Capítulo 32
Um possível caso.
Harry
O discreto som do meu despertador ecoou de forma suave pelo quarto, indicando as cinco horas em ponto da manhã, e prontamente, eu o desliguei. Já estava acordado há bom um tempo, tempo o bastante para ver o dia amanhecer pelas brechas da cortina fechada na janela, e eu ainda não tinha a menor vontade de levantar dessa cama.
E a culpa disso era toda dela. Olivia.
Ela dormia sobre o meu peito de forma tão tranquila e angelical, que não se assemelhava em nada a garota atrevida que gemeu o meu nome em meu ouvido enquanto me levava a loucura como nenhuma outra pessoa jamais conseguiu.
Essa jovem de lindos olhos azuis como o céu, cabelos dourados e brilhantes como o sol, e corpo esbelto e curvilíneo esculpido pelos deuses, havia conseguido destruir completamente o meu autocontrole. Eu tentei fugir disso, e até mesmo fingir que não, mas era impossível de negar agora. A vontade de satisfazê-la e protegê-la havia lentamente se instalado em meu peito para bem mais além do que algo profissional. E esse sentimento não possuía intenção alguma de ir embora tão cedo. No entanto... eu sim.
Eu precisava ir para outro Estado, outra cidade, sem ao menos saber quando voltaria, ou se voltaria. Dormir com a Olivia, e me permitir ter esses tipos de pensamentos e sentimentos em relação ela, tinha sido o maior dos meus erros, isso estava claro para mim. Todavia... eu não conseguia me arrepender disso. Por mais que a razão gritasse em minha mente, e que eu soubesse que até mesmo o ato de segurar e beijar a sua mão fosse errado, eu não conseguia me arrepender. E acho que nunca conseguiria. Não com ela.
Ouvi-la dizer que me amava foi surreal. Três pequenas palavras que juntas fizeram com que o meu coração disparasse como louco. Me fizeram querer desistir de tudo e apenas permanecer ao seu lado nessa cama para sempre. Entretanto... isso não era possível. Eu havia trabalhado por anos nesse caso, dado tudo de mim para capturar esse psicopata filho da puta, então, não tinha como eu simplesmente desistir de tudo assim de repente.
Minha vida era basicamente um acumulado de desastres em série, nada realmente dava certo, principalmente namoros. Relacionamentos exigem demais de uma pessoa, você precisa se comprometer em estar lá, em dar atenção e afeto, e eu simplesmente não conseguia fazer isso. O último relacionamento que eu tive foi há uns cinco ou seis anos atrás durante os meus anos de universitário, e de lá para cá, eu já não era mais o mesmo. Comecei a trabalhar, especialmente no FBI, e o meu tempo foi se tornando cada vez mais e mais limitado. Quando eu consegui entrar na força tarefa do caso Enigma então, minha vida pessoal virou uma completa piada. Quase inexistente. Nas raras vezes em que eu conseguia tirar um tempo livre para mim, o máximo que eu conseguia era uma noite casual de sexo. Basicamente, o meu trabalho era a única coisa constante, a única coisa em que eu realmente era bom e na qual eu poderia contar. Por isso, eu colocava todo o meu tempo e esforço nele.
Mas para embaralhar tudo isso e me confundir como bobo inseguro, surgiu ela. Olivia Marie Collins. A jovem que aos meus olhos passou de "a irmã do meu estranho colega de quarto", para "uma possível vitima em uma estúpida festa", se tornando então "uma irritante curiosa que vasculhou as minhas coisas e me perseguiu por aí". Isso estava bom para mim. Isso era segura, fácil de aceitar e controlar... até que do absoluto nada, ela se tornou uma tentação ambulante para mim dentro do meu próprio apartamento. Talvez isso tenha mudado até mesmo antes, mas no momento em que ela me abraçou, e revelou sentir-se segura comigo, eu soube que o sentimento embutido ali já não era mais o mesmo e que eu faria qualquer coisa para assegurar a sua proteção. Não apenas por esse ser o meu trabalho, mas sim, por algo a mais.
Passei a mão pelo seu cabelo suavemente, com medo de sem querer acordá-la, e pensei no que isso significaria para o meu futuro. Eu queria poder gritar aos quatro ventos que isso foi uma coisa de uma noite só, e que eu nunca mais a beijaria, ou a tocaria desse jeito novamente. Mas eu precisava ser honesto comigo mesmo em relação aos meus próprios sentimentos, e a verdade era que... eu não tinha a menor ideia do que estava fazendo. Era completamente clichê, mas eu realmente apenas segui o meu coração e a vontade do meu corpo quando decidi parar todo o tempo a nossa volta e apenas beijá-la. Tomá-la para mim. Ser o seu primeiro. Porra, minha mente estava uma bagunça!
