Capítulo 07
Os registros
Cheguei no colégio super atrasada, e na medida em que fui andando pelos corredores vazios, fui notando que todas as salas de aula também estavam vazias. O que estava acontecendo? Será que as aulas tinham sido canceladas? Passei pela sala de inglês, e notei que Jace estava sentado em um canto no chão, mexendo em seu notebook. Fui até ele, que levantou o rosto para me olhar quando eu me aproximei.
— Olivia? — Ele parecia surpreso.
— Oi... — Sorri sem graça. Ele deveria me achar uma louca por ontem à noite. — O que está havendo? Onde está todo mundo?
— No auditório de teatro. O diretor reuniu todos lá para uma palestra sobre o que anda acontecendo na cidade. Você chegou agora?
— Sim. Dormi demais e perdi a hora.
— Que loucura, não? A gente estava lá ontem à noite.
— Realmente... você não viu nada estranho?
— Eu só apaguei as luzes e fui embora assim que você saiu. Não vi nada ou ninguém... você viu alguém?
Engoli em seco, subitamente me sentindo como se estivesse sendo interrogada.
— Não. Ninguém. — Respondi, tentando não demonstrar toda a minha tensão. — Quem encontrou o corpo? Thea?
Tirei a mochila das minhas costas e decidi me sentar ao seu lado.
— A polícia recebeu uma ligação anônima de madrugada sobre o corpo. — Estranhei. Será que tinha sido Harry? Ou alguém realmente foi lá para transar e ligou para a polícia depois de sair de lá traumatizado. — Aliás, não vai a palestra?
— Não estou me sentindo bem o suficiente para isso.
Se eu fechasse os olhos, ainda conseguiria ver a imagem do corpo de Clara todo ensanguentado a minha frente. Não queria ter que ir a uma palestra onde eu provavelmente iria chorar e ficar ainda pior. Eu queria esquecer. Ocupar a minha mente.
— Nem eu. — Jace assentiu. — Ter estado lá e não ter visto nada que pudesse ajudar, é estranho, sabe?
— É, eu sei. — Suspirei, olhando para a tela de seu notebook, estava totalmente preta, se não fosse por letras verdes que não faziam o menor sentido para mim. — O que você está fazendo?
Seu corpo ficou um pouco tenso com a minha pergunta, e olhando para o seu notebook, ele pensou no que responder.
— Você promete que não vai contar a ninguém?
Eu poderia responder aquela pergunta de duas maneiras, mas escolhi a mais fácil.
— Sim.
— Estou invadindo o sistema do colégio. — Arregalei os olhos.
— O que? Isso não é ilegal?
— O que você acha? — Ele sorriu sorrateiro, voltando a digitar várias palavras sem sentindo algum para mim.
Me segurei para não perguntar qual era o objetivo de tudo aquilo e o que ele ganharia invadindo o sistema do colégio, e fiz outra pergunta no lugar.
— Você pode me ajudar com algo?
— Depende, o que seria?
— Uma pesquisa. — Fui o mais vaga possível.
— Você vai ter que ser mais especifica que isso.
— Uma pessoa. — Disse. — Eu fiz uma pesquisa no Google sobre ela e não encontrei nada. É como se essa pessoa não existisse.
— Normalmente, isso é um sinal de que essa pessoa não quer ser encontrada ou... tem algo a esconder. — Ele parou o que estava fazendo para me olhar. — E você quer descobrir o que é, certo?
— Sim. — Assenti. — Você consegue?
Ele sorriu.
— Isso é fácil. Que nome eu devo procurar?
— Harry. — Ele continuou esperando. — ... Apenas Harry.
Jace riu.
— Isso é literalmente impossível. Sem um sobrenome, você vai ter que me dar mais informações.
— Ele estuda na St. John's College e deve estar no segundo ano, assim como o meu irmão.
— Aí você me complica mais uma vez. Essa universidade é muito bem protegida, não tem como eu acessar o sistema daqui de tão longe... — Eu já iria lamentar, quando ele continuou, me lançando um sorriso esperto. — Sorte sua que eu conheço alguém que estuda lá e que pode nos ajudar.
***
Dois dias depois, enquanto caminhava para fora do colégio ao lado de Patty, não tive como deixar de notar as faixas de segurança em volta da biblioteca, e as memórias voltaram como flashes em minha mente. O corpo. O medo. Harry...
