Capítulo 11
Não esperei resposta, acertei-lhe um soco certeiro na cara, sem nem pensar nas consequências, logo o outro porteiro, que já me conhecia, interveio e se meteu entre nós. Eu estava com tanta raiva, que eu nem sei o que faria com esse desgraçado se não tivesse sido interrompido.
- Ei, ei, o que é isso aqui, você é louco? - o porteiro se meteu entre nós.
- Esse miserável está falando absurdos da minha noiva - gritei.
- Absurdos? - o miserável gargalhou e só me irritou ainda mais. - Deixe-o subir, seu Messias, deixe, ele precisa ver com os próprios olhos.
- Você está ficando louco? - o Messias olhou para o colega de trabalho, óbvio, sem entender nada. - O que você disse pra ele, Pedro?
- A verdade! A dona Alícia está com visitas e estão bastante ocupados, quando eles subiram disseram que ela não queria ser incomodada.
- Eu já disse que vou subir lá, você já me conhece - olhei para o velho raquítico que tentava me segurar. - Você já me conhece, permita-me subir ou ligue pra avisá-la.
- Fique quieto no seu canto ou chamarei a polícia - ele apontou o dedo para minha cara e depois olhou para o colega. - Pedro, vai lavar esse rosto, eu resolvo isso aqui.
O Messias entrou na guarita, ele falou ao interfone por alguns instantes, demorou mais que o previsto, depois voltou ao meu encontro e disse em tom de alerta:
- A dona Alícia autorizou a sua subida, mas já vou logo adiantando que se ouvir qualquer coisa de estranho, vou chamar a polícia, não tente nenhuma gracinha, já basta as reclamações que ouvi dos moradores agora pouco.
- Eu só vim buscá-la - reforcei.
Saí em direção ao elevador feito uma bala, apressado, ávido por respostas. O elevador demorou uma eternidade, aproveitei para reorganizar a camisa, mas as palavras do outro porteiro não me saíam da cabeça, e se ela estiver acompanhada mesmo?
Porra! Cerrei os punhos tomado de raiva, era uma possibilidade insana demais, mas que lamentavelmente fazia sentido. Ela não me atendia nem por um caralho, era uma justificativa e tanto estar acompanhada de outro, ou melhor de outros.
Bati na porta do apartamento, nada brando, eu queria respostas e as obteria, nem que derrubasse a porta do apartamento dela. Ela logo abriu, com um olhar sério, eu nem disse nada, invadi o apartamento e dei de cara com a realidade, o filha da puta do porteiro tinha razão, ela estava com aquele esquelético do outro dia e mais uma mulher, apesar dos três estarem vestidos, eu fiquei ainda mais puto de raiva, ainda mais pela cara de felicidade aparente do miserável.
- Oh! Chegou quem faltava para animar a festa! - o esquelético debochou da minha cara.
Parti pra cima dele de punhos cerrados, disposto a fazê-lo engolir todos os dentes do seu sorriso sarcástico. A Alícia entrou no meio e gritou, despertando a minha atenção.
- Nem pense em fazer isso, Enrico.
- Calma, bonitão, só estávamos fazendo uma pequena festinha - o disgramado estava mesmo querendo mesmo levar uma surra.
- Mike! Cale a boca, você só está piorando tudo. Por favor, vá embora depois nos falamos - Alí o repreendeu.
- Tudo bem, já estou saindo, você vai ficar bem? - Mike perguntou e olhou para mim e depois para Alícia.
- Sim, confie em mim.
A Alícia os acompanhou até fora do apartamento, enquanto eu procurava vestígios do que eu não queria aceitar. Balancei a cabeça negativamente, possesso, tomado de um ódio tão grande, que me desconheci naquele momento, eu não seria capaz de nomear minhas próprias emoções.
O cenário indicava que se divertiram bastante, haviam garrafas de cervejas pela mesa de centro, o sofá estava revirado, pensei em ir no quarto dela, procurar por indícios mais claros, mas antes que eu fizesse algo, ouvi ela fechar a porta do apartamento atrás de mim.
