Um pedido
Paulina avistou Tábata assim que o carro entrou na rua que Guilherme morava. Vestida com camisa branca e jardineira marrom que realçava a barriga saliente, a jovem de traços asiáticos conversava com um velhinho em frente ao portão de ferro da propriedade.
Quando Simon estacionou, reconhecendo Paulina, Tábata despediu-se do homem e aproximou-se do carro com um sorriso.
Paulina desceu e recebeu o abraço empolgado da morena, insegura com o volume entre as duas. Tábata separou-se de Paulina e direcionou os olhos castanhos para o motorista. Lembrava-se de ter sido apresentada a ele antes, mas não recordava seu nome.
— Não quer entrar e tomar um café?
— Ah, o senhor Simon não ficará — Paulina apressou-se a responder. — Ele só me deu uma carona.
Simon confirmou com a cabeça.
— Em outra oportunidade — ofereceu dando partida. — Te vejo em casa, Paulina.
Tábata envolveu os ombros de Paulina com um braço e a conduziu para dentro da casa de cinco cômodos.
— Guilherme ainda esta em viagem — lamentou enquanto levava Paulina para a cozinha.
— Na verdade, estou aqui atendendo um pedido dele — informou sentando na cadeira que Tábata indicou. — Ele quer ter certeza que está bem.
— Ele fez o mesmo pedido para o senhor Agostinho. O homem com quem eu conversava quando chegou — disse, pegando na geladeira suco e uma travessa com bolo para colocar na mesa antes de sentar. — É exagerado, mas aprecio o cuidado dele comigo e o meu bebê.
— Falta quanto?
— Seis semanas — respondeu acariciando o topo do ventre avantajado. — E você, alguma novidade?
— Sim. — Estendeu a mão com o anel de compromisso. — Vou me casar.
Tábata abriu a boca, analisando com confusão a aliança.
— Casar? Nossa, nem sabia que você tinha um namorado. — Notando a expressão desgostosa da Perez retificou: — Quer dizer, sei que nos conhecemos há poucos meses, mas é que nunca te vi com alguém e o Guilherme nunca mencionou que tinha um namorado... Oh, melhor manter minha boca fechada. — Riu sem graça.
— Meu noivo é muito ocupado — explicou puxando a mão para o colo.
— O homem do carro?
— Não!!! — negou assustada que alguém a imaginasse namorando Simon. — Aquele é o meu patrão.
— Ele disse que te esperava em casa, pensei...
— Moro e trabalho na casa dele como governanta — esclareceu.
— Entendo! Meus parabéns! — Tábata serviu uma xícara de chá para Paulina e outra para si. — E quando será?
— Daqui quatro meses. O dia ainda não foi definido.
— Esta ansiosa? Nunca casei, mas ouvi que os preparativos são a parte mais estressante dos casamentos.
— Ainda não comecei os preparativos. Por enquanto só tenho os padrinhos, minha irmã e o Guilherme.
— A família de vocês é muito unida — comentou acariciando distraída sua barriga. — Queria uma família assim para o meu bebê.
~*~
O telefone tocou e Paulina correu para atender o aparelho preso na parede da cozinha. Automaticamente seus olhos foram para o relógio no outro extremo, faltava meia hora para Simon chegar.
— Casa de Simon Salvatore, quem fala?
— Sou eu. Chegarei acompanhado.
— Ah... Sim, senhor.
Sem nenhuma despedida ele desligou.
A morena suspirou. Depois de duas noites em que ele chegara sozinho, ela pensou que o desfile de mulheres fora só para assustá-la e que o chefe havia se cansado do joguinho, mas pelo jeito estava errada. Conformada com a situação, a governanta arrumou a mesa de jantar para duas pessoas e aguardou.
Como esperado, a nova "amiga" de Simon era deslumbrante. Como todas as outras, esta também tinha longo cabelo preto, olhos claros, alta, magra e comia muito pouco. Paulina serviu a ambos e, assim que Simon escoltou sua "convidada" para a suíte, arrumou tudo e foi para seu quarto.
~*~
Ainda era madrugada quando Paulina foi despertada por sacolejos. Confusa, ela ligou a abajur e sentou na cama, dando de cara com a mulher que Simon trouxera, arregalando os olhos com surpresa. Ela estava vestindo a camisa que Simon usara mais cedo, com um único botão em sua casa e nada mais.
