Capítulo 6
Despertei cedo, Alícia ainda dormia tranquilamente, tomei um banho e tentei ser o mais silencioso possível, por sorte ela dormia profundamente, aliás, dormir foi o que menos fizemos durante a noite.
Fui à sua cozinha, vasculhei sua geladeira e dispensa, não encontrei muitos ingredientes para preparar o café da manhã. Peguei o celular e mandei uma lista de itens rapidamente para o meu motorista, pedi com urgência. Organizei a mesa pra ela e me vesti, lei alguns e-mails enquanto esperava pelo meu motorista.
Minutos depois desci para buscar o que eu havia pedido, por sorte o meu motorista era eficiente. Agradeci e o dispensei, subi e fui ao quarto, ela continuava dormindo. Preparei a mesa e por último fiz o café, coloquei os lírios brancos solicitados ao lado do café com um cartão. Fui comedido nas palavras, agradeci pelas noites prazerosas e assinei. Depois peguei as chaves do meu carro e retornei para o hotel.
Quando cheguei à minha suíte, troquei de roupas e antes de terminar de arrumar os documentos que levaria para reunião, ouvi uma suave batida na porta, deveria ser o Erick, e eu estava certo, junto do Pietro.
— Bom dia — cumprimentei-os assim que abri a porta.
— Bom dia, passei mais cedo por aqui e você ainda não estava, passou a noite fora? — Erick questionou.
— Sim.
— Aposto que já sei com quem estava.
— Não enche, Erick — disse sério, tentando omitir o sorriso de satisfação pela noite anterior. — Onde está o Giusepe?
— Ele está na suíte dele, acordou um pouco tarde, mas nos encontrará no lobby.
— Certo. Vamos logo tomar café que tenho pressa, quero chegar cedo, teremos um dia repleto de reuniões e compromissos.
Saímos os três, tomamos café e partimos para o grupo Cristo Redentor, não escondi que estava ansioso, louco para ver a cara da Alícia ao descobrir que sou seu chefe, com quem ela tem falando nos últimos dias por e-mail e que passou duas noite quentes sem saber quem eu era.
Ri sozinho imaginado a cara que ela faria.
Chegamos cedo, estacionei o carro e subimos juntos, o Humberto nos recebeu pessoalmente, animado e prestativo como sempre, junto com um pequeno grupo de funcionários. Tratou logo de nos apresentar a todos, uma delas chamava Renata, não parava de me olhar, encarava-me sem disfarçar, deu-me total atenção. Mas eu pouco me importei, porque quem eu mais queria ver ainda não estava aqui.
— Enrico, vamos até a minha sala ou prefere fazer um tour enquanto os demais membros da diretoria chegam?
— Onde está a senhorita Alícia Lins do jurídico? — questionei.
— Falta alguns poucos, inclusive ela, mas a minha secretária já está em contato com todos eles.
— Eu posso acompanhá-los no tour enquanto você organiza a reunião, Humberto — a Renata se ofereceu.
— Podemos seguir assim para adiantar — confirmei.
— Ótimo — Renata confirmou alegremente.
Seguimos a Renata pelo edifício, ela fez questão de ficar ao meu lado, bem próximo para falar a verdade. Ela era uma mulher bonita, alta, magra, vestia-se bem, tinha cabelos curtos e curvas atraentes, mas eu não costumava misturar trabalho com prazer, Alícia era um exceção.
Depois do tour, ela nos guiou até a sala da diretoria. Humberto e os demais estavam reunidos, sentamo-nos e começamos as apresentações, passei a palavra para o Pietro, eu estava puto demais para iniciar a reunião falando de assuntos tão relevantes.
Os minutos pareciam se arrastar, pouco me concentrei na reunião, eu não conseguia parar de olhar para porta e para o meu relógio de pulso.
Porra! Alícia não sabe cumprir horários?
Eu planejei minuciosamente cada fala que eu diria quando ela descobrisse que eu era o seu chefe, projetei na minha mente a sua cara zangada, surpresa, brava de cada momento desde que me descobrisse, mas nenhum dos meus planos estavam saindo como eu imaginava quando se tratava dela, da afrontosa e deliciosa Alícia.
Que raios de mulher é essa?
Fizemos uma pequena pausa, aproveitei para tomar um café forte, a Renata não perdeu tempo, era bem direta ao ponto.
— Oi, eu posso te chamar somente de Enrico?
— Fique à vontade — respondi sério.
— Você quer que eu te sirva um café? — ela se ofereceu gentilmente.
— Não, eu já me servi, obrigado.
Agradeci e me afastei dela, tomei o café e fui em direção ao Erick e Pietro, que conversavam próximo de nós.
— O que achou da apresentação, Enrico? — Pietro questionou.
— Que apresentação? — só então atentei ao que ele se referia. — Ah, desculpa, eu estava distante, foi ótima.
— Enrico está com os pensamentos longe, Pietro, mais precisamente na ausência de uma certa colaboradora nessa reunião.
