Capítulo 37
Fofoca.
Harry
— Você está bem agora?
A preocupação na voz da Olivia foi como um remédio para a minha dor. Falar com ela no geral estava sendo, pois eu não tinha ideia do quanto eu queria ouvir a voz dela até ver o seu nome piscando no meu celular.
— Eu tive pesadelos com a morte dela por um tempo, mas agora, sim, eu estou bem. Não é uma ferida aberta, consigo falar sobre isso com pessoas como você.
Sophia faleceu há mais de uma década, seria tempo demais para não superar algo, e graças a Deus eu havia conseguido lidar com isso. Ela era uma mãe incrível, bondosa, amorosa, mesmo quando adoeceu, e foram necessárias várias sessões de terapia infantil na época, mas eu consegui lidar com o luto. Hoje, falar sobre isso me causa uma sensação estranha no peito, mas não totalmente traumatizada. Eu conseguia lidar.
— Pessoas como eu? — A pergunta me pegou de surpresa, pois eu não tinha percebido o que havia falado.
— Sim... pessoas que eu gosto. Que são importantes para mim.
Era difícil admitir, mas Olivia realmente havia se tornado uma pessoa importante para mim. A realidade era cruel, então, talvez nós não ficássemos juntos no final disso tudo, afinal, haviam muitas coisas que nos separavam, emprego, idade, etc, mas isso não significava que eu não queria a sua segurança ou que eu não queria a proteger. Mesmo que seguíssemos em frente com as nossas vidas como eu havia sugerido, dificilmente ela seria alguém que eu iria facilmente esquecer. Apenas pensar em esquecer Olivia Marie Collins parecia um absurdo impossível para mim. Desde suas maluquices me perseguindo por essa cidade e colocando a própria vida em risco... até o nosso primeiro beijo e a nossa conexão. Não foi a cidade que me prendeu e mexeu comigo, Londville era uma cidade pequena como qualquer outra, foi ela. Olivia me desestabilizou completamente. Desde o começo.
— Você é importante para mim também. — A ouvi dizer.
De um jeito um tanto estranho e novo, isso acelerou de forma gostosa o meu coração. Eu senti a mesma coisa quando ela disse que me amava enquanto transávamos, e agora novamente... não que eu precisasse me preocupar, duas ocasiões semelhantes ainda não formavam um padrão. Eu estava seguro... por enquanto.
A porta do meu quarto de hotel foi aberta e Andrew passou por ela com uma expressão que oscilava entre preocupação e animação, o que me indicava que algo novo e grande havia acontecido.
— Eu tenho que desligar agora, Liv. Surgiu algo importante, eu sinto muito.
Andrew franziu um pouco a testa, olhando para mim agora com uma expressão acusadora, mas eu fiz o meu melhor em não deixar nada transparecer.
— Tudo bem.... Mas o que eu faço com o arquivo do caso que encontrei?
— Mantenha-o a salvo para mim. Assim que eu voltar para Londville, eu darei uma verificada.
— Certo... até mais.
— Até. — Desliguei a ligação e guardei o celular no bolso da minha jaqueta. — O que houve?
— Eu é que pergunto... era a Olivia?
Não tinha nem como eu mentir, ele havia escutado eu dizer o nome dela.
— Sim. Ela acha que tem algumas pistas sobre o Enigma. Combinei de conversarmos quando nós dois voltarmos a Londville para preenchermos os arquivos.
Acho que ele decidiu acreditar em mim dessa vez, pois não expressou muita preocupação e apenas continuou com o que queria dizer.
— Legal. Mas eu vim aqui para informar que surgiu algo, o Xerife acabou de ligar nos chamando. Encontraram alguma coisa em um quarto de motel nos confins da cidade. Está pronto?
— Claro. — Peguei o meu distintivo e a minha arma dentro da caixinha de proteção em cima da mesa, e o segui para fora do quarto.
