Capítulo 14.2
No lago.
Patty
— Taylor só pode ter enlouquecido! — Liv exclamou exaltada, assim que eu contei o que tinha presenciado escondida.
— Eu pensei a mesma coisa!
— Quando nós voltarmos eu vou conversar com ela!
— Conversar? Como assim conversar? Você tem é que contar ao seu pai, sua irmã tá namorando um fugitivo da polícia! — Alertei, me esforçando para não tirar os olhos da estrada, caso contrário, eu bateria o carro em uma árvore ou atropelaria alguém novamente.
— Não, eu preciso conversar com ela primeiro, investigar isso direito para só depois, contar tudo pro papai. Vai que nem é o Zach que conhecemos. Pode ser apenas outra pessoa chamada assim.
— Você e essa sua mania de investigar as coisas! Não sabe que isso sempre acaba mal para as pessoas nos filmes de terror?
— Mas não estamos em um filme de terror, e sim, na vida real. Aqui temos que lidar com as situações com calma e responsabilidade... você não pode contar nada, ok?
Revirei os olhos. Calma e responsabilidade? Aham. Senta lá, Olivia. Loucura e insanidade, isso sim!
— Tudo bem! — Entreguei para Deus. Minha parte eu já havia feito.
— Ótimo. — Ela respirou aliviada. — A parti daqui temos que ir a pé, não tem mais como o carro passar.
— Não é muito longe, é? Já quero estar em casa quando anoitecer.
— Você já veio nesse lago várias vezes e ainda não decorou o caminho? — Ela riu. — É uns três, cinco minutos de caminhada, coisa rápida.
Deixei o carro no final da estrada de terra e o resto do caminho fomos a pé, e como Liv disse, não demorou para chegarmos ao lago. Percorri com os olhos toda a extensão do lago, e rapidamente declarei.
— Não tem ninguém aqui. Já podemos ir, então...
— Calma! — Ela me parou. — Tem que estar aqui em algum lugar... — Falou, acho que mais para si mesma do que para mim,
Olivia tirou suas sapatilhas e as deixou em baixo de uma árvore, seguindo descalça pela areia. Como eu estava de all-star, decidi não me dar o trabalho de tirar os sapatos e as meias, se entrasse areia dentro, eu simplesmente tiraria quando chegasse em casa.
Segui a loira pela areia, enquanto tentava encontrar uma boa maneira de tocar no assunto que eu estava evitando até então.
— Liv? — Chamei.
— Oi? — Perguntou, sem parar de andar ou olhar para todos os cantos.
— Podemos conversar? É muito importante.
— Tem que ser agora? — Ela se virou, me olhando. Eu assenti.
— É que você me contou tudo o que aconteceu, sobre achar que Harry é o Enigma, e tal, então... eu tenho que te contar uma coisa.
— O que foi? Agora você está me preocupando. — Ela parou de andar.
— Você se lembra alguns dias atrás quando aqueles papeis foram roubados do seu quarto?
— Sim, alguém entrou pela janela e os roubou.
— Na verdade... fui eu. — Confessei. E o espanto em seu rosto foi claro.
— O que? Como assim? Por que você faria isso?
— Por que... o Harry pediu? — Fechei os olhos, com medo da sua reação.
— Como? O que... espera, calma... — Ela riu de nervoso, claramente confusa com o que eu estava contando. — Eu não estou entendendo... quando vocês se falaram?
— Quando fomos até a Universidade...
Parei o carro em frente ao prédio dos dormitórios e esperei Liv descer para que eu pudesse ir procurar uma vaga para estacionar. Encontrei uma vaga apenas em outra rua. Desci do carro, coloquei uma moeda no parquímetro, e já estava indo de volta para a universidade, quando ouvi alguém me chamar.
— Patrícia!
Me virei para ver quem era o espertinho que ousava falar o meu primeiro nome inteiro.
— É Patty!
Corrigi, reconhecendo a pessoa que vinha em minha direção, era o amigo de Elijah, o tal do Harry. O que ele queria comigo?
— Patty, claro, desculpe. — Ele se corrigiu. — Eu preciso falar com você, Olivia está com grandes problemas.
— Como assim? Eu acabei de deixá-la no dormitório do Elijah. — Perguntei, sem entender nada.
— Não agora, mas ela pode entrar em uma enrascada se você não me ajudar.
— Eu não estou entendendo. Você está ameaçando-a?
— Eu não. O Jace sim.
Harry conhecia o Jace? O que diabos estava acontecendo?
— O Jace?... Isso tem a ver com o encontro dele com a Olivia hoje à noite?
