Capítulo 13
Reuni toda a sanidade que ainda existia em meu corpo para respondê-la, lutei contra um animal que era o meu desejo por ela, além da vontade exagerada de fazê-la minha ali mesmo.
— Não — disse quase que inaudível.
— Não entendi, o que disse, Enrico? — ela se afastou e me encarou surpresa.
Respirei fundo e mantive a minha palavra.
— Não vou pedir para que fique, você tem razão, é livre e descompromissada.
Vi seu sorriso de vitória desaparecer, ela tomou distância novamente, cruzou os braços e me encarou fixamente.
— Ótimo, que bom que chegamos a um consenso, assim será mais fácil sobreviver esses dias ao seu lado. Até mais, querido, não esqueça de usar camisinha!
Ela saiu, eu não a impedi, mas a segui até a recepção, o motorista do tal príncipe ainda a esperava. Os dois saíram juntos em direção ao estacionamento.
Naquela tarde eu tinha um almoço importante com um cliente, confesso que estava sem cabeça para um compromisso como esse. O meu motorista já estava me aguardando no estacionamento, ainda pude vê-la entrando em um carro importado, e a silhueta de outro cara no banco de trás, não consegui vê-lo com clareza.
— Porra! — Esmurrei a coluna à minha frente.
Entrei no meu carro com pressa, antes que o desejo de arrancar ela daquele carro me dominasse.
— Boa tarde, doutor, devo levá-lo...
— Ao Millani Copacabana Plaza — completei.
E sem mais uma palavra partimos em direção ao meu compromisso. Ainda tomado por uma ira que até eu desconhecia, sem cabeça para pensar na minha reunião, e sim nela, na raiva desmedida e no ciúme que me corroía por dentro.
Meu celular tocou, atendi sem nem olhar quem ligava.
— Enrico Millani.
— Aqui é a Daniela, secretária do senhor Altair Loureiro, ele teve um pequeno imprevisto e pediu para reagendarmos a nossa reunião para uma nova data, tudo bem?
— Sem problemas, agende novamente com a minha secretária, por gentileza.
— Tudo bem, muito obrigada, senhor Enrico.
Desliguei um pouco mais aliviado, era melhor assim, eu estava com a cabeça tão cheia, que seria incapaz de conduzir qualquer atividade profissional agora. Orientei o meu motorista a parar o carro, mudei o meu trajeto. Eu precisava esvaziar a mente e me acalmar e tinha um modo muito peculiar para isso.
Orientei o meu motorista a me levar ao meu antigo apart-hotel, ainda não tinha o desocupado, poderia ser útil para encontros mais íntimos como o de agora. Liguei para uma conhecida, já tínhamos saído uma vez, foi interessante, e talvez um sexo casual me ajudasse esquecer a Alícia. Por sorte a minha companhia estava livre e me encontraria em alguns minutos.
Dispensei o meu motorista e fiquei com o carro, pedi um champanhe, retirei o blazer e folguei a gravata, esperei a minha companhia chegar tentando não pensar na Alícia.
Ouvi batidas na porta, era ela, linda, perfumada e atraente.
— Boa tarde, Priscila.
— Boa tarde, Lorenzo, adorei o convite.
Afastei-me para ela entrar, tranquei a porta e não perdi tempo, puxei-a para junto de mim e beijei seus lábios.
— Nossa, eu primeiro queria conversar — ela disse e sorriu arfante.
— Aceita um champanhe? — ofereci e caminhei em direção à garrafa e as taças para nos servir.
— Claro.
— Você estava por perto? Não demorou quase nada.
— Sim, estava bem perto. — Ela se aproximou e deslizou as mãos pelo meu peitoral. — Mas poderia estar em qualquer lugar, para um chamado seu eu viria correndo, gato.
Apesar do seu modo atraente e beleza, eu não senti nada. E o pior era que ela estava diante de mim, querendo o mesmo que eu queria: sexo. Mas eu não desejava ela e sim a Alícia.
Fechei os olhos e a beijei novamente, mas eu só conseguia pensar na Alícia, nos lábios dela, na lembrança do corpo dela junto do meu, mas que agora deve estar sendo beijada por outro.
Cessei o beijo e me afastei rapidamente. Puto! Frustrado! Eu não conseguia mais dominar minhas emoções, eu perdi o controle dos meus sentimentos. Balancei a cabeça negativamente, eu estava perdendo uma batalha que há muito tempo eu estava invicto.
— O que foi? Fiz algo errado? — Priscila perguntou.
— Não, você não fez nada, eu que fiz errado, eu não deveria ter te ligado.
— Não tem problemas, Lorenzo, eu estou aqui, está precisando conversar, é isso? Se for, podemos só beber e conversar, talvez almoçar, o que acha?
