sou livre para me divertir. Eles que olhem à vontade, não sou a mais bonita, mas com certeza perdi a conta de quantas vezes os peguei olhando para mim, então com certeza estou muito bem.

Fecho os olhos, aproveitando o ritmo, ignorando qualquer novo pensamento, apenas curto tudo, permito a música e a animação me invadirem, compartilhando do movimento que todos fazem nesse momento. Se o tempo parar agora, eu não vou ligar, afinal eu estarei me divertindo.

Ainda de olhos fechados, sinto toques repentinos pela minha cintura, impedindo qualquer novo movimento brusco da minha parte. Um susto me atravessa e prendo a respiração, porém não sinto vontade de fugir. Essas mãos estão envolvendo meu corpo, mas de maneira tão suave que sequer penso em ir contra. Meu corpo não quer brigar contra isso, apenas aceitar. Eu não sei se isso é efeito de tudo que já bebi hoje, mas e dai? Só aceito.

O que antes eram mãos em volta da minha cintura se intensifica ao perceber que um corpo está colado ao meu pelas minhas costas. Um sorriso surge em meus lábios com essa aproximação repentina, e minha respiração no meu pescoço me desconcerta a ponto de me fazer arfar.

Não preciso usar minhas mãos para identificar o corpo mais robusto e quente atrás de mim. Os movimentos da dança não me impedem de notar alguns detalhes. É um homem claramente com um corpo bem definido, posso dizer isso pelas suas mãos grandes que esbanjam uma firmeza perfeita em minha cintura, pelo seu peito encostado em minhas costas e por sua rígida ereção apertada contra meu corpo.

Ele toca meu queixo com a ponta dos dedos, virando levemente meu rosto a ele, tomando minha boca em um beijo, suave e ao mesmo tempo quente, um beijo envolvido em um sabor forte de um drink adocicado que de imediato me seduzem, fazem com que eu queira me entregar mais a cada segundo, e é isso que faço ao intensificar nosso beijo.

Quero me virar para ele, beija-lo cada vez mais, me entregar por inteira a esse desconhecido que apenas com beijos conseguiu me seduzir e aquecer meu corpo dessa forma. Estou entregue a ele, ao calor que ele me causa apenas com beijos.

O beijo é rompido, me deixando em um misto de frustração por ter acabado e uma vontade por mais. Abro meus olhos e finalmente vejo seu rosto, o reconhecendo imediatamente. Ele é um dos rapazes que estava na rodinha de antes junto as garotas, e que esteve me olhando de cima a baixo sem nenhum receio, e agora, ele me observa com a melhor expressão de sedutor que pode conseguir... Ele nem precisa tentar, já é atraente por natural, possui um olhar firme e intenso, uma boca macia dona de um sabor invejável, eu gosto disso. O homem me puxa e junta nossos corpos, e toma minha boca em um novo beijo, é tudo que eu poderia querer...

Nesse momento sinto suas mãos subindo da minha cintura aos meus seios, me arrancando a respiração por entre o beijo. Estou gostando do rumo das coisas. Percebo novamente, existem outras mãos percorrendo meu corpo, não apenas isso, sinto passadas de língua pelo meu pescoço, acompanhada de suaves mordidas causando arrepios que me enlouquecer, me fazendo romper o beijo em uma surpresa que nem eu mesma percebo, estremecida e deixando suspiros escaparem da minha boca. A surpresa aumenta quando vejo que é uma das garotas que estava na mesma roda de antes. Ela envolve minha cintura e cola seu corpo ao meu, e eu não debato, acho que tudo se tornou ainda mais interessante. Seu sorriso me deixa imóvel e sem querer me soltar, além do mais, ela é igualmente atraente.

Ela me olha nos olhos enquanto posso sentir o calor de seu corpo, inevitavelmente me fazendo sorrir em desejo. Ela chega mais perto, mordendo meu lábio e puxando, causando um choque que se espalha pelo meu corpo. Agora sendo sua vez de tomar minha boca em um novo beijo, dotado de quase a mesma intensidade que o do rapaz de antes. Levo minha mão atrás de sua cabeça, continuando entregue a sua intensidade como se ela quem houvesse me beijado segundos antes. Ela é mais hábil que ele, mas menos intensa, apesar que isso não é nenhum defeito, me entrego a ela da mesma forma, e ao que parece existe a recíproca dela.