— Que você acabou de olhar para uma garota morta, com sangue por todo o lugar, mas ainda assim, nenhuma reação! Você parece vazio! — Desabafei.
— Você não me conhece, Olivia. — Ele disse apenas.
Era verdade, eu não o conhecia, mas isso estava prestes a mudar.
Avistei Noah há alguns metros a minha frente, e o meu coração acelerou ao vê-lo caminhar na minha direção. Por um momento, tudo ficou em câmera lenta e eu apenas apreciei a imagem. Seus olhos escuros focados, a pele brilhosa, o cabelo sedoso, até mesmo as veias saltadas em seu pescoço eram atraentes, e chamativas! Entretanto, eu acordei para a realidade ao perceber que ele não estava vindo em minha direção, e sim, na dos seus colegas do time que estavam encostados em um carro estacionado um pouco atrás de onde Patty e eu estávamos passando.
— Noah! — Chamei, antes que ele alcançasse seus amigos.
Ele se virou. E eu rapidamente me arrependi, sentindo minhas mãos começarem a suar um pouco.
— Oi, Liv, oi, Patty, tudo bem com vocês?
"Liv". Senti algumas borboletas no meu estomago e sorri nervosa. Ele estava me chamando pelo meu apelido agora!
— Tudo sim. — Patty respondeu.
— Escuta, na sua festa semana passada...
Ele me interrompeu.
— Foi uma tragédia, não foi? E essa semana mais uma, essa cidade está um caos! — Lastimou.
— Sim... — Assenti, sentindo o nervosismo aumentar. — Eu conheci alguém lá na festa, o nome dele é Harry, ele me disse que te conhece.
— Harry? — Ele fez uma leve careta de dúvida enquanto pensava. — Eu não acho que conheço ninguém com esse nome.
— Tem certeza? Ele estuda na St. John's College e é colega do meu irmão.
— Não... sinto muito, não conheço. Deve ter sido um convidado de alguém, ou um penetra, em festas isso acontece muito.
— Certo. — Sorri fraco. — Era só isso, obrigada.
— Nada, até mais.
Ele me lançou um belo e charmoso sorriso, e iria continuar o seu caminho até os seus amigos do time, mas parou na metade e se virou para me olhar, continuando a andar de costas.
— Ei, não se esquece de me chamar para a próxima festinha na piscina. A última foi divertida.
Eu apenas assenti, com o coração acelerado e sem ter a menor ideia do que lhe responder. Noah se virou ao alcançar seus amigos, e os cumprimentou com tapas de mão, enquanto Patty e eu nos viramos para voltar a caminhar.
— O que foi isso? — Ela perguntou, confusa.
— Eu sei... — Suspirei. — Você acha que talvez o Noah... — Ela me cortou.
— Não, não sobre o Noah, sobre o Harry! O que foi isso?
— Ah. — Eu sorri, sem graça. — Harry mentiu, ele disse que conhecia o Noah, mas segundo o próprio, ele não conhece o Harry. — Expliquei.
— Talvez ele conheça só de vista ou de nome? — Ela sugeriu.
— É possível... — Parei de falar ao avistar Jace sentado em baixo de uma árvore no jardim que ficava na lateral do colégio.
Ele tinha um envelope amarelo na grama ao lado dele, e o pensamento de que eu iria finalmente conhecer o Harry de verdade, assim como descobrir o porquê de ele ser tão estranho, fez cócegas em meu estômago. Eu sabia que estava ansiosa até demais para esse momento, mas eu não conseguia evitar. Parte de mim gritava para que eu ficasse longe de Harry e esquecesse qualquer coisa que o envolvesse, mas a outra parte, a parte mais insistente, sussurrava em meu ouvido para que eu o investigasse e descobrisse seus segredos. Era loucura, e beirava a estupidez e insanidade. Mas eu não teria paz até que conseguisse isso.
— O que você acha? — Olhei um pouco assustada para o lado ao ouvir a voz de Patty. Ela cerrou os olhos. — Você não escutou nada do que eu te disse nos últimos segundos, não foi?
— Não... — Confessei e ela bufou. — Quando eu voltar você me conta tudo de novo, ok? — Pedi, já me afastando.
— Espera, onde você...
Não escutei mais a voz dela na medida que me aproximei mais do jardim e de Jace.