E como se possuísse algum poder telepático e soubesse da minha inquietação no momento, o meu pai me ligou. Observei o seu nome na tela do meu celular, e expirei sem escolha. Eu precisava atender a ligação. Cuidadosamente, tirei Olivia de cima de mim e a coloquei na cama, olhando para o seu lindo rosto, e então, olhando para tela do celular em dúvida sobre o que fazer. Falar sobre trabalho, ou aproveitar aqueles últimos minutos para olhar a bela garota dormindo ao meu lado?
Depois de considerar as minhas opções por alguns segundos, eu decidi pela primeira e me levantei da cama para ir atender a ligação no corredor, afinal, poderia ser algo de extrema importância, e eu não queria acordá-la.
— Tudo pronto? — Foi a primeira coisa que ouvi Andrew falar.
— Sim. Só vou tomar um banho antes, devo passar aí em uns quinze minutos. Vinte no máximo. Alguma novidade?
— O xerife me ligou agora a pouco para perguntar se o nosso almoço estava de pé e eu confirmei. Ele me contou algumas coisas, mas nada realmente grande que possamos considerar como pista. Eu te conto melhor no...
Parei de ouvi-lo quando o som de uma porta batendo me chamou a atenção, e eu me virei, encontrando Taylor parada no corredor com uma expressão de choque em seu rosto. Segui o seu olhar para baixo e foi quando eu me dei conta de que ainda estava totalmente nu. Voltei para dentro do meu quarto o mais rápido que pude, e fechei a porta um pouco atordoado. Porra, o que a Taylor estava fazendo acordada as cinco da manhã?
— ... o que você acha? — Ouvi Chase perguntar.
— Hum..., claro. Pode ser! — Respondi no automático, sem ter a menor ideia do que se tratava.
— Ótimo, nos vemos daqui a pouco.
Desliguei a ligação, olhando em volta sem saber bem o que fazer, e logo, meus olhos se focaram na cama, observando Olivia mudar de posição, ainda dormindo profundamente. Ela estava coberta com um fino lençol cinza. Seu cabelo loiro estava lindamente espalhado pelo travesseiro e seu peito subia e descia lentamente, conforme sua respiração. Resisti a vontade de retornar à cama e fui até o armário pegar uma toalha, enrolando-a na cintura antes de sair quarto. Taylor não estava mais no corredor e eu agradeci mentalmente por isso, seguindo até o banheiro.
***
Passei no Winter's Cafe antes de seguir até o hotel em que o meu pai havia se hospedado na cidade, e assim que ele entrou no carro e atacou o cinto de segurança, seus olhos se focaram no copo de café vazio no porta-copos do carro, assim como no outro já pela metade na minha mão.
— Não dormiu bem? — Questionou.
— Não. — Disse apenas.
— Você sempre foi um desgraçado quando o assunto era dormir. Chorava de madrugada e mijava na cama quase todos os dias, me levava à loucura! — Ele riu.
— Perdão por ter sido uma criança traumatizada e ter causado tantos transtornos. Com certeza essa não foi a minha intenção. — Abusei do sarcasmo, fazendo-o revirar os olhos.
— Você deveria procurar um psiquiatra novamente caso esteja tendo aqueles pesadelos novamente...
— Eu não os tenho mais, pai. — O cortei. — Pararam há um bom tempo.
— Então, o que o fez perder o sono nessa manhã ensolarada?
Eu olhei para fora do carro, observando o céu nublado das seis da manhã e expirei. Odiava quando ele entrava nesse seu modo "detetive" e começava a investigar até mesmo a minha vida. Ele conseguia ser mais viciado no trabalho do que eu. Nunca vi alguém tão obcecado em pegar criminosos quanto ele.
— Esse caso. Enigma atacando novamente. O de sempre. — Desconversei.
— Se você diz.... Não acha melhor que eu dirija? São quase quatro horas de viagem até North Garden.
— Eu estou bem. — Garanti, finalizando aquela conversa.
Vinte minutos se passaram em total silêncio. Eu não me incomodava nenhum pouco, inclusive, preferia assim. Não éramos um bom exemplo de pai e filho e sabíamos disso, por isso, não tentávamos forçar algo que não estava lá. Pelo menos, não desde que a minha mãe faleceu. Sua morte foi um episódio traumático para mim, e acabou desgastando bastante a nossa relação como família.
