Capítulo 09
Primeiro encontro
— Liv... você está me assustando aí em pé parada. O que aconteceu?
Desviei os olhos da janela para Patty. Tentando encontrar as palavras certas.
— Eu acho que tinha alguém aqui. — Confessei, tendo certeza de que eu deveria estar parecendo uma louca no momento. Por Deus, eu ainda estava enrolada em uma toalha!
— Como assim tinha alguém aqui? — Ela deixou seu lanche de lado, e se levantou, vindo na minha direção.
— Alguém aqui, no meu quarto. No meu banheiro, me olhando... eu pensei que fosse você, mas como você disse que estava na cozinha... eu...
— Calma, calma. — Ela me puxou para sentar na cama, se sentando ao meu lado. — Deve ter alguma explicação... pode ter sido a Taylor, eu vou perguntar a ela, ok?
— Não, não me deixa aqui! — Segurei em seu braço antes que ela se levantasse.
— Calma, não tem... — Ela parou de repente e se ajoelhou para olhar debaixo da cama. — Não tem ninguém aqui!
Patty deixou o quarto apressada, e eu continuei ali sentada, tentando me acalmar. Eu não poderia estar enlouquecendo... eu não poderia estar enlouquecendo! Olhei em volta pelo quarto, e meus olhos pousaram sobre a escrivaninha. O envelope com os registros de moradia e estudo de Harry que eu havia deixado ali tinha sumido. Levantei da cama rapidamente e fui até lá, olhando em baixo de todos os livros para ter certeza. E sim, envelope não estava mais lá.
Senti um calafrio subir pela minha espinha ao pensar na possibilidade de ter sido Harry quem entrou no meu quarto. Quem mais teria interesse naqueles registros? Apenas ele! Fui até a janela e a fechei, trancando dessa vez, mesmo sabendo que aquela tranca poderia ser facilmente quebrada. Eu precisava mesmo era de um cadeado.... amanhã mesmo eu cortaria as plantas trepadeiras que haviam do lado de fora. Se eu, que não sou nada atlética conseguia descer por ali, um assassino experiente com certeza conseguiria subir.
Senti uma presença atrás de mim e me virei rapidamente, respirando aliviada ao ver o meu pai.
— Desculpa se te assustei, eu queria te perguntar uma coisa, mas vou deixar você se vestir e depois eu volto.
Eu assenti e ele se virou para sair, esbarrando rapidamente na Patty que estava entrando, ela sorriu sem graça e esperou até ele estar longe para fechar a porta.
— Então? — Perguntei, mas pela expressão em seu rosto, eu já sabia qual era a resposta. — Não foi ela, não é?
— Não..., mas isso não significa nada, pode nem ter sido alguém...
— E eu ter imaginado? — Completei o que ela iria falar, e Patty sorriu sem graça.
— Você tem uma mente bem imaginativa.
— Amiga, mas não ao ponto de ter alucinações! Eu realmente acho que tinha um estranho no meu quarto! E se fosse...
Parei de falar. Patty não sabia metade das coisas que tinham acontecido comigo nos últimos dias, e eu queria tanto contar...
— Um assalto? — Ela tentou me completar. — Olha em volta, Liv, não roubaram nada. — Sim, roubaram! — Eu sei que você não quer escutar isso, mas você está nervosa com o encontro, e deve ter imaginado, se confundido, sei lá.
Como se imaginar um estranho te espiando no bainheiro pudesse ser apenas nervosismo! Eu queria gritar, não com ela, mas de raiva com a situação, mas no lugar, eu apenas respirei fundo. Eu sabia que não tinha imaginado isso, o roubo dos registros de Harry era prova, mas eu não queria envolver ela nessa história, quanto menos Patty soubesse, melhor, para a sua própria segurança.
— Acho que você tem razão. — Concordei com ela. — Foi apenas nervosismo.
Ela sorriu levemente e me abraçou.
— Vai ficar tudo bem... eu sei a roupa perfeita para você vestir!
