36 - Styles
Styles.
OLIVIA
Eu não me lembro de ter pegado no sono, mas quando acordei, eu não estava mais na mala do carro, e sim em uma casa, o teto era de madeira e apesar de raios de sol entrarem pelas frestas, o ambiente estava extremamente frio. Me sentei na cama e foi quando percebi que uma das minhas mãos estava algemada na cabeceira. Olhei em volta, não era bem uma casa e sim uma cabana, ou um chalé, possuía apenas um cômodo, onde se misturava o quarto, a sala e a pequena cozinha, e uma porta que provavelmente dava em um banheiro. Não havia mais ninguém ali a não ser eu. Se eu gritasse, alguém apareceria para me salvar? Ou eu estava em algum esconderijo no meio da floresta onde ninguém além do próprio Enigma conhecia a localização? Era difícil dizer, mas eu tentaria de qualquer jeito.
Dei meu primeiro grito de socorro, e quando estava presta a gritar novamente, a porta de entrada se abriu bruscamente. Liam passou por ela segurando uma sacola de papelão nos braços e uma expressão nada amigável no rosto.
– Vejo que acordou. Mas você sabe que gritar não vai adiantar de nada, certo?
– Onde eu estou?
Ele suspirou, frustrado. Colocando a sacola no balcão da pequena cozinha.
– Você não pensa antes de falar? Ou você realmente acha que eu responderia essa pergunta?
– O que você vai fazer comigo?
– Nada. Por enquanto. – Ele começou a desempacotar tudo o que tinha comprado, sem nem se importar em me dar atenção.
– Você não vai me matar? – Apesar do medo, era difícil não notar como toda essa situação estava estranha.
– Normalmente as garotas imploram para não morrer, mas você está pedindo por isso? Você é realmente diferente, Olivia Collins.
– Eu não estou pedindo! Mas você tão pouco está fazendo algo! O que? Todos aqueles joguinhos mentais, mortes e pistas foram para nada? Você sequer é mesmo o Enigma?
Ele parou o que estava fazendo e olhou na minha direção, sério. Minha última pergunta com certeza atingiu algum nervo para eu ter conseguido sua imediata atenção. Ele caminhou até a área da sala, que ficava em frente a cama, e pegou um frasco que estava em cima da lareira.
– Você fala demais!
Ele tirou um lenço do bolso e o molhou com o liquido do frasco, que só poderia ser clorofórmio ou algo do tipo para me fazer desmaiar.
– Não...
Ele apertou o lenço contra o meu rosto e assim que inalei o cheiro forte, eu apaguei. Acordei um tempo depois com a visão totalmente embaçada e a mente ainda confusa. Tudo parecia estar girando. Não me lembro de muito coisa, apenas flashes de Liam falando ao celular e a palavra "tempo" se repetindo várias vezes, mas eu nunca conseguia entender o que ele falava. Quando recobrei totalmente minha consciência, eu estava sozinha novamente.
HARRY
Olivia estava desaparecida há 16 horas. Em casos assim, é importante se esforçar ao máximo no começo, pois depois das primeiras 72 horas, as chances de encontra-la vão ficando cada vez menores.
Liam era o principal suspeito, no entanto, sem qualquer prova, não conseguimos o mandado para revistar o quarto dele. Por sorte, não precisamos, pois Luke era o colega de quarto dele e nos deu permissão para entrar.
– Liam? Vocês têm certeza? Ele é o meu colega de quarto a vários meses! Não consigo acreditar que ele faria isso... que é um assassino. – Luke falou desacreditado, sentado em sua cama.
– Você não tinha ideia que eu era um federal também.
– Ah, mas com você é acreditável. Você sempre foi misterioso. – Revirei os olhos, enquanto olhava meticulosamente as coisas na mesa de estudo de Liam. – Com o Liam é diferente, ele é o meu melhor amigo! É impossível que seja ele!
– As pessoas podem te surpreender... Achei algo!
