Procure seu noivo
Faltando duas semanas para o seu casamento, Paulina estava física e mentalmente esgotada. A tensão que a rodeava era tão intensa que até o mau humor matinal de Simon a contagiara.
Apesar de não falar nada, contendo a vontade de ser rude após as provocações habituais do Salvatore, ele percebera que havia algo errado, perguntando por três vezes se estava bem.
— Estou ótima — respondeu quando ele estacionou em frente à casa de Guilherme.
Desceu do carro, correndo para a casa sem olhar para trás, para evitar novas perguntas. Até mesmo estar ai fora para evitar questionamentos. Por ela estaria debaixo das cobertas, sofrendo sem testemunhas por perto.
Bateu na porta de madeira. Logo Paulina era envolvida pelo abraço forte de Tábata.
— Que prazer revê-la, Lina — cumprimentou Tábata com alegria. — Guilherme acabou de sair com a Lean, pra comprar pão — lamentou levando Paulina para dentro, até a cozinha, em que preparava o café.
— Vão demorar?
— Creio que não, a padaria é quatro quadras daqui.
— Ah... — murmurou sentando na cadeira de madeira.
— Alguma novidade?
— Nenhuma...
— Há algo errado Lina? — Tábata questionou ao reparar o desanimo da amiga.
— É que... — Olhou receosa para a Mamoru. Não queria sobrecarregar os outros com seus problemas. — Só amanheci desanimada, nada demais.
— É só isso mesmo? — insistiu Tábata. — Você me parece tensa
— É só isso mesmo... — Olhou insegura para outra direção.
Se havia algo que Tábata aprendera desde que conhecera os Perez é que quando queriam ocultar algo não adiantava persistir, mesmo assim persistiu:
— Sei que não sou da família e moro de favor aqui, mas te considero uma amiga. Pode contar comigo, mesmo que seja só pra escutar.
Suspirou.
— Vou entedia-la.
— Sobreviverei.
Paulina anuiu e contou sobre o estresse e preocupação com a boda, como, para não incomodar e distrair Nathaniel do trabalho, distanciava-se do noivo durante a semana, os torturantes encontros de fim de semana e a falta de interesse do noivo com os preparativos.
— O desinteresse dele é a pior parte — reclamou segurando as lágrimas. — Sinto que fiz algo errado, que o magoei, mas não faço ideia de como e quando fiz isso.
Tábata aproximou sua cadeira e a abraçou.
— Você não fez nada errado. O problema está nele, não em você — declarou, esfregando as mãos nas costas da Perez para transmitir conforto. — Mesmo que o trabalho dele seja desgastante, o casamento é de ambos e ele deve lhe dedicar mais tempo e atenção.
Paulina concordou.
— O que aconteceu?
Olharam para Guilherme, carregando um pacote de papel com o logotipo da padaria e com Lean, de dois meses e meio, acomodada no canguru, dormindo contra o peito dele.
— Não foi nada — Paulina respondeu olhando para outra direção, enquanto secava os olhos com as mãos. — Só falávamos sobre casamento e bebês, não é Tab?
— Sim — Tábata confirmou com um sorriso, que Paulina obrigou-se a copiar. — Ela dizia o quanto é estressante preparar um casamento, e eu retruquei que quando tiver que trocar fraldas e perder noites de sono verá que esses problemas são moleza. Concordar comigo, não é Guilherme?
— Em parte — ele respondeu pousando a sacola de papel na mesa. — Se tiver sorte seu bebê será calmo como Lean. — Beijou o topo da cabeça da criança adormecida. — Essa lindinha acorda poucas vezes na madrugada.
— Mas nas poucas não dorme fácil — comentou Tábata sorrindo. Levantou e aproximou-se de Guilherme para acariciar os poucos fios marrons na cabeça da filha.
— Vou levar essa pequena princesa dorminhoca para o berço e depois me junto a vocês.
Novamente sozinha com Tábata, Paulina deslizou os dedos pela renda da tolha de mesa.
— Por favor, não conte para o Guilherme o que eu disse — pediu quando Tábata retornou para o seu lado.
— Não contarei — prometeu. — Mas o seu primo fareja a mentira ao longe.
— Eu sei...
Tábata colocou a mão sobre a de Paulina.
— Procure seu noivo e fale como se sente — aconselhou. — Só ele poderá tranquiliza-la e resolver a questão.
Assentiu, agradecida por Tábata ouvi-la e sugerir uma solução.
Quando Guilherme se juntou a elas sentia-se melhor do que quando chegara. Aguentara as perguntas de Guilherme, respondendo todas com evasivas até a hora que ele teve de ir para o trabalho.
De volta ao apartamento de Simon, embora insegura se a sugestão de Tábata era a melhor para a situação, telefonou para Nathaniel.
— Paulina?!
— Bom dia Nathaniel!
— Bom dia! Aconteceu alguma coisa?!
— Não. Eu só... Quero conversar com você...
— Lina, esse não é o melhor momento.
— Eu sei... Você está trabalhando.
— Não, estou em um hospital, ajudando uma pessoa — explicou, completando apressadamente. — Paulina, me desculpe, tenho que desligar agora. Nos falamos outra hora.
— Podemos nos encontrar hoje? — perguntou, acrescentando para que concordasse: — No seu restaurante favorito.
— Claro, claro, como quiser.
— Até... — calou sem completar a frase, pois o noivo encerrou a ligação sem ao menos se despedir.
Guardou o celular na bolsa e respirou longa e profundamente, colocando as emoções nos eixos, segurando a imensa vontade de chorar de frustação, raiva e tristeza. Conseguira marcar um encontro na semana, mas temia que se falasse o que a afligia perderia o noivo.
~*~
Apertando as mãos nervosamente, Paulina pulava de ansiedade toda vez que alguém entrava no Rainbow. Assim que chegara, meia hora antes, enviara uma mensagem avisando, mas, somente depois da terceira mensagem nos primeiros vinte minutos conseguiu uma resposta de que logo se juntaria a ela.
Levantou sorrindo quando ele entrou no restaurante. Estava de calça social preta e camisa imaculadamente branca. Os brilhantes fios loiros em desalinho, como se tivesse passado os dedos entre eles muitas vezes. Mas, quando chegou ao rosto dele, seu sorriso morreu. Ele estava com a mesma expressão aborrecida que ostentava quando se encontravam para falar do casamento.
Sentindo as pernas trêmulas, sentou e aguardou ele ocupar a cadeira a sua frente. Ele colocou as mãos na mesa, as palmas abertas para cima. Paulina as cobriu com as suas.
Engoliu em seco, incerta do que fazer. Não queria estragar o encontro desabafando suas inseguranças. Por isso, ficou em silêncio, esperando que Nathaniel tomasse a dianteira como sempre. Mas, quando ele o fez, arrependeu-se de marcar o encontro.
— Paulina, o que tenho a falar não é fácil. — Nathaniel apertou suas mãos, o olhar azul fixo no dela. — Pensei muito a respeito do nosso compromisso e devemos cancelar.
O encarou confusa.
— Cancelar o noivado?
O olhar desolado dele foi o primeiro indicio de que não queria saber a resposta. Desviou os olhos e puxou as mãos, apavorada, mas Nathaniel as segurou com firmeza e as puxou para a frente, fazendo Paulina encara-lo novamente.
— Cancelar o casamento.
Canguru: Carregador para bebê.
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