Capítulo 42
"Querida borboleta, nesses dois meses que se passaram desde o nosso infortúnio, estou sem receber notícias suas. Sei que pediu para que eu me afastasse de você e bem, quem sou eu para desobedecer uma ordem vinda de vossa alteza. (risos). Sei que você nesse momento deve estar revirando os olhos, ou simplesmente com raiva de mim querendo me dar uma boa resposta, mas, era mais fácil te provocar pessoalmente, eu era mais forte com você.
Enfim, só quero que você se lembre da chuva e não se esqueça de dar um fugidinha do seu quarto para poder senti-la tocar a sua pele doce e macia.
Espero que as borboletas, na primavera que vem chegando, possa fazê-la sorrir. E bem, se o tédio bater, tem alguns cd's antigos na segunda gaveta ao lado da televisão. Você gosta de música clássica, estou certo?
Ainda tem alguns livros daquela vez que trouxe uns pra você, aproveite-os. Talvez você possa pedir para alguma enfermeira ler alguns capítulos pra você, porém, não seja preguiçosa, boborleta, faça o favor de ler tudo sozinha.
Sei que não quer saber da minha vida, mas eu consegui um trabalho em uma clínica psiquiatra em Lapa. É uma viagem todos os dias, ida e volta. Mas vale a pena.
Bem, não quero entrar em detalhes da minha vida. Só quero te fazer lembrar que é a pessoa mais forte que eu conheço e que, um dia, espero esbarrar nesses lindos olhos novamente.
O pior psiquiatra do mundo".
Miguel me escrevia cartas quase todos os dias. Ele não tentava se desculpar e nem tocar muito no assunto daquela noite. Eu o agradecia internamente por isso.
Tudo parecia ter regredido. Voltado para a estaca zero, porém, eu não era a mesma Clarissa. Algo dentro de mim estava diferente e não era só por tudo o que eu havia feito nesses últimos meses. Eu apenas não queria estar mais no controle de tudo, e nem titubear quando um psiquiatra tentava me ajudar. Apenas obedecia, sem muita força de vontade ou crente que todas as suas orientações iriam funcionar. Aliás, nenhum deles era Miguel, o pior e melhor psiquiatra do mundo. A pessoa que eu mais queria longe de mim, era a que eu mais queria perto e, apesar de contraditório, para mim, tudo fazia sentido.
Duas batidas na porta ecoaram no quarto. Era a enfermeira.
- Você tem visita.
- Quem?
A efermeira se afasta e o rosto de Melissa surge a porta.
Durante dois meses internada na clínica, a última pessoa que eu esperaria ver, era Melissa.
Seu rosto estava numa mistura de frieza e pena. Dois olhares que me repudiavam com todas as forças, mas, naquele momento, eu só queria saber o motivo pelo qual ela estaria ali.
Ela entra no quarto e se aproxima ao meu lado. Eu estava sentada no sofá lendo a carta de Miguel.
- Você quer sentar? - ofereço, já que ela apenas me encara, ainda com um olhar esquisito.
Melissa faz um gesto com a cabeça concordando e senta-se na poltrona, apertando firme sua bolsa tira colo.
- Eu confesso que estou surpresa com a sua visita. - digo tentando quebrar o silêncio que se fez entre a gente.
- Eu precisava desabafar. - ela finalmente responde
- Aconteceu alguma coisa?
- Eu pensei que você fosse diferente, sabia? Achei que você seria a pessoa certa. - ela joga tais palavras em mim tentando segurar as lágrimas que se acumularam em seus olhos.
- Desculpa eu... - estava surpresa com suas palavras, não entendia em que ponto ela queria chegar. - A pessoa certa pra quê?
- Pra fazer meu irmão feliz.
Me assusto com suas palavras e um nó na minha garganta de forma. Ela estava desapontada comigo, e agora eu percebia.
