Capítulo 5
Maio de 2015
Havia chegado em casa exausta. Sentia um peso em minhas costas e até alonguei o pescoço fazendo uma careta quando o sentia estralar. Apertei-o com as mãos como se fosse fazer uma massagem.
Fiz o que fazia de costume, lavei meu rosto para remover a maquiagem, e preparei-me para um bom banho quente. Vesti-me e fui a minha cama onde Richard já se encontrava. Deitei-me ao seu lado dando-lhe um beijo apaixonado. Ele lançou seus braços em minha cintura e dormimos abraçados. Na verdade quem dormiu foi ele. Por mais que fechasse meus olhos o sono não vinha o que era estranho já que eu definitivamente estava cansada.
Quando eu finalmente consegui dormir, não durou nem dez minutos. Era terrível estar cansada e não conseguir relaxar. Parecia que involuntariamente eu estava correndo horas a fio. Richard tinha a respiração intensa, significando que dormia profundamente. Desvencilhei-me de seus braços e levantei. Lavei o rosto novamente e desci em direção a cozinha para beber um copo d'água.
Meu corpo implorava por cama. Meus olhos ardiam e insistiam em fechar e eu achei que dessa vez eu conseguiria, mas não. Durante toda a noite eu tive apenas cochilos. Dormir e acordar fez parte daquela madrugada, e quando o sol decidiu invadir meu quarto, eu não precisei sequer abrir os olhos.
Richard acordou, espreguiçou e veio até mim me dar um beijo no rosto como de costume. Deu o seu melhor sorriso que fazia meu coração saltar. Deslizou suas mãos em minhas bochechas dizendo docemente:
– Bom dia, meu amor. Dormiu bem?
– Bom dia, querido. Infelizmente não. Dei apenas cochilos durante a madrugada, virei-me várias vezes tentando achar alguma posição que fosse mais confortável, mas nada.
– Deve ter ficado ansiosa por conta da apresentação de hoje. Não se preocupe, tire o dia para tentar descansar. – sorriu e me deu outro beijo levantando-se para um banho.
Aproveitei e tentei espreguiçar-me, mas desisti logo que estiquei os braços. Senti uma dor terrível, e descartei a possibilidade de ter dado mau jeito já que praticamente não havia dormido.
Fiz uma careta e apenas esfreguei o rosto indo fazer minhas higienes. Richard estava praticamente pronto. Descemos juntos para a cozinha tomarmos nosso café que Dona Zilma havia nos preparado.
Richard e eu nos sentávamos de frente um para o outro. Ele conversava em alguns momentos sobre os assuntos do escritório totalmente animado.
– Querida, se tudo der certo, conseguiremos uma ação milionária e com isso, podemos escolher nossa casa em Viena, o que me diz? – pergunta pegando um pouco de café.
– Acho ótimo e quando isso?
– O mais rápido possível, eu espero. Temos ações de três anos que, ao que tudo indica, teremos resposta este ano.
– Isso é incrível. Meus parabéns. – sorri animada enquanto pegava uma xícara.
Tentei esticá-la para poder pegar um pouco de café, mas me contive na metade do caminho. A dor foi intensa e eu não pude evitar demonstrar desconforto.
– Richard, querido, poderia preparar o café para mim? Acordei com mau jeito, ou talvez eu tenha exagerado um pouco no violino na noite anterior.
– Claro. – Richard era muito companheiro. Ajudava quando fosse necessário e era carinhoso boa parte do tempo.
Ele entregou a xícara para mim, e eu a peguei com certa dificuldade que tentei não transparecer. Empenhei-me a bebericar um pouco do café, porém, assim que levei a porcelana à boca, por pouco não derrubei o líquido sobre a mesa. Minhas mãos tremiam descompassadamente sem que eu tivesse controle sobre elas. Não queria assustar Richard, então apenas disfarcei dando um sorriso.
– Não vai tomar seu café, amor?
– Ah claro! – minha expressão mudou. Estava com medo de tremer novamente então tentei pegar a xícara com a outra mão, o que pareceu dar certo num primeiro instante. Pelo menos o suficiente para que Richard não fizesse mais perguntas.
– Tenho que ir. Mais tarde nos vemos. – levantou-se limpando a boca e me dando um beijo na testa.
