19 - Straight to the Knife
Direto para a faca.
– Olivia! – A voz de Taylor me chamava, mas estava longe... – Olivia, acorda logo!
Senti algo atingindo o meu rosto e abri os olhos.
– Você jogou um travesseiro na minha cara? – Me sentei na cama, me espreguiçando.
– Sim! Você parecia uma pedra dormindo. O que houve?
– Ah, eu acordei de madrugada com um pesadelo de Harry me esfaqueando até a morte na cozinha, e fiquei acordada um bom tempo olhando para o teto depois disso. – Era o que eu queria dizer. – Nada. Toda essa situação, acho que me deixou um pouco inquieta. – Dei de ombros e ela assentiu enquanto passava batom no espelho. – Por que você me acordou?
– Temos visitas. – Ela avisou, saindo do quarto em seguida.
Escovei os dentes, tomei banho e me vesti, estava já saindo do quarto quando voltei alguns passos, olhando para a maleta de maquiagem da Taylor. Eu não tinha trazido nada de cosmético, apenas minhas roupas, alguns sapatos e o meu perfume. Parei em frente ao espelho, olhando a minha aparência e suspirando ao ver que eu estava com o rosto um pouco inchado e com olheiras, graças a minha péssima noite de sono. Eu não deveria me preocupar com essas coisas e ter um serial killer atrás de mim era a melhor desculpa possível, no entanto, me maquiar um pouco não machucaria ninguém. Passei um pouco de corretivo para amenizar as olheiras, rímel e um batom rosa claro quase invisível. Olhei no espelho novamente, vendo o quão melhor eu estava, e sai do quarto. Na sala, além de Taylor e Harry, estavam Andrew e o meu pai.
– Pai. – Sorri, o abraçando.
– Oi, querida. – Ele beijou o topo da minha cabeça.
– A mamãe não veio? O Louis?
– Não, eles ainda estão na delegacia, mas eles viram em breve. Prometo.
Eu assenti. Olhei em volta, procurando um lugar para me sentar. Andrew estava sentado em uma das poltronas, enquanto Harry e Taylor estavam sentados no sofá grande, cada um em uma ponta. Pensei em ir me sentar na outra poltrona, mas o meu pai já havia se sentado. Ficando apenas eu em pé na sala, sem querer prolongar aquela situação constrangedora, me sentei no lugar vago entre Taylor e Harry, e olhei estritamente para a frente.
– Eu sei que essa é uma situação difícil para todos, mas é o que temos agora. – Andrew começou dizendo. – Para esse plano funcionar, ninguém ode saber que você está aqui, Olivia.
– É.... eu meio que já contei para alguém. – Revelei.
– Meio que contou ou contou? – Ele perguntou.
– Contei.
– Para quem? – Meu pai perguntou. – Patty?
– Sim.
– Menos mal. Eu conheço aquela menina quase toda a vida dela, ela é confiável.
– Mas o celular de Olivia não. – Harry disse. – Se o celular foi grampeado, hackeado ou rastreado, Enigma pode estar bolando um plano enquanto falamos.
– Eu não tinha pensado nisso.... – Disse, me sentindo culpada. – Mas meu celular ficou desligado o tempo todo. Eu o desliguei antes de colocar na mala e vir para cá. Então, não tem como rastrear... eu acho.
– Vai buscar. O seu também, Taylor. – Andrew pediu. Assenti e me levantei.
– Taylor não está com celular, eu tomei como castigo. – Escutei meu pai falar enquanto ia até o quarto.
Peguei o meu celular da mala e voltei para sala, o colocando na mesinha de centro. Harry pegou o meu celular e o abriu, removendo a traseira. Fiquei olhando tudo com um aperto no coração, afinal eu tinha acabado de ganhar aquele celular depois de perder o ultimo na piscina de Niall.
– Não foi grampeado, mas ainda tenho que ver se foi hackeado. No entanto, não pode ser aqui, se o celular foi mesmo invadido, no momento que ligarmos ele pode ser rastreado.
– Eu levo para a delegacia e peço para o nosso TI olhar. – Meu pai informou.
– Esses são celulares pré-pagos, então se vocês precisarem ligar para alguém, usem esses. – Andrew informou, pegando uma sacola plástica que estava ao seu lado no chão e a colocando em cima da mesinha.
– Podemos sair? – Taylor perguntou.
– Não. Até termos certeza de que não há mais perigo. – Ele respondeu.
– Eu tenho que ir agora, mas vou tentar voltar logo, e trazer sua mãe e irmão comigo... Andrew, você vai ficar? – Meu pai ficou de pé.