Rompemos o beijo e nos olhamos. Eu mordo a boca, com a certeza que poderemos voltar a nos beijar a qualquer momento, talvez até algo a mais com ela e o rapaz de antes. Estou amando, essa noite está indo muito melhor do que eu imaginava, e pelo jeito vai acabar as mil maravilhas. Olho para ela, que mantém um sorriso no rosto, e então por cima do ombro. O rapaz claramente nos entende, tomando a minha cintura e a dela com as mãos, começando a nos deslocar em direção a saída.

Minha empolgação e excitação nesse momento são incomparáveis. Não é a primeira vez que farei com uma outra garota, ou então com mais de uma pessoa, mas sempre me parece como sendo a primeira vez, e desejo demais saber o que ambos podem me oferecer a mim.

De repente sinto mais uma mão, agora alcançando meu braço, porém esse é diferente. Me puxa com uma força excessiva, me arrancando do meio do paraíso que eram aqueles dois de antes, me deixando de frente a um rapaz fedendo a cigarro, que de imediato me enoja. Olho para trás, buscando algum apoio dos dois de antes, mas eles apenas me olham assustados. Nenhum deles esperava isso.

Volto meus olhos a esse cara que me puxou de repente, vejo sua boca se movendo, mas o cheiro forte é tanto que tira minha concentração e qualquer vontade de tentar entendê-lo. Nesse momento eu desperto de todo o efeito das bebidas que tomei, vendo tudo que está acontecendo a minha volta, e também o que estava para acontecer.

Preciso lidar com o problema a minha frente antes que não tenha volta. Tento me soltar, mas ele me segura ainda mais forte que antes, e sinto meus braços começando a doer.

Ele diz coisas sem nexo, que me causam desespero. Quero escapar dele, mas não consigo. Algo surge, posso perceber um calor diferente vindo do meu peito. Olho para baixo, e meu colar começa a brilhar do nada, emanando seu característico calor que atravessa meu corpo. A luz se torna mais intensa, e uma explosão igualmente forte como as que já vi antes acontece.

Me surpreendo com o que acabo de ver. O homem que me segurava teve seu corpo erguido de uma vez, e foi arremessado para trás, derrubando tanto a si mesmo quando mais umas sete pessoas atrás dele. Pisco surpresa com o ocorrido, sem conseguir me mover.

Dou um passo para trás, olhando em volta. Muitas pessoas olham para o homem que acabou de voar para metros de distância. Encaro os dois de antes, eles estão imóveis, com uma interrogação no rosto.

Vejo homens com camisetas pretas se aproximando por entre as luzes multicoloridas, enquanto o homem de antes se levanta devagar me encarando com uma expressão de fúria. A música nesse momento está me agoniando, amaria se ela se silenciasse, as luzes se ligassem, e que não houvesse nenhuma voz questionadora nesse momento.

O homem de antes se levanta, completamente desengonçado, vindo em minha direção correndo, empurrando algumas pessoas no caminho. Me assusto com ele, como se um frio subisse minha espinha com medo, ele não está raciocinando. E por mais uma vez, percebo o calor emanando do meu colar, e seu brilho nesse instante fica muito mais forte.

Nesse instante, o clarão é muito mais forte que o anterior e o calor que o colar emana não tem comparação, tanto que sinto o impacto passando pelo meu corpo, mesmo que eu tenha permanecido imóvel. Por um segundo tive a impressão de ouvir vários gritos repentinos e o som de várias coisas sendo quebradas como estilhaços.

Quando finalmente consigo ver melhor, todas as pessoas da balada parecem ter recebido o impacto que meu colar causou, e agora estão espalhadas pelo chão. Eu sou a única de pé no centro do que parece ter sido uma forte onda, que varreu todos para longe.

Passo os olhos em volta rapidamente, percebendo as luzes desreguladas e instáveis. Além disso, o som parou e tudo que existe no lugar é um ensurdecedor barulho. Isso é porque as caixas de som também foram levemente arremessadas para trás e devem ter se desconectado.

Dou um passo em direção a saída, o melhor é ir embora daqui, e nesse momento, eu me sinto estranha. O ar está diferente, não é mais o aroma de bebidas ou o desagradável de algumas pessoas fedendo. Não... Não é aroma, o ar está pesado, extremamente pesado... Eu sinto como se uma pressão esmagadora abraçasse meu corpo.