Uma das gavetas possuía um fundo falso, imperceptível para alguém que não estivesse procurando. Dentro, haviam várias fotos polaroid de Lana, Mary, Clara, algumas das garotas mortas aqui em Londville. As fotos eram horríveis, todas eram post-mortem e mostravam as vitimas todas cobertas de sangue e sem vida. E não havia nenhuma foto das mortes para a qual ele possuía álibi.
– O que achou? – Ouvi Luke perguntar.
Me virei para ele, um pouco receoso sobre o que faria a seguir. Mesmo sabendo que era o melhor a se fazer. Cortar logo essa amizade que Luke pensava ter com Liam e o trazer para o nosso lado. Levantei a mão e estendi uma das fotos para que ele pudesse ver.
– Ainda acha impossível?
Ele se levantou da cama imediatamente e correu para fora do quarto, vomitando provavelmente tudo o que comeu durante o dia no chão do corredor do dormitório. Dona Rosa, a senhora que fazia a limpeza geral, não ficaria nada feliz.
Eu e o outro policial que havia vindo comigo, colocamos as fotos dentro de um saco de evidencias, e empacotamos tudo o que poderia ser considerado suspeito. Na delegacia, tirei foto de tudo e fui para o meu apartamento. Reconheci que precisava dormir quando quase cochilei ao volante. Estava há dois dias sem dormir. No entanto, ao entrar no meu apartamento, não encontrei o silencio que esperava. Taylor estava sentada no sofá, enrolada em vários cobertores, e Shawn vinha da cozinha com um balde de pipoca.
– Har... Edward! – Se corrigiu, surpreso.
– Eu não ligo se me chamar de Harry, Shawn, até prefiro.
– Ok. – Ele sorriu aliviado, mas ao mesmo tempo, nervoso.
– O que faz aqui? Pensei que depois de tudo o que aconteceu iria para sua casa. – Me dirigi à Taylor.
– Meu pai decidiu que seria melhor eu continuar aqui, que eu estaria mais segura.
– O que houve com o policial que deveria estar na porta?
– David convocou quase todos para continuarem a busca por Olivia. – Shawn explicou. – Eu questionei, mas ele me disse que tinha falado com você. Ficaram apenas dois na entrada do prédio, e um dentro de um carro na garagem.
Fechei os olhos por um momento, e a lembrança de David me contando que iria chamar todos os policiais veio a minha mente. Eu tinha esquecido completamente, e nem percebi o policial na garagem também.
– Ele me contou. Eu me esqueci por um momento... eu realmente preciso dormir um pouco, você vai ficar bem?
– Sim, não se preocupe. Eu dou conta da Taylor. Você realmente precisar dormir, já se olhou no espelho? Está com olheiras enormes!
– Não me pareceu importante me olhar no espelho dadas as circunstâncias.
– Sim, claro. Desculpa, eu vou... – Ele apontou para a televisão, e saiu, se sentando ao lado de Taylor e lhe entregando a pipoca.
Segui para o meu quarto, tirei o casaco e me sentei na cama para retirar os sapatos e as meias. Quando meus pés ficaram livres, foquei em abrir todos os botões da camisa social, mas sem a menor força de vontade para tira-la completamente, a deixei no meu corpo e cai para trás, relaxando na cama.
Acordei cedo, já que fui dormir as sete da noite. As primeiras coisas que eu fiz foram urinar, tomar um banho e escovar os dentes. Quando retornei para o quarto para me vestir, foi quase impossível não ver as caixas de papelão em frente a parede de evidencias, apesar de não as ter notado ontem. Vesti uma calça jeans, e uma camiseta branca e me sentei na cama para ver o conteúdo das caixas. Eram arquivos e mais arquivos sobre mortes no mesmo padrão de Enigma, só que em outros países. Teria que perguntar a Shawn sobre isso.