Chegamos no destino em pouco mais de dez minutos. Era um motel desses de beira de estrada, similar ao Sinner Motel em Londville, sendo que esse era chamado de Badlands. Bairro nada seguro, estabelecimento mal frequentado, e para fechar com chave de ouro, nenhuma câmera de segurança. Típico do Enigma. Nos aproximamos do Xerife Jordan, e após nos cumprimentarmos por educação, ele nos entregou luvas de látex para as nossas mãos e toucas para colocarmos no nosso cabelo e envolta dos nossos sapatos. Só por esse extremo cuidado para entrar no quarto, eu já soube que algo realmente grande havia acontecido, no entanto, nada poderia me preparar para a realidade.
Confesso que ao sair do hotel minutos atrás, eu estava esperando encontrar o corpo de Gina em alguma situação similar ao corpo da Valerie, que foi encontrado estirado em cima de uma cama de motel praticamente com todas as tripas para fora de tantos golpes de faca que ela recebeu na barriga, mas para a minha surpresa, foi algo bem mais sutil e surreal que isso.
Assim que passamos pele porta, fomos surpreendidos com uma cama totalmente encharcada de sangue no centro do quarto. Não como se apenas uma pessoa tivesse morrido ali, parecia mais um matadouro de tão vermelho que era. Havia sangue respingado nas paredes, nos moveis, e o sangue da cama escorria até o carpete que também estava todo ensanguentado. Mesmo já estando acostumado com sangue a minha volta, até mesmo para mim a sensação de entrar ali era esmagadora. Minha nossa... E como se isso já não fosse o suficiente, em cima da cama, como a cereja de um bolo... havia um papelzinho com a letra A escrito nele.
Enigma é realmente um filho da puta desgraçado.
Andrew e eu não nos aproximamos muito da cama, já que a equipe forense estava coletando evidências no quarto e não queríamos atrapalhar ou contaminar nada, observamos da porta completamente abismados àquela cena que parecia ter saído direto de um filme slash. Os lençóis brancos, ou pelo menos assumíamos que eram brancos, já que não dava para ver mais a cor original, apenas vermelho e mais vermelho. Era doentio.
— Temos uma letra. O ciclo recomeça. — Andrew falou.
— É, mas ainda não temos um corpo. — Notei.
Havia sangue demais para se presumir que a vítima ainda estivesse viva, mas se não estivesse, por que ele não nos presenteou com o corpo como das outras vezes? O que essa mudança de padrão nos daria? Onde isso nos levaria?
— Bem pensado. Precisamos fazer uma varredura em todos os quartos desse motel, pelas casas próximas e por todo esse bairro.
— Vamos precisar de bastante mandados. — O Xerife falou, pensativo.
— Sem mandados, demoraria tempo demais para pedir. Instrua os seus policiais a apenas pedir permissão dos proprietários para uma rápida checagem. Estamos atrás de uma garota, da Gina, e não de qualquer outra coisa. Vamos utilizar da boa vontade da população para isso, então, os instrua a serem agradáveis e educados.
O xerife Jordan apenas assentiu e foi falar com alguns dos seus policiais para começar a "busca".
— Você sabe que se for confirmado que aquele sangue é mesmo da Gina, as chances de ela estar viva são quase mínimas, não é? — Andrew me perguntou assim que entramos no nosso carro, longe dos olhos de todos ali.
— Eu sei. Mas ainda há uma pequena chance. Talvez ela tenha sobrevivido, talvez o sangue não seja só dela... não temos como saber.
Não comentamos isso com a Olivia, mas a mensagem que Enigma deixou escrita na casa de Noah foi escrita com tinta vermelha misturada com o sangue de duas vitimas diferentes, Lana e Clara. O que nos indicava que ele guardava um pouco do sangue de suas vítimas consigo para fazer o que só Deus sabe com ele depois... ou melhor dizendo, o diabo. Deus certamente não teria nada haver com isso. Mas enfim, se o mesmo estivesse ocorrendo aqui, esse sangue poderia ser de outra pessoa além da Gina, e sendo assim, ela ainda poderia estar viva.
Andrew nada falou, apenas assentiu concordando.
Depois de passar o dia trabalhando, tudo o que eu quis fazer ao chegar ao meu quarto de hotel naquela noite foi descansar um pouco. Tirei a jaqueta e os sapatos, e basicamente me joguei na cama. Meu corpo relaxou, e seguindo o exemplo, a minha mente fez o mesmo. Estava quase adormecendo quando o meu celular notificou uma mensagem. Estiquei o braço para o pegar no bolso da jaqueta, e decidi ver na barrinha de notificações de quem era a mensagem para então decidir se olharia agora ou não. Era de Cameron. Decidi checar.