— Você conseguiu?
Olhei para aquele envelope como uma criança olha para um prato de doces, e ao perceber isso, tentei disfarçar olhando para Jace, mas acho que ele percebeu o quanto eu estava ansiosa por aquilo.
— Mais ou menos...
— Como assim mais ou menos? — Me sentei na grama do seu outro lado.
— Eu tentei pesquisar sobre ele em todas os fóruns que eu conhecia, olhei no sistema do departamento de polícia daqui de Londville para ver se ele tinha ficha, e até em alguns cartórios, mas não consegui nada. O meu amigo fez o mesmo lá na capital, e ele teve mais sorte. Conseguiu entrar no sistema da St. John's e descobriu que ele se matriculou lá há mais ou menos um mês. Conseguiu também os registros de matriculas e moradias pelo país, mas nada além disso em seu nome.
— O que isso significa? Que ele está usando um nome falso? — Perguntei confusa.
— Não sei dizer. Só sei que não ter nada na internet desse jeito definitivamente é intencional. Logo, não tivemos sucesso em conseguir nenhuma informação pessoal dele, número de celular, de identidade, segurança social, nada. No entanto, meu amigo achou algumas coisas sobre ele em outras cidades. Está tudo aqui dentro. — Ele me entregou o envelope. — Acho que você tem razão em desconfiar, esse cara parece bem estranho.
Eu que o diga. Não via a hora de chegar em casa e descobrir mais sobre Harry.
— Obrigada mesmo por isso. Eu preciso pagar alguma coisa? — Já estava alcançando o zíper da minha mochila para pegar a carteira quando ele segurou minha mão.
— Eu não quero seu dinheiro. Ao invés disso... o que você acha de me pagar hoje à noite? Eu conheço um lugar legal.
Pisquei algumas vezes, totalmente imóvel, e logo, senti minhas bochechas esquentarem. Eu estava doida ou ele estava me chamando para sair?
— C-como?
— Sai comigo essa noite. — Repetiu, confirmando minhas dúvidas.
— Eu...
Eu não poderia, poderia? Quero dizer, eu gostava de outra pessoa! Eu explicava isso a ele? Ou apenas — educadamente — dizia que não?
— Então? — Ele continuou me olhando com aqueles profundos olhos castanhos, e eu comecei a sentir um leve frio na barriga.
— ... Sim?
Olivia Collins você é uma piada! Não consegue dizer não para ninguém! E eu estava ciente de que a minha resposta tinha saído como uma pergunta, mas ele não pareceu se importar com isso.
— Eu passo na sua casa as oito.
— Você sabe onde eu moro?
Eu estranhei, já que nunca falamos sobre isso... ou sobre qualquer coisa no geral, já que nós mal nos conhecíamos. Jace apenas sorriu e fechou o seu notebook, guardando-o em sua mochila.
— Alguém nessa cidade não sabe onde o seu pai mora?
Eu apenas sorri, já que ele tinha um ponto.
Jace se levantou do gramado e foi na direção contraria a que eu tinha vindo, atravessando a rua e afastando-se cada vez mais do colégio. Enquanto eu, permaneci alguns segundos ali sentada, pensando no que tinha acabado de acontecer. Eu tinha sido convidada para sair pela primeira vez na minha vida! E tinha sido pelo Jace, um ex delinquente juvenil que eu pensava que me achava doida! E para piorar, eu tinha dito sim! Mesmo estando apaixonada por Noah! Jesus... o que eu estava fazendo com a minha vida?
Olhei para o envelope em minhas mãos e o guardei na mochila, me levantando e voltando para a frente do colégio. Olhei em volta pelo pátio para ver se encontrava Patty em algum lugar, mas ela já tinha ido embora.
***
Me sentei na minha cama e abri a mochila, pegando o envelope que estava dentro. Afastei a mochila, colocando-a do meu lado e cruzei as pernas, olhando para o envelope em minhas mãos. Agora era a hora... Abri e tirei as folhas de papel que haviam dentro. Desci os olhos até primeira frase que encontrei. "Registros de Harry Campbell pelos Estados Unidos". Hum, então o sobrenome dele era esse? Campbell. Campbell. Campbell. Repeti aquele nome várias vezes mentalmente e em nenhuma me soou genuíno. Harry não tinha cara de Campbell. Mas, ok.
