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Não me encaixo

Quando a noite chegou, carregada de inseguranças já nem sabia se iria adiante com o plano de malhação. E foi o que disse para Simon quando jantaram juntos e ele fez perguntas sobre isso.

— Não sei se é uma boa ideia — disse remexendo os restos de comida em seu prato. — Você mesmo disse que estou bem assim.

Sentando ao seu lado, Simon estreitou os olhos.

— Alguém te importunou? Fale-me quem e tomarei providências.

— Não, nem passei da recepção...

— E o que te fez mudar de opinião?

— Nada...

Simon respirou fundo.

— Eu sei que mente. — Estendeu a mão para segurar a dela, fazendo carinho com o polegar ao orientar: — Falar o que te incomoda faz parte da confiança trocada.

— Tenho medo das comparações... dos olhares das outras mulheres...

Desprendeu sua mão, para esfregar o braço, incomodada e envergonhada com sua debilidade.

— Está com medo das mulheres? — A confusão tomou a face e a voz do Salvatore.

— Não vi nenhuma acima do peso como eu — comentou de cabeça baixa, a franja ocultando seus olhos. — Todas são magras... algumas são até musculosas... e... Não me encaixo ali...

— Comparações tolas não levam a lugar algum.

— Para você é fácil já que tem um corpo perfeito.

Corou com sua ousadia, vendo com surpresa que seu desabafo não incomodou Simon.

— Repito, não tem nada errado com seu corpo. O único motivo para você se ver assim e essa estupidez de se comparar a Cherry — comentou irritado, oferecendo em seguida: — Se preferir, irei com você amanhã cedo.

— Não quero incomodar.

— E não vai. É só acordar no meu horário.

— Minha carteirinha só fica pronta amanhã.

— Nos pegamos e te indico um instrutor de confiança.

O olhando agradecida, Paulina se perguntou rapidamente se poderia abraça-lo. Simon lhe dissera que devia ser espontânea e agir como sua amante. Um abraço era o esperado.

— Obrigada. — Inclinou-se para abraça-lo rapidamente. — Você está sendo um grande amigo.

— Não sou seu amigo, sou seu amante, lembra? — dizendo isso segurou seu queixo e se inclinou para beija-la, provocando, seduzindo. Presa a sensualidade dos lábios de Simon, Paulina correspondia desinibida. Suspirou extasiada quando os beijos deslizaram na lateral de seu rosto até alcançar sua orelha para sussurrar com voz sedutora: — Desejo possuir seu corpo sobre essa mesa. Banquetear-me dele, mordiscar cada centímetro. Fazê-la perceber o quanto ele é perfeito contra o meu, em sincronia com o meu.

Ele ergueu o rosto, fazendo Paulina estremecer com seu olhar incendiário e sorriso malévolo. Zonza e corada com as imagens formadas em sua mente diante das palavras do Salvatore, Paulina levantou, juntando com mãos trêmulas os pratos vazios. Simon a imitou, recolhendo a louça do jantar.

— Deixe, eu faço — pediu colocando a mão sobre a dele a fim de para-lo.

— Com a minha ajuda será mais rápido — disse, continuando o ajuda-la. — Precisamos começar logo as aulas.

Desviando o rosto afogueado, Paulina concordou. Ficaram em silêncio por um tempo, levando a louça para a cozinha e colocando-a na lava-louça. Simon ligou o aparelho assim que o último prato foi levado. Colocando um avental, Paulina voltou para limpar a mesa da sala de jantar.

— Comprou algo interessante? — Simon perguntou encostado no batente. — Além dessa roupa?

Olhando-o rapidamente, e levando em consideração o olhar dele quando chegou, Paulina sabia que a nova roupa não o impressionara. Queria que tivesse, não porque a opinião dele importasse para algo - afinal ele deixara claro não se importar com vestimentas e sim com a falta delas -, mas porque esse era um item que - em sua opinião e na de Mirela - fazia a diferença em uma mulher.

— Sim... Quer ver?

Ele deu de ombros.

— Porque não?

Terminou o que fazia, guardou o avental e com Simon seguindo-a foi para seu quarto. Estava nervosa, não por mostrar suas novas roupas, mas pela presença de Simon e a eminente aula daquela noite. Teria mais beijos? Ele faria algo como sugerira há pouco? Nunca imaginara mordidas atraentes, mas algo na voz dele tornara a ideia tentadora. Sua pele estava arrepiada, como acontecia na infância ao aproximava o braço da tevê, seu coração batia acelerado e suas mãos suavam de tal modo que mais de uma vez a esfregou na roupa disfarçadamente.

Ansiando e temendo o que viria, mostrou as roupas acomodadas no guarda roupa e os novos sapatos, enquanto falava do acordo feito com Mirela e o tempo gasto no salão de beleza.

— Minha mãe gosta muito de você — ele comentou observando as roupas enfileiradas. De repente se virou para ela, levando uma mão até o rosto delicado, acariciando com o polegar seu queixo, os olhos fixos em seus lábios enquanto se inclinava.

— Também ganhei um presente da filha da dona da loja — lembrou afastando-se do toque e do corpo de Simon, necessitando fugir para não entrar em colapso. — Nem vi o que era na hora, mas ela disse que é pra usar sozinha ou acompanhada. — Pegou a caixa prateada em cima da cômoda, abriu e retirou seu conteúdo, um patinho cor-de-rosa com plumas em volta do pescoço e um cristal no bico. — Que fofo!

Simon o pegou e examinou por um segundo antes de, para surpresa de Paulina, rir.

— Você é inocente demais.

Paulina o encarou espantada.

— O que fiz?

— Isso é um vibrador.

Paulina abriu a boca, depois a fechou, olhando o objeto inocente e bonitinho na mão de Simon.

— Mas... como... Quer dizer, não parece... — Corou. — Porque ela me daria um... um...

— Vibrador? Talvez ela queira te animar. — Devolveu o objeto.

— Não quero isso. — Tentou devolver, mas Simon apertou o objeto em suas mãos.

— Como sabe se não experimentou?

— Não vou experimentar nada. — Empurrou para Simon, precisando se desfazer daquilo, mas Simon se negou a pegar, mantendo o objeto nas mãos de Paulina.

— Deveria, faz parte do quatro — informou, o que fez Paulina apertar a peça com força. — Podemos trabalhar nisso essa noite. — Ela arregalou os olhos, a boca escancarada se mexeu, abrindo e fechando, mas nenhum som saia para recusar a proposta. — Não vou tirar sua virgindade se é o que te assusta. Já se tocou?

— To-to-tocar...?!

— É, dar prazer a você mesma.

— Isso é... pecado e nojento...

Simon encostou-se a cômoda, os braços cruzados em frente ao corpo e os olhos fixos nos de Paulina.

— Faço isso desde a adolescência, nunca considerei pecado ou nojento. — Ele a observou corar e desviar os olhos para os pés.

— É diferente, você é... — Apertou os lábios.

— Sou? — Diante do silêncio, Simon se afastou em direção a porta. — Tomarei um banho, quer vir junto?

— Não... — murmurou sem erguer o rosto.

— Nos vemos no meu quarto. Espero que tenha comprado uma camisola melhor que a de ontem — disse, acrescentando para pavor de Paulina: — Não que vá precisar de uma.

Sozinha, Paulina apertou as mãos com nervosismo. O que ele queria dizer com não precisar?

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