Capítulo 29
Papai e Richard conversavam sobre negócios. Algo sobre a compra de um imóvel no exterior ou coisa do tipo. Era sempre termos técnicos dos quais eu nunca entendi.
Na sala, papai e Richard sentavam um de frente para o outro, tomando um vinho tinto da marca mais cara que tinha na adega de meu pai.
- Será um bom investimento Richard. Fazer negócio na Austrália vai elevar o nome da família Hoffmann.
- Com toda certeza. O senhor sabe que eu tenho muito apreço pela família.
- Ora Richard, sei que está noivo, mas Clarissa.... Minha filha - papai interrompeu seu comentário logo que me viu. Seu sorriso ao me ver chegar não conseguiu disfarçar minha reprovação pelo o que eu sabia que seria a conclusão daquela frase. Ele veio ao meu encontro num abraço, ignorando por completo que Miguel, que o tempo todo estava ao meu lado.
- Pai.
- Venha, minha filha, olha só quem veio jantar com a gente hoje. - informou papai me conduzindo até meu ex noivo.
Richard se levantou, enquanto eu virava a cabeça para observar Miguel. Ele tinha semblante tenso, mas de muita calma.
- Clarissa! Como vai? - me abraçou.
- Tudo ótimo e você?
- Feliz, pois acabei de fechar negócio com o seu pai. Será um grande investimento.
- Não tenho dúvidas de que será. Vocês sempre foram bons profissionais, sempre muito compenetrados no assunto trabalho. - revirei os olhos e dei um riso contido apenas para dar uma descontraída.
- E aquele rapaz quem é? - Richard perguntou e antes que eu pudesse responder, papai tomou a frente.
- É o psiquiatra da minha filha - disse num tom de reprovação.
- E o namorado dela - Miguel que ainda estava parado na porta se pronuncia, aproximando-se de nós num cumprimento de apertos de mãos mais demorado da história. Eu podia ver o quanto Miguel estava sendo cínico com Richard que claro, tentou parecer o mais discreto e elegante possível. - Pode me chamar de Doutor Miguel. - disfarcei um riso da postura de Miguel. Ele não era de cerimônias, mas sabia que queria provocar tanto meu pai quanto meu ex.
- Muito prazer. - disse Richard. - Fico feliz que Clarissa tenha encontrado alguém. - Richard não parecia ter certeza em suas palavras, e isso me fez questionar a sua reação.
- Pois é, mesmo que esse alguém seja seu médico e...
- E...? - provoquei papai com uma sobrancelha erguida. A mesma cara que fazia quando criança sempre que estava incomodada com uma atitude de Senhor Romeu.
- Ah esquece.
- E mamãe, onde está?
- Saiu com sua irmã para fazer umas compras.
- Certo. E o jantar? Estou morrendo de fome.
- Está na mesa. Esperava você para nos acompanhar.
- Ótimo, Miguel janta com a gente.
- Clarissa é que...
- Tudo bem! Eu preciso ir pra casa. Tenho que buscar minha irmã no cursinho, não vai dar tempo. Foi um prazer, Doutor Richard. - Miguel se despede indo em direção à porta.
- Ei! Espera! - corro em sua direção. - Desculpa! - peço, mesmo que a culpa não seja minha.
- Tudo bem borboleta. Não ia ser nenhum pouco agradável dividir a mesa com o seu ex de 1,80m de altura, olhos azuis e milionário - ele revira os olhos.
- Isso não é um competição Miguel. Eu te amo! - sorrio.
Ele sorri e se despede com um beijo.
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O jantar estava entediante. A minha companhia era o vinho. Enquanto meu pai e eu ex conversavam em completa sintonia, me perguntava como há algum tempo eu achava aquilo o máximo. Sentia orgulho de Richard, me encantava com a forma como ele e Romeu se davam bem. Achava interessantíssimo o assunto deles e até me esforçava para compreender.
