A biblioteca. 

Na segunda, Louis deixou a mim e a Patty na escola, no caminho para a Universidade. Estávamos paradas no corredor, eu procurando por uma caneta no meu armário e Patty encostada no armário ao lado do meu, que eu não sabia de quem era esse ano.

– Louis, faz faculdade de que? – Patty perguntou.

Ela parecia indiferente, mas eu já a conheço de anos e sei que por debaixo da indiferença estava uma grande curiosidade.

– Por que quer saber? – Perguntei, brincando com ela.

– Por nada. – Deu de ombros e desviou o olhar para a suas unhas recém feitas e pintadas de roxo.

Não pude deixar fazer uma anotação mental para fazer e pintar as minhas unhas que eu não fazia a semanas, o preto do esmalte estava todo debotado e quase sumindo.

– Sei... – Sorri, ela não me enganava.

– Sério, não é nada. – Bufou. – Eu não posso saber o que o irmão da minha melhor amiga quer fazer da vida mais não?

– Não. Se quer tanto saber pergunte a ele! – Abri mais o meu sorriso quando ela revirou os olhos.

– Anda logo aí, já vai tocar! – Reclamou.

– Hey, se não tem uma caneta para me emprestar, não me atrapalhe enquanto eu procuro por uma!

Eu tinha certeza que tinha deixado aquela bendita caneta ali quando largamos na sexta feira, mas ela parecia simplesmente ter sumido. Apesar de que eu ter perdido e não me lembrar é bem provável também. Ou algum espertinho ter roubado, principalmente na minha sala que parecia um zoológico.

– Você está na frente do meu armário.

Uma voz masculina e um pouco familiar disse, e eu virei o rosto para olhar, enquanto Patty se deslocava da frente do armário. Olhei bem para o rosto do garoto, tendo certeza que já o tinha visto antes, mas só quando ele virou o rosto completamente para mim eu o reconheci.

– Justin? – Dei um meio sorriso, surpresa.

– Como você sabe o meu nome? – Ele parecia desconfiado.

– Hm, você me disse, não se lembra? Na festa, você me salvou de morrer na piscina...

– Ah, claro. Olivia. – Ele parecia mais tranquilo, ou aliviado. Não sei ao certo.

– O que faz aqui? – Perguntei e ele sorriu de lado.

– Não é obvio?

Analisei a situação, ele tinha uma mochila nas costas, estava mexendo em um armário, era bem obvio mesmo, me senti uma idiota.

– Você vai estudar aqui? – Ele assentiu, colocando alguns livros de sua mochila dentro do armário.

– Fui transferido.

– E de onde você é? – Perguntei.

– Daqui de Londville mesmo. – Ele sorriu fraco e fechou seu armário, colocando o cadeado. – Acho que você está precisando disso. – Me entregou uma caneta e eu sorri, como ele sabia? – Eu sem querer escutei sua conversa enquanto me aproximava.

– Ainda bem, eu já estava pensando que você podia ler pensamentos. – Brinquei e ele sorriu de lado.

– Nos vemos por aí. – Ele ajeitou sua mochila nas costas e seguiu pelo corredor.

– Obrigada! – Gritei, agradecendo pela caneta.

Ele não se virou, mas eu sabia que ele tinha escutado.

– Você está ficando louca?! – Era Patty, quase tinha me esquecido que ela estava ali. Quase.

– Por que?

– Hello, Olivia? Ele é daqui de Londville e foi transferido, qual a única outra escola presente nessa cidade?

Entendi o que ela queria dizer.

– Ouklen High School. – Respondi.

– Sim, ou seja, você provavelmente acabou de fazer amizade com um marginal! – Ela completou.

– Mas ele não parece ser um, além disso, ele me salvou de um afogamento, que marginal faria isso? – Ela não respondeu. – Ele pode ter feito algum delito, mas se ele foi transferido para cá, isso quer dizer que ele não é mais um perigo.