***
Quando a campainha da minha casa tocou, eu já estava pronta. Vestida em um vestido florido que ia até um palmo acima dos joelhos, uma jaqueta jeans por cima e sapatilhas com pequenos saltos. Um look perfeito para qualquer lugar, uma lanchonete, um parque ou até um bom restaurante, não que eu achasse que Jace fosse me levar em um restaurante chique. Basicamente tudo o que eu sabia sobre ele era o seu nome e que ele costumava estudar na escola, ou melhor, no reformatório Ouklen. Eu sei, meio arriscado concordar em sair com ele, principalmente se eu considerasse suas habilidades de hacker. Mas Jace tinha me salvado de um afogamento, isso deveria contar também, certo?
Enquanto descia as escadas de casa, sendo seguida por Patty, sorri satisfeita ao ver que a minha mãe tinha aberto a porta e estava analisando Jace de cima a baixo. Antes ela que o meu pai.
— Quero ela de volta antes das onze viu mocinho.
— Sim, senhora!
— Tchau, mãe. — Me apressei para chegar na porta.
— Tome bastante cuidado, Olivia...
— Tá bom, tia Su, deixa ela ir logo!
Patty me empurrou para fora de casa, e eu fui de encontro com o corpo de Jace, que me segurou pela cintura com um sorriso maroto no rosto. Sorri meio sem graça para ele, e lancei um olhar mortal na direção de Patty, que apenas piscou um olho e bateu à porta na minha cara.
— Nossa, você está muito...
— Obrigada!
Xinguei mentalmente por ter agradecido antes que ele terminasse o elogio. Eu realmente estava muito nervosa.
— Linda. — Jace completou mesmo assim, com um sorriso de tirar o folego no rosto. Sorri e deixei que ele me guiasse, já que a sua mão ainda estava na minha cintura. — Pronta para irmos?
— Claro.
— Só tem uma coisa... não sei se você sabe que eu estudava no....
— Ouklen High, eu sei, e não me importo.
— Bom saber. — Ele sorriu nervoso. — Mas na verdade não é isso. É que uma das punições é a perda da carteira de motorista por um tempo, então, não poderemos ir na minha moto...
Ele apontou para a frente e eu olhei na direção, e o fato de ele ter acabado de me contar que tinha uma moto foi totalmente ofuscado quando eu encontrei uma bicicleta encostada na calçada. Não consegui segurar uma rápida risada.
— Vamos de bicicleta?
— Você se importa? — Ele perguntou parecendo realmente um pouco receoso.
— É claro que não! Isso é tão... diferente. — Sorri.
Eu definitivamente não esperava ir ao meu primeiro encontro de verdade em uma bicicleta. Quer dizer, o meu primeiro, primeiro encontro mesmo foi aos treze anos, e eu fui a pé tomar um sorvete que eu mesmo paguei, enquanto o menino jogava uma campanha de um jogo no celular e quase nem me dava atenção. Depois disso nunca mais saí com ninguém que não fosse a Patty ou da minha família, então, estar indo a um encontro real agora era incrível.
— Só não me derrube no chão! — Alertei, enquanto me sentava no quadro da bicicleta.
— Nunca. — Ele aproveitou que meu rosto estava extremamente perto do seu e beijou minha bochecha, me deixando ainda mais envergonhada.
Eu sabia que teria que contar sobre os meus sentimentos pelo Noah em determinado momento..., mas, isso poderia esperar um pouco, certo? Não havia nada demais em ter um simples encontro.
Jace começou a pedalar bem lentamente e eu já estava surtando e pensando em emagrecer alguns quilinhos, quando a bicicleta finalmente pegou velocidade e aquela ideia foi embora da minha mente no mesmo segundo em que um vento frio bateu em meu rosto, bagunçando o meu cabelo que estava solto, e que estaria uma bela bagunça quando chegássemos ao destino final.
— Você é um bom motorista de bicicleta.
Elogiei, fazendo uma careta que por sorte ele não veria. Motorista de bicicleta? Sério, Olivia? Eu tinha certeza de que esse não era o termo certo, mas por não lembrar e por falta de um melhor, foi esse mesmo.