Comecei a ler. Eram registros de matriculas em colégios e universidades.
O primeiro registro foi há três anos atrás em um colégio em Nova York, ele frequentou o lugar por três meses. Então, não há registros por dois meses, até ele aparecer matriculado em colégio na Michigan, onde ficou por dois meses. E esse é o resumo de três anos atrás. Não há nada que comprove se ele se formou ou não em Michigan, mas seis meses depois, já no ano retrasado, há registros dele frequentando a UCLA na California. Ele fica três meses lá, e então, some por um mês, até aparecer registrado em uma universidade em Miami. Ele frequenta ela por apenas um mês, e faz uma pausa de dois antes de aparecer em Washington, depois Texas, e várias outras universidades nesses últimos dois anos, mas em todas, assim como nos colégios também, ele nunca ficava por mais de três meses, sempre sumia e aparecia meses depois em um outro lugar do mapa. O que era bem estranho.
Coloquei aquela folha em cima da cama a minha frente e foquei na segunda folha, nessa, haviam os registros de moradia. E todas eram em cidades pequenas, o que era um pouco estranho, já que era de se assumir que ele iria morar perto da Universidade, ou até mesmo no campus como aqui em Londville. Ele morou em várias cidades nos últimos três anos, passei os olhos pela lista e uma imediatamente me chamou atenção. Hood River. Senti meu coração quase parar, antes de acelerar com tudo dentro de meu peito. Larguei as folhas de qualquer jeito na cama e peguei o meu celular, abrindo o meu Instagram.
Desci um pouco o feed e fui direto para as fotos de um ano atrás, quando eu viajei com a família nas férias de verão, enquanto uma reforma estava sendo feita nessa casa. Abri a foto em que eu estava parada em frente a placa de uma pequena cidade da Pensilvânia... com nome Hood River esculpido nela. Olhei a data em que foi postada e então olhei para os registros. Luzes vermelhas de perigo em minha cabeça começaram a piscar em minha mente. Era apenas uma coincidência, certo? Harry estar lá na mesma época em que eu estava?
Deixei o Instagram em segundo plano e abri o Google, digitando os nomes "Hood River e Enigma" e apertando o botão para ir direto para as notícias.
"Seria Kayra Port a última vítima de Enigma em Hood River?"
A notícia também era de um ano atrás. E sem esperar um segundo sequer, eu cliquei nela, lendo-a mais rápido do que já li qualquer outra coisa na minha vida.
Há duas noites atrás, a jovem de 17 anos, Kayra Port, foi assassinada pelo assassino em série que vem aterrorizando Hood River nas últimas semanas. Kayra é a última das seis vítimas que fecham o ciclo de mortes do Enigma. Seis vítimas por cidade. Foi assim nas cidades anteriores, como Middleton e Williamsburg, e esperamos que seja assim também aqui em Hood River. Queremos o fim dessa onda de assassinatos o mais rápido possível! Com a polícia não tendo a mínima ideia de quem esse assassino possa ser, assim como os cidadãos totalmente assustados, o que nos resta agora é ter esperança...
Parei de ler e peguei a folha de volta, Middleton e Williamsburg também estavam na lista de cidades onde Harry alugou um apartamento. E eu não tinha nenhuma dúvida de que se eu pesquisasse as outras cidades que Enigma atacou, elas seriam compatíveis com as cidades naquela folha. Era ele! Harry era realmente o Enigma!
Larguei aquela folha e o celular na cama e levei as mãos à cabeça, sentindo como se ela fosse estourar a qualquer segundo. O que eu fazia agora? Eu precisava alertar a polícia! Ao meu pai... Deus, eu precisava avisar ao Elijah! Ele estava morando com um psicopata!
Peguei o meu celular de volta e liguei para ele, levantando da cama e andando pelo quarto completamente nervosa, só que em todas as sete vezes em que eu tentei, as ligações foram para a caixa postal. Droga, Eli! Péssima hora para deixar o celular desligado!
De jeito nenhum eu deixaria uma mensagem tão pesada como essa em uma mensagem de voz. Era algo complicado, eu precisava falar com ele pessoalmente! Como o Eli estava se tornando amigo de Harry, eu sabia que não seria nada fácil de entender e aceitar, eu precisava estar lá para lhe dar apoio.