Seus olhos se abriram em uma leve surpresa, mas sua expressão rapidamente mudou. Talvez ele não soubesse do encontro, mas ele claramente sabia de algo!
— Talvez.
— Talvez não é resposta. — O cortei rapidamente. — O que você sabe? Por que está me contando isso?
— Não vai me dizer que você confia no Jace?
— É claro que não. Eu mal conheço o cara!
— Então, você sabe que eu estou certo aqui.
Eu franzi o cenho.
— É claro que não também, pois eu tampouco conheço você!
Ele suspirou, impaciente.
— Escuta, Jace entregou um envelope com uns registros para a Olivia, você precisa pegar e destruir.
Tentei não rir.
— E por que eu faria isso?
— Você quer a segurança da sua amiga ou não? — Ele questionou seriamente.
Na verdade, sério até demais. O jeito como ele falava fazia parecer que uma tragédia aconteceria se eu não fizesse o que ele estava pedindo.
— Essa história está muito estranha... ela não corre perigo no encontro, corre?
— Tanto faz o encontro. O que importa é o envelope! Patri... Patty, confia em mim, vai ser para o bem da Olivia. — Garantiu.
E eu não sabia dizer se era a certeza em sua voz, ou o seu olhar quase que... protetor ao falar o nome da Liv, mas algo na áurea dele me passou confiança. Estranho, e totalmente louco, eu sei.
— Eu vou pensar. — Disse apenas, sem prometer nada.
— Pensa bem, eu tenho que ir. — Ele se despediu, indo na direção dos dormitórios.
Voltei para dentro do meu carro e apoiei minhas mãos no volante, respirando fundo para tentar pensar um pouco. Caralho.... o que eu faria?
Olivia estava parada na minha frente completamente em choque enquanto ouvia tudo o que tinha acontecido. Ela com toda certeza não reagiria bem, mas eu precisava ser honesta, só assim ficaria com a consciência limpa.
— Já na sua casa, enquanto você tomava banho, eu peguei o envelope com os arquivos, rasguei todos e joguei na lixeira da sua cozinha. Sequer li o que eram, apenas fiz. Depois improvisei um sanduiche e voltei para o quarto.
Terminei de contar, me sentindo horrível pelo o que eu tinha feito, mas ao mesmo tempo, aliviada por finalmente ter contado tudo.
— Você não podia ter feito isso, Patty! Aqueles eram os registros que provavam que Harry esteve em todas as cidades ao mesmo tempo em que o Enigma esteve. — Ela passou a mão pela testa, ainda incrédula. — E você fez isso por que? Só por que não gosta do Jace?
— Não... e sim. É claro que eu não confio nele. Ele é um assaltante de banco, Olivia!
— Mas você não sabia disso! — Rebateu.
— Eu sei. E agora que eu sei de tudo, e sei de todas as suas suspeitas em cima do Harry, eu sei que eu fiz besteira, ok? Eu realmente sinto muito. — Pedi, sentindo meus olhos arderem, eu não queria chorar, mas estava cada vez mais difícil.
— Então... você abriu a janela apenas para me assustar? Me fazer pensar que foi um roubo? — Ela perguntou de repente.
— Não! Eu realmente falei a verdade sobre isso. Não fui eu, eu juro! — Garanti. Realmente não sabia de nada sobre isso da janela. — ... Por favor, me perdoa?
— Eu não sei... — Ela suspirou, realmente abalada, o que fez eu me sentir ainda mais triste.
— Eu não queria quebrar a sua confiança desse jeito, eu realmente pensei que estava te ajudando, te protegendo. Assim como você fez ao não me contar nada. — Expliquei.
— Mas por que? O que tem de tão errado com o Jace para você não confiar nele?
— Olivia? Ele é um criminoso! Eu não sabia disso antes, mas meu instinto claramente estava certo. Jace é claramente perigoso! Vai me dizer que ele nunca te deu um calafrio sequer? Um pesadelo? — Ela desviou o olhar para o chão como se tivesse se lembrado de algo. — O que foi?
— O pesadelo...
— Que pesadelo? — Perguntei sem entender.
Ela não respondeu e apenas saiu correndo em direção ao píer do lago. Sem pensar duas vezes, fui atrás dela, que só parou de correr quando alcançou o final do píer.
— Eu tive um pesadelo em que Jace me afogava nesse lago. — Ela disse, olhando intensamente para a água.
Resisti a vontade de bater uma palma.
— Viu? Não fui apenas eu! Você também não tem certeza sobre ele.
Ela desviou o olhar da água para mim, e eu vi o que pareciam ser lágrimas se formando em seus olhos.