Ele estava me mantendo informado sobre tudo o que estava acontecendo em Londville desde que fui embora de lá, coisas como o dia a dia, suspeitas, se houve algum problema, e basicamente, a inserção de Olivia e Taylor de volta a sociedade. A mensagem que havia recebido agora era sobre essa última opção. "Está tudo bem por aqui." E junto a frase, havia uma foto dele, Liv, Taylor e David em uma arquibancada assistindo ao que parecia ser um jogo de beisebol. Todos pareciam bem felizes, o que era ótimo. Era isso o que importava.
Dei um zoom no rosto de Olivia, apreciando o quanto ela estava linda e sorridente por um breve momento, e então, deixei o aparelho de lado e decidir ir dormir.
Olivia
— Então, estão prontas? — Papai perguntou.
Eram seis da manhã e ele havia trazido Taylor e eu para o lago para uma atividade surpresa, mas não disse o que era. Assim que chegamos na areia, avistamos um dos seus policiais preparando uma mesa com algumas garrafas de vidro vazias e latinhas de cerveja.
— Vamos aprender a atirar? — Taylor perguntou, se auto abraçando com firmeza. Estavamos usando casacos grossos, mas por causa da hora, ainda estava bastante frio.
— Animadas?
— Um pouco. — Ela deu de ombros, considerando a ideia.
— Eu fiz isso com o Elijah quando ele completou dezoito anos, e agora que ganhamos mais liberdade, eu irei fazer com vocês. Aprender a atirar é de extrema importância, principalmente depois do que vocês passaram.
— Vamos ganhar uma arma de presente como foi com o Eli? — Perguntei apenas para provocar, pois já sabia qual seria a sua resposta.
— Também não vamos exagerar. Aprender é o suficiente.
Depois de ajeitar tudo a uma distância considerável, o policial veio para onde nós estávamos e se sentou em um tronco de árvore que havia ali por perto para observar a nós e ao ambiente a nossa volta com atenção.
Taylor foi a primeira a tentar. Papai ensinou como segurar a arma, que era estilo revolver, ensinou a travar e destravar, e a lição que ele mais enfatizou foi "só coloque o dedo no gatilho quando realmente tiver a intenção de atirar". O gatilho era uma parte bem sensível da arma, medo, nervosismo, ou até mesmo um susto poderia fazer com que você o puxasse, e isso era perigoso.
Haviam seis garrafas e quatro latinhas na mesa, as garrafas eram daquelas de vodca, então eram maiores e mais fáceis de acertar. Na primeira tentativa, minha irmã acertou duas e nenhuma latinha. Houve uma pausa para que o nosso pai recarregasse a arma, algo que ele nos mostrou como fazer também, e então, foi a minha vez. Na primeira tentativa, eu não acertei nada. Mirar era bem difícil, e o coice da arma, assim como o som do tiro, acabava me assustando a cada tiro. Estávamos com abafadores nos ouvidos para nos proteger, mas ainda assim o susto acontecia. A arma foi recarregada e foi a vez da minha irmã novamente, dessa vez ela acertou uma garrafa e uma latinha, o que já era uma melhora.
Minha vez chegou novamente, e depois de me concentrar ao máximo, dei o primeiro tiro e acertei uma das garrafas. Eu sorri, querendo comemorar, mas apenas voltei a me concentrar e continuei atirando. Acertei as duas últimas garrafas e Taylor terminou com o resto das latinhas na sua terceira vez atirando.
Fizemos uma pausa para que o policial fosse reabastecer a mesa com novas garrafas e quando ele retornou, voltamos a atirar. Fizemos isso por um bom tempo, e no final do treinamento, já estávamos conseguindo atingir os alvos nas primeiras tentativas. As latinhas eram mais difíceis por serem menor, mas ainda assim, estávamos fazendo um bom trabalho.
Quando deu oito horas da manhã, ao invés de irmos direto para o apartamento, fomos surpreendidas mais uma vez pelo nosso pai ao pararmos em frente ao nosso colégio.