— Obrigado. Eu estou dando o meu melhor, considerando todo o seu cabelo voando contra o meu rosto.
É claro que ele disse isso em um tom divertido, mas eu ainda assim quis imitar um cachorrinho e fingir estar morta. Com o maior cuidado do mundo para não desiquilibrar a nós dois, eu coloquei o meu cabelo para o lado contrário ao do rosto dele, e ele agradeceu.
Jace parou a bicicleta em frente a Ally's Party, um dos melhores lugares para se comer nessa cidade. Era uma das lanchonetes mais antigas da cidade, e isso era perceptível pelo letreiro neon que tinha a letra "y" de "Party" apagada. Apesar de antigo, o lugar era bem agradável, tinha a decoração bem retro no estilo anos 60 e as melhores batatas fritas que você poderia imaginar. Elas eram de comer não apenas de joelhos ou rezando, mas dando uma missa inteira!
— Boa escolha. Adoro esse lugar!
— Então, talvez possamos voltar outro dia para ficar, pois hoje vamos apenas pedir para a viagem.
— E para onde seria essa viagem? — Tentei pescar alguma coisa.
— Surpresa. — Ele piscou para mim e seguiu em frente, entrando na lanchonete.
O sininho em cima da porta balançou e uma atendente saiu da cozinha para vir nos atender. Ela aparentava ter a minha idade e exibia uma plaquinha com o nome "Val" no peito. Tinha a pele clara, o cabelo em um tom preto quase azulado na altura das orelhas, e vestia o clássico uniforme da lanchonete, que era constituído por um vestido amarelo de mangas fofinhas e um avental branco por cima. Em dias movimentados, algumas atendentes costumam usar patins para servir as mesas, mas como a noite estava calma e havia apenas dois casais em meses separadas conversando, ela estava de tênis.
Pedimos dois combos de hambúrgueres e batatas fritas tamanho grande, e dispensamos os refrigerantes, já que não tínhamos como levar sem derramar, pedimos duas garrafas de água no lugar.
— Deu dezesseis e cinquenta.
Alcancei a minha bolsa que estava atravessada no meu corpo para pegar minha carteira, quando vi Jace entregar uma nota de vinte dólares para a atendente.
— Pode ficar com o troco. — Ele disse. A garota sorriu contente e agradeceu, fechando o caixa e voltando para dentro da cozinha para entregar o nosso pedido ao chefe. — Para que isso? — Ele apontou com a cabeça para a pequena carteira na minha mão.
— Eu pensei que iriamos dividir a conta. — Falei, guardando a carteira de volta na bolsa.
— Você paga a próxima, a pipoca no cinema está muito cara! — Ele brincou e eu sorri.
— Espertinho você, não?
— Um gênio, na verdade. — Deu de ombros, convencido.
Alguns minutos depois, a atendente voltou com os nossos lanches em uma sacola e a entregou para Jace, que agradeceu.
— Vamos logo, gênio, que eu já estou ficando com fome!
— Como quiser, mademoiselle.
Bem, "ficando com fome" era um modo de falar, eu estava quase desmaiando. A última vez que comi foi no almoço no colégio, e isso foi há mais de sete horas atrás! Havia me esquecido completamente de me alimentar entre a ida até a capital para ter uma conversa — que eu nem tive — com o meu irmão, discutir com o possível assassino amigo dele, e depois ainda voltar para casa apenas para ter o meu quarto invadido enquanto eu me preparava para um encontro. E não vamos esquecer da parte em que Patty e eu praticamente atropelamos alguém... e eu pensava que tinha uma vida parada!
Quando Jace fez a curva em uma rua de terra e que dava para a floresta, eu primeiramente fiquei com um pouco de medo, já que aquela área estava completamente deserta e escura, principalmente agora de noite. No entanto, eu logo reconheci aquele caminho que já havia percorrido tantas vezes quando eu era pequena, e sorri.
— Você está me levando para o lago da cidade?
— Você estragou a surpresa! — Ele reclamou e eu ri.