Me levantei, pegando o casaco que eu estava vestindo ontem, e procurei pelo meu celular nos bolsos. Assim que achei, voltei a me sentar na cama. Haviam duas ligações perdidas de Andrew que eu decidi logo retornar. Tinham encontrado um carro abandonado perto dos limites da cidade, eles estavam a caminho. Ele me passou uma mensagem com a localização exata e eu copiei e colei no GPS do meu celular.
Taylor estava dormindo no seu quarto, e Shawn desmaiado no sofá. Desliguei a televisão e sai do apartamento. Eu estava morrendo de fome, no entanto, não havia tempo de passar em algum café, eu queria chegar naquele carro o quanto antes.
– Tudo bem? – Andrew perguntou, quando eu passei por debaixo da fita policial amarela que isolava a área e me aproximei do carro.
– Sim. Encontraram algo? – Fui direto, olhando pela janela do motorista.
– Até agora nada. O interior do carro parece ter sido completamente limpo. A equipe forense está examinando a mala. Mas pode ser que esse nem seja o carro certo.
David se aproximou do lugar onde estávamos e me cumprimentou com um leve aceno de cabeça, fiz o mesmo, então continuei com as perguntas.
– Câmeras? Testemunhas?
– O carro foi pego passando pela câmera externa de um posto de gasolina aqui perto, mas não deu para ver se era Liam que estava dirigindo, e como não temos uma localização exata, fica difícil mapear por onde podem ter seguido. Principalmente se ele trocou de carro e seguiu com outro daqui. Não temos placa, cor, marca, nada. – David respondeu.
– Conseguimos algo! – Um dos técnicos forenses avisou.
Nos aproximamos e ele entregou um saquinho de evidencias a David.
– Não há nada aqui.
– Olhe mais perto. – O técnico continuou.
David levantou o saquinho na altura dos olhos, e só então o fio de cabelo loiro ficou visível aos olhos. E foi como se o meu corpo tivesse sido preenchido de esperança. Finalmente tínhamos algo concreto, além de especulações e dúvidas.
– Algum resíduo de sangue presente na mala? – Questionei.
– Não. Apenas um pouco de terra. Provavelmente do local de onde ela foi levada.
Isso era ótimo. Significava que Olivia ainda estava viva, e sem nenhum sinal de ferida. Isso, é claro, se o fio de cabelo correspondesse mesmo ao dela.
– Corra para fazer o teste de DNA, precisamos do resultado com urgência. – David falou, devolvendo o saquinho ao técnico, que assentiu, se retirando.
***
No caminho de volta, passei em um café e comprei um americano e alguns donuts, que eu comi no carro mesmo, saciando parcialmente a minha fome. Shawn já estava acordado quando cheguei o apartamento, e para a minha surpresa tinha preparado alguns sanduiches.
– Eu não sabia se você já tinha, então preparei alguns para você.
– Obrigado, irmão! – Peguei um dos sanduiches e me juntei a ele no sofá. Ele estava ocupado com algo em seu notebook.
– Mas tenho que alerta-lo que eu não entendo nada de comida!
Dei a primeira mordida no lanche, e realmente, era apenas o pão de forma, com geleia de morango no meio. Mais simples impossível.
– Está ótimo, não se preocupe. O que está fazendo? – Olhei para a tela do seu notebook.
– Bom, pode ser um tiro no escuro, mas decidi triangular todas as mortes do Enigma aqui em Londville, para assim, tentar localizar onde ele possa está se escondendo.
– Como está indo?
– Acabei de começar, pra falar a verdade. Mas assim que consegui algo, eu te informo.
– Certo. – Me levantei do sofá, quando me lembrei de algo. – Aquelas caixas no meu quarto com os arquivos, foi você?
– Sim, eu pedi a central em Nova York que mandassem possíveis casos fora do país. Mas a ideia mesmo foi da Olivia. Ela pensou que talvez conseguiríamos alguns casos, talvez até mais antigos que os de três anos atrás. Separamos tudo em caixas diferentes, a caixa com os casos mais parecidos está marcada com um circulo na tampa.