Andrew costumava ser um pai perfeito antes disso, atencioso, presente, mas depois que a Sophia perdeu a luta contra o câncer, ele se tornou facilmente irritável e um pouco fechado. O normal para um recém viúvo. No entanto, mais de uma década havia se passado e ele ainda não era o mesmo. Tudo no que ele pensava era em trabalhar, pegar criminosos, e desde que pegou esse caso, ele se tornou meio que um fantasma de si mesmo. O Andrew "pai" fazia pequenas aparições aqui e ali, mas quem estava presente na maioria do tempo mesmo era o agente federal Andrew Chase. Desvendar o caso Enigma havia se tornado o maior objetivo da sua vida, mas é claro que, assim que solucionássemos esse caso, ele logo arranjaria outro novo para investigar.
Mais dez minutos se passaram até que ele decidir quebrar o silêncio novamente.
— E a Olivia?
— O que tem ela? — Fiz um bom trabalho ao tonalizar o desinteresse em minha voz.
— Como ela ficou com a sua partida? Soube que vocês saíram para almoçar ontem.
— Como ficou sabendo disso? — Tirei os olhos da estrada para encará-lo por alguns segundos.
— Era para ser um segredo? — Ele levantou uma das sobrancelhas. — Se foi, você fez um péssimo trabalho escondendo.
Me senti levemente atacado.
— Não era para ser segredo. Se fosse, eu não a levaria em um lugar público, não acha?
— Sobre o que falaram? — Ele tirou seu celular do bolso do terno, parecendo distraído com o conteúdo na tela.
— Nada demais, eu apenas a informei que estava indo embora.
— Não é o que parece nas fotos.
Ele virou o aparelho na minha direção e eu olhei para a foto na tela, era minha e de Olivia no almoço, ambos estávamos sorrindo e aparentávamos estar em um almoço bem mais íntimo do que o normal esperado. Encostei o carro na beira da estrada e tomei o celular da sua mão. Haviam várias fotos do nosso almoço nele.
— Você mandou alguém me seguir de novo? — Perguntei sem conseguir acreditar que aquilo estava mesmo acontecendo novamente.
— Não seja ridículo. Um funcionário do restaurante tentou vender essas fotos para um canal de notícias local, mas por sorte, eu consegui intervir antes disso. Tem ideia do escândalo que seria se essas fotos vazassem?
Me senti mal pela injusta acusação. Ele já havia mandado alguém me seguir há alguns anos atrás, então, o pensamento era justificável, mas dessa vez ele realmente havia me ajudado. Não seria nada bom para mim ou para a Olivia se essas fotos tivessem visto a luz do dia.
— Merda... eu sinto muito.
— Sobre o que conversaram? — Insistiu, nem um pouco interessado nas minhas desculpas.
— Nada demais.
— Não é o que parece. — Continuou.
E eu perdi um pouco da minha já escassa paciência.
— Você sempre faz isso, pai. Tenta controlar a minha vida como se eu fosse um fantoche! — Joguei o celular no seu colo e passei a mão pelo meu cabelo agora já quase seco do banho, jogando os fios que caiam sobre os meus olhos para trás.
— Eu não vou perguntar de novo.
— Eu já respondi a sua estúpida pergunta, se não quer acreditar em mim isso não é problema meu! — Explodi.
— Se foi mesmo do jeito que você insiste em dizer, por que a Taylor não foi também?
— Por que ela não quis! E mesmo se quisesse, meu trabalho era proteger a Olivia!
— Exato! Seu trabalho. Não se deixe levar, Edward!
Fechei os olhos e respirei fundo, tentando encontrar a calma já perdida em mim. Deixei que todos os sentimentos e emoções deixassem o meu corpo e mente, e adotei a minha expressão neutra de pôquer que a Liv disse odiar. Andrew não precisava saber da confusão que se passava dentro de mim em relação a ela nem tão cedo.
— Não há nada acontecendo. Esse é o meu trabalho, nada mais que isso. — Garanti, olhando-o nos olhos.
Andrew suspirou, se dando por vencido, e assentiu, olhando para a estrada a nossa frente.
— Ótimo. Não queremos que aconteça com ela o mesmo que aconteceu com a Tiffany, não é?