De relance eu olho para o balcão de bebidas. Todas as garrafas estão estilhaçadas em vários pedaços, pelo visto também afetadas pelo meu colar. Acabo notando algo, um homem em uma pose estranha perto do balcão, ele parece estar suspenso no ar, o que acho no mínimo bizarro.

Repentinamente esse homem é solto, indo ao chão como um pesado saco de batatas, e ali, sentado sobre o balcão em uma pose aparentemente descontraída está alguém, que acaba de apoiar o rosto na mão.

A pouca iluminação não me permite ver seu rosto por inteiro, apenas vejo sua silhueta e parte de suas roupas. Ele parece estar vestindo um sobretudo preto e uma calça em tons azuis escuros e um par de sapatos também escuros.

Espera um pouco, sobretudo preto? Isso me faz lembrar do que houve mais cedo em um estalo, e minhas memórias voltam repentinamente. Eu... Eu encontrei com alguém assim, dentro daquela alucinação estranha.

Não, isso é impossível... Não pode ser a mesma pessoa de antes... Não pode ser ele.

Por algum motivo, sei que ele está olhando em minha direção, e isso me faz estremecer. A pressão parece aumentar ainda mais a cada segundo chegando ao ponto de ser sufocante... Eu devo estar alucinando, mas estou enxergando algo totalmente enegrecido serpenteasse em torno do meu corpo e por todo o lugar.

Um frio sobe pela minha espinha de repente, sinto um suor caindo pela lateral do meu rosto e meu corpo tremendo diante dele. Eu... Eu estou com medo?

Tanto faz se está olhando pra mim. O que importa agora é ir embora desse lugar, e ir embora rápido, aproveitando que todos estão no chão.

Demorei para sair da balada, mais do que eu poderia querer, afinal algumas pessoas me abordaram perguntando se eu estava bem. Aquele rapaz e a moça de antes também abordaram, pela cara que fizeram, todo o clima que existia entre nós sumiu, mas pelo menos eles não perceberam que eu estava no centro dessa bagunça.

Eles fizeram questão de pegar meu número para irmos nos falando. Cedi apenas para que me deixassem ir embora logo, mas também acredito que será algo bom ter o contato dos dois. Afinal, quem sabe o que pode acontecer em próximos encontros né?

Espera ai, o que raios você está pensando Ana Clara?

Caramba, eu não estou pensando direito. Isso ainda é efeito de tudo que bebi naquela balada? Pode ser... Estou desperta, mas meio zonza... Além de zonza, estou com o corpo muito cansado, e também passando um pouco mal.

O problema de estar sozinha é que não tenho freios quando o assunto é bebidas, e como consequência, coisas como essas de hoje podem ser bem possíveis de se acontecer. Nem quero imaginar na minha cara quando acordasse amanhã em um motel com aqueles dois.

A ressaca física e moral que eu teria amanhã seriam um pesadelo.

Dou um pesado suspiro, olhando em volta. O metrô está vazio. Também, saí daquela balada quase 23:20h, e fui correndo para a estação Liberdade. De lá pra cá, está tudo bem vazio. Vi muito poucas pessoas, e isso me agrada, pude me sentar e lamentar meu erro de beber demais hoje, sem nenhuma interrupção...

Não me arrependo dos dois que beijei hoje, afinal foi bom demais e eu beijaria de novo muitas e muitas vezes, além de repetir todo aquele momento da balada, fazer muito mais coisas e ser deles o quanto quisessem... Não! Pare de pensar essas coisas mulher!

Esse acontecimento foi uma consequência de beber demais. Então eu não estava em plena capacidade de pensamento... Eu beijei outras pessoas por não estar plena, e essa minha vontade louca de beijar aqueles dois de novo e fazer muito mais coisas é apenas um efeito do álcool no meu sangue... Eu prometo aqui nesse banco de metrô que eu nunca mais irei beber.

Agora é sério... Eu nunca mais vou beber.

Agora que vejo bem, essa filosofia toda fez o caminho passar muito mais rápido. Já estou para descer. Me levanto lentamente devido a forte tontura da minha embriaguez, isso sem contar meu cansaço, e toda a dor nos meus pés e minhas pernas de tanto que dancei.

As portas se abrem e saio em passos lentos, indo me apoiar uma das barras de ferro para respirar e me recuperar um pouco que seja. Me livro da minha camisa de flanela e a amarro na cintura, erguendo meus braços acima da cabeça tentando me alongar.