– Ok, obrigado.
Segui até a cozinha para pegar mais um sanduiche, e então fui para o meu quarto dar uma olhada nos arquivos. E realmente, o padrão era parecido, em alguns casos, praticamente idêntico ao de Enigma. Era como se ele estivesse experimentando e se aperfeiçoando por toda a Europa, antes de vir para a América. Só tinha um problema, alguns casos eram datados de cinco há até dez anos atrás. Liam ainda seria um adolescente.
No perfil que eu havia feito, Enigma teria trinta e cinco, ou trinta anos no mínimo! Ai sim, todos esses casos seriam possíveis. Liam era uma curva perigosa que eu não tinha previsto. Um ajudante, talvez? Um aprendiz? Ele havia dito que tinha vindo a Londville pela sua família. Talvez fosse a hora de eu rastrear quem exatamente são esses familiares, e descobrir tudo o que for possível sobre Liam Payne.
Meu celular começou a tocar no bolso, e eu o peguei, atendendo a ligação do meu pai.
– Os resultados do DNA saíram, e é realmente o cabelo da Olivia. Estamos na delegacia traçando possíveis caminhos que eles podem ter feito, a pé ou não, a parti de onde encontramos o carro abandonado.
– Tudo bem, estou a caminho.
Guardei o celular e sai do quarto, encontrando com Taylor que saia do seu.
– Harry, que bom que eu o encontrei. Eu achei isso de baixo do colchão, acho que talvez a Olivia tenha guardado ou escondido.
Ela me entregou uma pasta com arquivos, idêntica as que estavam na caixa.
– Eu estou de saída agora, mas eu dou uma olhada. – Ela assentiu, e voltou para dentro do quarto. Segui até a sala. – Conseguiu algo?
– Mais ou menos. Eu marquei todos os locais onde os corpos foram encontrados na cidade, e descobri que a casa da Olivia, fica exatamente no meio de todas as seis mortes que ocorreram na cidade. É como se Enigma tivesse pensado em tudo... como se ele tivesse vindo para Londville exatamente por ela.
– Mas isso já sabíamos. Ele deixou um pedacinho de papel com letras em todas as suas vítimas, que quando juntadas, formava o nome "Olivia". Por algum motivo, ela sempre foi o alvo.
– Então... eu não descobri absolutamente nada. – Ele suspirou, claramente frustrado.
– Não se bata por isso. Continue investigando, acho que você está no caminho certo. Eu estou indo para a delegacia.
– Tudo bem.
Sai do apartamento e entrei no elevador, apertando o botão do andar garagem. Assim que as portas se fecharam, decidi dar uma olhada na pasta em minhas mãos, deveria ser importante para a Olivia ter guardado. Mas à primeira vista, era apenas mais um caso como os outros. Garota loira, olhos azuis, dezessete anos e morta a facadas. Passei para a pagina seguinte e comecei a ler o resumo. Anna Jolie tinha fugido de casa para se casar com Daniel.... Styles.
Styles. Seria uma coincidência? Continuei lendo. Sua família nunca mais teve notícias de Anna, até dois anos depois quando foi assassinada. Daniel, apesar de se declarar inocente, foi condenado a 25 anos de prisão pelo assassinato dela. Tudo isso, em Cheshire, na Inglaterra. Andrew havia me adotado lá. Até moramos por uns três anos lá, até ele conseguir a permissão para nos mudarmos para a América. No entanto, eu era muito pequeno, não tinha lembranças disso.
Seria possível? Seria essa a minha família biológica? Por isso Olivia guardou o arquivo, pois pensava o mesmo? Levantei o rosto, e foi quando percebi que o elevador já havia parado e as portas estavam quase se fechando. Estendi o braço rapidamente, impedindo as portas de se fecharem completamente, e sai do elevador. Caminhando até o meu carro.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro