54 - Memories (Penúltimo)
Memórias.
OLIVIA
Eu não conseguia acreditar. Se alguém me contasse, eu provavelmente iria dizer que a pessoa estava mentindo, mas eu estava vendo com os meus próprios olhos, e ainda assim, a ficha não havia caído.
– Harry? – Sussurrei, incrédula.
– Oi, Olivia.
Era mesmo ele. Quando ele falou com a atendente, pensei ter escutado errado ou alucinado, mas era a voz dele, e a imagem dele na minha frente. Um turbilhão de sentimentos passou por mim, eu tive vontade de abraça-lo, de gritar, de me jogar em seus braços, até que por fim, fui tomada por uma vontade absurda de chorar, e eu estava dando o meu máximo para controlar isso.
– Harry, você está aqui! Quando você voltou? – Shawn perguntou, estendendo a mão para um cumprimento que Harry logo aceitou.
– Hoje mesmo, acredita? – Ele sorriu, ainda um pouco sem graça. Seu olhar desviou por um breve segundo para mim, até que Shawn voltou a falar.
– Nossa, faz tanto tempo que não nos vemos, quanto tempo você ficou fora?
– Tempo de mais, aparentemente. – Ressaltou, um pouco ácido.
Seu olhar pairou no anel em meu dedo, que eu estava experimentando para a Taylor, e eu logo entendi onde ele queria chegar. Então, a vontade de chorar foi sufocada com a raiva que invadiu o meu peito. Ele passava dois anos sem dar a mínima para mim e queria voltar do nada me julgando e cheio de direitos? Retirei o anel e o devolvi para a atendente, que nos observava curiosa.
– Podemos ir embora, Shawn? – Pedi.
– Na verdade, eu estava pensando se poderíamos conversar um pouco, Olivia?
– Eu não quero conversar com você. – Fui direta. – Shawn?
– Tudo bem. Me espera no carro que eu já vou. Preciso trocar uma palavra com o Harry. – Ele me entregou a chave.
Assenti, e saí da joalheria, sem dirigir mais nenhuma palavra, ou olhar, a Harry. Apesar da vontade alarmante que eu tinha de fazer isso. Eu precisava ser forte agora. Destravei o carro e me sentei no banco do carona. Bati o pé constantemente, coloquei meu cabelo atrás da orelha inúmeras vezes, e mordi o meu lábio inferior com um pouco mais de força que o devido, tudo para tentar impedir que as lagrimas que eu estava segurando, aparecessem. Depois de longos minutos, Shawn finalmente se juntou a mim no carro.
– Por que demorou tanto? – Bufei. Mas logo fiquei um pouco confusa quando vi o quão atordoado ele parecia estar. – O que houve?
– Eu preciso te contar uma coisa...
– O que? – Perguntei um pouco impaciente com todo o suspense.
– Você lembra quando eu te disse pelo telefone que Harry não queria mais te ver? – Perguntou, receoso.
– Se eu lembro do momento que me destruiu completamente dois anos atrás? Sim, é um pouco difícil de esquecer. – Eu não queria parecer tão ríspida, mas ele estava me deixando inquieta com todo esse ar de mistério.
– Ele não disse aquilo.
Parei de bater o pé no chão do carro e o encarei. O que ele tinha acabado de dizer?
– Como?
– Nunca aconteceu. Harry não disse que não queria te ver.
– Então por que diabos.... – Ele me interrompeu.
– Ele perdeu a memória sobre você. – O olhei completamente em choque, sem saber nem o que dizer. – E quando eu digo sobre você, é especificamente sobre você, e sobre o relacionamento de vocês. Ele lembrava de praticamente tudo, menos que tinha desenvolvido sentimentos por você e você por ele. – Eu continuei encarando-o em um silencio incrédulo, só que agora, de boca aberta. – Eu não sabia como te dizer isso, então menti. Pensei que ele lembraria em alguns dias, te procuraria e tudo ficaria bem, mas quando isso não aconteceu e ele viajou, eu apenas...
– Continuou mentindo! – Completei irritada, apesar de entender seu lado.
– Eu não queria te machucar mais. – Falou, soando arrependido.
– Mas você acabou machucando muito mais. Não percebe?
Ele assentiu, aparentando estar realmente mal com toda essa situação, no entanto, eu não tinha tempo para me entender com ele agora. Fui abrir a porta para descer do carro, quando ele perguntou.
– Onde você vai?
– Falar com o Harry. Ele se lembra de mim agora, certo?