— Pai? — Perguntei, meio que antecipando o que viria, e eu mal conseguia esconder o meu sorriso de ansiedade.
— Ainda não vai ser uma rotina, mas pensei que vocês poderiam assistir aula hoje. Se tudo ocorrer bem... tornaremos isso permanente na próxima semana.
— E voltar para casa? — Taylor perguntou, também animada em voltar ao colégio.
— No momento está acontecendo uma varredura pela casa toda a procura do dinheiro roubado que foi escondido lá, mas assim que isso terminar, podemos planejar a volta de vocês para casa também.
Como eu estava sentada bem atrás dele na camionete do xerife, apenas estiquei o meu corpo e braços e o abracei forte, mesmo com o banco do carro entre nós.
— Obrigada, pai. Por tudo!
Por nos criar, por nos proteger, por nos amar. Tudo estava incluso ali e David sabia disso, pois sorriu e "correspondeu" ao abraço com um carinho em meu antebraço.
— Que tudo dê certo hoje. O que precisar, pode me ligar, ou procurar pelo Carter, ele já deve estar chegando e vai ficar aqui fora o tempo todo vigiando qualquer movimento suspeito. No final das aulas, é ele quem irá levar vocês de volta para o apartamento em segurança.
Nossas mochilas já estavam prontas a nossa espera na mala da camionete, segundo David, mamãe as preparou para nós. Taylor e eu pegamos nossas coisas praticamente pulando de alegria, e sem pestanejar, entramos no colégio. Ali do lado de fora, já estávamos ganhando alguns olhares curiosos dos outros alunos, não pensei muita coisa sobre isso e apenas continuei na minha, mas assim que passamos pela entrada principal e chegamos ao primeiro corredor de armários, os olhos de absolutamente todos caíram sobre nós.
Incomodada, eu abaixei a cabeça e peguei o meu celular no bolso do casaco para passar uma mensagem a Patty e conferir se ela já havia chegado. Não sei o que houve com a minha irmã, mas quando ergui a cabeça novamente, já em frente ao meu armário, ela não estava mais ao meu lado, deve ter ido procurar seus amigos. Patty me respondeu que estava saindo de casa naquele exato momento, e eu já iria acusar ela de estar mentindo e ter acabado de acordar, quando ela me mandou uma foto já dentro do seu carro, provando que realmente já estava a caminho. Suspirei mais aliviada e guardei o celular de volta no bolso para abrir o meu armário e me organizar para a aula do primeiro horário.
— Olivia?
Ouvi alguém me chamar e virei o rosto para conferir, encontrando Jace atrás de mim.
— Oi...
Eu realmente não sabia como agir. A última vez em que conversamos foi no restaurante quando ele se descontrolou, tentou agarrar o meu braço e Harry, ou melhor, Edward apareceu. Desde então, sequer nos vimos mais. Era estranho.
— Você está bem? É seguro voltar a estudar?
— Estou. E sim... é um pouco complicado, mas aqui estou. — Dei de ombros, tentando me manter calma e educada para não deixar essa situação estranha.
— Que bom que você está bem, de verdade.
Jace ergueu a mão em uma tentativa de tocar no meu cabelo, mas eu me afastei do seu toque antes que ele conseguisse me alcançar. Se não soubesse de tudo até poderia acreditar nesse seu sorriso aliviado e olhar amável, mas não, ele não se sentia assim, era tudo mentira, encenação. O Jace de verdade era aquele que eu havia visto discutindo com o Zach. O que tinha uma arma, e o que se irritou comigo. Não sei como eu fui tão burra de não ver isso antes.
Ele me lançou um olhar surpreso assim que eu me afastei, e eu tratei de explicar tudo logo. Não queria mais conversa com ele.
— Eu já sei de tudo, Jace. Do plano, do dinheiro escondido, não precisa continuar fingindo, chega a ser nauseante.
Não era a minha intenção ser assim tão direta e até mesmo maldosa com as palavras, mas apenas saiu. Mesmo que eu já estivesse em "outra", descobrir que ele estava apenas me enganando todo aquele tempo me magoou. Tivemos um encontro incrível, beijos, e até mesmo alguns sentimentos reais da minha parte. Foi pequeno, mas teve. Não chegamos a ser namorados, mas a sensação de traição era quase a mesma.