— Eu conheço muito bem essa cidade, se queria uma surpresa deveria ter me vendado!
— Eu pensei nessa ideia, mas seria estranho demais vendar você no primeiro encontro e te levar para um lago isolado no meio do nada, não acha?
— Analise o que você acabou de dizer e me responda seriamente se a parte sobre eu estar vendada é o maior de seus problemas?
— É.... você está certa. Vamos esquecer essa conversa? — Ele pediu, comicamente nervoso e eu assenti, ainda rindo.
Fechei os olhos por alguns segundos e apenas senti a brisa bater contra o meu rosto. Só pelo cheiro e a leve humidade do ar, eu poderia afirmar que estávamos próximos do lago, por isso não me surpreendi quando a velocidade da bicicleta foi diminuindo até parar. Abrir os olhos e desci do quadro em um pulo, encarando o lago a minha frente. Era enorme, e completamente cercado por uma areia branquíssima e árvores.
Do outro lado do lago havia uma casa que pertencia a família do Noah. Foi uma luta enorme para que eles conseguissem construir, já que o lago era propriedade pública. Mas depois de um acordo com o governador, eles acabaram conseguindo o direito não só de construir a casa, como privatizar todo o outro lado do lago. O que era um grande desperdício já que eles só viam para cá no verão e o resto do ano a casa ficava praticamente abandonada.
No nosso lado, havia apenas um poste, que ficava no início do píer, ainda na areia, mas que era forte o suficiente para iluminar bem aquela área. O que deixava o lugar bom para quem gostava de vir aqui a noite... não que isso estivesse realmente acontecendo nos últimos dias.... Balancei a cabeça, sem querer pensar nisso agora, e tirei as minhas sapatilhas, fincando os meus pés na areia fria e apreciando algo tão simples como aquela sensação.
Senti uma movimentação ao meu lado e virei o rosto. Jace tinha forrado uma toalha xadrez daquelas de piquenique na areia e colocado a sacola com os nossos lanches no meio dela, ao lado de sua jaqueta recém tirada. Mas ele não estava sentado, e sim em pé ao meu lado, tirando a sua camisa e deixando o seu abdômen definido a mostra. O que foi uma surpresa... agradável.
— O que...
Parei de falar na hora e apenas fiquei olhando sem saber o que fazer, enquanto ele desabotoava sua calça jeans e a tirava, ficando apenas com um calção preto.
— Vou dar um mergulho, você não vem?
Subi os olhos para o seu rosto quando percebi que estava encarando o seu corpo há tempo demais. Ele sorriu convencido, como se não se importasse que eu olhasse.
— Você está doido? A água deve estar congelando!
— Eu te esquento. — Ele deu de ombros, me deixando sem palavras por alguns segundos.
— .... Mas eu não trouxe meu biquíni.
— Você está de calcinha e sutiã, não está?
Não respondi de imediato. Pensando em qual das duas respostas seria a melhor... sim, e ter que entrar no lago, ou não, e ser uma pervertida que foi ao seu primeiro encontro pelada debaixo do vestido... Jace levantou uma sugestiva sobrancelha.
— ... Estou.
— Então, dá no mesmo.
Ele teria uma resposta rápida para tudo o que eu inventasse para não ter que entrar naquele lago super gelado? Eu já não via outra escolha a não ser ceder...
— Mas a comida vai esfriar... — Se já não estivesse fria, mas valia a pena tentar, não é?
— Eu não vou desistir até você entrar nessa fria comigo... literalmente. — Ele estendeu a mão na minha direção e eu balancei a cabeça levemente, desistindo.
Tirei minha bolsa, jogando-a na toalha, seguida da minha jaqueta, e então era a vez do meu vestido... segurei na ponta do vestido, e o tirei rapidamente, como um band-aid, ficando apenas de calcinha e sutiã naquele terrível frio. Eu estava congelando, mas tinha certeza de que quando eu contasse tudo isso para Patty, ela diria que tudo foi muito quente!
Olhei para Jace no mesmo segundo em que ele desviou os olhos dos meus seios, e ele abriu um sorriso claramente culpado.