– Não se esqueça de ligar avisando que chegou, por favor. – lembrei-o. – Ah! Querido, espere! Levantei-me próxima a ele e ajeitei o nó que estava em sua gravata.
Respirei fundo assim que ele saiu pela porta. Sentei-me novamente com um turbilhão de pensamentos. Por um instante, deixei meus dois braços suspensos. O direito ainda tremia freneticamente. Segurei-o por um momentoe tentei conter uma leve aflição.
– Zilma! – chamei pela empregada.
– O que deseja senhora?
– Sabe se temos analgésicos, anti-inflamatórios, algo relacionado à dor? Dormi de mau jeito essa noite.
– Vou averiguar senhora.
Enquanto a esperava, tentei novamente beber um pouco do café. Sem sucesso, desisti irritada. A empregada chegou com uma bandeja contendo um copo d'água e um comprimido. Agradeci e subi ao meu quarto esperando o horário de eu ir ao ensaio.
Levantei-me e fui tomar um banho relaxante. Sentia-me mais disposta e animada, isso me fez ter a certeza de que estava ansiosa e que era apenas um mal estar passageiro.
Sempre colocava uma música enquanto me arrumava. Como eu ficava sozinha, ela era minha companhia e eu me sentia acalorada. Naquele dia eu escutei "As quatro estações" de Vivaldi. Era uma música mais animada, claro, música clássica sempre segue aquela calmaria, mas ainda assim, era mais divertida.
Até ria quando me dava conta de que dançava em algumas partes. Movimentos leves sem qualquer tipo de rebolado, apenas o movimento com as mãos e a cintura. Sentia-me um pouco louca, mas estava feliz. Essa música me lembrava a cenas de filmes infantis e eu não sei por qual motivo, até ria em alguns momentos.
Cheguei ao ensaio meia hora antes do que o correto. Gostava de chegar cedo aos lugares, principalmente quando envolvia responsabilidades. Eu ficava ali passando algumas músicas até que meus colegas fossem chegando. Estava tranquilo, os movimentos, a música, tudo confortavelmente bem. Em alguns momentos eu ousava em criar minhas próprias músicas, mas eu nunca as achava boa o suficiente para mostrá-las a alguém.
As pessoas iam chegando e tomando seus assentos. Eu sorria a todas elas que correspondiam da mesma forma calorosa. Escolhíamos uma música e passávamos ela até o final, sempre recomeçando em caso de erros. Tínhamos apresentações constantes, e planejávamos para o próximo espetáculo, uma música original.
– Acho que podemos intercalar os solos, o que acham? – um dos rapazes deu a ideia.
– E como seria isso? – perguntaram.
– Começamos dando início a trinta segundos de cada instrumento, enquanto um começa a tocar, o outro cessa no mesmo instante. Depois que todos o completarem, o primeiro que deu início, toca mais alguns segundos, em seguida, entra o outro, mas dessa vez sem interrupção, entenderam?
– Podemos tentar, acho que ficará interessante. – Luana palpitou.
– Alguma ideia de por qual podemos começar?
– Acredito que poderíamos começar com o violino e finalizar com o piano. – pronunciei-me.
– E se começarmos com o piano, finalizando com o violino. O piano tem um toque mais suave e mais tranquilo, o violino parte dessa mesma ideia, porém possui um toque mais intenso, mais musical. – uma menina decidiu se manifestar.
– Gostei dessa ideia.
Todos acabaram concordando, menos eu. Odiava finalizar e sempre preferia começar ou então ficar no meio. Raro eram os momentos eu que eu tocava no fim, a não ser pela proposta da canção.
– Eu ainda prefiro da forma como eu disse. Acho que ficaria mais bonito.
– Bem, a maioria pensa o contrário, tentaremos desse jeito, se não der certo, vamos para sua ideia, está bem?
Dei de ombros, pois de nada adiantaria contestar. Se não fosse minha paixão por tudo aquilo eu já teria desistido. Incomodava-me com muitas coisas que lá acontecia, discordávamos várias vezes.