A minha respiração falhou por vários segundos ao ouvi-lo dizer aquele nome. E eu olhei para ele incrédulo, realmente chocado por ele estar trazendo isso à tona. Andrew, no entanto, não devolveu o olhar e permaneceu olhando para a frente. Respirei fundo mais algumas vezes para controlar a enorme fúria que se formou dentro de mim, e coloquei as mãos no volante, apertando-o com mais força que o necessário. Ele não tinha o direito de falar isso para mim. Porra, ele não... argh!
Expirei todo aquele turbilhão de emoções para fora do meu corpo e não ousei respondê-lo, já que isso era obviamente o que ele queria. Deixei que aquele assunto morresse ali e dei partida no carro, seguindo em direção ao Estado da Virginia.
***
— Xerife Jordan. — Meu pai cumprimentou o senhor grisalho assim que chegamos ao pequeno restaurante no centro da cidade onde havíamos marcado de almoçar.
— Agentes Chase. Que bom que vieram. Sentem-se, por favor.
Nos sentamos de frente para ele na mesa. Jordan era branco, forte, tinha no mínimo uns cinquenta anos, cabelos cinzas e uma expressão de quem já havia passado por muitas coisas nessa vida no rosto.
— Pode nos contar melhor o que está acontecendo? — Pedi.
— O Enigma está aqui. — O senhor grisalho falou, completamente assustado. — A pobre garota, Gina Marin, está desaparecida há três dias agora. Todos na cidade estão aterrorizados que possam ser os próximos.
Ele colocou uma foto da garota na mesa, ela se encaixava no perfil. Loira, olhos azuis, dezessete anos...
— Você tem alguma prova de que ela foi mesmo levada, e não, que fugiu? — Andrew questionou.
Precisávamos riscar a hipótese de fuga da nossa listinha de teorias o mais rápido possível. Já estávamos atrasados, já que em casos de desaparecimento, as primeiras quarenta e oito horas são as mais importantes, se perdêssemos mais tempo, estaríamos fodidos.
— Não necessariamente, mas ela desapareceu. Não deu notícias a família, não levou roupas e muito menos o seu celular. Os jovens de hoje em dia não vivem sem esses aparelhos modernos. E dada a sua aparência, é obvio o que de fato aconteceu.
Ele tinha um ponto. Mas não era o suficiente.
— Você pode nos dar o endereço da família? — Pedi.
Eles provavelmente teriam mais informações para nos dar, principalmente coisas pessoais sobre a Gina.
— Claro. — O senhor concordou, tirando um bloco de notas e uma caneta do bolso. — Eles estão sempre em casa agora esperando por notícias ou uma ligação de resgate. — Ele entregou o papel a Chase.
— Vamos investigar e ligaremos assim que descobrimos algo. — Meu pai falou.
— Vocês vão tomar o controle da investigação na cidade? — O senhor perguntou ansioso, como se esse fosse de fato o seu desejo.
North Garden era uma cidade extremamente pequena, eles não tinham estrutura alguma para lidar com alguém como o Enigma.
— Se realmente for ele, sim. Mas ainda não temos certeza disso. — Andrew explicou, ganhando um aceno de cabeça respeitoso do velho xerife.
Fizemos os nossos pedidos e almoçamos em meio a conversas rasas sobre o caso, já que o velho senhor não tinha muito a dizer. No caminho até a casa da família Marin, decidimos passar em um posto de gasolina para encher o tanque, e enquanto Chase fazia isso, eu comprava mais café na lojinha de conveniência.
— Novos moradores? — O atendente perguntou, pegando a nota de cem dólares que eu havia estendido e abrindo a caixa registradora.
Olhei o seu crachá em busca do um nome, mas estava escrito apenas "Chezz" e eu duvidava seriamente de que esse fosse o seu verdadeiro nome. Se sim, parabéns para pais dessa criança, agora já adulto. Estatura mediana, loiro, magricela, ele me lembrava um pouco o Elijah, exceto que o Elijah não usava drogas, já o atendente a minha frente estava claramente chapado.
— Não, estamos apenas de passagem. Visitando alguns familiares. — Menti, abrindo o meu melhor sorriso de "bom samaritano".
— Qual a bomba? — Se referiu a bomba que foi usada para pôr a gasolina.
— A número três.
Chezz assentiu, me passando o troco já descontado com o valor da gasolina, e eu agradeci, sentindo os seus olhos em mim enquanto eu saía da loja e voltava para o carro.