— Eu não estou com cabeça para um encontro, Priscila, desculpe, eu achei que conseguiria aproveitar a companhia de uma bela mulher, mas estou com tantos problemas que seria injusto com você...
— Relaxa, Lorenzo, eu entendo, vamos conversar como amigos, tudo bem?
Olhei-a por alguns instantes e confesso que não me reconheci naquele momento, eu nunca tinha dispensando uma boa foda, isso jamais aconteceu antes, mas a raiva que me consumia estava tomando proporções tão grandes que estavam me impedindo de raciocinar corretamente.
Eu literalmente não era mais o mesmo desde que Alícia entrou na minha vida. E o pior de tudo era que eu já sabia o motivo, mas tentava me enganar e fingir que ainda tenho o controle de tudo, que ainda estou no comando do nosso acordo.
— Eu preciso ir, Priscila, desculpe.
Retirei algumas notas da carteira e coloquei na sua mão.
— Aceite, para o táxi.
— Não precisa, Lorenzo.
— Faço questão. Fique e peça o almoço, eu deixarei as despesas pagas.
— Não, eu também vou embora, e esperarei sua ligação para um novo encontro, mas quando estiver sem ela no pensamento.
— Ela? — Franzi o cenho surpreso.
— Não é preciso ter uma bola de cristal pra saber que tem outra na jogada, Lorenzo. Você me chamou porque queria esquecer alguém, estou certa?
Sorri e nada confirmei, apesar de ser verdade. Beijei seu rosto em despedida e parti.
Apesar do encontro frustrado, para uma coisa me serviu: preciso resolver meus sentimentos, manter-me longe, afastar-me da Alícia, ela não me faz bem.
Mandei uma mensagem para minha secretária e orientei que cancelasse todos os meus compromissos pelo resto do dia, desliguei o celular e fui direto para o meu apartamento.
Quando cheguei a Maria estava ao telefone, sorriu pra mim e eu só acenei de volta, fui direto ao bar, servi-me de uma dose de uísque puro. Eu precisava relaxar, ficar sozinho e tentar esvaziar a raiva que me consumia, esquecer aquela língua de fogo que tem roubado minha paz.
— Vai almoçar em casa, Lorenzo? — Maria perguntou ao se aproximar.
— Não precisa se preocupar, faço qualquer coisa depois.
— Eu não preparei nada, eu pensei que...
— Não se preocupe, Maria, está dispensada por hoje, eu posso preparar algo sozinho, caso sinta fome.
— Eu devo preparar o almoço para a sua hóspede?
— Não, ela deve estar bem ocupada agora, almoçará fora. — Fechei o semblante ao relembrar. — Você já pode ir, Maria.
Servi-me de mais um dose de uísque e tomei em uma só golada. Maria me olhou preocupada, respirou longamente e pensou em dizer algo, mas desistiu.
Retirei o blazer, folguei a gravata e sentei-me na poltrona ao lado do bar, eu só desejava beber até esquecer que aquela diaba estava nos braços de outro agora.
— Lorenzo, tem certeza de que ficará bem?
— Sim, Maria, eu só preciso ficar um pouco sozinho.
Recostei-me na poltrona, fechei os olhos e tentei esvaziar a mente, mas nada tirava ela do meu pensamento. Por quê? Eu não entendia e muito menos conseguia explicar o motivo de tanto ciúme e raiva, ou até sabia, mas não queria assumir a realidade que se delineava depois do episódio de hoje.
— Tudo bem, então vou embora. Até amanhã.
— Até amanhã.
Nem mesmo a olhei para responder, continuei bebendo o meu uísque puro, sem gelo, tentando refletir sobre os últimos acontecimentos da minha vida, principalmente desde que conheci a Alícia.
Há tempos eu não me envolvo emocionalmente com ninguém, evito a qualquer custo, mas ela soube ludibriar minhas defesas, ao passo que tentei me enganar achando que estava no comando do nosso acordo, que seria capaz de controlar meus sentimentos e desejos perto dela. Ledo engano.
Olhei para o celular, estava desligado, liguei rapidamente, lógico que a primeira coisa que olhei foi para o aplicativo de rastreamento, mas para o meu azar estava sem comunicação, certamente ela estava com o celular desligado.
Porra! Isso não era um bom sinal. Rapidamente imaginei outro deslizando as mãos pelo seu corpo, a imagem foi tão abominável que levantei zangado, num ímpeto de fúria gritei e joguei a poltrona a léguas de distância.
Respirei longamente e liguei para minha secretária.
— Mariana — disse assim que ela atendeu.
— Pois não, senhor Enrico.
— Estou tentando falar com a senhorita Alícia, mas não consegui, verifique se ela está nas dependências da empresa, apenas averigue, mas não mencione o meu nome.
— Certo, senhor. Deixarei essa ligação em espera enquanto verifico, aguarde um segundo, por favor.