– Não totalmente, mas sim. – Abri a porta e já iria descer, quando ele me parou novamente. – Ele já foi, Olivia.
– Então eu vou para o apartamento dele.
Quando o contrato de aluguei acabou, Harry ainda estava em coma, Shawn foi quem veio e pegou as roupas e limpou o lugar, tirando todas as coisas de Harry e levando de volta para Nova York. Mas se ele estava de volta, talvez tivesse voltado para o antigo apartamento, ele ficava há apenas duas quadras daqui, logo, eu poderia ir andando, e com isso, pensar no que eu diria quando o visse novamente.
– Ele não está lá, está em um hotel diário, ele me passou o endereço, eu te levo.
Coloquei os meus pés para dentro do carro e fechei a porta, silenciosamente concordando. O silencio se estendeu até chegarmos no hotel, Shawn me informou o quarto e eu desci, caminhando para dentro do local. O tempo todo meu coração parecia que iria pular para fora do meu peito. Ele se lembrava de mim agora, mas não totalmente, o que isso significava exatamente? Para ele e para nós? O que ele queria conversar comigo? Eram tantas perguntas que quando eu finalmente parei em frente à sua porta, eu estava a ponto de desmaiar.
Me encostei na parede e respirei fundo algumas vezes para me acalmar. Só então, bati na porta. Não demorou mais do que alguns segundos para a porta abrir, e lá estava ele. Harry me olhou um pouco surpreso, e então sorriu aliviado.
– Você veio!
Outras mil coisas passaram pela minha cabeça, porém, eu ignorei todas aquelas possibilidades e fiz apenas o que o meu coração estava exigindo. Fui até ele e passei os meus braços pela sua cintura, o abraçando forte. Seu corpo, que estava um pouco tenso, logo relaxou, e então eu senti os seus braços passarem por cima dos meus braços, me abraçando de volta.
Nada foi dito por um bom tempo, apenas permanecemos ali, um nos braços do outro. Ele parecia precisar desse abraço tanto quanto eu. Uma de suas mãos foi para o meu cabelo, o alisando continuamente, e então eu me afastei, apenas o suficiente para erguer o meu rosto, olha-lo nos olhos e encontrar aqueles olhos verdes que eu tanto adorava e sentia falta. Eles pareciam um pouco distantes, entretanto, mas parte de sua essência ainda estava ali. Algo em mim, ainda reconhecia ele, e isso era o suficiente para mim. Pelo menos por enquanto.
– Eu não sabia. – Expliquei, já sentindo as lagrimas se formarem.
– Eu sei. Shawn explicou. – Ele entendeu, me olhando em um misto de adoração e curiosidade.
– Eu senti tanto a sua falta.
Abaixei o rosto e o apoiei em seu peitoral novamente, voltando a abraça-lo, mas dessa vez, sentindo as lagrimas se libertarem e começarem a molhar o seu suéter. Harry não se importou, no entanto, apenas me abraçou de volta com uma mão e com a outra voltou a fazer carinhos com meu cabelo até eu me acalmar.
– Eu senti falta do seu cheiro. – Comentou, em meu ouvido. – Pode parecer loucura, porém é algo que eu só me dei conta agora, tendo você nos meus braços, tão perto...
Ele afogou seu rosto em meus cabelos e eu apenas o abracei mais forte, querendo eliminar qualquer espaço que restasse entre nós, mesmo que isso fosse fisicamente impossível. Então, senti meu corpo todo arrepiar quando seus lábios tocaram o meu pescoço. Não foi um beijo, apenas um toque e um suspiro pesado contra a minha pele, e então, ele se afastou. Sua repentina ausência me aturdiu um pouco, mas tratei de me recuperar enquanto o via fechar a porta do quarto que havíamos esquecido aberta. Ele estava um pouco diferente, ligeiramente mais velho, mais encorpado e com mais músculos do que ele aparentava no vídeo que mandou para o meu pai e seu cabelo estava mais curto, contudo, apesar das mudanças, ele continuava extremamente atraente. De tirar o folego.
Me virei para o quarto, olhando em volta pelo cômodo enquanto tentava controlar as sensações que dois anos sem qualquer contato íntimo com nenhum outro homem havia acumulado. Eu tinha tantas perguntas, e uma delas era se ele havia ficado com outra mulher na Inglaterra. Não apenas no sentido sexual, mas sentimental também. Esse era um dos meus maiores medos, o outro era ele ter me esquecido, e bem, isso já havia acontecido. Um raio de más notícias não cairia sobre mim duas vezes, cairia?