Escuto o apito vindo do vagão, as portas fecham e o metrô parte, restando o silêncio na estação após alguns segundos. Olho de um lado ao outro, algumas pessoas que desceram já seguiram para as escadas e saem totalmente da minha vista.

Após poucos segundos, ambas as plataformas estão completamente vazias e tudo fica quieto.

Não escuto vozes, passos, nada. Nem mesmo aquele vento que passa pelas saídas ao ar livre por onde os trilhos seguem seu rumo. Essa calma toda é relaxante depois de tanto barulho, mesmo agora minha cabeça sofre com as batidas da música alta.

Ouço um ruído que parece ser de algo caindo repentinamente, não muito longe de mim. Olho na direção do barulho, veio das escadas do outro lado da plataforma. Esfrego as mãos no rosto tentando despertar e volto minha atenção ao ambiente, mas não escuto nada.

Dou um suspiro, voltando meus olhos ao chão, porém algo mais chama minha atenção. Ouço outra coisa, uma voz, como um sussurro no ar. Se assemelha a um sussurro arrastado e seco ecoando ao redor, não apenas isso... Parece... Parece estar dentro da minha cabeça.

Vozes. São vozes, dentro da minha cabeça, fora, ao meu redor. Ecoando baixo a minha volta, mas tão semelhantes a gritos dentro de mim. O que diz eu não sei, eu quero ouvir e decifrar o que dizem, mas uma parte muito maior não quer, deseja que tudo seja uma alucinação de bêbada e mais nada e tudo não passe disso.

Leva um tempo, mas as vozes finalmente cessam, e a mais absoluta quietude se instala.

As luzes da estação se apagam repentinamente, me dando um susto a primeiro momento, e logo me vem o pensamento de que a estação foi fechada e fiquei presa aqui dentro.

Elas se religam me causando um certo alívio, porém elas começam a piscar. As luzes da estação inteira enlouquecem, ligam e apagam sem nenhum ritmo. Imagino que deve ser uma alucinação de bêbada, mas essa ideia desaparece quando percebo ao mesmo tempo que meu colar se aquece entre meus seios.

Isso me deixa em estado de alerta. Passo meus olhos ao redor, não vendo nada, até ele finalmente aparecer com a cabeça baixa, bem próximo à escada que leva a única saída desse lado da plataforma.

- Olá olá... Clara... – Ele balbucia, erguendo lentamente a cabeça e me encarando.

Apesar de sua aparição, eu estou tranquila, tanto que dou um sorriso de canto – Você não aprende, não é? – Digo em deboche.

Ele não diz nada, apesar que posso sentir o ar ficando mais pesado nesse momento. Ele da um passo a frente, e salta na minha direção, com suas mãos direcionadas a mim. Ele é rápido, mas eu permaneço onde estou, sequer tento me desviar. 

Meu colar brilha em um tom branco intenso, seu calor irradia pelo meu corpo, me atravessando da cabeça aos pés, em uma intensidade tão profunda que me relaxa. O calor não é apenas em mim, parece se espalhar forte por tudo ao meu redor abraçando o ambiente, e o clarão explosivo surge, resultando na entidade arremessada para longe, quebrando parte dos painéis eletrônicos da estação, caindo e deslizando no chão.

Mantenho meu sorriso, saindo do meu apoio na grade e caminhando em sua direção. Levo as mãos a cintura, passando a língua pela boca. Essa coisa não tem mais nenhuma chance.

Olho para meu colar entre meus seios, o retirando devagar do meu pescoço e segurando firme a corda que me liga a pedra de proteção.

Ele está abaixado, seu corpo treme e sua feição mostra sua ira, tão parecido a uma fera descontrolada. Ele ruge com um poder estrondoso, tão intenso que o impacto atinge meu corpo e as coisas a minha volta tremem, e sem esperar ele se ergue e salta em minha direção por mais uma vez.

Apesar do poder mostrado pelo seu rugido, eu não me abalo. Giro a corda do colar em meus dedos, percebendo seu brilho surgindo novamente, e quando ele chega perto o bastante movo meu braço e acerto a pedra em seu corpo, em uma nova explosão.

Em questão de segundos, a criatura foi arremessada com toda a força para a outra plataforma da estação, arrebentando parte de uma das pilastras de sustentação e batendo com força contra a parede, destruindo parte do lugar. Dou uma risada que logo evolui a uma gargalhada tomada por deboche, erguendo meu colar e dando um beijo na pedra, totalmente satisfeita.