– Não, eu vou, eu tenho um avião para pegar.
– Você vai viajar? – A pergunta saiu antes mesmo que eu pudesse parar para pensar.
– Sim, tenho que voltar a Nova Iorque, mas devo voltar em no máximo dois dias. Não precisam se preocupar, Edward estará aqui... – Notei que Harry inclinou a cabeça um pouco para o lado, como se estivesse incomodado com algo. –... assim como o segurança. Qualquer problema, é só ligar para o pai de vocês, pelo pré-pago.
– Sem problemas. – Taylor comentou, enquanto eu apenas assenti.
Me despedi do meu pai com mais um abraço e logo ele e Andrew tinham ido embora. Harry se levantou, pedindo licença e indo para a cozinha, enquanto Taylor ligou a televisão. Ela já iria mudar de canal, quando eu vi a minha foto na tela.
– Estão falando sobre mim! – Tomei o controle da sua mão, aumentando um pouco o volume.
".... E temos informações EXCLUSIVAS, que apontam que Olivia Collins, enteada do xerife da cidade, David Tomlinson, é a última vítima do Enigma. Não divulgaremos qualquer informação a mais sobre o caso, no entanto, é seguro afirmar que Olivia, assim como sua irmã gêmea, Taylor, estão seguras. Em seguida..."
– Não acredito que eles usaram essa foto horrível minha. Enquanto a sua está... bem, não perfeita, mas ok.
– Serio que você está preocupada com isso agora?
– Claro! É a minha imagem que estamos falando, eles poderiam ter usado uma foto melhor. Meu instagram está cheio!
– Inacreditável.
Revirei os olhos e fui até a cozinha, Harry estava em frente a geladeira aberta, procurando por algo. Observei em silencio ele colocando uma cebola, e alguns outros legumes e verduras em cima da ilha da cozinha e fechando a geladeira.
– Você ou a Taylor tem alguma alergia ou não comem algum tipo de comida?
– Somos alérgicas a amendoim... você está preparando o almoço?
– Sim. – Respondeu, pegando uma faca e começando a cortar as verduras.
Engoli em seco, lembrando imediatamente do meu pesadelo, e ver ele manusear uma faca enorme com tanta facilidade só me deixou ainda mais nervosa. Notei que havia uma faca pequena daquelas de cortar pão do meu lado da ilha e sem pensar duas vezes a peguei, escondendo-a no bolso traseiro do meu short.
– Não sabia que você sabia cozinhar. – Comentei, me sentindo mais segura.
– Eu diria que tem muitas coisas que você não sabe sobre mim, afinal, não nos conhecemos.
– Na verdade, eu não te conheço. – O corrigi. – Você me conhece. Pelo menos foi o que você me disse aquela noite em que eu te acusei de ser o Enigma.
– Qual das? Você me acusou tantas vezes que é até difícil manter registros – Ele ironizou.
– Ok, eu mereci essa. No entanto, eu pensei que você fosse bom no assunto registros, afinal você convenceu Patty a destruir um sobre você. – Rebati.
– Boa. – Ele reconheceu. – Mas se você queria saber mais sobre mim, era só ter me perguntado.
– Não era como se você fosse a pessoa mais aberta do mundo. – Argumentei.
– Certo. Faremos o seguinte... todos os dias, enquanto você estiver morando aqui, você terá direito a me fazer uma pergunta. O que acha?
– Só uma?
– Se você não quer...
– Não, ok! Uma pergunta será então.... – Concordei, pensando. – Qual.... qual o seu verdadeiro nome? – Perguntei. – Não é Harry, e você parece incomodado quando o seu pai te chama de Edward, então... – Parei de falar, esperando que ele respondesse.
– Meu nome é Harry Styles. – Disse.
– Você não falou que iria mentir.
– Eu não estou mentindo.
– E eu não estou entendendo. Se você é mesmo Harry Styles, quem é Edward Chase? – Perguntei.
– Você terá que esperar até amanhã para saber. – Respondeu.
– Não, não é justo...
– Foi o acordo.
– Sim, mas uma pergunta é muito pouco....
– Que pena. – Ele me cortou. Suspirei, contendo minha indignação, enquanto ele colocava as verduras em um prato grande, jogando um azeite por cima. – A salada que Taylor pediu está pronta. O que você vai querer? Salada também?
– Mais uma pergunta! – Era o que eu queria ter dito. No entanto... – Qualquer coisa que não seja salada. – Respondi. – Precisa de ajuda preparando?
– Não, eu trabalho melhor sozinho.