Sem saber bem o que eu estava fazendo, guardei o celular no bolso da minha calça jeans, e peguei o meu casaco em cima da cadeira ao lado da cama. Agradeci por eu não ter tirado os meus sapatos e saí do quarto. Eu precisava encontrar com o Elijah o quanto antes.
Sair de casa não seria um problema, já que Taylor ainda não tinha chegado do colégio, meu pai estava no trabalho e minha mãe a essa hora estava em sua loja. O problema era que como meus pais não estavam em casa, os carros também não estavam, e não tinha nem como eu ir de ônibus até a capital, demoraria demais!
Tirei o celular do bolso e liguei para Patty, pensando em alguma desculpa para contar a ela enquanto ela não atendia.
— Ah, lembrou que tem uma melhor amiga agora? — Respirei fundo, ela não deixaria isso passar tão facilmente.
— Desculpa, Patty. É que eu tinha um assunto urgente para tratar com Jace, sobre o nosso trabalho em dupla. — Ela ficou em silêncio por vários segundos. — Patty?
— Ok, ok! Você sabe que eu não consigo ficar brava com você por muito tempo. — Ela bufou. — O que tá rolando? Você parece nervosa.
— Você pode me dar uma carona até a capital? — Pedi.
— Eu já não estou com muita vontade de deixar a minha cama quentinha agora, e pra ir até Annapolis, então? Fora de questão.
— É urgente! — Ela apenas suspirou despreocupada do outro lado da linha, não se importando nenhum pouco com o meu nervosismo. Então, decidi tentar uma nova abordagem. — É uma carona até a universidade do Elijah. — Acrescentei, sabia que ela não recusaria isso.
— Eu não sei...
Abri os olhos surpresa. Ela ainda estava em dúvida? Mesmo com o Elijah na jogada? Acho que eu realmente não estava sendo uma boa melhor amiga, pois essa atitude dela realmente me pegou de surpresa. Pensando em alguma outra coisa para convence-la, respirei fundo sem escolha, só tinha uma coisa que a faria pular daquela cama.
— E no caminho até lá, você pode me ajudar com dicas para o meu encontro com Jace hoje à noite.
— Se arruma aí, que eu estou chegando em menos de cinco minutos, vadia!
Ela desligou a chamada. Peguei a minha chave e saí de casa, trancando a porta. Me sentei nos degraus da pequena escada do terraço em frente a porta, e esperei por Patty, que por incrível que pareça, chegou em três minutos. Me levantei e caminhei até o carro. Entrando no lado do passageiro.
— O que uma fofoca não faz, hein? — Comentei, enquanto colocava o cinto de segurança.
— Cala a boca e me conta tudo! — Exigiu, com os olhos famintos por informações.
— Põem esse carro para andar e eu te conto.
Ela fez o que eu pedi e logo estávamos dobrando a esquina. Eu poderia perceber que ela estava ansiosa de longe, então, eu tinha que ser cuidadosa para não lhe contar coisas demais e acabar envolvendo-a em toda essa história. Tudo o que eu não queria era por ela em qualquer tipo de perigo.
— Pronto, agora pode começar a contar. O que aconteceu entre vocês?
— Você sabe que fomos colocados como parceiros no trabalho...
— É, é, isso eu já sei! Adianta mais essa história.
— Há três dias atrás marcamos de nos encontrar à noite na biblioteca...
— Ai meu Deus, você estava na biblioteca naquela noite? Você está bem? Você presenciou a morte...
— Não. Amiga, não! Eu não vi nada até a manhã seguinte no noticiário. — Menti.
Bem, uma meia mentira. Mas fiz questão de focar o meu olhar na estrada, para não correr o risco de ela perceber a mentira em meus olhos. Estávamos passando pela estrada ao lado da floresta Ouklen.
— Então, foi por isso que você chegou atrasada aquele dia e não foi a palestra! Você deve ter ficado bem abalada. Imagina, você estava no local de um assassinato poucas horas antes...
— Podemos não falar sobre isso? Por favor? — Pedi, me remexendo desconfortável no banco.
— Claro, claro! Continua a história.
— Eu esperei um tempão pelo Jace na biblioteca e já estava desistindo e indo embora quando ele apareceu. Ele se atrasou, pois teve que passar em algum lugar e depois em uma lanchonete, e até comprou um hambúrguer para mim...