– Espero que você esteja certa. Mas ainda não tenho um bom pressentimento quanto a ele.

– Se eu fosse depender dos seus pressentimentos para sobreviver, estaria ferrada! – Brinquei.

– Vai zoando, vai, eu sou a única amiga que você tem! – Como era dramática, meu Deus!

– Desculpa, baixinha! – A abracei.

– E não me chame de baixinha também! – Reclamou, me empurrando.

– Ok, chata!

Em meio a risadas fechei e tranquei meu armário e nós seguimos para a sala de aula. Nos sentamos no meio da sala, não tão no fundão (onde se encontrava o zoológico), mas também não muito na frente com os estudiosos. Notei que Justin estava na nossa sala, e enquanto a professora não chegava eu fiquei o analisando. Ele parecia um adolescente normal, e não exalava nenhum alerta em meu cérebro como quando eu estava perto de Harry... droga! Ele de novo na minha cabeça!

– No que está pensando? – Era Patty.

– Em nada, por que? – Olhei para ela, que estava sentada na carteira ao lado.

– Você estava fazendo uma careta estranha. – Ela riu e eu a acompanhei.

– Que estranho.

A professora entrou na sala e com sorte eu não tive que explicar mais nada sobre a tal careta estranha. Deveria ser uma reação a ele, sim, aquele que não devemos dizer o nome e nem pensar... pensando bem, Voldemort é um bom apelido para Harry. Droga!

Para resumir, a professora passou trabalho em dupla. Fechei os olhos e rezei para que eu ficasse com Patty, mas assim que seu nome foi anunciado junto a outra garota, Julia. Taylor ficou com Niall e então todas as minhas opções foram esgotando, até que só sobraram duas pessoas sem par na sala.

– E Olivia e Justin. – Completou a professora. – Vou escrever os temas no quadro e vocês podem escolher livremente.

Todos concordaram e um a um foram juntando carteiras com seus parceiros. Patty passou por mim, sussurrando um "boa sorte" e me lançando um olhar com um misto de tristeza ou preocupação, eu não sabia ao certo. Talvez fosse até decepção, o que eu tinha mesmo certeza era que eu sou péssima com emoções. Suspirei e recolhi meus materiais, indo me sentar na carteira ao lado de Justin. Ele me olhou e sorriu fraco. Devolvi o sorriso, sem saber bem o que falar.

– Nós de novo. – Disse.

– Pois é.... – Suspirei. – Sobre o que quer fazer o trabalho?

– Você decide. Estuda aqui a mais tempo, deve saber um assunto bom para tirarmos uma boa nota.

– Ok. – Concordei, olhando para o quadro.

Decidi por Evolução Biológica, era um assunto com qual eu já estava um pouco familiarizada e assim já teríamos uma boa base para o trabalho. Decidimos por uma apresentação simples de slides, e combinamos de nos encontrarmos a noite na biblioteca da cidade, que estrategicamente ficava ao lado da escola.

***

– E ele não te deu arrepios, nem te assustou um pouco? – Revirei os olhos para a pergunta de Patty, era a terceira vez que ela perguntava isso nos últimos cinco minutos, estávamos no intervalo de almoço.

– Eu já disse que não. Ele parece ser normal. – Respondi novamente.

A nossa vez na fila chegou e nós pegamos uma bandeja, onde fomos colocando o que iriamos comer. Decidi por um pedaço de lasanha e uma lata de refrigerante, enquanto Patty escolheu a salada com suco. Muito mais saudável, mas só de olhar eu tinha enjoou.

Sabe aqueles dias que você só quer comer um pouco de besteira sem se preocupar com nada? Eu estava em um desses! Só de olhar para a minha lasanha eu já estava com água na boca. Normalmente eu matinha uma dieta balanceada, já que eu tenho tendência a engordar, ao contrário de Patty que parece poder comer de tudo sem ganhar uma grama. Queria eu ter essa sorte. Mas apesar de tudo, eu tinha um bom corpo.