Eu amo esse colar cada vez mais.

A entidade mal espera e pula contra mim outra vez, em um grito quase desesperado. Eu me afasto em passos desengonçados por causa da minha embriaguez, e a entidade cai de qualquer jeito deslizando no chão, enquanto sequer deixo de lado minha animação.

Acho que toda a cachaça de hoje me deixou bem mais soltinha, animada e corajosa... E estou amando cada vez mais.

Repentinamente ele desaparece, e meu colar imediatamente tem uma nova intensa explosão tomada de tons brancos, irradiando seu calor por mim, atravessando todo o ambiente com o esplendor do seu poder.

Ouço o som de algo pesado caindo pouco atrás de mim e um grito interrompido por um som de algo duro sendo partido. Mantenho meu sorriso e lanço meu olhar por cima do ombro tranquilamente, cruzando meus braços.

A entidade está levemente afundada no chão, arrastada pelo piso que rachou com seu corpo. Ele está estirado com os braços abertos, sua cabeça está erguida mas ainda assim posso ver seus olhos fechados e gemendo baixo, sequer tentando se levantar.

Dou uma gargalhada em satisfação com o que assisto. É tão bom ver essa coisa nesse estado, meu causou tantos problemas, e agora está assim, incapaz de me fazer mal, impotente. Começo a ir em sua direção, que ainda continua caída sem reação, só que agora me olhando em fúria.

Deixo a corda do colar em meu dedo indicador, e assim que estou bem perto, começo a descer a pedra em direção a seu corpo, e como reação um novo brilho surge, mas diferente dos anteriores. A luz emanada pela joia é contínua, explosões repetidas ocorrem, causando o calor e impactos seguidos a tudo, tanto a entidade quanto a coisas da estação. Painéis, lâmpadas e tudo mais chacoalha forte em cada explosão do meu colar, e ao mesmo tempo que tudo acontece, essa coisa é empurrada contra o chão, que vai se rachando cada vez mais.

Ergo bem a perna e piso na criatura, acertando seu peito sem hesitar. O brilho intensifica e uma explosão acontece, e ouço seu grito interrompido pelo impacto.

Observo bem a criatura. Seus olhos apertam um momento, e lentamente se abrem, focando sua raiva em mim. Meu sorriso cresce e piso nessa coisa de novo, e de novo com mais força, despejando todo o peso que posso em cada golpe.

- É bom, não é? – Digo pisando novamente em seu peito – É bom estar indefeso, não é?! – Piso com mais força no mesmo lugar, apertando os punhos – É bom apanhar, não é?! – Grito pisando no rosto dessa coisa, agora tomada pela minha raiva pelas coisas que fez. – Você que gosta tanto de bater, agora me fala qual a sensação de estar apanhando! – Aperto os dentes e o encaro enfurecida, pisando mais e mais vezes no rosto dessa criatura – Vamos coisa asquerosa, não é bom ser a vitima? Estar indefeso? Seu filho da puta, você vai pagar pelo que me fez passar!

Ele está caído com os olhos fechados, aparentemente desacordado. Ergo a perna outra vez e dessa vez chuto a entidade com toda a força que tenho, que unido a uma nova explosão do meu colar, é arremessada para longe e o assisto caindo outra vez.

O encaro irritada apertando os punhos. Eu vou acabar com isso agora.

A entidade se ergue devagar e me encara enraivecida. Ele ofega tentando se erguer, mas seu corpo pende para frente e bate uma mão no chão para se manter erguido... Enquanto eu, caminho em sua direção, decidida a acabar com ele.

Antes que eu me aproxime o bastante, ele salta e agarra uma lata de lixo metálica, jogando o pesado objeto contra mim me pegando de surpresa. A lata de lixo acerta meu estomago em cheio, arrancando meu ar e me lançando meu corpo para trás.

Levo a mão a barriga sentindo a dor do impacto. Tusso com o golpe recebido, olhando em volta sem me levantar. Pelo golpe, a camisa a minha cintura desamarra e acaba por se soltar pelo chão da estação. Percebo algo, a entidade está parada ao meu lado.