Um, dois, três segundos se passaram onde ele apenas ficou me encarando totalmente imóvel com uma expressão de "do que você está falando?" no rosto, e então, algo até mesmo um pouco assustador aconteceu. Toda a expressão do seu rosto mudou, e de desentendido, ele passou a me olhar sério.
— Como descobriu?
Minha nossa.
E aí estava o Jace de verdade. A mudança de expressão foi tão brusca que eu até mesmo me arrepiei!
— Isso importa? Eu descobri. Meu pai está procurando pelo dinheiro nesse exato momento e irá devolve-lo ao banco assim que o achar. Acabou.
Era melhor não mencionar nada sobre a Patty e o Zach para ele, se ele não sabia que nós sabíamos, então Zach provavelmente não contou nada a ele, logo, contar seria um erro terrível, eu não sabia como Jace iria reagir, ou o que ele poderia fazer a seguir.
— Eu sinto muito, Olivia. — Falou de repente. — Não queria que as coisas entre nós acabassem assim.
— Tanto faz. — Fechei o meu armário, e já iria me afastar dele completamente, quando algo surgiu em minha mente e eu voltei atrás. — Alguma coisa no tempo que a gente passou juntos foi real? Ou foi tudo realmente pelo dinheiro?
Depois de pensar por alguns segundos, Jace deu de ombros, como se realmente não soubesse como responder a minha simples pergunta. O que para falar a verdade, era até um pouco mais ofensivo que um simples "não, não foi real". Depois de todos aqueles dias juntos, dos beijos, do cuidado que ele teve comigo quando eu escolhi esperar... Ser resumida a um plano por dinheiro e um "eu não sei" era quase humilhante. Sem querer ficar ali por mais um minuto sequer, eu dei as costas a ele e fui para o mais longe possível daquele corredor.
No intervalo de almoço, a fofoca de que Taylor e eu estávamos presentes no colégio já havia se espalhado e basicamente tudo no que se falava era nisso. Como de costume, eu me sentei em uma mesa com a Patty para almoçarmos em paz, quando do absoluto nada, Noah, Amanda, Joshua, Milo e a minha querida irmã, puxaram cadeiras e se juntaram a nós na nossa mesa sem aviso ou pedido algum. Não tive tempo nem de perguntar o que estava acontecendo, pois Milo logo lançou a pergunta.
— O quão louco é estar de volta no colégio depois de tudo o que rolou, Liv?
Eu olhei em volta pela mesa completamente sem jeito, todos, exceto Patty e Taylor, pareciam estar famintos pela minha atenção e resposta. Era bem estranho.
— Bastante. — Sorri sem graça, abaixando os olhos para a comida em meu prato sob a bandeja.
— Vamos com calma, galera, não queremos deixar a Olivia sem graça. — Noah falou, tocando levemente em meu antebraço como se quisesse me confortar. Ele estava sentado do meu lado e me olhava com um certo cuidado, era até fofo.
— Taylor e eu vamos ao salão de beleza amanhã para ela se preparar para a festa, você quer vir com a gente? — Amanda perguntou.
— Essa festa "surpresa" está dando o que falar. — Noah brincou.
— Ela já vai comigo, mas obrigada pelo convite. — Patty falou, claramente desgostosa de não ser incluída no convite.
— Tem certeza? — Amanda olhou para mim como se o que a minha amiga tivesse dito não tivesse peso algum.
— Sim, eu vou com a Patty. Acho que nem posso ir com vocês, já que Taylor e eu temos regras para sair.
— Ah, ok, então. — Amanda deu um sorriso de lado, e Patty revirou os olhos disfarçadamente em resposta.
— Mas me diz, como foi depois do jogo? A festa foi boa? — Perguntei ao Noah, tentando criar um ritmo legal de conversa na mesa.
— Foi boa, só faltou você lá.
Ele deu um sorriso charmoso, mas eu não tive tempo de reagir pois Patty se levantou abruptamente da mesa e pegou a sua bandeja, saindo sem falar nada. Tinha algo errado...