- Clarissa, meu irmão te ama. Depois de tantos anos, eu nunca vi o Miguel tão entusiasmado, tão feliz, com um brilho nos olhos de quando ele te conheceu. Porque você não entende? Miguel fez tudo o que fez porque te ama. Ele largou o hospital pra poder ficar com você, ele usou o pouco dinheiro de suas economias para ajudar com as despesas de casa e cuidar de mim, até achar um outro trabalho. O seu dinheiro, ou o dinheiro dos seus pais, foi usado apenas para cuidar de você, e se não fosse pelo meu irmão, você nunca teria saído daqui.
Engulo seco enquanto Melissa se deixa levar pela raiva e solta as lágrimas que escorrem freneticamente em seu rosto.
Suas palavras eram frias, e me atingiram numa dor aguda e forte.
- Eu não queria dizer isso, me desculpa - ela pede.
rdo meu lábio inferior deixando alguns soluços escaparem. Me doía saber que Miguel estava triste e que parte de seu sofrimento era por minha causa.
- Sabe - comecei a falar quando conseguir conter o choro - Miguel uma vez me disse, que a nossa força, a nossa felicidade nunca deve depender do outro, pois, a partir do momento que o outro não existir, ou não estiver, você cai. Eu amo seu irmão Melissa, com todas as minhas forças, e, por mais que eu estivesse chateada por como as coisas aconteceram, eu já o perdoei.
- O que? - ela pergunta entre um soluço. - Então por que você...
- Porque eu coloquei minha felicidade nas mãos de Miguel. Eu sou insegura demais pra todas as vezes que uma mulher mais bonita que eu, ou sem nenhuma doença se aproximar de seu irmão, ele vai me largar mesmo eu confiando nele. Porque eu sou insegura demais e o amo demais para acreditar todos os dias que ele merece alguém melhor do que eu. Eu quero fazer as coisas para agradá-lo, o tempo todo, por mais que eu resmungue as vezes por não querer fazer uma coisa ou outra, eu faço, porque eu quero agradá-lo. E se Deus me livre eu não tiver mais Miguel, eu vou voltar a Clarissa que eu sempre fui e então, qual seria o sentido da vida?Nem me deixam controlar quando será minha hora.
-Clarissa, meu irmão ama você do jeito que você é.
- Eu sei. Mas eu preciso acreditar em mim. Eu preciso acreditar no meu potencial. Eu preciso acreditar que se um dia ele me deixar, não foi por minha culpa ou pela minha doença. Eu preciso ser egoísta o suficiente para que saber que dou conta de fazer as coisas sozinha. de ser autossuficiente. Fazer alguma coisa pra mim e não pra agradar os outros, temendo a todo momento ser rejeitada pela minha doença. Eu preciso ser feliz sozinha para que alguém possa não me fazer feliz, mas me transbordar. Eu preciso aprender a viver sozinha e a ser feliz sozinha, para poder ser feliz com alguém, você me entende?
Ela não responde. Suspira algumas vezes procurando alguma coisa pra dizer, mas não consegue. Um grande silêncio se instala sobre nós.
- Eu não te odeio Clarissa, se é o que está pensando. - ela finalmente corta o silencio
- Eu sei que não, você só está preocupada com seu irmão, e é totalmente compreensivo. - responde apertando suas mãos com compaixão. - Sabe, eu tenho rezado muito. Peço para que Deus me dê uma luz e possa me guiar nesse meu objetivo. Eu mereço ser feliz Melissa, e Miguel também, seja juntos ou... separados. Eu ainda só não sei com fazer isso sozinha, mas eu consigo. De certo modo eu já não sou mais a mesma Clarissa de antes, eu sinto isso, não consigo ver, mas sinto. Disseram que se eu continuar como estou, em breve eles me darão alta. Não sei se fico feliz ou desesperada. - sorrio.