— Esse foi o seu plano desde o começo, não é? Me deixar seminua. — Ironizei, enquanto caminhava até ele para segurar a sua mão. Jace riu.
— Eu sou um gênio, lembra?
Caminhamos até a beirada do lago e eu coloquei apenas as pontas dos meus dedos do pé na água, só para ter a completa certeza de que estava mesmo um gelo. Eu só poderia estar momentaneamente louca para ter aceitado essa ideia!
— Eu acho que não... — Tarde demais.
Jace me empurrou no lago e eu caí de bunda na parte rasa, me molhando completamente.
— Jace! — Espirrei água em suas pernas, irritada. — Você me deixou toda molhada! — Reclamei, já que eu não tinha intenção alguma de molhar o meu cabelo.
Jace espremeu os lábios, reprimindo um sorriso claramente malicioso, e eu abaixei o rosto completamente envergonhada ao perceber o que tinha acabado de dizer. Eu realmente não tinha ideia de como sobreviveria pelo resto desse encontro assim. Eu certamente morreria de vergonha até o final dessa noite.
Balancei a cabeça, tentando superar aquele frio na barriga, e os meus olhos se focaram em suas pernas, que aliás, eram muito mais brancas que o resto do corpo, e eu tive uma ideia vingativa. Segurei o seu calcanhar e puxei o seu pé com tudo para a frente, quase como se estivesse dando uma rasteira nele, só que com a mão, e Jace caiu para trás na minha frente.
— Nem está tão ruim assim. — Ele deu de ombros, rindo e espirrando água com a mão no meu rosto. Fiz uma careta, enquanto passava a mão pelo rosto para tirar a água. — Vamos mais para o fundo? Estamos praticamente na areia.
— Eu não sei nadar, Jace. Ou você esqueceu de como nos conhecemos?
— Não esqueci não. Mas falando nisso, por que você não sabe nadar se tem uma piscina em casa?
— Eu sofri um acidente em uma piscina quando era bem pequena e desde então, eu tenho um leve trauma. — Expliquei por alto, não querendo entrar naquele assunto.
— Que chato. — Ele lamentou.
— Pois é... Mas como você sabe que eu tenho uma piscina? — Estranhei.
— Você comentou.
— Comentei? — Estranhei ainda mais, já que eu não tinha lembranças disso.
— Sim, mas não comigo. Eu ouvi algo sobre uma festa na piscina da sua casa ou algo assim, não lembro bem, eu só sei.
— Ah...
Eu apenas assenti. Mesmo estando sentando um pouco longe na hora, ele deve ter ouvido quando o Noah falou isso no outro dia em frente ao colégio.
— Mas olha, o fato de você não saber nadar não é problema, é só se segurar em mim.
— Essa parece ser uma ótima e segura ideia. — Ironizei, enquanto ele continuava com sua expressão paciente. Bufei. — Você não vai desistir, não é?
— Não, no fundo é mais divertido! Agora vamos.
Nos levantamos e começamos a entrar mais fundo no lago. Quando a água estava já passando da minha cintura, eu pensei em parar, mas Jace me abraçou pela cintura e continuou andando, até que eu não consegui mais sentir a areia nos meus pés. Passei meus braços pelos seus ombros, me segurando fortemente a ele, que riu levemente do meu desespero!
— Para de rir, não é você que não sabe nadar! — Pedi.
— Tudo bem, desculpe. — Ele assentiu, espremendo os lábios. — Você pode passar suas pernas em volta da minha cintura se quiser também..., é uma posição mais confortável. — Olhei para ele sem acreditar que ele tinha mesmo sugerido aquilo. — Sem segundas intenções, eu juro!
Ele sorriu, seu sorriso parecia realmente sincero e sem malícia, mas eu estava apenas de calcinha e sutiã e ele apenas de calção, nossos corpos já estavam praticamente colados, ficar naquela posição com ele seria algo... íntimo demais.
— Obrigada, mas... — Parei de falar ao sentir uma de suas mãos na dobra do meu joelho. — O que...