– Tudo bem, então. Eu vou para a sala. – Fui em direção a porta.
– Olivia! – Ele me chamou.
Parei de andar, me virando. Harry saiu do seu lado da ilha da cozinha e veio em minha direção. Chegando perto... muito perto. Tão perto que eu conseguia sentir o calor do seu corpo junto ao meu. No entanto, os seus olhos nos meus me impediam de me afastar. O que ele estava fazendo? O que eu estava fazendo? Ele se inclinou, e eu senti a sua respiração na curva do meu pescoço, me causando leves arrepios. Senti uma de suas mãos na minha cintura e fechei os olhos, respirando fundo. O cheiro do seu perfume me deixando inebriada. Porém, na mesma velocidade que ele se aproximou, ele se afastou, me deixando totalmente atordoada.
– O que...
Ele me interrompeu.
– Não acho que você vá precisar disso na sala. – Olhei para a sua mão, vendo a faca que eu tinha escondido no bolso. Institivamente chequei o meu bolso para ter certeza, e realmente, ele tinha pego a faca. – E da próxima vez, tenta ser um pouco mais discreta.
Fechei os olhos, me xingando mentalmente por ter esquecido da existência daquela faca, e quando finalmente tomei coragem os abri novamente, encarando Harry. Ele tinha um sorriso torto no rosto, e parecia estar se divertindo bastante com isso.
– Foi... eu tive um... – Gaguejei sem saber o que dizer. Eu pareceria uma idiota se contasse do meu pesadelo.
– Não precisa explicar. Contanto que você não tente se ferir com essa faca, eu não tenho nenhum problema se você quiser mantê-la por perto. – Ele me estendeu a faca e eu a peguei, sem entender bem o porquê de ele estar me entregando ela.
– E se a minha intenção fosse machucar você?
Ele levantou uma das sobrancelhas, confiante.
– Você pode tentar. Mas aconselho que não. – Ele se virou, indo até o armário e pegando uma frigideira. – O que acha de bife assado?
– .... Ótimo. – Comentei, olhando para a faca na minha mão e sentindo que eu não precisava mais dela, pois apesar do pesadelo, eu estava começando a sentir que realmente podia confiar em Harry.
Deixei a faca no mesmo local em que a peguei e voltei para a sala.
***
– Você não pode contar para ninguém, okay? – Pedi.
Ouvi ela suspirar do outro lado da linha.
– Como se eu fosse sair espalhando por aí que você está escondida no apartamento de um ex-suspeito serial killer que na verdade é um agente do F.B.I. por quem você por acaso tem uma tensão sexual. Ninguém acreditaria em mim!
– Ótimo... e sobre a tensão...
– Ei! – Ela me cortou. – Nem vem tentar negar por que eu não sou idiota!
– Eu não ia negar. Eu ia pedir a sua opinião.
– Você sabe a minha opinião, se peguem logo!
– Essa é a sua opinião para tudo, Patty! – Revirei os olhos.
– Bem, já passou das duas da manhã, e eu estou com sono! Logo não vou dar concelhos brilhantes. Sem falar que na maioria dos casos se pegar sempre dá certo. – Eu podia até imaginar ela dando de ombros com sua postura despreocupada apenas pelo seu tom de voz.
– Não deu com o Justin.
– Hey, todo caso há exceções! Como eu saberia que ele é um idiota que anda com criminosos? Falando nisso, o que deu nessa história toda?
– Não havia indícios de que Zayn estava mesmo naquele quarto com Justin, então deixaram ele ir.
– Mas é a arma? Não poderiam prender ele por posse ilegal?
– Também não acharam a arma, ou o mapa ou nada. Eles devem ter limpado tudo e Zayn já deve estar longe agora.
– Acho que não. Algo me diz que ele ainda está na cidade.
– Algo? O que? – Perguntei.
– Não sei direito, um pressentimento. Seja lá o que for que ele e Justin estejam aprontando, não acho que acabou.
– Então toma cuidado, talvez Zayn possa ir atrás de você para tirar satisfações por ter contado tudo para a polícia. – Alertei, preocupada.
– Ele pode até tentar, mas o placar está dois a zero para mim. – Ela comentou rindo.
– Pode parecer engraçado, mas se lembre que ele tem uma arma. Então...
– Eu sei. E vou. Não se preocupe comigo, se preocupe em agarrar Harry.
Revirei os olhos novamente, ela era tão sem noção.
– Eu vou desligar.
– Quanto mais você ignorar, vai ficar maior e mais duro de resistir, Olivia. – Ela me provocou. – Duplo sentindo intencional.
– Não entendi. Que duplo sen.... TCHAU!