Virei pra ela, caminhei firme em sua direção e perguntei puto, muito puto.
- Vou perguntar apenas uma vez e não quero brincadeiras, apenas me responda a verdade. O que estava fazendo com esse imbecil aqui?
- Enrico, eu que tenho que te cobrar explicações. Não te devo satisfações do que faço da minha vida. Você não deveria ter agido dessa maneira, agredindo o porteiro e destratando meus convidados. Os moradores queriam chamar a polícia e se isso acontecesse seu visto permanente seria facilmente prejudicado.
- Que se foda o visto - bradei.
Aproximei-me ainda mais, puxei em seus braços frágeis, forcei-a olhar nos meus olhos e repeti minha pergunta, a raiva que estava dentro de mim era tamanha que nem me importei em medir a força com que a apertava.
- O que você estava fazendo com aquele imbecil aqui? Pense bem antes de me negar essa reposta.
- Nada do que possa tê-lo deixado tão furioso, o Mike você já o conhece, e a Fernanda é irmã dele. Ela mora fora em Minas, está na cidade a passeio e veio me visitar, somos amigas de longas datas. Estávamos apenas colocando os assuntos em dias. Me solta! - ela protestou e tentou se libertar.
Larguei-a, ela parecia falar a verdade, fui até a varanda, passei as mãos pelos cabelos, frustrado pelos meus excessos, um pouco mais calmo, mas ainda não muito satisfeito com a resposta. Respirei longamente, o que ela estava fazendo comigo? Por que ela me leva aos meus instintos mais primitivos? Eu agredi, xinguei, briguei, por quê?
Minha cabeça e meus sentimentos estavam em confusão, o ódio ainda pulsava nas minhas veias, mas eu conhecia o remédio para isso, embora me custasse admitir, eu já sabia como dissipar essa ira.
Caminhei em sua direção, puxei rapidamente pela sua cintura, uni nossos corpos e a beijei com desespero, eu precisava sentir seus lábios nos meus, eu precisa saber que ela era minha, nem que fosse por alguns minutos, eu a desejava de uma forma estranha e confusa, era como uma vício, uma necessidade, eu precisava tê-la naquele momento, como uma cura para o meu mal. Continuei beijando-a, entreguei-me tanto, como há muito mulher nenhuma tem de mim, e em poucos minutos estávamos despidos e entorpecidos de desejo
A realidade veio à tona e no calor do nosso desejo percebi que havia um desespero descabido, uma urgência de tê-la para mim inexplicável. Eu tinha sentimentos por ela, confusos, admito. Mesmo com ela nos meus braços, enterrando-me nela, unindo nossos corpos em um só, eu precisava de mais, era uma necessidade descomunal, eu não entendia o porquê, só conseguia me sentir incapaz de controlar minhas emoções, fechei os olhos e lágrimas rolaram pelo meu rosto.
Minha cabeça foi tomada por pensamentos tensos e lembranças dolorosas, as mesmas que me perseguiram e torturam nos últimos meses. O peso da culpa pelos meus atos, a meu relacionamento com a Marta, a forma trágica como tudo acabou, são feridas que eu carrego ao longo do tempo. Mas meu descontrole emocional, minha fraqueza ao chorar diante dela, tinha uma justificativa muito válida, uma preocupação muito pertinente, que era o medo de me entregar e viver tudo que eu passei com a Marta outra vez.
Eu não posso me entregar, mas como evitar se ela já me tem?
Ela percebeu minha emoção, levantei-me e agi rapidamente, eu ainda precisava dela, ainda queria mais, precisava reivindicar o seu corpo e o seu desejo pra mim.
Depois de saciar a minha necessidade, deitei-a em meu colo e ficamos em silêncio por alguns minutos. Percebi o quanto estava ligado a ela, era inevitável e isso estava me deixando maluco, eu não sabia como agir, o meu autocontrole era pífio perto dela.