Calei, porque ele tinha razão, apesar de estar tirando uma com a minha cara, eu deixei passar e nada disse, infelizmente ele estava coberto de razão, e eu puto com a falta de comprometimento da Alícia.
Finalmente a porta da sala se abriu e eis que ela entrou, linda e levemente maquiada, mas não despertou somente a minha atenção.
— Que mulher linda, quem é ela? — Pietro perguntou.
Franzi o cenho e me virei pra ele, um pouco enciumado, confesso, mas sem entender o motivo desse sentimento.
— É alguém bem distante de suas expectativas, não a olhe muito — alertei.
Erick gargalhou disfarçadamente e balançou a cabeça negativamente.
— É impressão minha ou você está caidinho por ela?
— Não fode, Erick, já disse que tenho planos pra ela.
Ela foi direto falar com o Humberto, passei as mãos pelo cabelo e me aproximei, cheguei no momento exato que ela se justificava pelo atraso, melhor impossível!
— Certamente, a Srta. Lins deve ter um bom motivo para justificar seu atraso — disse ao me aproximar deles.
— Alícia, esse é... — Humberto tentou nos apresentar, ela se virou e ao me ver, interrompeu-o, totalmente surpresa.
— Lorenzo!
Estendi a mão para cumprimentá-la, de posse de um sorriso de satisfação impagável e a corrigi:
— Enrico Lorenzo Millani, muitíssimo prazer, Srta. Lins.
Ela fechou o semblante instantaneamente, retribuiu o meu cumprimento nada satisfeita, mas manteve a pose, como se nada entre nós tivesse acontecido. Achei que ela ficaria bem mais abalada ou até feliz pela coincidência, mas não, ela parecia bem furiosa.
A reunião recomeçou, tomamos nossos lugares e a cadeira reservada para Alícia estava posicionada de frente para minha, olhei-a bem mais do que para o Pietro e o Erick, que conduziram o restante da reunião, estava louco para ter um momento à sós com ela.
Perto do final da reunião, levantei-me e antes que ela pensasse em sair, tomei a palavra:
— Srta. Lins, como chegou atrasada, quero que fique para discutir uns pontos essenciais do seu setor. Os demais estão dispensados. Tenham um bom dia, obrigado!
Ela permaneceu sentada, encarou-me com um olhar fulminante. Fiz um sinal para o Erick e ele saiu com os demais, assim que a sala ficou vazia, caminhei até a porta e a tranquei. Coloquei um sorriso cínico na cara, era a hora da verdade, mal me aproximei e ela se levantou bruscamente, pegou um grampeador da mesa e jogou na minha direção, desviei e sorri mais ainda da sua atitude imatura. Apressei os passos e segurei seus braços atrás de suas costas rapidamente, mantive-a imobilizada, inalei o perfume do seu pescoço e murmurei ao seu ouvido:
— Fique quieta ou vou foder você aqui nessa mesa e fazer você gritar tão alto de prazer que todos lá fora ouvirão. É melhor ficar quieta e calada, só me escute.
— Me solta, miserável — ela se debateu tentando se ver livre de mim. — Pode explicar o que está acontecendo aqui? Você não tinha o direito de entrar em minha vida, eu não misturo prazer com trabalho, por isso sempre fui bem-sucedida profissionalmente. Você fez tudo isso de caso pensado, por quê? — ela disse brava, tentando controlar a voz para não sermos ouvidos.
— Eu quero te explicar tudo, mas você está muito irritada, vá para casa e me aguarde lá. Tire a tarde de folga. Depois conversamos. Vou te soltar agora, não tente nenhuma gracinha ou já sabe o que farei — alertei, eu estava falando muito sério, seria capaz de possuí-la aqui nessa mesa mesmo, seria uma boa ideia.
Inalei o perfume dos seus cabelos mais uma vez e a soltei devagar, ela saiu bufando, sem me olhar nos olhos, bateu forte a porta da sala. Ri comigo mesmo, com o cheiro dela ainda nas minhas mãos. Ela era linda, cheirosa e gostosa, mas já teve o máximo que eu posso dar: 2 noites comigo.
O resto da manhã transcorreu bem, estava mais aliviado, não sei se porque eu a veria no final do dia ou porque a vi mais cedo. A imagem da sua cara de brava era inesquecível, vez e outra vinha a minha mente e me provocava risos.
— Enrico? Acorda! Está rindo do quê? — Erick perguntou.
— Desculpe, Erick, eu estava distraído, o que disse?
— Perguntei se vai almoçar conosco hoje?
— Sim, é claro, quero logo adiantar essas análises.
— Ótimo.
Saímos juntos para uma restaurante badalado em Ipanema, era um dos meus favoritos no Rio, foi um almoço de negócios tranquilo e descontraído. Passei no hotel para tomar um banho e trocar de roupas, depois seguimos juntos para sede do grupo Cristo Redentor. A fusão estava indo muito bem, a equipe era boa e comprometida, apenas a Renata que não me agradou muito, era descarada demais para o meu gosto. Não gosto de mulheres fáceis e interesseiras como ela.
