Capítulo 01
A festa
"O corpo da adolescente de 17 anos, Mary Smith, foi encontrado hoje por volta das dez da manhã na Floresta Ouklen. Especialistas disseram que ela já estava morta há dois dias. A vítima tinha um pedaço de papel na boca com a letra "V" escrita e a causa da morte não foi revelada, mas as suspeitas são claras. Loira, dezessete anos e de olhos azuis. Seria Mary a segunda vítima do assassino Enigma? E o que a letra "V"..."
Desliguei a televisão, não querendo mais assistir àquela reportagem. Eu conhecia Mary. Não éramos amigas, mas também não éramos totalmente estranhas uma com a outra, conversávamos de vez em quando no colégio. E agora ela estava morta. Assassinada por esse tal de Enigma.
Era estranho, para não dizer um pouco aterrorizante, pensar que o seu padrão de vítimas se assemelhava tanto a mim. Me causava um enorme desconforto na nuca, como se eu estivesse sendo observada a todo momento. Talvez por isso eu escolhesse não assistir a nada disso. Me mantinha longe dessas mórbidas notícias, e tentava ao máximo focar na minha vida.
— Olivia, o jantar já está na mesa! — Minha mãe, Susan, anunciou alto.
— Já estou indo!
Me levantei do sofá e caminhei até a sala de jantar, onde a Taylor e o David já estavam sentados. David não era o meu pai biológico, mas ele e minha mãe se casaram quando eu e Taylor tínhamos apenas três anos. Foi ele quem nos criou e nos deu o amor de pai que nunca tivemos do nosso pai biológico, que aliás, eu nem sabia quem era. Por isso, eu considerava David como o meu pai de verdade e até o chamava assim. Enquanto minha irmã era mais teimosa e ainda o chamava pelo nome.
Me sentei ao lado dela, e logo, a nossa mãe se juntou a nós, colocando uma jarra de suco na mesa.
— Como vocês estão se sentindo, queridas? — Ela perguntou, em um tom preocupado. Taylor olhou para mim e eu para ela, sem entender exatamente o que a nossa mãe queria. — Eu fiquei sabendo da Mary, era só o que se falava hoje no trabalho. Vocês se conheciam?
Minha mãe era dona de uma loja de roupas no centro e sempre estava ligada em tudo o que acontecia na cidade. Não era por menos, Londville era uma cidade bem pequena. Ela ficava no interior do Estado de Maryland, e por possuir apenas sete mil habitantes, as notícias corriam bem rápido por aqui, principalmente em uma loja, digamos, "badalada" da cidade.
— Sim, estou bem. Não éramos amigas. — Tentei não demonstrar incomodo.
— Eu sequer a conhecia. — Taylor deu de ombros.
— Estou seriamente pensando em tirar vocês de Londville High, já é a segunda garota desse colégio que é assassinada por esse merda, acho que está bem claro que ele escolhe suas vítimas lá. — Disse meu pai, com um olhar preocupado.
— Ok, David, não precisa exagerar. — Taylor riu de nervoso. — Eu não posso sair, todos os meus amigos estão lá, minha vida está lá!
— Se você continuar lá, não terá mais uma vida. — Ele rebateu. — Olivia?
— Eu... concordo com a Taylor nessa. Não quero mudar de escola agora, no último ano. — Expliquei.
Apesar de sermos gêmeas com a aparência idêntica, Taylor e eu éramos totalmente diferentes. Ela era a típica garota popular no colégio, cheia de amigos, seguidores, e sonhos de um dia se tornar uma famosa atriz. Enquanto eu era o completo oposto, nada popular, com apenas uma amiga, e totalmente pé no chão em relação a minha carreira, que aliás, eu ainda não tinha ideia do que seria. Costumávamos ser muito próximas quando crianças, mas na medida em que fomos crescendo, esse laço que dividíamos foi enfraquecendo, piorou bastante quando entramos no ensino médio, até alcançar o fim do poço na nossa festa de dezesseis anos, quando ela começou a me excluir de vez e deliberadamente me cortou de todas as fotos da festa que postou online. Enfim, tínhamos personalidades diferentes e quase nunca concordávamos em algo, contudo, eu estava com ela nessa.