— Acho melhor ligarmos para o meu pai... — Falou, totalmente estática e sem fôlego. Parecia até mesmo em choque.
— Liv? — A segurei pelos ombros, preocupada. — O que houve? — Ela não respondeu, apenas sinalizou com os olhos na direção do lago. E foi quando eu vi um corpo feminino terminando de emergir de debaixo do píer e flutuando na água. — Jesus...
Segurei a mão de Liv e rapidamente, a puxei para fora do píer e de volta para a areia, onde ela se sentou, ainda em choque, enquanto eu tentava encontrar algum sinal no meu celular. Meu coração estava acelerado e a minha mão tremendo tanto que eu quase derrubei o aparelho umas duas vezes, mas ainda assim, consegui ligar para a polícia e pedi para falar com o David. Não contei muito, apenas disse que tínhamos ido ao lago e encontrado o corpo. Ele nos mandou esperar dentro do carro com a porta trancada, e avisou que logo chegaria com a polícia.
Não demorou mais do que sete minutos para que ouvíssemos o som das sirenes policiais, e apenas mais dois minutos até os carros aparecerem na estrada de barro. Destranquei o meu carro, caminhando na direção do carro de David, e ele me encontrou na metade do caminho, no seu rosto uma expressão de pura preocupação e agonia.
— Você está bem? — Eu apenas assenti. — Olivia?
— Também. Ela está no carro.
A passos largos, ele foi até o carro e ele abriu a porta do lado do carona, se ajoelhando na frente dela.
— Filha, você está bem?
Olivia não respondeu. Apenas passou os braços pelos ombros de David e o abraçou forte. Ela estava em completo silêncio e com um olhar perdido desde que viu o corpo da garota na água. Deveria ser demais para ela, afinal, suas teorias aparentemente estavam se tornando concretas.
— Eu acho que ela está em choque. — Expliquei, quando David olhou para mim preocupado.
— E você, Patty, está mesmo bem? — Eu apenas assenti novamente. Nunca havia visto um corpo assim tão de perto, e estava tremendo um pouco, mas não queria tornar a situação sobre mim. Eu não tinha o padrão de aparência das vítimas, Olivia sim. — Vai ficar tudo bem, garotas. — Ele garantiu, para mim e para ela.
David me direcionou até um oficial para que ele tomasse o meu depoimento. Olivia ainda estava abalada demais para falar, então, ficou de dar o depoimento no dia seguinte.
— Esses oficiais vão levar vocês para casa. Você pode vir buscar o carro amanhã ou em alguns dias, depende de quando a equipe forense liberar, pois agora é melhor não mudar nada nessa área. — Eu assenti, concordando. — Seus pais estão em casa, Patty?
— Não, eles foram visitar um imóvel em outra cidade, só voltam a noite.
— Não tem problemas, você pode ficar lá em casa, e até dormir lá se quiser.
— Obrigada.
Liv e eu fomos acompanhadas por dois policiais até uma das viaturas da polícia e colocadas no banco traseiro. Não falamos nada o caminho todo. E nem havia nada sobre o que falar nesse momento. Minha mente estava uma bagunça, minha cabeça já começava a doer um pouco e eu não conseguia imaginar como Liv deveria estar se sentindo, afinal, tudo o que ela pensou estava certo. O Enigma realmente parecia estar obcecado por ela. E ter um assassino em série obcecado por você deve mexer muito com a mente de uma pessoa.
— Eu vou me deitar. — Ela disse, assim que passamos pela porta da casa dela. Eu apenas assenti, vendo-a subir pela escada, não queria forçar uma aproximação agora, eu sabia que ela precisava de um tempo.
— Nós vamos ficar na viatura aqui em frente, qualquer coisa é só gritar. — Avisou um dos oficiais da polícia, se não me engano, o seu nome era Carter. Alto, negro, e muito mais musculoso agora do que antes. Eu lembrava vagamente dele, pois ele havia se formado do colégio junto com Elijah há dois anos atrás.
— Ok, obrigada.
Fechei a porta da frente e caminhei até a cozinha, eu precisava beber água e quem sabe, comer alguma coisa... comer era o meu mecanismo de defesa. O que eu fazia quando me sentia triste, estressada ou ansiosa.