Mas agora, eu só pensava em como aquela monotonia toda era irritante. Não que eu tivesse mágoa de Richard, mas talvez Miguel tivesse razão e eu estive apaixonada por Richard por ele ser exatamente da forma como eu fui criada para ser. Porque ele combinava comigo e era o cara que todas as garotas suspirariam só com um olhar.
Sem pensar, bufei alto demais arrancando olhares daqueles dois homens a minha frente.
- Bem. Já está tarde e o velho aqui precisa dormir. Clarissa, fica mais um pouco e conversa com Richard.
- Ah... eu... Não sei se serei uma boa companhia, o dia foi agitado e já passou da hora de eu dormir. Falando nisso, esqueci os remédios. - levanto-me num impulso.
- Imagina querida, você é jovem tem boa disposição. - grita meu pai da sala de jantar enquanto eu estou na cozinha preparando-me para meus coquetéis de remédio. Papai não fazia noção do efeito que os remédios me provocavam, nem o que uma rotina muito agitada sem um devido descanso poderia me provocar.
- Eu não quero incomodar. Clarissa precisa se cuidar.
- Imagina Richard, minha filha já está curada, não é Clarissa? - pergunta logo que retorno à sala.
- Achei que fibromialgia não tinha cura. - Richard questiona.
- Bobagem! - responde papai. - Isso é bobagem da medicina pra ficar vendendo medicamentos. Olha só pra Clarissa!
Eu não ousei contestar. Uma discussão naquele momento não era o mais apropriado.
- Acredito que Miguel, seja um bom psiquiatra.
- Sim...
- Ora Richard, é só mais um médico.
- Papai, o senhor não estava cansado?
- Ah sim. Deixe-me ir. - ele limpa a boca, se lavante e me dá um beijo na testa. - Boa noite filha, boa noite Richard.
Vou em direção a sala e me jogo no sofá.
- Seu pai parece não gostar muito do seu... namorado. - Richard senta-se ao meu lado.
- Bem, pra começar papai nem entende o que eu tenho. Acha que tudo é balela, frescura... enfim. Miguel é só mais uma "frescura" no meio disso tudo.
- Na verdade é estranho você namorando alguém como ele.
- Só por que ele tem tatuagens e usa uma calça rasgada? - pergunto parecendo séria, mas depois me desmancho de rir e Richard me acompanha.
A verdade é que Miguel seria o último rapaz por quem eu me interessaria. Ele nem de longe fazia meu estilo. Tatuagens, moto, calça rasgada, e blusa regata, não era nem de longe o que a Clarissa procurava. Porém, Miguel surgiu e quebrou todos os meus tabus e preconceitos.
- E pelo jeito é motoqueiro?
- Sim, mas eu ainda não tive o privilégio de andar na moto dele.
- Quem te viu quem te vê Clarissa.
- Pois é. Miguel me fez enxergar as coisas de um outro jeito e libertou a antiga Clarissa que existia em mim. Só que me transformou também. Uma espécie de metamorfose. - sorrio.
- Queria poder ter te compreendido melhor antes. Ter entendido o que você tinha e ter sabido cuidar de você como merecia. - Richard encara o chão com certo pesar. Suas palavras me deixaram sem reação e confusa.
- O que quer dizer?
- Que foi doloroso te abandonar. Eu me senti um idiota várias vezes.
- É você foi. - digo sem nenhum arrependimento.
- Eu sinto muito. Eu não queria que sentisse raiva de mim. Não foi certo o que eu fiz, mas eu paguei caro. Ficar sem você foi torturante.
- Não me pareceu tão torturante assim. Sua noiva é bem bonita.
Ele sorriu.
- Ela é uma mulher maravilhosa. Mas... Acho que eu procurava alguém pra substituir o vazio que foi ficar sem você. Eu gosto da minha noiva.
- Richard! Não começa. - levanto-me afobada.