Como eu disse, Londville era uma cidade pequena, então só possuía três colégios aqui, dois ao qual poderíamos frequentar. O primeiro era para bebês e crianças, então já estava fora de questão. O segundo era Londville High, o que frequentávamos. Localizado no centro da cidade, ele oferece apenas o ensino médio e é atendido por praticamente todos os jovens da cidade. Já o terceiro, é Ouklen High. Ele fica bem afastado da área residencial, e até mesmo da área comercial da cidade. Localizado perto da Floresta Ouklen em uma parte digamos que, isolada da cidade. Os rumores diziam que apenas delinquentes frequentavam aquela escola, que era mais como um reformatório. E bem, eu não era e nem pretendia ser uma criminosa. Sem falar que o meu pai provavelmente morreria antes de nos colocar lá, ou seja, teríamos que ir ao colégio da cidade vizinha. Longe e trabalhoso demais.
— Vocês só podem estar doidas... — Ele balançou a cabeça, chocado. — Querida?
— Acho que as garotas têm razão, querido. — Nossa mãe nos apoiou. — Seria difícil para elas ter que recomeçar em outro lugar.
— Só queremos continuar com as nossas vidas. Temos fé que você vai conseguir resolver tudo, David. — Taylor sorriu, sendo surpreendentemente agradável.
O celular de David começou a tocar, e ele suspirou pesadamente.
— Deve ser do trabalho, eu tenho que ir..., mas conversaremos sobre isso novamente!
Ele deu algumas garfadas na comida em seu prato, e se levantou, alcançando o celular em seu bolso e deixando a sala de jantar.
Terminamos de jantar e eu subi para o meu quarto. Amanhã seria sábado e eu não teria aula, por isso, decidi ligar o notebook e colocar alguma série para assistir na Netflix. Estava terminando um episódio de Sense8 quando meu celular tocou. Pausei a série e atendi ao celular, era a Patty, minha melhor amiga.
— Fala! — Atendi.
— Liv, eu tenho novidades! — Ela anunciou com uma voz mais que animada.
— O que?
— Uma festa!
— Uma festa? Não acho que seja um momento muito adequado... — Falei, ainda com a recente morte em minha cabeça.
— Antes de dizer não, adivinhe primeiro na casa de quem é! — Ela não me esperou adivinhar. — Sim, do seu crush, Noah!
Meu coração quase deu um mortal para trás ao ouvir aquele nome. Eu tinha uma pequena queda pelo Noah Kim já há alguns anos, mas nunca tive coragem de dizer a ele. Não éramos amigos, já que ele andava com o grupinho de populares junto com a minha irmã, mas por ele ser o melhor amigo dela, vez ou outra ele aparecia aqui em casa, e bem, eu ficava o observando escondido, alimentando a fantasia na minha cabeça de que ele era o meu namorado secreto, só que ninguém poderia saber do nosso relacionamento, e por isso, na frente de todos nós fingíamos que não nos conhecíamos.... sim, eu tinha sérios problemas.
— Eu não sei....
Minha cabeça estava bem dividida, eu queria muito ir, principalmente para ver o Noah, mas ao mesmo tempo eu sabia que poderia ser perigoso.
— Tá de brincadeira? Esse é o momento que você vem esperando há três anos! Vai deixar passar? — Ela insistiu, com a voz um pouco elevada, e eu comecei a desconfiar de que ela já tivesse bebido algo.
— Tudo bem. — Concordei, suspirando. — Passo aí na sua casa em alguns minutos para te pegar. — Disse, desligando o celular em seguida para não lhe dar tempo de protestar, de jeito nenhum deixaria que ela dirigisse bêbada!
Terminei de assistir os últimos minutos do episódio, e Deus, como eu queria assistir o próximo! Eu estava em um relacionamento vicioso com essa série. Era uma pena que ela tenha sido abruptamente encerrada.
Desliguei o notebook e fui tomar um banho, não demorei muito como de costume, pois não queria morrer nas mãos da minha melhor amiga por ter me atrasado.
Coloquei um vestido preto tomara que caia que batia na metade das minhas coxas e um casaco também preto por cima. Deixei dois travesseiros embaixo do edredom na minha cama, para se caso os meus pais entrassem no meu quarto, e então peguei minha bolsa, onde estava o meu celular e um batom caso eu precisasse retocar. A maquiagem não estava muito forte, já que eu não tinha ideia de como me maquiar direito e não queria parecer uma palhaça, mas o batom vermelho estava bem chamativo e com sorte, chamaria a atenção de Noah.