- Está com medo? - ela pergunta
- Um pouco. Minha família não me compreende tão bem. Dafne e minha mãe até se esforçam e melhoraram muito, mas, meu pai, ele não enxerga que eu não sou perfeita. Ele sempre me colocou num pedestal, sempre a filha perfeita. Um pouco é culpa minha - suspiro - nunca hesitei nenhuma de suas ordens e sempre fiz tudo como o protocolo pedia.
- E por que não sai de casa?
- Bem, eu tinha um plano para minha vida que foi interrompido por conta da fibromialgia. Casar com um homem bonito, bem sucedido, morar fora do país, ser uma artista famosa, enfim, nada saiu como planejado. Meu noivo me abandonou faltando um dia para o casamento, as dores me proibiram de tocar e meu lar virou esse quarto com cheiro de naftalina e analgésicos. - faço uma careta.
- Você ainda pode ter futuro brilhante Clarissa, só depende e você. - ela ri - Isso é mais fácil falar que fazer e você deve ouvir isso sempre, desculpa.
- Não se preocupa, essa é a maior verdade de todos os tempos. Só depende mesmo de mim, o foda é por isso em prática. Ops! - tapo a boca assustada - me desculpa pelo palavrão.
- Qual é Clarissa, eu não sou uma criança - ela ri.
- Obrigada!
- Pelo que? Por vir te dar um sermão e te dizer coisas ruins se antes ouvir o seu lado?
Sorrio a ela
- A verdade pode ser dura, mas é libertadora. Conversar com você me distraiu um pouco do tédio da clínica.
- Que bom que pude te ajudar de alguma forma. E desculpa pela forma como eu agi.
- Ta tudo bem Mel, não se preocupe.
- Clarissa, promete que, quando atingir seu objetivo não vai se esquecer da gente?
- Eu jamais me esqueceria de vocês. Você e Miguel são extremamente importantes na minha vida. Eu só preciso de um tempo para conseguir me encontrar.
- Certo, tudo bem! Mas eu vou cobrar.
Retribuo Melissa com um sorriso. Conversar com ela me fez ter mais certeza das minhas atitudes e, acredito eu, que pensar dessa forma seria o primeiro passo para as coisas começarem a seguir.
...
Minha maior dificuldade em vive numa clínica era o tédio. Não dava para conviver com as pessoas a minha volta, ter um diálogo decente, trocar uma ideia. eu não sabia lidar nem com os meu problemas direito quem dirá com os dos outros. Sendo assim, novamente estava eu olhando e contemplando as borboletas. Elas faziam uma dança grandiosa em volta das flores. Um ensaio perfeito. As roxas eram as minha preferidas. Sua cor enaltecia todas as outras. Se destacava diante de todo aquele jardim.
O dia estava tão incrivelmente bonito que eu senti vontade de caminhar. Conversar com Melissa no dia anterior, me trouxe por algum motivo, certa agitação. Como se eu precisasse agir, tomar alguma atitude, porém eu não sabia por onde começar, como começar, e isso novamente trazia a tona inseguranças, medos e raiva por ser tão covarde. Então, dar uma volta no jardim da clínica me faria bem, talvez.
Pedi ajuda um enfermeira para que me levasse até o jardim. Não que eu achasse que precisava de uma supervisora, mas queria deixar claro que minhas intenções não era fugir ou me matar. Eu só queria sentir o ar puro e ver as borboletas de perto. Me divertir com toda a sua graça e beleza.
Haviam muitos pacientes ali. Eles se entendiam entre si e, bem, eu era quase uma estranha naquele lugar, mas eu não me importava.
Enquanto caminhava, olhei o banco a baixo de uma árvore em que havia uma pessoa sentada. Ela me parecia familiar, e me esforçava ao máximo para que minha memória não falhasse e eu pudesse me lembrar de quem era aquele rosto. Seria bom ter um rosto conhecido como companhia.