— Que bicho a mordeu? — Joshua zoou, ganhando uma risada de Amanda.
— Acho melhor eu ir ver o que houve, com licença.
Olhei educadamente para todos antes de me levantar e sair da mesa. Joguei o que restava do meu almoço no lixeiro e deixei a minha bandeja na mesa de bandejas usadas antes de deixar o refeitório. Rodei o colégio por um tempo antes de encontrar a minha amiga no banheiro feminino.
— Patty?
— Aqui. — Ela denunciou em que cabine estava e eu fui até ela, batendo três vezes na porta para que ela abrisse. — Você demorou. — Foi a primeira coisa que ela disse assim que me viu, estava claramente chateada.
— Pois eu tive que te procurar, você se escondeu.
— Ei, eu não me escondi! Fiz uma saída dramática e claramente vim para o banheiro.
Eu dei uma risada e me sentei no espaço sem torneira do balcão de pias enquanto ela estava sentada na privada com a tampa abaixada.
— O que houve lá?
— Nada, só não queria ter que lidar com aquele povo chato. — Revirou os olhos. — Isso não vai se tornar um daqueles momentos que acontecem nos filmes onde a mocinha se deslumbra com os novos amigos populares e passa a esnobar os amigos antigos e de verdade, vai?
— Não estamos em Meninas Malvadas. — Eu dei uma risada, achando até fofo essa sua preocupação.
— Então, o que foi aquilo com o Noah? — Ela estreitou os olhos.
— Aquilo o que?
— Ah, Olivia, faça-me o favor. Você sabe. — Ela cruzou os braços.
— A gente só estava meio que flertando de leve, não é nada demais. — Dei de ombros.
— E quanto ao Harry? — Não estranhei sua pergunta, afinal, ela já havia deixado claro que ele era o seu "preferido".
— É complicado. — Suspirei, tentando nem começar a pensar nisso e nele. — E eu o chamo de Edward agora... ou pelo menos tento, ainda estou me acostumando.
— Por que?
— É o nome dele. E eu acho que se eu me acostumar com isso, quando ele voltar, talvez tenhamos mais chances de ficar juntos e as coisas fiquem menos complicadas.
Tentei resumir de um jeito fácil de entender, mas nem tanto. Já que estávamos em um banheiro e qualquer um poderia entrar a qualquer momento, até mesmo estar escutando atrás da porta.
— E o Noah?
— Ele é fofo e me faz bem. É apenas flerte e amizade. Tem um pouco de encantamento por ele ter sido o meu primeiro amor? Tem. Mas não é ele quem faz o meu coração acelerar como louco agora.
— Tem certeza? — Ela insistiu. E pela expressão preocupada em seu rosto, comecei a desconfiar de que talvez houvesse mais alguma coisa nessa história.
— Abre o jogo logo, o que houve?
Patty se levantou da privada para tirar o seu celular do bolso traseiro da calça jeans, e saindo de dentro da cabine, ela procurou algo no celular e o virou para mim. Era uma foto minha e de Noah juntos quando conversamos depois do jogo ontem, estávamos sorrindo e parecíamos bem íntimos, mas a cereja do bolo é que a foto estava no Instagram de fofocas da Jane Winker com a legenda "Novo casal na área? #NoaLiv"
Eu ri com a hashtag, achando aquilo um absurdo de ridículo, já Patty fez uma careta.
— E você ainda ri?
— E eu vou chorar? — Retruquei.
— Talvez sim se o Harry barra Edward ver isso.
Imediatamente, eu fiquei séria. Realmente não seria nada legal se ele visse isso. Mas logo relaxei ao lembrar que ele mesmo havia me dito para curtir a vida.
— Não tem nada demais, é só fofoca. Amanhã a Jane posta outra coisa e eu saio do foco. — Relevei o assunto.
— Realmente, um namoro não é algo tão polêmico, mas isso é capaz de mudar reputações fácil, deixando você à mercê dos abutres por atenção. Ou você não notou o que estava rolando lá na mesa?
— Sim, eu notei. — Suspirei, um pouco decepcionada.