– Podemos conversar? – Ele pediu.
– Claro.
Ele se dirigiu até o sofá que havia perto da cama e da televisão e se sentou, esperando que eu me sentasse ao seu lado para começar a falar.
– Eu me lembro de você, do que eu sentia por você, do que tínhamos juntos. Mas eu sinto que ainda falta bastante coisa, é como se existisse uma barreira na minha mente e até recentemente, eu estive com muito medo de derruba-la. Era confortável a vida que eu tinha lá na Inglaterra, mas apesar de estar perto da minha família biológica, bem no fundo eu ainda sentia que minha família... estava aqui. – Eu perdi qualquer autocontrole que ainda tinha, e deixei as lagrimas fluírem. Não me impediria mais de nada, apenas sentiria. – Havia um vazio no meu coração que eu nunca consegui completar, mas aqui, junto de você, esse vazio parece estar desaparecendo, e é simplesmente horrível não conseguir lembrar.
– Está tudo bem. – Procurei a sua mão, e entrelacei os nossos dedos, demonstrando que eu estava ali para ele.
– Você não me odeia?
– Eu senti raiva de você e magoa, por muito tempo, mas eu nunca consegui te odiar. Apesar do que eu pensava que era verdade, eu nunca senti isso, e agora que eu sei o que realmente houve, é que eu nunca conseguiria mesmo. Você está aqui, você quer tentar e é isso o que importa. Eu vou fazer o meu melhor para te ajudar a se lembrar de tudo.
O abracei novamente quando algumas lagrimas escorreram dos seus olhos. Tão forte e apertado quanto antes, pois parte de mim ainda desconfiava que isso tudo não passava de um sonho, como eu já havia sonhado várias vezes antes com a sua volta. Por isso, eu queria acreditar, e aproveitar cada segundo com ele. Quando nos afastamos, Harry segurou o meu rosto, me olhando profundamente nos olhos por um momento, e então se aproximou para um beijo, um beijo que eu ansiava por dois anos, um beijo que eu havia sonhado milhares de vezes, no entanto, agora, não parecia certo. Então, no último segundo, antes que nossos lábios se tocassem, eu virei o rosto. Harry apoiou sua cabeça no meu ombro, por um breve segundo, e suspirou, antes de se afastar.
– Desculpa. Eu não quero que você faça algo que possa se arrepender, eu sei que tem o Shawn...
– Shawn? O que? – O interrompi, rindo levemente O que aliviou um pouco da tensão entre nós.
– Vocês não estão juntos?
– Não. Eu pensei que ele havia explicado quando conversou com você mais cedo.
– Não, ele só falou sobre o que ele fez anos atrás. Eu cheguei até a pensar que ele havia feito de proposito para te conquistar... – Ele revelou abismado. O que me fez gargalhar. – Vocês não estão juntos mesmo? – Neguei com a cabeça. – E o anel?
– É para a Taylor. Eu estava apenas experimentando para ver se cabia e se ela iria gostar. – Expliquei. – Aquele seu ciúme na joalheria foi totalmente desnecessário. – Completei, provocativa.
– Eu não estava com ciúmes. – Ele passou a mão pelo cabelo e desviou o olhar para o lado, claramente em um ato de honestidade.
– Claro que não. – Debochei, ganhando um pequeno sorriso de canto dele.
– Bem, se não era o Shawn. Por que?
– Eu só não quero me machucar novamente. Eu sei que não foi sua culpa, mas esses dois anos foram difíceis para mim. Eu quero ter certeza... ou melhor, eu quero que você tenha certeza dos seus sentimentos, assim como eu tenho dos meus.
– Tudo bem por mim.
Harry concordou, e buscou a minha mão para entrelaçarmos os nossos dedos novamente. E eu não poderia estar mais em paz com o nosso momento. Eu havia ficado no vaco por dois anos, não me importava de esperar mais um pouquinho para finalmente conseguir ser feliz ao lado dele.
HARRY
Olivia bateu na minha porta as seis e meia da manhã em ponto, pois havíamos combinado de correr juntos ontem. Havíamos passado o resto do dia juntos, conversando sobre os dois anos que passamos longe um do outro, e era apenas incrível como quando eu estava com ela tudo parecia entrar nos eixos e se encaixar perfeitamente. Apesar das memórias perdidas, eu sentia em meu coração que a conhecia como nunca conheci outra mulher antes em toda a minha vida. Era como se houvesse uma ligação profunda entre nós, difícil de explicar ou entender. E a atração... bem, a atração era incandescente, e estava sempre presente entre nós. Foi uma luta conseguir me controlar toda vez que ela se aproximava minimamente de mim. Tudo o que eu queria era toca-la cada vez mais.