A música começou. Ficamos seis meses tentando criar uma melodia, pensando se seria uma canção agitada ou mais calma. Se seria mais contida ou mais tranquila. Decidimos que ela seria um meio termo entre os estilos. Confesso que eu não gostava muito dessa linha, pelo contrário, gostava de seguir certo padrão.
Todos se posicionaram para darem início à música. Eles eram ótimos e eu tinha que admitir. Luana deu início às primeiras notas. Em seguida foram os instrumentos mais graves e por fim, havia chegado a minha vez.
Tranquilamente eu posicionei o arco sobre as cordas do violino e dei início. Comecei de forma mais calma, suave. Depois de um tempo, decidi aumentar a intensidade. Os movimentos de vai e vem e toda aquela fricção a princípio, tornou-se uma música incrível, porém, em seguida, comecei a fraquejar e meus braços tremiam sem que eu tivesse controle sobre eles. A dor foi latejante e quase não consegui conter um grunhido. Pela repetição dos movimentos, o arco não se conteve por si só e acabou escapando de minhas mãos, o que provocou um barulho arrepiante.
Isso arrancou algumas caretas das pessoas, além dos olhares preocupados e assustados que elas dirigiam a mim. Queriam respostas para tudo aquilo, assim como eu.
– Desculpem. Acordei de mau jeito, tomei um remédio e achei que melhoraria, mas acho que não. – minha voz saiu decepcionada.
– Tudo bem. Só que não podemos continuar com você assim. Teremos que cancelar. Marcaremos para segunda feira, pode ser?
Eles titubearam. Incomodaram-se um pouco e alguns até me olharam um pouco bravo. Pedro, o rapaz que estava coordenando pediu para que eu cuidasse logo do meu braço para que pudéssemos ensaiar na próxima semana. Eu apenas assenti enquanto fazia um grande esforço para guardar o violino na bolsa.
Percebendo o meu estado, Luana se aproximou a fim de me ajudar.
– O que houve?
– Eu não sei. Acho que ando tensa demais com os assuntos do casamento. Isso porque ainda faltam oito meses. Até lá eu estarei internada com crises de nervoso – rimos.
– Larga de ser exagerada. Pode ser estresse sim, você precisa descansar mais. Relaxar. Você é muito preocupada com as coisas. Alias, se preocupa por antecipação.
– É, você tem razão. Essa noite eu nem consegui dormir direito, e olha que eu estava exausta.
– Está vendo. Acho que precisa sair um pouco. Faz um bom tempo que não vamos a uma festa, o que me diz?
Torci o nariz. Quando Luana dizia festas, ela queria dizer aquelas repletas de músicas eletrônicas com luzes piscando constantemente. Tudo era demais para mim.
– Já sei, a Clarissa certinha é muito careta para essas coisas. – revirou os olhos e riu enquanto me ajudava a fechar o zíper da bolsa.
– Ainda bem que você sabe – ri. – Luana, sábado que vem iremos a Veneza para cuidar dos preparativos do casamento. Iremos degustar os pratos e a mãe de Richard quer a qualquer custo já escolher os vestidos.
– Já?
– Sim, ela está super empolgada com o casamento. Aliás, Richard é seu único filho e pra falar a verdade, acho que ela só me aceitou como nora porque eu concordei em morar lá.
– Bem, eu não tinha planejado nada para sábado, então conseguirei ir, aliás, você é minha melhor amiga e eu não posso abandoná-la nesse momento.
– Certo, e você terá que me ajudar a convencer a maluquinha da minha irmã a não escolher paetês ao invés de rendas ou sedas.
– Certo, e como pretende fazer isso? – ela apoia o teclado para fechar a bolsa.
– Bem, minha irmã está envolvida com um francês, posso usá-lo ao meu favor.
– Sua irmã com um francês? – Luana questionou – Sabe se ele tem irmãos? – riu colocando sua bolsa no ombro.
– A única coisa que sabemos é que ele se chama Philip e trabalha com perfumes. Apenas isso.
– Perfumes? Interessante. Adoro homens cheirosos – soltou uma leve gargalhada e fomos juntas a saída.
– Ah Lu! Espere! A alça da sua blusa está torta.
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Olá borboletas! Como estão?
Hoje teremos dois capítulos: Obaaaa!!! ( Agradeçam a Diane que me convenceu).
Espero que gostem. Beijinhos
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