- Hm descobri um jeito de te acertar... – Sua voz é seca e ele continua ofegante, e está nítido como seus olhos estão brigando para permanecerem abertos, mas ainda assim um novo sorriso surge em seu rosto. Lentamente seus olhos seguem para algo, e de imediato acabo acompanhando. Meu colar, ele não está mais na minha mão. Isso me desespera, não está longe, mas não conseguirei alcançar só esticando o braço – Olha que coisa bonita... Ficarei com isso para mim...

Me assusto com o que ouço. A entidade desaparece, e logo surge ao lado do colar, estendendo sua mão quase esquelética ao meu colar, mas de imediato sua mão é repelida com um choque. Ele me encara, totalmente incrédulo.

- Espera... Eu não posso tocar essa padra... – Ele diz, em uma expressão assustada, que logo se torna pensativo.

Seu corpo desaparece em um vulto escuro, ressurgindo sobre mim da mesma maneira de repente, me causando um espanto. Ele me olha com curiosidade, aproximando seu dedo e tocando minha testa de leve algumas vezes. Agora estou em pânico.

Sua expressão se ilumina como de uma criança enquanto sua mão vai ao queixo – Nossa, então... O efeito é do colar... Então agora eu posso te tocar...

Engulo em seco, sem saber como reagir. Ele mantem seu olhar da mesma forma, sua expressão está completamente inalterada, lentamente juntando seus punhos, estralando seus dedos.

Eu estou muito lascada.

Recebo um golpe forte no meu rosto. O impacto me tonteia, e antes que eu possa abrir meus olhos novamente, sinto meu corpo erguido do chão como se não pesasse nada, e sou arremessada. Sinto um impacto nas minhas costas, seguido do frio do chão espalhando no meu corpo. Abro os olhos vendo que meu corpo atravessou uma das placas informativas.

Tento me erguer, mas ao ver a entidade me encarando com um sorriso sádico, meu corpo consegue forças imediatas. Me coloco de pé, vendo a criatura saltando contra mim. Eu me desvio pulando para trás, quase caindo novamente. Ele me olha, vindo até mim, golpeando meu braço me fazendo perder minha estabilidade, e antes que eu de por mim, recebo um impacto no estomago, e um novo no rosto, me levando novamente ao chão.

Sinto as dores espalhando pelo meu corpo, respirar me faz sentir cada vez mais dor. Pisco algumas vezes, as luzes se alteram ainda mais, algumas explodem e soltam faíscas pelo chão. Por mais uma vez tento me levantar, não vendo a entidade em nenhum lugar. Um forte impacto me atinge, dessa vez nas minhas costas me fazendo desequilibrar.

Meu corpo é arrastado pela plataforma, e caio sobre os trilhos do trem. Fecho os olhos, sem forças e com dores espalhando pelo meu corpo. O concreto gélido por baixo dos trilhos incomodam meu corpo, me forçando a tentar me levantar outra vez. Ouço as risadas da entidade ecoando, mas não sei onde ela está.

Toco minha boca com a ponta dos dedos e olho o avermelhado do meu sangue. Eu queria chorar de dor, correr e me esconder agora, mas não tenho tempo para fazer isso... Não posso chorar... Não consigo lutar contra isso, tenho que tentar fugir, escapar de alguma forma, mas como?

Eu estou sozinha agora.

A entidade ressurge a minha frente, golpeando meu rosto em socos repetidas vezes. Ele acerta um golpe atrás da minha perna me desequilibrando, por sorte não fico de joelhos, porém ele me golpeia meu corpo e sinto me chocar com algo duro, a pilastra da estação. Por sorte consigo manter meu equilíbrio.

Ele está a minha frente, dando um passo para trás e avançando rápido com seu punho aberto contra meu rosto. Consigo me abaixar e afasto dele, ouvindo o som da pilastra sendo arrebentada com a força do golpe. Me viro para a entidade, dando passos para trás, ele vem a mim de novo, por mais uma vez tentando me agarrar, mas mesmo com dor consigo desviar, uma, duas vezes.

Na terceira ele agarra minha camiseta e me puxa, jogando meu corpo contra a plataforma, me mantendo suspensa no ar enquanto me debato. Ele acerta lateral do meu corpo em mais um golpe, a dor aguda me atravessa, me fazendo gritar de dor.

Ele me ergue e empurra meu corpo novamente para cima da plataforma. Fico deitada de barriga para cima, respirando fundo por algumas vezes, tentando me manter acordada. As dores são incessantes e minhas forças estão me abandonando. Pelo menos essa parte do dia tem que ser um pesadelo... Não pode ser real...