– E enquanto a calafrios? Você teve calafrios? – Olhei para Patty, já de saco cheio de suas perguntas sobre Justin e ela pareceu entender o recado. – Ok, vou mudar de assunto... quando você vai contar ao Niall sobre os seus sentimentos? – Lhe lancei outro olhar de desgosto. – Ok, outro assunto... Harry...

– Você não tem um assunto que não envolva garotos? – Questionei, antes que ela terminasse. Não, definitivamente não falaria sobre Voldemort com ela! Principalmente quando nem eu sabia bem o que falar dele.

– Tenho, mas falar dos garotos é muito mais interessante do que falar sobre a escola, ou qualquer outro assunto entediante.

– Vamos falar de series então. – Sugeri.

– Ok, já começou a assistir The Vampire Diares? – Ela perguntou com um brilho no olhar.

Ela vinha dizendo para que eu assistisse essa serie a anos, mas eu nunca tinha tempo, ou interesse.

– Já, é muito melhor do que eu esperava. – Confessei.

– Ok... – Suspirou. – Você é Team Delena ou Stelena? – Ela me olhou ansiosa, como se toda a sua vida dependesse da minha resposta.

– Stelena, lógico. – Disse.

– O QUE? – Ela gritou. Alguns alunos que estavam em mesas próximas nos olharam curiosos e eu apenas quis dar um tapa na cara dessa minha amiga escandalosa. – Como assim "lógico"? Mais para "errado"! Delena é vida! Damon e Elena são perfeitos um para o outro!

– Mas eu ainda prefiro o Stefan, ele é fofo e do bem. Damon é praticamente um psicopata! Todo convencido e cheio de mistérios.

Ela jogou o garfo que segurava na bandeja, e balançou a cabeça negativamente enquanto me olhava como se eu fosse doida.

– Eu desisto. Eu desisto! Você é muito anormal, Olivia!

– Deixa de drama, é só uma serie e a minha opinião. Além do mais, eu estou na terceira temporada ainda, quem sabe eu não mude de ideia?

Tentei amenizar a situação, não sabia que ela levava essa serie tão a sério. Patty assentiu, se acalmando, e nós voltamos a comer entre conversas aleatórias.

***

As seis horas eu saí de casa, o céu já estava escurecendo e como eu não vi nenhuma estrela, desconfiei que poderia chover, então levei um guarda-chuva. Dito e feito, começou a chover quando eu estava na metade do caminho, com sorte a biblioteca, assim como a escola, era perto, então eu cheguei rápido, mas o guarda-chuva não impediu que a chuva molhasse os meus pés. Entrei na biblioteca e retirei as sapatilhas que estava usando e as deixei perto da porta de entrada junto com o guarda-chuva, dei um boa noite a bibliotecária que estava em seu balcão e segui para uma das mesas.

O local estava praticamente vazio, havia um grupo de cinco alunos do colégio, estavam em uma mesa estudando, e do outro lado um casal comendo e conversando baixinho, enquanto mexiam no computador.

Coloquei minha bolsa em cima de uma mesa e segui para as estantes, a procura dos livros necessários para o trabalho. Eu poderia simplesmente perguntar a Thea, a bibliotecária, onde cada um dos livros estavam, mas aí eu ficaria sem nada para fazer enquanto esperava por Justin, então decidi me manter ocupada.

O tempo passou e quando eu percebi, eu estava sentada sozinha na mesa jogando Candy Crush no meu celular. Ouvi meu nome ser proferido e levantei o rosto, era Thea.

– Liv, eu já estou indo, você sabe onde fica a chave, quando sair fecha tudo, ok?

Ela já me conhecia a anos, eu sempre vinha aqui para ler quando era menor, e faço isso até hoje, e como ela já me conhecia, esse ano ela começou a deixar que eu ficasse até mais tarde quando quisesse.

– Claro, boa noite, Thea. – Sorri.