Ele subiu minha perna direita, colocando-a na sua cintura, e a minha perna esquerda meio que "seguiu" o movimento. Senti o meu rosto esquentar em meio a tanto frio, mas decidi não pensar demais nisso.
— Viu? Bem mais confortável. — Ele tinha razão, era bem melhor e confortável desse jeito. — Eu não vou te atacar nem nada parecido. Não precisa ficar com medo de mim.
— Eu não estou com medo de você... — Eu estava com medo de mim! De acabar gostando demais... — É só que... tudo isso parece estar acontecendo rápido demais para um primeiro encontro, sabe? — Confessei. Pensando seriamente se eu deveria ou não mencionar o Noah agora?
— Eu entendo. E você tem a minha palavra de que eu não vou fazer nada que você não queria. — Prometeu.
— Sério? Por que eu tenho certeza de que eu não queria entrar no lago. — Provoquei.
— Ei, essa promessa vale a partir de agora! — Ele se justificou e eu sorri. —
Assenti, tomando bastante fôlego. Jace me abraçou pela cintura e então, eu senti o meu corpo sendo impulsionado para baixo até que eu estivesse totalmente submersa. Abri os olhos, mas como estava de noite não dava para ver muita coisa, apenas traços de alguns fios de cabelo loiros de Jace, ou quem sabe até meus, eu não sabia dizer. Meu cabelo era um loiro mais dourado, enquanto o dele era mais claro e apagado, mas naquela escuridão tudo parecia o mesmo. Voltamos a superfície e eu respirei fundo, normalizando a minha respiração ofegante enquanto tirava o cabelo do meu rosto. Olhei para Jace e ele estava olhando para mim com um olhar estranho.
— O que foi? — Perguntei, com um frio na barriga.
— Nada, é que... você é realmente muito bonita. — Eu sorri, sentindo minhas bochechas corarem, mesmo em meio a todo aquele frio! E eu não soube o que lhe responder. Por sorte, eu não precisei, pois ele mesmo desviou o olhar e mudou de assunto. — Estou morrendo de fome, vamos comer agora?
— Pensei que nunca perguntaria!
Jace foi me carregando até a parte onde eu já conseguia colocar os pés no chão, e então ele me soltou. Saímos do lago e nos sentamos em cima da toalha que ele havia forrado. Se dentro da água já estava frio, fora dela estava congelando. Esfreguei as mãos pelos meus braços de forma rápida para tentar me aquecer um pouco enquanto ele tirava os nossos lanches da sacola.
— Seu hambúrguer, batatas e água. — Ele me entregou a minha parte.
— Obrigada. — Agradeci, colocando duas batatas fritas na boca enquanto desembrulhava o hambúrguer. — Onde você trouxe essa toalha?
Perguntei curiosa, ele não tinha nenhuma mochila com ele.
— No bolso interno da minha jaqueta. — Ele respondeu, antes de dar uma boa mordida em seu hambúrguer.
— Já notou que bolsos de roupas masculinas são sempre maiores que os de roupas femininas? — Perguntei do nada, lembrando que li sobre isso em algum lugar.
— Se mulheres tivessem bolsos não precisariam de bolsas, precisariam?
Eu assenti.
— E viva o capitalismo!
Terminei de tirar o papel do hambúrguer e o mordi, fechando os olhos e apreciando aquele gosto delicioso de bacon... Assim que terminei de comer o hambúrguer, foi a vez das batatas. Algumas pessoas gostam de comer tudo misturado, como Jace, mas eu sempre guardava o mais gostoso para o final, e bem, aquelas batatas eram a divindade na terra.
Jace deveria estar com tanta fome quanto eu, pois, em menos de cinco minutos nós tínhamos terminado de comer tudo e estávamos agora apenas jogando conversa fora, enquanto esperávamos o vento nos secar para podermos vestir as nossas roupas de volta.
— Sabe, você é a primeira Olivia que eu conheço. É um nome comum, mas ao mesmo tempo... não.