Então, como se eu tivesse levado um soco no estômago e um belo de um tapa na cara, eu reconheci a mulher sentada ao banco. Era Carolina, com uma camisola branca e o rosto extremamente abatido, como se estivesse exausta, porém, sem poder dormir. Eu sabia a dor dela mais do que ninguém, e ela sabia a minha. Mas a mulher polvo, a minha admiradora, minha inspiração, se até ela estava ali, deprimida e derrotada, o que eu poderia esperar da minha vida?
- Carolina!? - a chamo em um tom de pergunta como se quisesse realmente confirmar o que meus olhos viam. Ela me olha com um olhar abatido, e o olhos meio cerrados, como se também estivesse tentando se lembrar de mim.
- Clarissa! - ela esbanja um largo sorriso pra mim e me convida pra sentar
- Eu não esperava encontrá-la aqui. - digo sentando-me ao seu lado. - Eu estou realmente chocada.
- Por que o espanto? Eu sou um ser humano - responde ela com graça na voz.
- Eu conheci você, tão cheia de luz, tão forte e tão corajosa. Sem medo de nada. Sabe, eu senti inveja de você quando eu te conheci. Determinada, com uma grande família, vivendo a sua vida. Não lamentando por ela como eu sempre faço.
Ela dá uma gargalhada.
- Até os heróis tem armadura pra se esconder. Até eles cansam Clarissa.
- Não parece que é assim.
- Sabe, quando eu descobri a doença eu também fiquei desesperada. Fiquei em choque, tomei vários remédios, passei por vários tratamentos, recebi muitos julgamentos. Não é fácil "carregar consigo uma ferida que não deixa marcas no corpo, mas que deixa cicatrizes na alma, é uma penitência muito árdua para ser suportada". Você sente um vazio, uma angustia. Mas, todas as vezes que eu olhava o sorriso do meu filho, eu pensava, eu preciso ser forte. Eu quero que ele me veja como uma mulher forte. "Foi entre fracassos e vitórias, entre lágrimas de dor e sorrisos de superação, que lutei pela vida e fiz da doença um novo caminho a ser trilhado". Mas não dá pra ser forte o tempo todo. Somos humanos, e como um bom humano, cometemos erros e acertos. Passamos por momentos de dor e felicidade, e são nos momentos de dor que nos tornamos mais fortes.
- Bem, acho que a ideia de você ter um filho te deu forças pra continuar. Mas eu não tenho nada. Muito pouco a compreensão da minha família.
- Sim, não vou negar que ter um filho me ajudou a seguir em frente. Mas ele ainda é muito pequeno para entender as coisas então você poderia imaginar o quanto brincar com ele em vários momentos era muito difícil? Em quantas eventos importantes eu tive que faltar porque estava de cama e ver os olhinhos triste dele? Você pode imaginar o que é ver tristeza nos olhos do seu filho e não poder fazer nada porque você não tinha forças pra isso? Pensa que eu não tinha vergonha? Que eu não me sentia uma fracassada, impotente? A sociedade cobra muito de uma mãe e, todas as vezes que eu recebia um olhar de julgamento, eu queria morrer. Eu preferia morrer a ver meu filho com vergonha de mim. Mas eu entendi que não poderia exigir de uma criança que entendesse todo o fardo dessa doença. Que teria que ter paciência e amor para explicar a ele que eu o amava com todas as minhas forças, mas que precisava descansar. Aos poucos ele foi entendendo e nossa relação se tornou ainda mais próxima. Ele até vira meu enfermeiro particular quando tenho minhas crises. E quanto a opinião da sociedade, eu mandei elas se foderem, se permite dizer. - ela ri e eu a acompanho.
- E o que fez você desmoronar a ponto de chegar até aqui?
- Quis abraçar o mundo. Quis desafiar meus limites. Trabalhar, ter vida social, ficar bonita, cuidar de filho,ficar em forma, e esqueci de me desligar. Bom, meu marido chegou num belo dia reclamando de algum dos problemas dele e bem eu surtei. Bem, cá estou eu.