A pobre moça puxou o cobertor até o pescoço, embora vestisse uma camisola discreta que a cobria totalmente, ver aquela mulher praticamente nua a envergonhava.
— Preciso que me prepare um lanche. — a "top model" disse, com o pedido soando como uma ordem.
— Eu... eu... — Paulina balbuciou, sem saber o que pensar e nem como agir.
— Vamos garota! Levante! — A mulher praticamente a arrancou da cama e a arrastou até a sala de jantar. — Eu quero algo leve, salada de preferência. Nada gorduroso.
Assim que foi solta, Paulina correu para a cozinha e preparou um prato com alface, tomates e rabanete. Fez também um suco de laranja antes de acomodar tudo em uma bandeja para levar a sala de jantar.
Quando colocou tudo na frente da mulher, ficou constrangida ao olhar acidentalmente para os seios empinados da outra. Coisa que não passou despercebida.
— São lindos, não é? — Ela os juntou com os antebraços. — Simon os adorou.
— A... a senhorita precisa de... de mais alguma coi...coisa? — Paulina tentou desviar o assunto, odiando-se por corar diante da situação.
Ela riu.
— Você é uma gracinha — Ela se inclinou na mesa com os olhos azuis fixos nos de Paulina. — Qual o seu nome?
— Paulina... Paulina Perez.
— Pau. li. na. — Riu, dizendo com voz macia: — Belo nome.
— Obrigada! — respondeu, apenas por educação.
— Você é muito bonita. — Os olhos dela desceram por seu corpo. — E atraente.
Para a surpresa da jovem governanta, a mulher se levantou e se aproximou com um andar felino, fazendo Paulina recuar até ficar contra a parede. A mulher percorreu seu rosto com uma longa unha carmim. Sem notar o desespero da governanta, ou fingindo não fazê-lo, a mulher enrolou uma farta mecha do cabelo preto entre os dedos.
— Lindo cabelo, Paulina. — A forma melosa e arrastada que disse seu nome desagradou-a. Havia algo de ameaçador nela. — Você toda, aliás. — Os olhos percorreram-na de cima a baixo, fazendo com que sua espinha gelasse. — Você, Simon e eu poderíamos nos divertir muito sabia?
— Eu não... não... — Um dedo sobre seus lábios a impediu de continuar.
— Shiu! Podemos fazer uma bela surpresa para o seu patrão. Mas antes você precisa tirar essa coisa feia.
As mãos dela desceram para os botões da camisola de Paulina, que ficou sem ação diante da proposta e da atitude daquela mulher. Aquilo não podia estar acontecendo! Simplesmente não podia!
— Tire suas mãos dela! — A ordem ecoou fazendo a mulher recuar.
Ambas olharam para a porta. Simon estava no umbral, só de calça e muito irritado.
— Estou só realizando seus sonhos, amorzinho. — A mulher atrevida tentou se defender, cruzando os braços em frente aos seios mal cobertos.
— Meu sonho nesse momento é que saia da minha casa e nunca mais volte. — A voz de Simon era glacial, quase tanto quanto seu olhar.
A "top-model-atrevida-e-de-gosto-duvidoso" – como Paulina a apelidara mentalmente – respirou fundo e endireitou o corpo, olhando rapidamente para morena que estava encolhida e aterrorizada.
— Como queira, benzinho. — Com um sorriso desdenhoso, deu de ombros. — Pegarei minhas coisas no seu quarto. Foi um prazer te conhecer, Paulina — disse, sem ao menos olhar para a jovem.
Paulina respirou aliviada quando a mulher saiu da sala de jantar e olhou para Simon com agradecimento. No entanto, o Salvatore a encarava com raiva.
— O que, com malditos demônios, você estava fazendo?
— E-ela me pediu p-para lhe preparar algo para c-comer — Paulina explicou, não compreendendo o motivo da irritação dele com ela.
— Sou seu patrão, não ela ou qualquer outra pessoa que entre nesse apartamento! Só deve me obedecer, às vezes nem isso você consegue! — esbravejou visivelmente contrariado, bagunçando o cabelo preto ao passar os dedos por ele. — Olhe... Vá dormir, Paulina. É o melhor que faz...
Paulina saiu zangada, com a visitante, com Simon e consigo mesma.
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