0.5 : MILICIA
Algumas pessoas da Praia eram bem peculiares, assim como todo o ambiente em si. Talvez por estarem nesse mundo seus neurônios tenham torraram e eles perderam a sanidade de vez.
Mas Natsuki não podia negar, é divertido assisti-los. A morte iminente deixava todo mundo cheio de adrenalina, então todos aproveitavam intensamente suas vidas. Ela queria poder aproveitar também, no entanto tinha mais o que fazer.
Os corredores do primeiro andar estavam lotados, tinha bêbados perdidos, casais tendo momentos bem sugestivos, tinha até umas pessoas sentadas no chão chorando como se fossem crianças.
Ela não sabia bem para onde estava indo, sua ideia era apenas observar o comportamento das pessoas e aprender como agir nesse lugar.
Ao virar uma esquina, pôde ver um homem espancando um outro, enquanto gargalhava morbidamente. Suas sobrancelhas se franziram numa sensação de deja vu, que só piorou quando conseguiu ver um pouco do rosto do agressor, ele era tão familiar.
Por estar distraída com a cena e não estar prestando atenção por onde andava, acabou esbarrando em alguém e ao se virar para ver de que se tratava, pôde ver um homem alto, careca e todo tatuado. Ele lhe enviou um olhar tão bizarro, que parecia que o mesmo era capaz de olhar através da sua alma.
Natsuki engoliu seco ao ver que ele tinha uma katana.
─── Foi mal. ─── Ela se desculpa, tentando amenizar o clima ─── Eu não te vi.
O homem deu alguns passos em sua direção, mas seus olhos se voltaram para trás dela, então ele deixou pra lá e seguiu seu caminho.
─── Boa noite. ─── Diz alguém ─── Vejo que já tá fazendo amigos.
Era o Chapeleiro, ele cheirava a uma mistura de cigarros, maconha, álcool e perfume masculino. Seus cabelos estavam bagunçados e tinha marcas roxas e vermelhas em seu peitoral exposto.
─── Aquele cara era bem simpático.
─── Último Chefe, não faço ideia por que chamam ele assim. Enfim, pode me levar ao meu quarto? Não quero capotar no meio do caminho. ─── O homem pede, cruzando o braço com o de Natsuki, não dando tempo para ela responder ─── Me contaram que seu amigo está fazendo perguntas estranhas por aí.
─── Ele é estranho. ─── A garota desconfiada dá uma desculpa qualquer, caminhando ao lado do homem ─── Mas por que você se importaria com ele fazendo perguntas estranhas?
─── Por que eu realmente espero que os dois não tenham intenção nenhuma de fazer alguma besteira para ferrar comigo.
─── Nunca.
─── Eu gosto de você. ─── O Chapeleiro afirma, com a voz embriagada, deixando óbvio que ele estava completamente bêbado ─── Você se arrisca muito, é engraçado. Eu ia ficar muito feliz se você não tentasse atrapalhar meu trabalho.
─── Beleza então... ─── Murmura, um pouco confusa com essa situação.
─── Eu sou tão generoso e legal e bonitão, por que sempre tem alguém achando defeito na forma que eu cuido das coisas? ─── Ele choraminga, tropeçando em seus próprios pés ─── Isso não é justo...
─── Pois é, nunca estão satisfeitos. ─── Natsuki dá de ombros, pegando o braço do homem para ver o número de seu quarto em sua pulseira ─── Mas você tem carisma, não posso negar.
─── Você tá debochando de mim?
─── Claro que não.
Ela estava sim, um pouco pelo menos.
─── Nat... suki ─── Ele fala entre um arroto ─── Eu quero você ao meu lado, como minha aliada. Vamos ser amigos Natsuki.
─── Mas por que? ─── A garota pergunta, começando a achar graça no jeito do chapeleiro.
─── Eu tô bêbado e você vai me levar para o meu quarto e eu tenho certeza que você vai me colocar na minha caminha macia, me cobrir, me dar um beijinho na testa e não vai fazer nenhuma gracinha. A gente é parceiro, Natsuki.
─── Pode crê ditador.
─── Eu sou um ditador?
─── Deve ser, não sei. Não terminei o ensino médio.
Natsuki ajudou o Chapeleiro a entrar em seu quarto. Ele mal conseguia ficar em pé, tropeçando nos próprios pés e murmurando palavras desconexas. Assim que o deixou sobre a cama, ela suspirou aliviada e saiu, sem olhar para trás. "Esse cara é um lunático... mas um lunático perigoso." Pensou enquanto descia o corredor.
A música alta ainda ecoava pelo hotel, misturada com risadas e gritos. Pessoas passavam por ela completamente alheias ao caos que Natsuki sentia por dentro. Encontrar aquele cara dando uma surra no outro. Não sabia por que, mas algo nele parecia errado. Como se já o tivesse visto antes, mas não conseguia se lembrar onde.
Quando finalmente encontrou Yuta, ele estava de volta no bar, visivelmente irritado.
─── Que cara é essa chefia? ─── perguntou, sentando-se ao lado dele.
─── Chishiya. ─── respondeu ele, dando um gole no copo de whisky ─── Aquele hobbit desgraçado.
─── Acha que ele tá planejando algo?