Por fim, peguei meus saltos pretos e abri a janela do quarto. A essa hora, minha mãe ainda estava acordada, então, não arriscaria sair pela porta da frente e ser pega. Desci pelas plantas trepadeiras que tinham ali e ao chegar ao chão, calcei meus saltos e segui até a garagem. Eu tinha baixado esse aplicativo no celular há alguns dias atrás, que transmitia qualquer coisa do meu celular para a TV pela rede wifi da casa. Estava usando-o para escutar músicas enquanto fazia tarefas pela casa, e bem, isso seria bastante útil agora.
Coloquei para tocar uma música de rock no volume máximo. Isso iria atordoar completamente a minha coitada mãe, que não saberia nem por onde começar para retirar a transmissão. Corri para entrar no carro dela, escutando a música "Burn it down" do Linkin Park no último volume, e ah, eu pagaria qualquer coisa para ver a cara dela agora, lutando contra a tecnologia.
Saí com o carro da garagem o mais rápido que pude e fui rumo a casa de Patty que ficava a duas quadras da minha. Não me preocupei com a transmissão, pois assim que eu estivesse longe o suficiente da minha casa e consequentemente do wifi de lá, o celular pararia de transmitir a música sozinho.
Estacionei em frente à casa de Patty, e ela saiu pela lateral da casa, provavelmente escondida também, seu liso cabelo preto estava solto, batendo na altura dos ombros, e ela usava um vestido rosa bem bonito e sexy.
— Como estou? — Ela se aproximou do carro, dando uma voltinha.
— Arrasando! — Pisquei para ela, que sorriu, entrando no banco de carona.
— O que você vai dizer quando encontrar com ele?
— Não sei bem... — Sacudi a cabeça, ficando nervosa apenas em pensar sobre isso. — É estranho eu gostar dele todo esse tempo, mas nunca ter pensado no que falaria para ele pessoalmente?
— Sim. — Ela fez uma cômica careta e então riu. — Já que ele vem de uma família coreana, que tal brincar com os países e falar... Oi, Noah, me chama de Estados Unidos, e me USA! — Ela fez uma voz sexy.
— Não! De jeito nenhum! — Disse, rindo.
Mais alguns minutos e chegamos à rua da casa de Noah. Dava para ouvir uma música pop alta da esquina, e o jardim frontal da casa estava cheio de gente, assim como a rua estava de carros, eu não encontrei um lugar sequer para estacionar, por isso, tive que passar direto e estacionar na rua de trás.
— Vamos mais rápido? — Patty perguntou, olhando para os lados com medo.
E eu não a culpava, a rua era realmente sinistra. A casa... ou melhor, a mansão da família de Noah ficava em um dos bairros mais conceituados da cidade. Só gente muito rica morava por aqui. Os pais de Noah mesmo, eram grandes advogados e possuíam vários imóveis espalhados pela cidade. Talvez gente rica gostasse de isolação? Difícil dizer. Mas as casas por aqui eram todas afastadas umas das outras.
A mansão dos Kim mesmo, era toda rodeada por árvores, criando quase que uma pequena floresta em seu quintal. Um lado da rua em que estávamos dava para essa floresta, enquanto o outro dava para o jardim frontal de outra mansão.
— Claro. — Concordei, e apressamos os passos.
Além de deserta e fria, uma fumaça, ou melhor, uma neblina pairava pelo chão, fazendo com que nós não conseguíssemos ver nossos próprios pés ao andar. A neblina parecia nos acompanhar enquanto andávamos, se movimentando lentamente sobre os nossos pés, o que só aumentava ainda mais a sensação de inquietação. Sem falar nas luzes dos postes, que vez ou outra falhavam, nos causando ainda mais medo.
Ouvi um barulho vindo de trás e me virei rapidamente para ver o que era, entretanto, não havia nada nem ninguém na rua.
— Tudo bem? — Patty questionou.
— Tudo... — Assenti. — Deve ter sido um gato.
Voltamos a andar.
