Nunca o ditado "o amor não enche barriga" fizera tanto sentido pra Liz como naquele momento.

A euforia de ir embora pra casa com Sunghoon até distraiu a sua mente da fome. Enquanto estava com ele, nada mais parecia importar ao seu redor.

Contudo, aos colocar os pés na entrada de sua casa, a euforia passava e Liz sentia dores no estômago.

Como tinha chegado antes de seus pais, Liz resolveu beliscar nos armários, o de encontrou sachês de chá de camomila.

A garota tomou uma xícara de chá com algumas porções de frutas, e passou o resto do dia apenas à base de água.

O líquido lhe dava a sensação de saciedade do estômago, mas Liz passou a acordar no meio da noite com a boca seca.

Ao ver seu reflexo pela manhã, reparou que suas olheiras estavam mais fortes. Para amenizar a palidez, Liz investiu em uma boa camada de maquiagem. Colocou até um pouco de blush em suas bochechas (agora menos) rechuchudas.

Naquela manhã, a Kim não conseguiu escapar de seus pais. Com muita insistência da mae Liz comeu um pouco de arroz com gergelim.

— Só isso, filha?

— só... — Respondeu ao pai. — comi bastante ontem.

— Que horas? Porque você não desceu pra jantar...

— Antes de vocês chegarem. Eu esquentei o arroz e comi com algumas frutas.

— cruzes, tem cara de ser pavoroso.

— Ouvi dizer que tem lugares que misturam sushi com arroz. Não é tão estranho...

— É, tem coisa pior... como misturar molho de ostra com chocolate.

Liz fez uma careta.

— pra que falar essas coisas? — Censurou a Kim mais velha. — Agora ela tá aí, com cara de náusea...

— Desculpa, querida. — o homem se desculpou. — quer uma carona?

Liz até pensou em falar que aquela careta não era culpa dele, mas sim da sua dor de estômago, mas se falasse o real motivo, tinha certeza que eles ficariam bravos.

— sim, com certeza!

Liz não poderia ter se sentido mais grata com aquela carona. Sentia que as pernas bambearam um pouco quando caminhava e caso fosse a pé, com certeza chegaria atrasada.

Apesar das dificuldades, Liz deu um beijo de despedida em seu pai e foi em direção à sala.

Liz costumava odiar aquele lugar, mas pelo menos na sala de aula a sua mãe à vontade e canseira era camuflada entre vários outros jovens que também tinham seus impedimentos pra dormir, por motivos de doença ou o simples fato de virar a madrugada jogando.

Liz não tardou a avisar Rei, e como tinha tempo antes do sinal tocar, decidiu ir até a carteira dela contar sobre os avanços do dia anterior.

Contudo, foi parada por uma mão calorosa em seu ombro

— Oi, Liz, tudo bem?

— Wonyong! — A loira não escondeu a cara de surpresa com a abordagem. — Tudo sim, por que?

— É que o Sunghoon me falou ontem que você não tava muito bem. Fiquei preocupada.

Liz olhou em direção da sua amiga Rei e viu que a garota olhava muito atenta aquela conversa.

"Maldita Wonyoung, criando ceninha só pra me sujar com a rei".

— hm, tá tudo bem sim.

— Que bom. Qualquer coisa me chama.

Enquanto Wonyoung voltava graciosamente ao seu lugar na primeira fila, Liz sentiu o olhar pesado da amiga em suas costas.

A loira deu alguns passos até a carteira de rei, e sentiu no lugar vazio, sem conseguir encará-la de imediato.

— Posso saber o que foi isso?

— Foi uma coincidência, juro. Não pretendia encontrar o Sung hoon.

— Ai, conta outra.

— É sério! Rei, por favor... não cai no jogo dela de querer que você brigue comigo

— Que jogo? Só vi ela preocupada com você de verdade, assim como eu

— Quanto a sua preocupação, eu agradeço. Já a da wonyoung é tudo fingimento.

— Por que?

— porque ela não sabe cuidar nem dela , oras. Fica se pagando de coitada pra ter assunto com o sunghoon

— Não vejo diferença entre ela e você.

— Pelo menos eu não fico falando pra ele ajudar ela a tomar os remédios

— Olha Liz... Acho bom você parar de inventar tanta mentira, ou parar de ler fics muito fantasiosas...

— É verdade, juro!

— sei...

— Ao final da aula eu vou investigar.

Para o azar de rei e sorte de Liz, o sinal tocou antes que a japonesa pudesse lhe dar uma bronca.

[...]

O fato de Wonyong ser da mesma classe que Liz facilitava muito a investigação.

É claro que Rei não queria que sua amiga continuasse com aquela ideia (ao seu ver, ridícula), e.com certeza a impediria no final da aula.

Contudo, Liz foi mais esperta e voluntariou-se para ajudar o professor no final da aula.

Como Wonyong era representante de turma, era uma das últimas a sair e também cumpria o papel de ajudar diariamente os professores.

— Certo, Kim... leva os trabalhos feito em sala pra minha pasta? — o professor de história assentiu.

— Claro...

— Estou dispensada mais cedo hoje? — Wonyoung sorriu

Liz ficou surpresa com aquela reação, esperava que a representante achasse ruim em estar sendo substituída. Mas era possível ver o alívio nos olhos e no tom sincero adotado por Jang Wonyoung em não ter que ficar até tarde.

Era como se um peso saísse de seus ombros. Mas quem em sã consciência pegaria pra ser representante de classe, que era algo voluntário, de forma quase obrigatória?

— Hm, não. — o homem falou. — Gostaria que você a acompanhasse e ajudasse a aguardar os cadernos...

— Ah, mas em duas ao menos vai mais rápido. — Wonyoung sorriu.

Liz ficou sem jeito ao vê-la daquele jeito. Parecia uma estudante comum, sem ter a aura de popular sob suas costas. Era como se ela fosse uma garota que quisesse fazer amizades, e tinha um charme especial.

Liz ficou atormentada com aquelas descobertas até o final da aula. Talvez estivesse julgado mal a Jang?

Talvez até mesmo estivesse arrependida de xingá-la, mesmo que só um pouquinho.

— Liz, você vem? — A voz da própria wonyoung a despertou daquela vez.

— ah, claro...

— Guarde o material depois. — sugeriu.

Liz ditou a classe de aula quase vazia, e olhou em direção onde sua amiga Rei sempre sentava. A japonesa já tinha ido, e nem ao menos tinha se despedido.

"Talvez estivesse puta, e com razão".

Apesar de estar um pouco chateada com suas constatações, Liz seguiu Wonyoung até a sala dos professores.

Wonyoung levava o envelope com os trabalhos dados em sala e estendeu-os na mesa.

— Bom, você pode ir separando as folhas? Logo eu volto, só vou pegar meu remédio...

"Então é verdade". Liz pensou enquanto acenava para a morena.

Ao contrário de Liz, a Jang já estava com sua mochila. E tirou da bolsa uma pequena caixa.

A morena deixou a caixa na mesa enquanto foi pegar um copo descartável do bebedouro para tomar o comprimido.

Liz discretamente leu o rótulo e guardou o nome para pesquisar sobre o remédio assim que chegasse em casa.