– Boa noite, Olivia. – Ela acenou.

Observei enquanto ela fechava os botões do seu casaco, e abria seu guarda-chuva, antes de abrir a porta e sair para a chuva que caia lá fora. Voltei meus olhos para o joguinho viciante no meu celular, mas minha mente estava distante, já fazia pouco mais de uma hora que eu estava ali esperando por Justin e ele não aparecia. Eu não tenho o número dele e muito menos ele o meu, esquecemos esse importante detalhe e agora não tínhamos como nos comunicar. Se tivesse ocorrido algo mais importante eu entenderia, mas ainda assim, uma parte bem interna da minha mente, pensava na possibilidade de ele não ter vindo de proposito e tudo isso ser um trote na trouxa aqui. E eu não sabia em quem confiar.

Bufei, cansada de perder naquela maldita fase do jogo e joguei o celular em cima da mesa, olhando em volta. A biblioteca era grande, enorme na verdade, mas a maior parte das luzes estavam apagadas, apenas as luzes de onde eu estava e as da entrada estavam acesas, e aquilo não deveria me assustar, afinal, não era a primeira vez que eu ficava ali sozinha. Mas agora, eu não sei, algo dentro de mim dizia que tinha algo errado, que algo ruim aconteceria.

Levantei, e fui até a janela lateral que dava para o jardim que tinha ao lado da biblioteca, me aproximei, observando a chuva cair forte do lado de fora, e por um momento, pensei ter visto alguém, perto das arvores, me observando. Estreitei a visão e realmente parecia ter alguém ali, alguém usando um capuz preto, talvez até a mesma pessoa que eu vi na rua da festa, mas o vidro estava embaçado e eu não conseguia ver direito.

Me apressei em passar a mão pelo vidro, limpando-o, mas quando voltei a olhar para o mesmo lugar, não havia mais ninguém lá. Tentei olhar por entre as árvores, para ver se a pessoa não tinha se escondido de mim, pois eu não estava ficando louca, eu tinha visto alguém! Mas não tinha mais ninguém lá. E agora, eu realmente estava com medo, pois da última vez que isso aconteceu, uma garota foi morta, e agora só tinha eu aqui.

Sai de perto da janela e voltei a mesa, pegando alguns livros nos braços e indo em direção as estantes. Sai colocando os livros onde eu os tinha pegado rápido como quem rouba. Justin que se dane, eu não ficaria mais aqui sozinha por nada nesse mundo. Coloquei todos os livros em seus lugares e voltei a mesa para pegar o resto. Faltava apenas cinco livros quando ouvi a porta da biblioteca bater. Eu gelei na hora com o som. Alguém tinha entrado, e o meu coração acelerou em pânico.

– Justin? – Perguntei alto o bastante, para que se fosse Justin, ele ouvisse.

Minha voz ecoou pelo silencio do lugar, se misturando ao som da chuva, mas não houve resposta. Não era Justin, e agora se a pessoa seguir o som da minha voz, me encontra rapidinho. Segurei os livros mais forte contra o peito e sai dali.

Fui para uma parte onde as luzes estavam apagadas e me escondi atrás de uma das estantes, sentindo a minha respiração se descontrolar mais a cada segundo. Coloquei apenas a cabeça para fora, para tentar ver alguma coisa, mas tudo o que eu vi foi uma sombra passando rápido por entre as estantes. Voltei a me esconder, mais assustada do que antes, pois realmente tinha alguém aqui, alguém vestindo algo preto, acho que um casaco, como a pessoa que eu vi lá fora e era isso que mais me apavorava.

Fechei os olhos, com a respiração ofegante e o coração quase saindo pela boca, e tentei ao máximo não pensar no pior. Então senti uma mão em meu ombro e não consegui conter o grito que saiu pela minha boca, além de deixar que os livros que eu segurava contra o peito caíssem de meus braços. Mas eu iria morrer mesmo, então do que isso importava agora?