Desliguei o celular antes que ela pudesse falar mais alguma gracinha. Eu podia sim ignorar essa situação o quanto eu quisesse. Graças a algo chamado "autocontrole" que eu tinha para tudo, exceto por comida.
Deixei o celular de lado e deitei na cama, pensando no que fazer. Eu tinha que me manter longe de Harry, o evitar a todo custo. O que seria difícil, morando junto com ele, mas não completamente impossível. Fechei os olhos, respirando fundo e tentando não pensar em nada por um tempo, o que não deu certo, pois imediatamente comecei a me lembrar do nosso encontro na Universidade.
– Essa história de novo? Você acha mesmo que eu sou um assassino?
– Você estava nas cidades em que o Enigma passou, você estava em duas das cenas dos crimes, suas mãos estavam meladas de sangue. Sem falar que você me apagou ontem na biblioteca! O que você acha que eu deveria pensar?
– Quer saber mesmo o que eu acho? – Ele voltou a se aproximar, e eu fiquei parada no mesmo lugar, sem ter para onde fugir. – Eu acho que você quer que eu seja o assassino... – Franzi a testa. Do que ele estava falando? – Por que, com eu sendo o assassino, você pode se convencer de que o que você está sentindo é errado.
Engoli seco, sem nenhuma resposta. Não era isso. Não podia ser isso! Minhas investigações não tinham nada a ver com essa atração que eu sentia sempre que estava perto dele, e sim com proteção. Eu tinha que me proteger, e especialmente, proteger minha família e amigos.
– Não é nada disso... – Me esforcei a dizer, focando em um ponto na parede atrás dele. Minha garganta parecia está se fechando cada vez mais, na medida que ele ia diminuindo a distância entre nós. Até que seu rosto tivesse a centímetros do meu.
– Então diz isso olhando nos meus olhos.
Aquela era uma ideia terrível, meu coração estava acelerado, eu estava sentindo cocegas estranhas na minha barriga, e minha respiração estava ofegante. E eu sabia que no momento que eu encontrasse os seus olhos, tudo seria ainda mais intenso. Mas eu tinha que provar que não era o que ele estava pensando, até mais para mim, do que para ele. Então desviei o olhar da parede até encontrar seus grandes olhos verdes focados nos meus.
– Eu... – A intensidade era quase palpável.
Era como se ele pudesse me enxergar completamente, além das barreiras. Como se ele pudesse me entender, e eu o mesmo, mesmo não nos conhecendo. Harry levou sua mão direita para a minha nuca, entrelaçando-a em meus cabelos e eu estremeci ao seu toque, sentindo meus olhos pesarem cada vez mais, até estarem totalmente fechados. E então eu senti seus lábios roçarem nos meus, causando pequenos e deliciosos choques nos meus lábios.
Mas então quando eu pensei que ele iria realmente me beijar, ele se afastou e eu abri meus olhos, completamente atordoada. A perda do calor do seu corpo quase se assemelhando a perda de oxigênio. Harry estava a alguns passos de distância, passando a mão pelos cabelos e respirando ofegantemente. Quando ele ergueu a cabeça e seus olhos encontraram os meus novamente, havia um pingo de raiva neles. Eu só não sabia se a raiva era direcionada a mim ou a ele mesmo. Mas eu não esperaria para ver. Respirando fundo e enchendo os meus pulmões de coragem, eu me forcei a andar e sair daquele quarto...
Eu precisava de respostas, só com essas respostas eu conseguiria esquece-lo completamente. Era algo arriscado, mas necessário. Me levantei da cama, e sai do quarto, parando em frente a porta do quarto de Harry. Olhei para o lado, vendo a luz sair por debaixo da porta do banheiro. Taylor tinha entrado a alguns minutos para tomar banho, e conhecendo ela, ela demoraria ainda mais, o que daria tempo para a minha conversa. Bati na porta de Harry, e esperei por poucos segundos, até que ele abriu.
Engoli seco ao ver que ele estava sem camisa e apenas com uma calça moletom preta. E o fato de eu estar apenas com um pijama babylook, não ajudava em nada. Perdi alguns segundos impressionada com todas as suas tatuagens e em o quanto eu queria tocar em todas elas. Oh céus, eu deveria ter ido dormir. Eu deveria ter pensado melhor nessa loucura! Deveria ter esperado até amanhã, quando estivéssemos mais vestidos e não agora no meio da madrugada. Pois eu sabia muito bem que nada de bom acontecia depois das duas da manhã. Mas agora era tarde demais.
– Podemos conversar? – Perguntei.
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