Eu estava vestindo um calção de corrida, um moletom largo e luvas, todos pretos, e ela uma daquelas calças legging super coladas preta e azul, um moletom amarelo e luvas rosas. Seu cabelo estava preso em um rabo de cavalo e ela estava simplesmente linda. Ainda era surpreendente, e inexplicável, a sensação que ela me causava, apenas em olha-la. Mesmo não tendo noção do tamanho do sentimento em meu peito, era impossível dizer que não havia um.
A puxei levemente pela cintura e lhe dei um beijo de bom dia na bochecha, apesar de querer fazer muito mais que isso.
– Você está linda.
– Obrigada. – Ela sorriu. – Pronto?
– Para onde vamos? – Perguntei animado.
– Eu pensei em darmos uma volta pela cidade, talvez te traga alguma memória. – Sugeriu.
– Pode ser. Se você conseguir me acompanhar!
Saí correndo pelo estacionamento do hotel, o que a pegou de surpresa e me deu uma vantagem, mas logo ela já havia me alcançado.
– Boa tentativa, mas eu comecei a correr quase todos os dias durante esse ultimo ano. Você vai precisar se esforçar muito mais do que isso!
Ela apressou o passo, pegando uma leve vantagem de distância, mas eu fiz o mesmo e a acompanhei. Ela sorriu, aceitando o ritmo que estávamos, e continuamos a correr pela cidade lado a lado. Como era cedo, as ruas ainda estavam bem vazias e desertas, boa parte do comércio ainda estava fechado ou abrindo. O caminhão de neve havia limpado as ruas da cidade ontem, no entanto, já estavam brancas novamente pela nevada que deu durante a madrugada, mas nada que nos atrapalhasse.
Corremos por um bom tempo, apenas parando para respirarmos um pouco uma vez ou outra. O rosto de Olivia foi ficando cada vez mais vermelho no decorrer da corrida, o que eu achei extremamente fofo e engraçado.
– Você parece um tomatinho. – Sorri, colocando minhas mãos em seu rosto para aquece-la com o tecido fofinho das luvas.
– Está muito frio. – Ela frisou, estremecendo um pouco. – Vamos sentar um pouco? – Eu assenti.
Caminhando até um dos bancos perto da pracinha no centro da cidade, limpamos a neve do banco e nos sentamos. Depois de alguns segundos olhando em volta pela cidade, foquei em Olivia e percebi que ela estava um pouco tensa ao meu lado.
– O que foi?
– Nada, é só uma dúvida... você conheceu alguma mulher na Inglaterra?
– Não muitas. Eu fiquei muito focado nos meus propósitos lá. Em determinado momento pode se até dizer que eu estava um pouco obcecado. Vendo isso, algumas noites o meu tio me levava para relaxar e beber um pouco em um Pub. E sim, conheci algumas mulheres, mas nada realmente real ou íntimo, apenas troca de beijos. – Apesar de não querer mostrar, e disfarçar, deu para notar um certo alivio em seu rosto, o que me fez sorrir. – E você?
– O mesmo. Nada mais que beijos sem qualquer implicação. E olhe que eu tentei, mas você nunca saiu da minha cabeça.
– E quanto ao seu coração?
– Tão pouco. – Ela confessou, desviando o olhar de mim e abaixando a cabeça, enquanto seu rosto alcançava uma nova tonalidade de vermelho.
– Vamos voltar? O aquecedor do hotel é incrível. – Sugeri.
– Não, eu tenho uma ideia melhor! – Ela segurou a minha mão e se levantou, me levando junto. Atravessamos a rua, e andamos por mais alguns minutos, dos quais ela não me contou nada sobre para onde estávamos indo, mas assim que dobramos a esquina e paramos, eu rapidamente reconheci o prédio onde eu havia ficado quando estava em Londville. – Quando eu cheguei em casa ontem, eu liguei para conferir e o seu apartamento ainda não foi alugado. Então, eu pedi permissão e o senhorio disse que podíamos vir hoje. – Ela começou a explicar, enquanto entravamos no elevador. – O apartamento talvez desperte alguma memória.
– É uma boa ideia. – Concordei. – Espero que ajude.