─── Ele disse que Aguni e os outros milicianos vão sair para jogar amanhã. ─── Yuta ignorou a suposição, olhando diretamente para Natsuki. ─── O que acha disso?
─── Não sei?
─── Eu acho que devíamos jogar.
Natsuki o encarou, perplexa.
─── Você só pode estar maluco. Esses jogos são de espadas ou paus. Não temos nenhum preparamento físico, tudo que fazemos é improvisar! Vamos acabar mortos!
─── tem uma chance de sobrevivermos e chamarmos atenção. ─── retrucou ele ─── É assim que a gente sobe na hierarquia, lembra? Ou você quer continuar sendo um Zé Ninguém aqui?
─── Não é tão simples.
─── Nada é simples, Natsuki. ─── Yuta deu uma tragada em seu cigarro e soltou a fumaça devagar, olhando para ela com um sorriso irônico. ─── Mas, ou a gente arrisca, ou morre aqui sem nem tentar. Aprendi isso com você.
Natsuki ficou em silêncio, pensativo. Ela sabia que ele tinha razão. Por mais que odiasse a ideia, essa era a única maneira de progredirem na Praia.
─── Jogaremos então. ─── Ela concorda, esfregando os olhos com as mãos ─── Quando partirem amanhã, vamos com eles.
Yuta não escondeu o sorriso satisfeito ao ouvir a confirmação de Natsuki. Apesar da tensão que dominava o ambiente, ele sabia que era o movimento certo.
Enquanto saíam do bar, ela sentiu os olhares sobre eles, algo que já começaram a se acostumar. Na Praia, qualquer movimento era observado e analisado. Ser invisível era quase impossível, e Natsuki sabia que, se iriam arriscar nos jogos, precisavam estar ainda mais atentos.
Ao entrar no quarto que Mira entregou para Natsuki mais cedo, Yuta jogou-se na poltrona, exausto, enquanto Natsuki se sentava no parapeito da janela.
─── Você acha mesmo que temos alguma chance? ─── ela perguntou, quebrando o silêncio.
─── Não é sobre chance. ─── Yuta respondeu, olhando para o teto ─── É sobre fazer parecer que temos. Isso é o que importa, não é?
Natsuki bufou, claramente insatisfeita com a resposta, mas não o contradisse. Ela sabia que, por mais louca que a ideia parecesse, Yuta tinha um ponto.
─── Certo. ─── Ela murmurou, massageando as têmporas ─── E qual é o plano, chefe?
─── Vamos seguir os milicianos de perto. ─── Yuta respondeu rapidamente ─── Quando entrarmos no jogo, observamos as regras, os competidores, tudo. A gente se destaca que nem fizemos nos últimos jogos.
─── Como? ─── Ela arqueou a sobrancelha.
─── Sendo idiotas inconsequentes. ─── Ele deu de ombros ─── É o que a gente tem feito. O Chishiya disse...
─── Você quer jogar só por que o babaca do Chishiya supôs? Sério Yuta?
─── É, meio que sim.
Natsuki riu de leve, um riso cansado, mas perplexo. Por mais que não quisesse admitir, confiava em Yuta. Ele tinha uma habilidade quase sobrenatural de se ajustar às situações mais absurdas.
Na manhã seguinte, os dois estavam prontos antes mesmo de os milicianos saírem. Os grupos de jogadores, liderados por Aguni, era compostos por figuras intimidantes, todos armados até os dentes. Eles saíram de carro, enquanto Natsuki e Yuta mantiveram distância, indo de bicicleta.
Demorou um pouco para acharem uma arena de jogos. Quando chegaram, era um templo, com duas construções paralelas ─── Uma vermelha e outra azul ─── e um enorme jardim.
Como de costume, já havia algumas pessoas de fora da praia e uma mesa com celulares localizada bem no centro do jardim.
─── Um jogo de vida e morte em um templo sagrado. ─── Yuta murmura, pegando um celular e entregando outro para Natsuki ─── Que desrespeitoso.
─── Você é religioso chefe?
─── Não, na verdade não. Mas meu pai era.
─── Puts. ─── Natsuki coça a cabeça e gargalha levemente ─── Eu esqueci que você também tinha uma vida fora desse lugar.
─── Cabeça oca.
─── Há vinte e três jogadores. As inscrições estão encerradas. O Jogo começará em cinco minutos.
【 Nome do Jogo: Rouba Bandeira
Dificuldade: 5 de Paus
Regras: Capturar a bandeira localizada no topo da torre da equipe adversária e levá-la de volta à sua área, enquanto protege sua própria bandeira.
O campo é dividido em duas áreas iguais, uma para cada equipe.
Cada área possui uma torre que representa a cor de sua equipe.
A bandeira de cada equipe fica no último andar da torre correspondente.
Cada equipe deve se posicionar dentro da sua área, perto de sua torre, antes do jogo começar.
A primeira equipe a capturar a bandeira adversária e trazê-la para sua área vence o jogo. 】
Depois da explicação, brilha uma tela vermelha no celular de Natsuki, que franze as sobrancelhas e olha para o de Yuta, que brilhava em azul.
Notas da autora: Gente, com torre, eu quero me referir a aquelas construções tradicionais sabe? Que parece esse emoji 🏯 se alguém souber o nome e quiser me falar, eu agradeço muito.
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