— Sujeitinho estranho. — Andrew olhou na direção da enorme janela da loja. Dava pra ver o caixa e algumas prateleiras de salgadinhos dali.
Entreguei um copo de café a ele e assenti.
— Nem me fale.
Entramos no carro, e pouco tempo depois estávamos estacionando em frente à casa da família Marin. Uma casa normal, não muito exuberante, de apenas um andar, e bem simples, assim como o resto das casas na rua, e na cidade toda para ser sincero. Apesar de também ser uma cidade pequena, Londville parecia ser uma cidade bem mais rica do que essa, somente a mansão e a casa de verão no lago pertencentes aos Kim comprariam toda essa rua.
Chase tocou a campainha e segundos depois a porta foi aberta.
— Sim? — Uma mulher ruiva, alta, e na casa dos quarenta e poucos anos, nos atendeu.
— Senhora Marin? — Ela assentiu, um pouco desconfiada.
— E vocês quem são?
— FBI. — Chase mostrou o seu distintivo e eu fiz o mesmo. — Podemos entrar e fazer algumas perguntas em relação ao desaparecimento da Gina?
— É claro! Entre, por favor! — Ela respondeu já com um olhar mais esperançoso. Adentramos a casa e ela fechou a porta, nos guiando até a sala de estar. — Querido, desça aqui! — Chamou na direção do corredor da casa. E logo, seu marido se juntou a nós.
— Vocês são mesmo federais? — Perguntou quando já estávamos todos servidos com chá e acomodados no sofá da sala.
— Sim. Estamos investigando o serial killer Enigma. Vocês acham que a Gina pode ter sido levada por ele, certo? — Chase indagou.
— Sim! — A mulher respondeu de imediato, enquanto seu marido permanecia em silêncio.
— Sr. Marin? — Chamei a sua atenção.
— Há a possibilidade de ela ter fugido... Gina sempre foi uma adolescente problemática. — Suspirou.
— Denis, não diga isso! Gina nunca partiria sem pelo menos nos avisar antes! Ela é uma boa garota! Ela foi levada, eu tenho certeza!
Fiquei observando os dois em silêncio. Gina era problemática ou uma boa garota? Alguém estava mentindo, ou suas reações diferentes eram apenas um resultado do medo?
— Há três dias, certo? — Chase tirou um caderninho do bolso de seu terno, começando a anotar informações.
— Sim, a última vez que a vimos foi no domingo à noite. Ela falou que iria na casa de Stacy, uma amiga, mas nunca retornou.
— Sra. Marin, se não for pedir demais, será que eu poderia ver o quarto da Gina? Talvez haja alguma pista lá. — Pedi. Meu pai poderia conduzir o resto do questionário sozinho.
— Claro, é a terceira porta a esquerda.
Assenti e me levantei, saindo da sala. Havia alguns quadros que pareciam terem sido pintados por uma criança na parede do longo corredor, não eram as pinturas mais lindas do mundo, mas eram interessantes de se ver.
Entrei na porta indicada.
À primeira vista, não havia nada de diferente ou que chamasse atenção, era apenas um quarto normal, com bastante amarelo nas paredes, lençóis, cadernos... nada parecia suspeito. Fui até a janela e olhei a tranca. Estava quebrada e a janela poderia ser facilmente aberta tanto por dentro quanto por fora. Como a casa era toda no térreo, sair ou entrar por ali não seria difícil. Mas não que isso fosse de fato importante, já que a garota sumiu fora de casa.
Olhei as fotografias de Gina e suas amigas espalhadas pelas paredes do quarto, e olhei também as coisas espalhadas pela escrivaninha. A maioria eram da escola e nada realmente chegou a me chamar a atenção, exceto uma coisa. Me virei para sair do quarto e retornar à sala, quando dei de cara com uma garotinha parada bem em frente a porta. Ela era ruiva, com bastante sardas no rosto, e tinha no máximo uns sete anos. Ela não falou nada por um tempo, ficou apenas parada me analisando, então, levantou a mão e acenou para mim.
— Oi, tudo bem com você? — Perguntei, me abaixando a sua frente. Ela permaneceu imóvel, me olhando com os olhos cheios de curiosidade. — Eu me chamo Edward, sou detetive, e você?