O elevador chegou ao andar, e nos descemos. O leitor de digitais e senha foi algo que eu pedi para que fosse instalado na época, e agora já havia sido removido, por isso Olivia abriu a porta com uma chave reserva, que estava escondida debaixo do pequeno tapete de boas-vindas em frente a porta. Eu entrei primeiro, caminhando até o meio da sala e olhando em volta. O apartamento era alugado com os móveis, então tudo parecia igual, apenas... mais vazio. Fechei os olhos, me permitindo sentir o lugar e logo a lembrança de querer beijar Olivia no sofá atrás de mim voltou a minha mente. Era algo que eu já havia me lembrado, mas ainda assim, ela foi a primeira que me veio à mente.
– Lembrou de algo novo? – Ela perguntou, me fazendo abrir os olhos.
– Não. Apenas da vontade absurda que eu estava de te beijar nesse sofá.
Ela abriu um sorriso envergonhado, e eu sorri ao perceber que não precisava nem especificar em que noite, ela sabia exatamente de qual momento eu estava falando.
– Eu não teria reclamado...
Ela caminhou até mim, então se inclinou para frente o suficiente para me fazer acreditar que iria me beijar, mas apenas segurou a minha mão e me puxou em direção ao corredor.
– Aposto que não. – Comentei, entrando completamente no seu jogo provocativo.
Chegamos ao quarto, e novamente, ela me deixou olhar o lugar, enquanto esperava na porta. Olhei para a cama, as paredes, e então para ela parada na porta, e a memória fluiu em minha mente, como se eu a nunca houvesse esquecido.
– Olivia, eu não acho que seja uma boa ideia...
– Nem eu! – Ela me interrompeu. – Mas pensar sobre isso está me deixando louca! O que você me disse aquele dia no campus, sobre o que eu estar sentindo ser errado...
– Me desculpe. – Dessa vez, eu a impedi de continuar. – O que eu fiz foi errado, eu passei completamente dos limites nesse dia.
– Ok, mas você queria dizer tudo aquilo? – Eu não sabia o que responder. A verdade estava fora de questão. Eu havia deslizado àquela hora no dormitório da Universidade, não podia me deixar levar novamente. Aproveitando o meu silencio, ela se aproximou e parou na minha frente, elevando a cabeça para não perder o contato visual dos nossos olhos. – Era verdade? Eu quero que você diga olhando nos meus olhos. – Disse, fazendo o mesmo que eu havia feito quando a provoquei no dormitório.
E apesar de eu consegui me manter sério por fora, foi impossível impedir o meu coração de acelerar com a sua proximidade. Eu precisava falar algo. Eu precisava reagir.
– Não. – Neguei. – Você me pegou de surpresa aquele dia, eu não esperava que você estivesse no meu quarto, então disse tudo aquilo apenas como uma forma de provocação, para que você fosse embora.
Eu percebi no fundo do seu olhar que minhas palavras haviam machucado um pouco. E apesar de ser uma coisa babaca, essa era a intenção. Eu precisava tomar controle da situação.
– Eu não acredito em você. – Insistiu.
– É um direito seu não...
Fui interrompido pelos seus lábios nos meus. Foi um beijo rápido, ela se afastou um pouco para me olhar nos olhos, e o desejo que eu encontrei neles foi simplesmente irresistível. Levei minha mão até o seu rosto e fitei a sua boca, percorrendo os seus lábios com o meu polegar. Eu não conseguiria mais me controlar, não com ela tão perto. Por isso, sem pensar mais, a beijei. Passei o meu braço em volta de sua cintura, puxando-a para mim e me deixei levar por aquele desejo insano. E que se foda o autocontrole.
Eu havia achado ela linda desde o nosso primeiro encontro na festa, mas eu não conseguia pensar no momento exato do inicio dessa atração intensa. Se eu soubesse que eu estaria beijando-a agora desde o início, será que eu teria me afastado? Pedido uma transferência de caso? Impossível dizer que sim tendo os seus lábios contra os meus em um beijo descontrolado.
Ela levou suas mãos até os meus ombros, me arranhando levemente, e eu simplesmente me afundei naquele desejo. A empurrei até a parede mais próxima e a ergui. Olivia prendeu suas pernas em volta da minha cintura e minhas mãos se firmaram em suas coxas, ela gemeu e arqueou o corpo quando eu as apertei, o que me deu abertura para beijar o seu pescoço e migrar os beijos de volta à sua boca.