Chorei, preocupado, tenso e com medo do futuro incerto, medo de confessar que tenho sentimentos perturbadores por ela, temia trazê-la para o meu mundo, eu não posso trazê-la para escuridão que vivo. Abracei-a tão forte, tentando ter coragem para me afastar, aquele ato era como se eu estivesse confessando os meus sentimentos por ela. Foram alguns minuto chorando feito uma criança, com medo de um futuro que ora gostaria de tentar ora evitava, até que ela quebrou o silêncio:
- O que houve? Talvez eu possa ajudar.
Suas palavras despertaram o medo enjaulado no meu coração, segurei firme em seus braços, totalmente ríspido e exigi:
- Fala que não vai se repetir? Não vai me deixar, promete, promete!
- Eu prometo! Não vai se repetir - ela respondeu assustada, óbvio sem entender.
Não tinha como entender, nem eu mesmo sabia por que estava exigindo isso dela.
- Enrico, acalme-se eu estou aqui.
Ela me abraçou com tanta ternura, senti que algo especial entre nós estava acontecendo. Parecia que tínhamos nos conectado naquele abraço, foi bom por alguns minutos, mas eu não podia dar a ela o que ela precisava, eu não podia ser o homem que ela precisa, logo eu, quebrado e incompleto, eu não tenho mais capacidade de amar, eu não posso iludi-la.
Afastei-a subitamente e recolhi minhas roupas e me vesti, tentei ser frio novamente, ignorá-la, talvez assim fosse mais fácil nos mantermos somente no plano de um acordo de negócios sem envolvimentos.
- Você arrumou suas coisas ou esteve muito ocupada com seus amigos? - desdenhei.
- Sim, arrumei. Ainda quer que eu vá com você?
- É necessário, Alícia.
Ela foi ao seu quarto, enquanto isso permaneci na sala, inspecionando cada detalhe dos itens na mesa de centro, não pareciam ter feito algum tipo de orgia, acho que foi apenas um encontro de amigos. Mas por qual motivo o porteiro falou aquilo? Eu queria perguntar, ter mais detalhes e até segurança do que ela falou, mas era melhor nutrir raiva e desconfiança por ela do que amor.
Quando ela retornou, partimos em completo silêncio, sem muitos olhares ou contatos, embora a minha vontade fosse outra. Ela parece ter entendido a minha intenção, não disse nada, permaneceu em silêncio, como se soubesse que eu quero me afastar dela.
Entramos no apartamento, fui até o bar e peguei uma dose de uísque puro, bebi um gole e me sentei no sofá, ela olhou atentamente a sala, as obras de artes e vista, depois ficou parada no meio da sala me encarando em silêncio, por um longo tempo apenas nos olhamos, eu pensei em tantas coisas para falar, em uma infinidade de regras, inclusive, de que nada mais íntimo acontecerá entre nós.
- Onde posso deixar minha mala? - ela perguntou impaciente.
Bebi o último gole do meu uísque calmamente, depois me levantei e fui ao seu encontro, parei bem próximo dela, mas não a toquei.
- Vou te mostrar o quarto.
Subi às escadas e ela me seguiu, abri a porta do quarto reservado a ela e apontei para que ela entrasse.
- Esse é um dos quartos de hóspedes, fique à vontade. Mandarei para seu celular os códigos de acesso da garagem e a cópia das chaves a Maria já está providenciando.
- Maria? Quem é Maria? - ele questionou surpresa.
- Amanhã saberá.
Virei de costas para sair do quarto.
- Enrico, quero esclarecer algumas coisas - ela apontou o dedo para mim, parecia estar chateada. - Você não tinha o direito de ficar chateado com a brincadeira do Mike, nós somos amigos de longas datas. Além disso, eu e você não temos nada um com outro, apenas um maldito acordo que você me obrigou a aceitar. Fique sabendo que estou aqui por conta do meu apartamento e que nada, nada mais irá acontecer entre nós, não interessa o tanto que eu te deixe irritada, acabou! Nem mais um toque, nada!
Parei para ouvi-la e me virei, não era ruim, isso era bom, porque eu também precisava manter distância dela.
- Nisso concordamos, mas eu quero que você fique longe daquele idiota.