Dei mais alguns passos e novamente, um som veio de trás. Agora parecia estar mais perto, como se estivesse se aproximando cada vez mais de mim. Parei, olhando para trás e avistei uma sombra em baixo de um dos postes. A luz do poste falhava, dando um ar assustador ao homem, pelo menos eu achava que era um homem, a pessoa usava um largo casaco preto com capuz, e não dava para ver seu rosto ou silhueta.
Segurei o braço de Patty com força e me virei para encara-la.
— Ai! O que foi?
— Um homem....
Me virei de volta, apontando na direção, no entanto, ele não estava mais lá. Não estava em lugar nenhum da rua... talvez tivesse entrado na floresta?
— O que? Que homem, Liv? — Patty me olhou preocupada. — Você também bebeu?
— Eu não estou doida, ok? Eu vi uma sombra...uma pessoa parada ali!
— Tudo bem, eu acredito em você. Mas temos que continuar andando, uma festa nos espera e ficar aqui nessa rua deserta, ainda mais se tiver alguém nos seguindo, não é uma boa ideia. — Ela entrelaçou o seu braço ao meu.
— Vir a essa festa foi maluquice, amiga. — Comentei, rindo mentalmente de nervoso.
— Relaxa. Eu estou com um pressentimento bom. Nada demais vai acontecer.
Voltamos a andar, dessa vez a passos largos, e logo, dobramos a esquina, contornando todas as árvores e chegando na rua da festa, que diferente da rua de trás, estava bem iluminada e com várias pessoas conversando animadamente. Muito mais seguro.
A festa estava bombando. Não, literalmente bombando, pois eu vi alguns garotos passarem por mim com algumas bombinhas e fogos de artifício quando entramos na casa.
Não foi preciso mais do que três minutos para Patty se enturmar e começar a dançar no meio das outras pessoas como se as conhecessem de anos. Minha melhor amiga, assim como a minha irmã, também era muito diferente de mim. Era animada e doidinha. Ser amiga da Patty era assustador e incrível ao mesmo tempo. Ela vez ou outra nos colocava em encrenca, mas o resultado era sempre algo engraçado e memorável.
— Eu vou buscar uma bebida. — Avisei.
Ela assentiu para mim e voltou a dançar, enquanto eu seguia para a cozinha, que por mais estranho que pareça, estava vazia. Fui até a geladeira e abri uma das portas, me inclinando para ver o que havia dentro. Algumas garrafas de tequila, uísque e vodca, além de várias garrafas de cerveja, que foi a minha escolha, eu era fraca para bebidas, então uma cerveja seria a opção mais segura.
Fechei a geladeira, me virando para voltar a sala, mas acabei levando um susto ao me deparar com um cara parado bem atrás de mim. No rosto, uma expressão séria e até um pouco assustadora, enquanto os olhos verdes me analisavam de cima a baixo. Engoli em seco, sem qualquer reação a sua presença ou proximidade. Até que seus olhos desceram, se fixando em algo no chão e eu olhei na mesma direção, percebendo que eu tinha derrubado a garrafa de cerveja.
— Me desculpe, não queria te assustar. — Ele disse, depois de alguns segundos.
Sua voz levemente rouca demonstrava arrependimento, mas seu rosto, assim como os olhos, não demonstrava nenhuma emoção. Ele tinha a pele clara, o cabelo castanho escuro curto levemente ondulado, e era um pouco mais alto que eu, mesmo de salto.
— Tudo bem. — Desviei do seu olhar, me sentindo um tanto desconfortável, e encarei o chão, agora todo molhado de cerveja e cheio de cacos de vidro.
Um pânico se instalou em meu corpo, e se eu fosse expulsa por isso? Ok, talvez não expulsa, mas eu não conhecia o Noah tão intimamente assim, ele poderia reclamar por eu ter sujado a sua cozinha... ou no caso, a cozinha dos seus pais. Pelo bem ou pelo mal, era melhor que eu limpasse essa sujeira.
— Não precisa limpar. Eu conheço o dono da casa, não tem problemas. — Ele disse, o tom baixo me causando uma outra rodada de arrepios.
O que havia de errado comigo? Sua voz me causava arrepios. Seu toque me causava arrepios. Qual seria a próxima coisa...? Não, eu não queria nem pensar! Olhei para baixo, encarando a sua mão que ainda segurava o meu braço, e acho que o meu ato o lembrou disso, pois rapidamente ele me soltou, se afastando um pouco e indo até a geladeira.