— E você é o primeiro, e muito provavelmente será o último, Jace que eu conheço.
Ele sorriu.
— Só pode ser o destino... — Ele desviou os olhos para os meus braços e uma expressão preocupada tomou conta do seu rosto. — Minha nossa, você está tremendo muito, Olivia! É melhor nos vestirmos e irmos logo, estamos praticamente secos já.
Ele se levantou primeiro e ofereceu as mãos para me ajudar a levantar.
— Ok.
Ainda tremendo, eu coloquei o meu vestido, minha jaqueta jeans e passei a bolsa pelo meu pescoço, me sentindo imediatamente melhor, mesmo que só um pouco.
— Coloca a minha jaqueta também. — Ele me entregou sua jaqueta de couro preta, mas eu não vesti, vendo que ele só tinha a sua camisa de algodão para se aquecer, e aquilo não parecia justo, afinal, eu já tinha a minha jaqueta. — Não se preocupe comigo, eu sou calorento.
— Tem certeza? — Perguntei, ainda um pouco receosa.
— Vá em frente! — Eu assenti e vesti a jaqueta, ficando imediatamente aquecida. — Guarda aí no bolso. — Ele me entregou a toalha já dobrada e eu a guardei, me surpreendendo com o espaço daquele bolso. — Pronta para ir?
Concordei, e ele montou na sua bicicleta, esperando até que eu estivesse devidamente sentada no quadro para começar a pedalar. A volta até a minha casa foi mais rápida do que a ida até o lago, em parte pois não tivemos que parar para comprar os lanches, mas ainda assim, o tempo pareceu passar voando. Talvez por eu já conhecer Jace melhor? Não sei. Só sei que, quando ele parou a bicicleta em frente à minha casa e me levou até a porta como um perfeito cavalheiro, eu me sentia incrivelmente feliz.
— Essa noite foi incrível, Jace.
Sorri, eu realmente não esperava que essa noite fosse ser tão boa. Jace conseguiu me fazer esquecer de tudo, os problemas, as mentiras, e até mesmo o Noah! Eu não tinha comentado nada sobre ele para o Jace, e para falar a verdade, eu nem tinha mais certeza se deveria.
— Então, nos vemos amanhã no colégio? Talvez para combinarmos aquela ida ao cinema que você me deve?
Meu sorriso se abriu ainda mais.
— Claro.
Me aproximei dele para lhe dar um beijo na bochecha, mas ele virou o rosto no último segundo, me beijando na boca. Passada a surpresa inicial, eu não me importei com o ato e o beijei de volta. Jace me segurou pela cintura, intensificando aquele beijo inocente, e eu estava prestes a passar meus braços pelo seu pescoço quando ouvi um pigarreio. Me afastei rapidamente dele e encontrei o meu pai parado na porta com os braços cruzados e uma expressão totalmente séria no rosto.
— Obrigado por ter trazido ela de volta em segurança e dentro do horário.
— Sem problemas, Sr. Thornhill. — Jace assentiu para o meu pai meio que mecanicamente. — Nos vemos amanhã. — Ele se aproximou novamente para me dar um beijo rápido na bochecha.
— Tchau.
Acompanhei Jace com o olhar até ele montar na sua bicicleta e ir embora, e então, me virei para o meu pai.
— Isso foi desnecessário, pai. — Passei por ele e entrei em casa. Minha mãe e Patty estavam assistindo TV no sofá da sala.
— Talvez, mas precisamos ter uma conversa séria, mocinha!
— Sobre o que? — Perguntei preocupada. Eu tinha tantos segredos ultimamente que era difícil relaxar quando o meu pai era literalmente o xerife.
— Ah meu Deus, é o Zach! — Olhei para Patty, que apontava para a TV como se não acreditasse no que estava vendo. Olhei para a televisão.
Havia uma foto de rosto do Zach segurando uma placa com números escritos como aquelas que eram tiradas pela polícia. E se uma mugshot já não fosse preocupante o suficiente, embaixo da foto a legenda do noticiário ainda dizia: Zach Miller, fugitivo perigoso.
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