Depois de comer algo, assistir alguns filmes na televisão, e comer novamente quando a Susan chegou e preparou algo, o sono finalmente bateu e eu decidi subir para ir dormir. Olivia já estava dormindo em sua cama, então, fiz o mínimo de barulho possível quando entrei em seu quarto para pegar um dos seus pijamas emprestado e ir para o quarto do Elijah. Olivia precisava de espaço, e acordar comigo ao seu lado não seria uma boa ideia. Além do mais, não era como se o Elijah fosse se incomodar lá da capital. Tomei um banho rápido, vesti meu pijama e caí na cama. Estava esperando adormecer sentindo o cheiro do Elijah, mas para a minha decepção, os lençóis foram recém trocados e estavam com um leve cheiro de sabão em pó.
***
Quando eu acordei eram três horas da madrugada em ponto. Que hora maldita para uma pessoa se acordar no meio da noite viu?
Como eu estava cansada, e com tanto sono ao ponto de mal conseguir permanecer de olhos abertos, minha primeira opção foi claramente rezar o Pai Nosso algumas vezes até dormir novamente, dessa vez protegida, mas infelizmente, eu estava muito apertada para ir ao banheiro, e não tive escolha a não ser me forçar para fora da cama e sair do quarto cambaleando pelo corredor rumo ao banheiro, já que para a tristeza de Taylor, Elijah, e agora a minha, os únicos quartos com banheiro eram o da Liv e o da Susan e David. Aliás, de tão sonolenta que eu estava, quase entrei no quarto deles por engano ao invés do banheiro. Por sorte, eu me liguei a tempo de não girar a maçaneta e segui até a porta do banheiro.
Dois minutos depois, eu já estava fazendo o caminho de volta, sentindo que se eu fechasse os olhos por muito tempo, eu poderia acabar dormindo ali no corredor mesmo. O que era estranho, pois eu não tinha feito nada demais para estar assim tão cansada, parecia que eu tinha corrido uma maratona! Entrei no quarto, fechei a porta e me deitei novamente na cama, puxando o coberto até o pescoço, e sentindo todo o meu corpo relaxar e ser abraçado por aquele braço tão quente e... espera um pouco... um braço?
Abri meus olhos rapidamente, sentindo como se todo o sono tivesse sido expulso do meu corpo, e pulei para fora da cama. Tinha alguém na cama! Fui correr até a parede para acender a luz, mas acabei batendo com o meu dedo mindinho em algum móvel.
— Ai, caralho! — Resmunguei, fechando os olhos para suportar a dor.
— O que foi? Você está bem?
A voz era masculina! Será que ele queria me agarrar? Ou pior, me matar! E Deus, que tipo de doido é esse que entra debaixo das minhas cobertas na intenção de me matar e ainda pergunta se eu estou bem? É claro que eu não estou bem!
Ah, mas ele não me conhecia mesmo! Pois eu não morreria assim tão facilmente, continuei pulando de um pé só mesmo até a porta, quando senti uma mão em meu ombro. Sem pensar duas vezes, me virei na hora e dei um soco no desgraçado.
— Ai, porra! Taylor, você endoidou?
Eu estava pronta para lhe dar mais socos quando eu parei para pensar no que ele havia dito. Taylor? Mas que merda? Me virei para a parede e acendi a luz, me virando novamente para ver quem tinha me atacado.
— Zach?
— Patty? — Ele perguntou tão surpreso quanto eu, com uma das suas mãos sobre o olho direito onde eu o tinha acertado.
Olhei em volta. Eu estava com tanto sono que tinha entrado no quarto da Taylor, ao invés do quarto de Elijah que era logo ao lado! Oh, merda. Caralho! Eu gritava? Não, calma. Eu já tinha feito burradas demais, se eu gritasse e acordasse o David, eu iria revelar toda essa história de namoro da Taylor para ele, e Olivia não queria isso, ela queria conversar com a irmã primeiro. Me virei e abri a porta pronta para correr e dar o fora dali.
— Espera um pouco! Você não pode ir saindo assim! — Zach segurou o meu braço, me puxando de volta e fazendo com que eu acidentalmente fosse de encontro ao seu peitoral nu.
Ok, eu estava na seca há um bom tempo. E eu digo, há um BOM tempo mesmo. Eu não beijava na boca há no mínimo uns seis meses. Mas tempo nenhum seria o suficiente para um criminoso, tá ligado? Um foragido da polícia era literalmente onde eu desenhava a minha linha de limites. Por isso, e apenas por isso mesmo, não me deixei abalar pelo seu corpo malhado e me afastei rapidamente, dando um chute no meio das suas pernas.
— Não posso uma ova, querido!
Ele caiu no chão resmungando vários palavrões, e eu aproveitei a oportunidade para dar o fora dali e voltar para o quarto de Elijah. Onde, por precaução, eu tranquei a porta e as janelas, antes de me deitar na cama para voltar a dormir. Taylor só poderia estar usando crack...
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