Talvez não o Noah, mas o resto do grupinho da minha irmã não iria começar a falar comigo assim do nada, tinha que ter um motivo, e agora eu sabia qual era: atenção, fama. Esse hipotético namoro entre o Noah e eu havia estourado a bolha do colégio e saído em um perfil com quinhentos mil seguidores. Isso era grande! Para se ter uma ideia, Taylor e eu havíamos ganhado seguidores desde que tudo isso explodiu e o nosso rosto foi parar na TV, ela já estava na casa dos cinquenta mil e eu na casa dos setenta, éramos as pessoas mais seguidas do nosso colégio e nem se juntássemos as nossas contas nós conseguiríamos mais alcance que a Jane, ela basicamente ditava a fofoca na cidade. Ganhar a atenção dela e cair nas suas boas graças era como ganhar ouro para alguns. E Noah que o diga, já que foi ela quem ajudou ele a ser reconhecido como um grande arremessador na cidade.
— Você ficou na televisão por dias e foi tratada pela mídia como um diamante sendo protegido, isso por si só já alavancou a sua imagem. Agora com isso do namoro com o Noah, você precisa ficar atenta com quem se aproxima de você, o interesse rola solto por aqui.
— Eu sei, amiga. Você tem toda a razão. Obrigada por abrir os meus olhos.
Ela abriu um sorriso e relaxou os ombros, liberando a tensão de antes.
— Pronto, agora que deixei isso claro, vou deixar esse momento de lição de lado para te informar que assim que você pegar o Noah, você é obrigada pelo nosso laço de amizade a me contar todos os mínimos detalhes!
Eu dei uma risada alta e balancei a cabeça, nada surpresa, no entanto, o nosso momento foi interrompido quando a porta do banheiro foi aberta e um grupinho de garotas entraram em meio a conversas. Patty e eu nos entre olhamos e após lavarmos as mãos, nós saímos do banheiro.
Quando as aulas acabaram e Taylor e eu saímos do colégio, Carter já estava ali nos esperando bem em frente à entrada. Me despedi da minha amiga e entrei no banco traseiro da viatura com a minha irmã. Já de volta no apartamento, Cameron nos recebeu com vitamina de frutas para tomarmos como lanche, o que foi uma ótima surpresa. Conversamos um pouco sobre o nosso dia enquanto bebíamos, mas logo o assunto acabou e ele revelou que eu havia recebido uma encomenda e que ela estava no quarto a minha espera.
Corri para ver o que era, já que não havia comprado nada, e estranhei ao ver que era uma caixa dessas de joias. Já estava fora do pacote de papel em que veio, pois o Cameron provavelmente abriu para conferir o que era por precaução. E como era uma caixa consideravelmente grande, então só poderia ser um colar ao invés de anel ou brincos. Abri a caixa com cuidado, e os meus olhos brilharam ao ver que realmente era um colar ali dentro. Uma correntinha de ouro linda com um pingente de círculo no final, o que era um pouco estranho, então, assumi que fosse a primeira letra do meu nome no lugar, já que ser um O faria mais sentido. Manuseei o colar com cuidado ao retirá-lo da caixa, e corri para o espelho para ver como ficava em mim.
Meu sorriso apenas aumentou com a imagem daquele maravilhoso colar em meu pescoço. Era lindo, delicado e perfeito para ser usado amanhã na festa. Voltei para a cama e peguei o bilhetinho que havia junto para conferir quem havia sido o remetente desse lindo presente.
"Espero que goste, pois vai ficar lindo em você. - E"
Parei para pensar por um momento. Aquilo era um "E" de Elijah ou de... Edward? Peguei o meu celular e passei uma mensagem para o meu irmão para conferir.
"Eli, você me mandou um presente hoje?"
A resposta chegou em alguns segundos.
"Não... deveria?"
Eu sorri. Se não havia sido ele, tinha sido o Harry... droga, Edward!
Enfim. Apenas mais um motivo para eu continuar sonhando com ele.
Respondi a mensagem do meu irmão dizendo para ele não se estressar com presente algum, e então, voltei a experimentar o colar em frente ao espelho, sonhando com o momento em que Edward o colocaria em mim assim como acontecia naquelas cenas de filmes de romance...
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