- Essas crises são frequentes? - quis saber.
- Não. Felizmente. Eu aprendi a me controlar muito e, na maioria das vezes meu marido consegue me controlar com algum medicamento ou uma boa conversa. Mas, quem consegue prever o que vai vir. Mas, sabe o que realmente me ajuda? - faço que não com a cabeça e ela continua - Gratidão.
- Como?
- Deus não me deu um fardo maior do que eu pudesse carregar. Eu aprendi muito com a fibromialgia e, se não fosse por ela, eu não seria a pessoa que me tornei hoje. Eu sempre fui muito ambiciosa, de querer as coisas pra ontem e a fibro me fez enteder que as coisas tem seu tempo, e isso me fez crescer como mulher, como profissional, como mãe e esposa. A fibro me permitiu testar coisas novas e conhecer coisas novas. E cara, eu tenho o privilégio de ter condições suficientes para tratar minha doença com os melhores profissionais. A ter um tratamento completo, com neuros, psicólogos, psiquiatras, nutricionistas, personal, tem uma casa grande e aconchegante. Eu não sou rica, não me considero assim pelo menos. Boa parte do dinheiro que meu marido e eu ganhamos é para os meus tratamentos e a educação do meu filho, porém é o suficiente para colocar comida em casa, pagar uma diarista 1x por semana, sair com família e amigos aos finais de semana, ter uma boa casa confortável. Fico pensando quem descobre a fibromialgia e não consegue dar conta de todo o tratamento.
Quando Carolina me disse aquilo, algo se formou dentro de mim. Como eu poderia ser tão egoísta? Me coloquei na condição de vítima e digna de pena durante todo esse tempo sem enxergar que existem várias pessoas que possuem problemas bem mais piores que os meus e com certeza dariam tudo para ter o que eu tenho.
- Estou me sentindo a pior pessoa do mundo.
- Por que? - questiona Carolina.
- Por ser tão egocentrica, tão egoísta. Dinheiro pra mim nunca foi problema e, bem, você tem razão, eu tenho todo o conforto do mundo para conseguir lidar com essa doença e, no entanto, eu só sei reclamar.
- Clarissa, não se culpe. É muito mais fácil enxergar nossa própria dor do que a dor o outro. Por mais que tenhamos a mesma doença, ela nos fere de um jeito diferente, porque temos escolhas e dificuldades diferentes. A sua dor não é menos importante que a de ninguém, mas é menos dolorida que a de muita gente, porém, só você é capaz de dosa-la. Você pode tratá-la, arrancá-la, ou nesse caso, lidar com ela. Existem pessoas que estão em estágio terminal nas suas vidas, mas conseguem sorrir em meio ao caos. Outras que apenas se entregam e esperam por seus últimos dias. Se olharmos para ambos os casos nossa primeira reação como ser humano é sentir pena delas por a qualquer momento não poder ver a luz do dia. Porém, para a pessoa que sorri, ela sente pena de você que há chances de acordar e ver o sol todos os dias, morrendo um pouco todos os dias. Que vida valeu mais a pena? Quais dias valerão mais a pena de ser vivido. Nós não escolhemos a dor, mas escolhemos como lidar com ela. E aceitá-la é o primeiro passo para saber como fazer isso. Não dá pra ser perfeito. E nem abraçar o mundo. Mas podemos fazer nossa parte e ser feliz com nossas imperfeições.
- Fazer a nossa parte... Fazer a nossa parte. É isso! É isso! Carolina, você acaba de me dar uma grande ideia. - digo a abraçando e levantando o mais rápido possível.
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Só passando pra dizer que as partes em negrito do diálogo entre Carolina e Clarissa fazer parte da obra da autora maravilhosa
E pedir novamente desculpas pelo meu sumiço.
A história tá chegando ao final, grandes surpresas.
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