— E vocês se beijaram, se pegaram, e você perdeu a virgindade em cima de uma das mesas de estudo? — Olhei aterrorizada para ela, que tinha um sorriso malicioso no rosto. — Relaxa, eu estou brincando. Eu sei que você está se guardando para o Noah.
— Eu não estou me guardando para o Noah, eu estou apaixonada por ele! Mas isso não significa que quando nos beijarmos eu vou gostar, eu posso odiar e decidir não perder a minha virgindade com ele.
— Você é bem complicada, hein? — Ela fez uma careta.
— Eu sei. — Suspirei.
— Então, se vocês não se pegaram, o que rolou?
— Eu fui embora. Estava tarde e eu tinha que voltar para casa. Quando foi na manhã seguinte de manhã, eu fui até ele para marcarmos outro dia e... ele me convidou para sair.
Expliquei tudo do jeito mais resumido que encontrei e deixei de fora tudo o que poderia parecer suspeito. Inclusive o pedido que eu fiz sobre os registros.
— Mas quando você foi embora, ele ficou na biblioteca? — Assenti. — Liv, e se foi ele? E se o Jace for o assassino? Pensa bem, ele estava lá sozinho, se aquela garota apareceu e ele a matou?
Eu não a culpava por essa dúvida, afinal, eu cheguei a considerar o mesmo. Jace realmente estava lá quando eu saí. No entanto, Harry estava lá quando eu voltei. Tinha que ser ele, não? Os registros eram provas! A não ser que... Jace realmente tenha culpa no cartório, e aqueles registros sobre Harry sejam totalmente falsos. Algo inventado por ele para conseguir sair limpo de toda essa história... Eu já não tinha mais tanta certeza.
Olhei para o lado, encontrando os olhos de Patty em mim, e eu vi em seu olhar a mesma dúvida que havia em minha cabeça, ela só não sabia sobre Harry. Nós nos olhamos por alguns segundos e eles foram o suficiente para me acalmar um pouco, pois mesmo ela não sabendo de toda a verdade, eu sabia que poderia contar com ela para tudo caso precisasse. Sorri fraco para ela, mas ela não teve tempo de fazer o mesmo, pois um impacto fez com que olhássemos para a frente na mesma hora. Patty pisou no freio e o carro parou bruscamente.
— O que foi isso? — Perguntei. A respiração acelerada e o coração quase saindo pelo peito.
— Eu não sei... — Ela olhou pelo retrovisor do carro. — ... acho que atropelamos alguém.
Com o pânico correndo em minhas veias, eu saltei do carro e corri até o corpo que estava caído no chão a alguns metros atrás do carro. Era um rapaz, aparentemente da minha idade... ou talvez mais.
— Meu Deus, você está bem? — Me abaixei ao seu lado e o segurei pelos ombros quando ele tentou se levantar.
— O que você está fazendo? Ele tem que ficar deitado até a ambulância chegar! — Olhei para Patty que corria em nossa direção já com o celular na mão para chamar por socorro.
— Não! Eu estou bem. — Ele disse, se levantando e ficando de pé, um pouco curvado. — Não precisa ligar. — Patty ainda tinha o celular nas mãos. — Sério. Não foi nada.
— Não foi nada até o processo chegar na minha casa! — Ela retrucou.
— Eu estou bem. Eu juro. Não vou te processar!
Ele se sentou no chão, estralando o pescoço para um lado.
— Você tem certeza disso? Podemos chamar uma ambulância, até mesmo a polícia se quiser, mas eu juro que foi um acidente! — Perguntei, nervosa.
— Não precisa. Estou bem. Não quero incomodar.
— Sério mesmo? — Ela perguntou novamente, e ele apenas assentiu dessa vez. — Então... mil desculpas por isso, eu....
Ele a interrompeu.
— Não precisa se desculpar, foi minha culpa. Eu é quem estava correndo e não vi o carro ao atravessar.
Olhei para os lados. A estrada em que estávamos era cercada pela Floresta Ouklen, então haviam apenas árvores dos dois lados da estrada.
— Me desculpe mesmo assim. — Ela insistiu. — Eu me chamo Patty e essa é a minha melhor amiga, Olivia — Nos apresentou.
— Prazer em conhece-las, garotas, eu me chamo Zach.
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