- Achei que não te ouviria gritando... – Ouço a voz dele, se deliciando com meu estado. Com o pouco de força que ainda tenho, movo meu braço tentando me arrastar, mas sou golpeada no estomago, erguendo meu corpo e arremessada pelo chão gelado.

Arfo com o golpe, sentindo meus sentidos desaparecendo aos poucos. Se continuar assim, irei desmaiar e ele vai me matar. Tenho que fazer algo... Tenho que pegar meu colar de volta, mas onde ele está?

Me movo devagar, lentamente me colocando de joelhos com a cabeça baixa. Respiro fundo, sentindo pontadas agudas de dor no meu corpo que me impedem de desmaiar. A entidade diz algo, mas está tão distante que mal entendo. Minha visão está turva, respiro fundo com dificuldade por causa da dor, mas tento olhar em volta em busca do meu colar.

Eu noto com dificuldade que estou na mesma plataforma que tudo isso começou. Me ergo devagar, não recebendo mais nenhum golpe. Me viro e olho pelo chão, mas não está por aqui em nenhum lugar. Antes que eu consiga continuar procurando, sinto uma mão segurando no meu pescoço, puxando meu corpo e me jogando facilmente para trás.

Por um segundo sinto meu corpo suspenso no ar, praguejando comigo mesma por ter me livrado de Brian. Ele poderia cuidar disso... Mas... Ele não cuidou antes, o que poderia fazer agora? Será que ele realmente me ajudaria?

Meu corpo bate novamente contra o chão, e meus olhos pesam. Não tenho ideia de onde eu estou nesse momento, mas não tenho mais nenhuma força. Eu só quero que tudo isso acabe, não aguento mais isso.

Viro minha cabeça para o lado, abrindo os olhos. Com dificuldade, eu vejo aquele brilho. Meu colar. Ele está ali. Viro meu corpo no chão até ficar de bruços, me puxando com toda a dificuldade. Preciso alcançar só a corda e será o bastante.

Mais um pouco... Só mais um pouco... Por favor, não me acerte mais um golpe, irei perder os sentidos se isso acontecer... Eu não aguento mais.

Consigo alcançar a corda do meu colar e puxo a pedra para mim, a segurando com força. No mesmo instante que sinto meus pés sendo agarrados e puxando meu corpo pelo chão.

Por um segundo, todos meus sentidos despertam por completo, as dores no meu corpo somem. Sinto o frio do chão, as sujeitas arranhando minha pele. Olho por cima do ombro, vendo a entidade com um sorriso vitorioso no rosto. Ele me vira para ficar de frente com ele, aproveitando de cada segundo. Isso acaba agora!

Ergo minha mão, segurando a pedra ainda com mais força e acerto seu rosto com toda a força que tenho nesse momento. O brilho e o calor do colar se intensificam ao máximo, o calor percorre meu braço, espalhando e revitalizando totalmente meu corpo. Uma nova explosão surge.

Vejo a entidade sendo arremessada em um baque. Com a adrenalina e as energias do meu corpo renovadas, forço minhas pernas e me ergo, correndo na direção que a entidade caiu. No momento que a vejo no chão, em um salto eu monto na criatura, apertando minha pedra de proteção contra seu peito.

O brilho irradia de forma contínua. A entidade se debate desesperada, mas o seguro com meu corpo, usando toda a força que tenho nesse momento. Eu grito mais, erguendo meu colar um pouco, apunhalando no corpo da entidade, e ele urra ainda mais.

Uma nova explosão ocorre, o impacto dessa explosão percorre pelo meu corpo, semelhante a uma corrente elétrica que me aquece por inteira. Quando finalmente dou por mim, a pressão some do ar, e a entidade não está mais aqui... Tudo que resta é o silêncio.

Respiro fundo, sentindo os efeitos da adrenalina desaparecendo do meu corpo, novamente sentindo a dor voltando a me atingir e minha visão se turvando aos poucos. Lentamente eu pendo para o lado, caindo ao chão frio, olhando para uma das poucas lâmpadas que não estourou nesse embate.

Seguro meu colar com força entre meus dedos, a dor se espalhando pelo meu corpo a cada segundo. Meus olhos pesam, e logo se fecham, dominada pela dor e o cansaço que estou sentindo... Mas isso não importa.

Estou salva... Consegui sobreviver, e é isso que importa. 

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