— Você conhece o Noah? — Perguntei, agora o analisando.
Ele usava uma calça jeans de lavagem escura, e uma camisa de manga curta preta, que deixava a mostra pedaços de tatuagens em seu braço. O que me indicava que ele já era maior de idade, deveria ter uns dezenove ou vinte anos. No pescoço, uma corrente, mas não dava para ver qual era o pingente pois estava coberto pela camisa, e nos pés, um coturno igualmente preto. Ok, ele era um fã da cor preta, mas isso não era um coisa ruim, já que eu também gostava da cor e a estava usando nesse exato momento.
— Sim. — Disse apenas.
Ele então fechou a geladeira e veio na minha direção com duas cervejas nas mãos. Me entregou uma, e ficou com a outra, se encostando no balcão na minha frente e dando um gole em sua garrafa, com os grandes olhos verdes ainda fixos em mim.
Seus olhos eram lindos, mas seu olhar era intenso e um pouco intimidador. Me dava até um pequeno frio na barriga quando eu tentava encara-lo de volta, ato esse, que eu não conseguia sustentar por muito tempo e logo desviava o olhar para a garrafa em minhas mãos, nervosa. Eu me sentia deslocada e insegura. Não estava nada acostumada com festas, ou a conversar com estranhos, principalmente homens... será que ele estava me secando, ou estava drogado? Era uma dinâmica esquisita demais para mim.
Meu pai costumava alertar que em festas assim, drogas eram comuns, e isso era parte do motivo de ele sempre dizer não quando eu pedia para ir em uma. E bem, ele dizer não era o motivo principal de eu ter fugido hoje. Era realmente uma cadeia de eventos. Mas ninguém havia me oferecido nada ainda, então eu estava tranquila, pois mesmo que oferecessem, eu negaria. Não tinha curiosidade nenhuma nessas coisas ilícitas, já bastava o álcool.
Dei um longo gole na minha cerveja e esperei que ele continuasse a contar como conhecia Noah, ou falasse qualquer coisa para que a conversa fluísse, mas ele não o fez. Ao invés disso, ficou parado, me olhando enquanto bebia da sua cerveja. Eu não tinha ideia do que estávamos fazendo. Só sabia que isso definitivamente não era uma paquera.
Depois de vários segundos em silêncio, cheguei até a pensar que a forma como ele me olhava se assemelhava ao olhar de um predador para a sua presa, mas eu muito provavelmente estava imaginando isso. Projetando o que eu havia visto mais cedo nele, o que nem fazia sentido, já que as roupas eram totalmente diferentes... Infelizmente, ou felizmente, eu tinha uma mente bastante criativa.
— Liv! — Patty entrou na cozinha, com a respiração ofegante e um sorriso maior que o rosto na boca. — Você estava aqui? Eu te procurei por... por todo o lugar! — Ela se atrapalhou um pouco com as palavras, andando até onde estávamos e olhando para.... espera, qual era mesmo o nome dele? — Ei, vocês estão combinando! — Ela apontou para as nossas roupas.
— Estava. — Assenti sem graça. — Eu vim pegar uma bebida, lembra? — Levantei a garrafa, mostrando a cerveja para ela, que assentiu.
— Eu vou deixar vocês conversarem. — O cara disse, se desencostando do balcão e seguindo para a porta da cozinha que dava para o quintal da casa.
— Quem era? — Patty me olhou com um sorriso malicioso no rosto.
— Um amigo do Noah... eu acho. Não perguntei o nome. — Expliquei, com os olhos ainda na porta por onde ele tinha saído.
— Não acha ele um pouco estranho? Todo de preto...
— Eu gosto de preto. — A interrompi.
— Ok, desculpa ter atrapalhado vocês emos, então. — Ela brincou.
— Não atrapalhou. — Se ela tinha feito alguma coisa, foi me salvar dessa estranha situação.
— Vamos voltar para a festa, então? Você ainda tem que ler sua carta de amor para o Noah.
— Ha ha, muito engraçadinha você.
Revirei os olhos, fazendo o caminho de volta para a sala e sendo seguida por uma Patty mais do que animada, ela estava saltitante. Com certeza eu teria que intervir e forçar ela a beber refrigerante ou água pelo resto da noite.
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