No entanto, eu queria mais. Minhas mãos subiram para a sua cintura, e adentraram a sua fina blusa. Olivia não mostrou qualquer sinal de desaprovação, então apenas continuei subindo... até ser bruscamente trazido de volta a realidade com batidas na porta. Me afastei e a coloquei no chão imediatamente, indo abrir a porta. Era Taylor....
– Você lembrou de algo?
Abri os olhos, Olivia agora estava parada bem na minha frente e tudo o que eu conseguia sentir era um crescente desejo.
– Sim... – Segurei a sua mão, e a guiei até a mesma parede de antes.
Ela, novamente, pareceu entender exatamente o que eu havia me lembrado, pois mordeu seu lábio e segurou um sorriso indecente. Quando a encostei na parede, suspendi seu corpo no ar e ela prontamente prendeu suas pernas na minha cintura.
– O que você está planejando fazer, Harry? – Perguntou, passando seus braços pelo meu pescoço.
– O que eu quiser, Olivia. Taylor não está aqui para nos interromper agora.
Tomei os seus lábios nos meus e ela correspondeu ao beijo de imediato. Era perceptível no seu toque que ela queria aquilo, tanto quanto eu. Suas mãos adentraram o meu cabelo, puxando-o levemente e ela me puxou para mais perto, apertando ainda mais suas pernas em volta de mim e colando completamente os nossos corpos. Apertei suas coxas com vontade, fazendo-a gemer entre o beijo, e aquilo foi a coisa mais gostosa e estimulante que eu ouvi em um longo tempo.
Paramos o beijo, extremamente ofegantes, e Olivia se desencostou da parede para que eu conseguisse tirar a sua blusa moletom, a deixando apenas com o sutiã preto, e então eu a apoiei novamente na parede para conseguir tirar o meu próprio moletom. Eu iria voltar a beija-la, mas fui pego de surpresa quando senti suas mãos nas cicatrizes em meu corpo, uma perto do ombro, mas a que ela estava mais focada era a outra na lateral da minha cintura.
– Eu sinto muito. – Sua voz saiu um pouco tremula.
E percebendo a mudança do clima, a coloquei no chão.
– Está tudo bem. – Tentei amenizar a situação, vendo que ela estava a ponto de começar a chorar.
– Não está, eu atirei em você!
– Você estava assustada, eu entendo e não te culpo, Olivia. Está tudo bem.
– Se você não me culpa então por que não se lembra de mim? – Perguntou, deixando as lagrimas caírem. E me doeu ver ela assim, ainda mais porquê eu não tinha uma resposta para lhe dar que não fosse lhe magoar. – Eu não posso mais fazer isso. – Continuou.
– Isso o que? – Perguntei sem entender.
– Isso. – Ela apontou para mim e depois para ela mesma. – Pelo menos não enquanto você não se lembrar completamente.
Ela se afastou, pegou e vestiu o seu moletom que eu havia jogada no chão a alguns passos de nós.
– Eu estou lembrando, você sabe disso. – Fui até ela e segurei a sua mão. – E com memória ou não eu sinto que... estou me apaixonando mais uma vez por você. – Confessei.
Seu choro veio um pouco mais forte, e apesar de balançada com as minhas palavras, ela não mudou de ideia.
– Eu amo você, Harry. Eu te amei mesmo durante esses dois anos longe, e sinceramente? Acho que nunca vou conseguir deixar de te amar... mas até que você se lembre de tudo... especialmente do que eu te disse nesse quarto um dia antes de você partir para outra cidade, e do que você me falou quando retornou e eu estava no hospital... Esses, assim como todos os outros, mas especialmente esses momentos, são os mais marcantes e imprescindíveis da nossa história. Não podemos ficar juntos se você não lembrar.
– Não é justo, Olivia, eu estou tentando...
– Eu sei. – Me interrompeu, se aproximando em encostando seus lábios nos meus em um breve beijo de despedida. – Você sabe onde me encontrar quando se lembrar.
Ela soltou a minha mão e então foi embora. Me deixando sozinho, e completamente confuso naquele apartamento cheio de memórias. Tudo que eu tinha certeza era de que, agora, mais do que nunca, eu necessitava me lembrar de tudo.
Amores, esse foi o penúltimo capítulo. O próximo é o ultimo e depois vai ter um pequeno epílogo para encerrar de vez a incrível historia que foi Enigma. Depois do cap epílogo eu postarei informações sobre a minha próxima fic H.S. e um livro original para quem quiser acompanhar. Até mais!
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