Preferi usar o termo detetive ao invés de federal, já que ela era nova e provavelmente não entenderia o último. Ainda assim, não houve resposta. Estava pensando em algo a mais para falar, quando ainda sem falar nada, ela segurou a minha mão e me puxou para fora do quarto. Sem ter ideia do que estava acontecendo, eu a segui pelo corredor até o quarto ao lado, esse já era todo rosa e infantil, provavelmente o dela. A garotinha soltou a minha mão e foi até o seu baú de brinquedos, tirando de dentro uma agenda colorida e me entregando. Abri o objeto ainda um pouco confuso, mas rapidamente percebi que não era uma agenda, e sim, um diário. O diário de Gina.
— O diário da sua irmã! Você o escondeu... por que? — Ela continuou me olhando com cara de paisagem. — Não quer falar?
— Ela não pode te ouvir. — Denis entrou no quarto. — Teve uma infecção e perdeu a audição quando tinha apenas três anos. — Explicou, fazendo com que toda a nossa interação e o seu silêncio fizesse mais sentido. — Tudo bem, Nora? — Falou, ao mesmo tempo em que gesticulava a pergunta com as mãos na língua de sinais.
Eu tinha feito um curso de língua de sinais há um tempo atrás para ajudar no meu trabalho, afinal, em algum momento do meu trabalho, e até mesmo da minha vida pessoal, eu teria que interagir com uma pessoa portadora de deficiência auditiva. Contudo, por falta de prática, eu acabei ficando um pouco enferrujado. A garota assentiu, com um pequeno sorriso no rosto, e foi pega no colo pelo pai. Ao contrário da esposa e da filha mais nova, ele era moreno. O que só acrescentava ainda mais a minha dúvida.
— Ela me entregou isso. — Mostrei a ele o diário.
— O diário da Gina? — Perguntou surpreso. E eu assenti. — Procuramos pela casa toda. Pensamos até que ela o tinha jogado fora ou algo do tipo.
— Se importa se eu o levar comigo para investigar?
— Não. É claro que não. Mas é realmente necessário que seja agora? Eu e minha mulher gostaríamos de lê-lo também.
— Eu preciso tirar fotos e uma cópia para mim, já que aqui pode haver alguma dica sobre o paradeiro da sua filha. No entanto, eu posso devolver o diário assim que fizer isso. — Propus.
— Tudo bem, então.
Levei a minha mão ao queixo, fazendo o sinal de "obrigado" para Nora, e a garotinha me lançou um sorriso tímido, se abraçando ainda mais ao pai.
Enquanto retornávamos para a sala, reparei em um quadro com a foto da família pendurada na parede, assim como os vários porta-retratos em cima da pequena lareira. As fotos eram bonitas, e mostravam que eles pareciam ser uma família bem feliz e saudável. Contudo, trazia de volta um detalhe importante. Em todas as fotos que Gina tinha em suas paredes, assim como em todas as fotos espalhadas pela casa, ela tinha o cabelo ruivo, assim como a sua mãe e a sua irmãzinha. Ruivo parecia ser a cor original do seu cabelo, e não, loiro.
— Quando Gina pintou o cabelo? — Questionei, intrigado.
— Hm... há umas três semanas. — Sua mãe respondeu. — Acha que isso chamou a atenção do assassino? Suas vítimas sempre possuem cabelos loiros, não é?
— Talvez. — Respondi apenas. Não revelando a verdade a ela.
As vítimas do Enigma não eram apenas loiras, elas eram loiras naturais. Ele sempre se certificava disso, pois nunca em todo esse tempo, atacou uma garota que não fosse loira natural antes. Ele já atacou loiras com o cabelo pintado, como foi o caso de Valerie, mas nunca o contrário. Gina não ser loira, e sim, ruiva de nascença, era a primeira coisa que poderíamos considerar como uma pista nesse possível caso. "Possível" sendo a palavra-chave aqui, pois eu ainda não tinha certeza se estávamos lidando com ele ou não aqui em North Garden.
Talvez por estarmos tão na sua cola, ele não tenha tido tempo de investigar melhor a vida da sua vítima? Talvez seja um copycat killer, um assassino copiador? Talvez... tudo isso não tenha nada a ver com ele e a garota apenas fugiu? Era cedo demais para concluir qualquer coisa agora.
Um tempo depois, após fazermos mais perguntas sobre a Gina e a sua rotina, e recolhermos os nomes e endereços das melhores amigas dela, meu pai e eu deixamos a casa dos Marin e fomos em busca de uma papelaria para fazer cópias do diário. Em seguida, procuramos por um hotel descente para ficarmos hospedados durante a nossa estadia por aqui.
Uma narração inteira do Harry 🥰
Será que enfim poderemos confiar nele? 🤔🤐
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