Ouvi-a falando com a Deyse, foi uma conversa breve, logo retomou a nossa chamada.
— Senhor, ela ainda não retornou do almoço.
— Certo, vou tentar ligar no celular dela, obrigado.
Desliguei, frustrado, xinguei uma infinidade de palavrões. Bateu um certo arrependimento e as palavras dela remoeram na minha cabeça: Por que não assume logo que é apaixonado por mim?
Era a realidade, embora me custasse admitir, eu sentia algo forte por ela, e isso estava me deixando louco, mexendo com a minha cabeça e sentimentos de uma forma tão avassaladora que não sabia como sair desse furacão.
Eu não posso trazê-la para a lama que eu vivo! Nós não podemos nos envolver.
Dispensei o copo e bebi na garrafa mesmo, tomei mais alguns goles, eu precisava esquecer que ele estava com outro agora, esquecer que ela não me pertence, embora eu a quisesse.
— Ela é livre e desimpedida! Porra!
Ri de mim mesmo, do meu ciúme patético, e dos meus sentimentos confusos por ela. Retirei os sapatos, joguei longe e coloquei uma música bem alto. Cantei, dei voltas no meu apartamento, tentei fazer qualquer coisa que me ajudasse esquecê-la, só o álcool estava fazendo efeito, bebi, bebi, até esquecer de mim mesmo.
As horas passaram, meu nível de consciência estava cada vez mais baixo, deixei o álcool tomar meu corpo. Eu estava embriagado, jogado na poltrona ao lado do bar, descalço, sem camisas, cantarolando qualquer merda.
Aumentei a música, ri ao reconhecer a que começou tocar, era "Imbranato" e a letra parece que tinha sido escrita pra mim. Ativei a repetição, precisava ouvi-la mais vezes, Alícia precisava ouvir essa música, era o que eu precisava dizer a ela, a música falava por mim, murmurei os versos, tentando cantar, ainda de olhos fechados recostado na poltrona com o som às alturas.
Scusa se ti amo e se ci conosciamo
Da due mesi o poco più
Scusa se non parlo piano
Ma se non urlo muoio
Non so se sai che ti amo
Scusami se rido, dall'imbarazzo cedo
Ti guardo fisso e tremo
All'idea di averti accanto
E sentirmi tuo soltanto
E sono qui che parlo emozionato
E sono un imbranato
E sono un imbranato
Eu sou um atrapalhado! Eu deveria ter falado o que sinto, agora é tarde, ela está com o príncipe, aquele miserável está tocando no que é meu, está beijando a boca que me pertence.
Tentei aumentar o som, mas apertei em algum botão errado que a música parou, deixei o controle remoto cair no chão, levantei-me para pegá-lo, bebi mais um gole do uísque, cambaleei tonto, minha cabeça girou, e eu caí no chão.
Porra!
Fiquei alguns segundos no chão da sala, imóvel, tentando reunir forças pra levantar ou ficaria ali mesmo. Fechei os olhos, e continuei cantando o refrão de Imbranato, ri de mim mesmo, fodido, bêbado e sofrendo por alguém que estava com outro agora.
Senti um toque em minha testa, achei que estava pirando, mas logo senti alguém tentando me levantar, abri os olhos e a vi, era ela, o motivo e razão do meu porre.
— Escuta a música é para você, e sono um imbranato.
— O quê? Enrico, preciso que me ajude a te ajudar, se apoie em mim e se levante devagar. Vamos, no 3. 1, 2, 3... — Ela apoiou o meu braço em seu ombro, sentei-me e depois me levantei devagar. — Tem algum quarto aqui embaixo que possa te levar, você precisa de um banho e um curativo na sua testa.
— Você vai cuidar de mim?
Gargalhei enquanto caminhávamos pelo corredor, ela me guiou gentilmente e eu só tentava capturar seu cheiro, ter um pouco dela.
— Sim, você não está nada bem, diga logo que não aguento você por muito tempo.
— Pensei que estaria com seu príncipe, Alícia — rosnei.
— Em qual porta, Enrico?
— Terceira à esquerda.
Ela ignorou minhas palavras, estava realmente disposta a me ajudar, conduziu-me até o banheiro e tirou minha roupa. Eu bem que queria fazer ou perguntar algo, mas estava bêbado demais pra isso. Ela me colocou no chuveiro e tirou a própria roupa para não se molhar.
— Assim não está me ajudando, Alícia — disse ao olhá-la nua.
— Sem gracinhas, por favor. Você está precisando de cuidados.
Ela ligou o chuveiro e tentou ensaboar o meu pescoço, mas antes dela descer as mãos pelo meu peito, eu as segurei firme e disse com tanta certeza, que nem o meu porre me atrapalharia:
— Eu não preciso de cuidados eu preciso é de você.
Eita, meu Deus, é tão lindo ver ele rastejando, né? kkkk
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