- Clarissa, desculpa. Mas é a verdade. Eu fui covarde. Eu poderia ter te procurado, mas eu tinha medo. Medo de te ferir de novo. Não quero que tenha raiva de mim, por favor.
Eu olhava os olhos suplicantes de Richard. Suas palavras mexeram comigo de uma forma estranha que eu não sabia decifrar. Uma mistura de orgulho e certa nostalgia. Lembrei das palavras de Miguel, as pessoas não conseguem lidar com seus próprios problemas, quem dirá com os problemas dos outros, então me colocaram numa clínica porque acreditavam que eu estaria melhor cuidada com quem tivesse maior conhecimento e melhores meios para tratar da minha doença. O meu sofrimento também era doloroso a eles. As pessoas pensam demais em como agir ou se comportar a fim de agradar a outra pessoa, e essa paranóia toda torna-se ainda maior quando você ama a pessoa. Ao entrar numa situação difícil, nem sempre sabemos o que fazer e isso não parece muito justo a outra pessoa. O medo de fazer errado e machucar ainda mais, é mais doloroso do que partir. Mas as pessoas não entendem que, as vezes, mais injusto do que ficar com uma pessoa toda errada, é ficar sem essa pessoa.
E se a pessoa então, decide ser corajoso e tentar? Se ela agora descobre como agir naquela situação e quer voltar atrás, merece uma segunda chance?
Todos esses pensamentos e perguntas sem respostas me causaram certa vertigem. Richard começou a girar e se ele não me segurasse, eu provavelmente cairia.
- Clarissa, você está bem?
- Estou. Eu só estava pensando no que você me disse.
- Eu não queria te irritar.
- Não, tudo bem. E respondendo ao que você me disse quanto a te odiar, eu não vou. Nós tivemos bons momentos juntos. Eu era completamente apaixonada por você e tudo o que tivemos será uma grande lembrança. Eu não vou te julgar pelas suas atitudes. Nem mesma eu sei como reagiria se fosse ao contrário. Se eu daria conta e como eu me comportaria diante de uma situação como essa. Eu achava tudo isso muito injusto. E talvez seja, mas não serei eu a julgá-lo. E nem mais a julgar minha família como eu sempre fiz. Se Miguel não tivesse aparecido e sei lá, se você realmente estivesse disposto a lidar com tudo isso, e conseguisse lidar com tudo isso, talvez, e isso não é um com certeza, eu te daria uma chance. Mas a verdade é que eu amo Miguel e... Hoje eu vejo uma nova Clarissa surgindo, então...
Richard faz um carinho em meu rosto.
- Você mudou muito Clarissa, mas ainda tem a mesma essência de antes. Por favor, não a perca, independente do que aconteça. Mas quero que saiba que adoro um bom desafio.
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Olá borboletas da minha vidinha. Como estão?
Um passarinho me contou que Richard ainda gosta de Clarissa e, aparentemente ele não vai ser tão discreto assim não.
E esse pai dela? O que fazemos com ele?
Próximo capítulo, uma nova pessoa vai surgir na história e se preparem porque a coisa vai esquentar.
Também teremos capítulos que trataram com mais detalhes da fibromialgia.
E gente, estou recebendo muitos comentários relacionados às próximas postagens, porém, infelizmente, vai continuar sendo de forma aleatória. A ideia não é abandonar vocês. Escrever é minha paixão, e tenho uma lista de livros que pretendo escrever ano que vem.
Acontece que, eu estou no último ano da faculdade, e minha rotina tá muito corrida, eu saio de casa as 8h e volto 00:00h, final de semana eu tiro pra estudar e, muito de vez em quando, eu aproveito pra ter uma vidinha social. Então, peço mil perdões pelo meu sumiço.
Podem comentar que eu leio todos ou quase todos os comentários, embora as vezes eu não consigo responder, e podem me mandar mensagem no PV também se quiserem saber se eu estou viva hahahahahaha.
Gente, é isso. Um grande beijo no coração de vocês.
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