Tivemos uma tarde de reuniões longas e cansativas, apresentei o projeto de fusão, definimos os prazos, pessoal responsável e a data para início e término de cada etapa. Eu tinha pressa, mas o grupo era grande, precisaria de tempo hábil para conclusão das fusões.
Antes de passarmos para o próximo ponto, vi uma mensagem da Fátima, empregada da Alícia, pedi licença por alguns minutos e saí da sala para ligar, ela não demorou atender.
— O advogado confirmou, a dívida é verdadeira e se ela não quitar o apartamento será leiloado, ele foi ao banco e negociou um prazo pra ela pagar a dívida.
— Descubra qual banco, e se possível tente fazer uma foto da documentação que ele deixou.
— Tá, vou tentar.
— Obrigado, Fátima.
Retornei à sala de reuniões e demos continuidade a apresentação sobre o organograma da MHR, confesso que bem mais animado, essa dívida seria a confirmação da aceitação dela para o nosso acordo.
— Enrico, você pretende assumir a transição quando?
— Já assumi, Humberto, minha visita hoje é para darmos início a primeira etapa do projeto.
— Você será o nosso novo chefe agora, Enrico? — Renata perguntou.
— Sim, alguma objeção, senhorita Renata?
— Não, jamais, só pensei que como o Humberto ainda vai ficar alguns meses por aqui, talvez dividisse essa responsabilidade com você.
— Não, eu sou o novo CEO do grupo Cristo Redentor que em breve será integrado à Millani Hotels & Resorts.
— Eu prefiro assim, Enrico, já estou velho demais para me preocupar com tantas responsabilidades — Humberto comentou.
— Mais alguma dúvida? — questionei, olhei para os rostos dos presentes que balançaram negativamente. — Ótimo, reunião encerrada e muito obrigado.
Todos foram saindo aos poucos, troquei mais algumas palavras com o Humberto e nos despedimos. Enquanto recolhia os relatórios da mesa a Renata aproveitou para se oferecer mais uma vez, percebi que ela abriu propositalmente os dois primeiros botões da sua camisa deixando o seu colo à mostra.
— Eu vou beber um drinque num bar aqui perto, você quer me acompanhar, Enrico?
— Obrigado pelo convite, mas já tenho compromisso.
Não esperei sua resposta, saí da sala apressado, o Erick, Giusepe e Pietro já tinham saído mais cedo, fariam uma visita em dois dos maiores empreendimentos do grupo aqui no Rio, juntamente com uma equipe técnica que os acompanhou.
Saí apressado, o meu motorista já estava me aguardando, folguei o nó da gravata, entrei no carro e antes mesmo de traçar o destino, busquei o rastreamento do celular da Alícia.
— Porra! Ela não está em casa.
Orientei que me levasse até o apartamento dela, apesar de saber que ela não estava, desci e falei com o porteiro, eu precisava fingir que não sabia onde ela estava. Liguei para o seu número pessoal, assim que falei com o porteiro, mas ela não atendeu, tentei novamente e nada. Resolvi ligar no número da empresa, não era possível que ela não ia atender ou ia? Era impossível prever algo quando se tratava dela.
— Alícia Lins.
— Srta. Lins, lembro-me de tê-la orientado a ficar em sua casa me aguardando, estou aqui na portaria do seu edifício e o porteiro me informou que você não está. Tem 5 minutos para retornar — encerrei a ligação.
Não demorou muito pra ela retornar à ligação.
— Sr. Milani, lamento informar que em 5 minutos seria impossível chegar, uma vez que estou na Barra da Tijuca. Chegarei assim que possível.
— O que está fazendo aí? — perguntei áspero.
— Resolvendo alguns assuntos pessoais, nada que o meu chefe necessite saber. Olha, quer saber, não estou nem um pouco a fim de falar com você longe do ambiente de trabalho, nos falamos amanhã na empresa, agende, por favor, com minha assistente, Deyse. Passar bem, Lorenzo, oh! Desculpe, Sr. Enrico Lorenzo Millani.
— Com quem você está? — bradei.
— Com alguém que me proporciona prazeres sem arrependimentos e surpresas no dia seguinte. Até amanhã, Sr. Millani.
E sem cerimônia novamente ela desligou na minha cara.
Porra! Ela só pode tá querendo ferrar com o meu juízo, que mulher teimosa do caralho.
Saí em alta velocidade, minutos depois cheguei ao local indicado pelo rastreador do celular dela, parecia ser um bar, olhei do carro mesmo, avistei os cabelos ruivos dela pela vidraça, estacionei e desci.
Alícia conversava com um homem, pareciam bem íntimos e animados, riam e se tocavam com intimidade, caminhei a passos firmes, bufando, fechei o semblante e tentei controlar a ira que ela despertava em mim ou as coisas encrespariam para o lado do idiota que a acompanhava, o sorriso dele tinha dentes demais para ela.
Ah, Alícia, sua situação não está nada boa.
Eita, lembraram da cena? Amo demais essa disputa de poder deles.
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