- É uma piada? - ela ironizou. - Você não é o meu dono e não vou cortar relações com Mike só porque você está pedindo. Pode esquecer, e é melhor se retirar do meu quarto preciso dormir.
- Não tente medir forças comigo, Alícia.
- Porra! Você é louco ou bipolar? A gente transa loucamente e você me pedi para não te abandonar e depois fica aí todo babaca, frio e distante. Não estou entendendo sua intenção, você fala que não sou seu tipo, que não é homem de compromisso, blá, blá, blá. E do nada tem uma crise de ciúmes besta e agride meu porteiro, me persegue e tenta controlar minha vida. O que está acontecendo me explica que estou perdida?
Aproximei-me dela, ia tocar seu rosto, mas ela recuou.
- Não, já te disse que não acontecerá mais nada entre nós, enquanto não me explicar o que está acontecendo, me deixe por favor, preciso dormir.
Ela parecia decidida a manter a sua palavra, e embora eu também concordasse e que era melhor evitar contato mais íntimo, eu queria aquele toque, mas respeitei sua recusa. Ela voltou-se para cama e começou a procurar algo na mala. Continuei observando, ela queria e precisava de respostas, mas eu ainda não estava pronto para falar.
- Você não entenderia, Alícia. Não quero te trazer para meu mundo, não tem nada de beleza apenas lamentos e tristeza.
- Você não me conhece o suficiente, Enrico. Me deixe, por favor.
Não tinha mais nada para falar, saí e fechei a porta. Respirei fundo e lutei comigo mesmo para voltar e fazê-la minha outra vez.
Naquela noite foram muitas doses de uísque, pouco sono e muitas questões para pensar. Tomei um banho, tentei relaxar, deitei-me na cama, apreciei minhas obras de arte, que foram estrategicamente posicionadas de frente para a minha cama.
Tirei um breve cochilo e logo me levantei, fui até o meu escritório, talvez ler algo produtivo me ajudasse a ter sono novamente. Li alguns e-mails, matérias sobre o mercado financeiro e econômico, entretive-me por alguns minutos, mas meu pensamento sempre voltava pra ela. Meu celular vibrou, olhei rápido e era uma mensagem da Maria, nem mesmo olhei o conteúdo e liguei de imediato, logo ela atendeu.
- Maria, tudo bem?
- Sim, Lorenzo, eu só tinha mandado uma mensagem avisando que providenciei as chaves e que chegarei daqui a pouco para chegar bem cedo aí.
- Não precisa vir tão cedo, posso mandar o meu motorista te buscar.
- Não querido, eu sairei daqui a pouco, temos muita coisa pra resolver e conversar.
- Como você preferir, Maria. Obrigado por sempre estar comigo.
- Sempre, meu filho, estou preocupada com essa situação, acho difícil não ter envolvimento morando junto, não vejo com bons olhos essa situação de morar juntos.
- Só estaremos sobre o mesmo teto, Maria, mas separados.
- Mesmo assim, não acho uma boa ideia. Ela já está aí no seu apartamento?
- Eu sei, Maria. Sim, ela está no quarto de hóspedes.
- Entendi, mas e os quadros, ela não os viu?
- Não, ela não viu ainda, os quadros estão no meu quarto, ainda falta um, só consegui os dois que estavam na galeria do pintor, o outro a agente dele disse que só ele mesmo saberia dizer, mas ele está fora do Brasil - olhei para porta, tive a sensação de ter escutado algo. - Maria, não quero que ela saiba da Marta, não comente nada sobre o meu passado, nenhuma palavra sobre Marta.
Ouvi uma barulho estranho, dessa vez eu tinha razão, vi um vulto na porta, levantei-me rapidamente.
- Já te ligo.
Encerrei a ligação e fui até a porta, encontrei Alícia ajoelhada juntando algo no chão.
- Algum problema, Alícia?
Eita! Que que casal complicadinho, não? Estão gostando do nosso bonitão? Deixem seus votinhos, comentários e estrelinhas.
Beijos, beijos e até logo.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro