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Os dedos de Robby pairavam há alguns segundos sobre o botão de enviar, a mensagem que havia escrito para Miguel o fazia hesitar. Depois do dia da festa e da ótima noite que haviam tido, apesar do problema com Kyler, não haviam se falado pessoalmente de novo. Já era o meio da semana e os dois se viam de relance na escola, mas como faziam partes de grupos diferentes, não se aproximavam. Foram três dias assim e Robby não queria deixar a quinta-feira chegar sem mudar isso, mas não tinha muita certeza do que fazer. Eles tinham conversado por mensagens algumas vezes nos últimos dias, e se Miguel não havia sugerido que se vissem de novo, provavelmente tudo que havia feito por ele fora só por gentileza, e o beijo devia ter sido só pelo calor do momento. Talvez até estivesse arrependido.
O garoto de olhos verdes suspirou decepcionado, derrotado por seus próprios pensamentos, e pôs o celular de volta no bolso logo após apagar o texto que havia escrito. Era quase hora de ir treinar com seu sensei e os outros Miyagi-Do, mais um motivo para se conformar com a distância. Miguel ainda fazia parte do Cobra Kai e isso deixava todos desconfortáveis, principalmente Daniel. Estava preparado para se render e ir dormir, quando sentiu o celular vibrar e, ao olhar para a tela e ver o nome do moreno, logo se animou.
Miguel Diaz:
Hey, tudo bem? Queria ter te perguntado antes, mas não tive coragem… quer ir a outro encontro comigo na sexta?
Robby arregalou os olhos enquanto encarava o texto, pensando apenas em como o moreno havia dito tudo que ele mesmo gostaria de dizer. Não tardou a responder.
Robby Keene:
Claro, eu adoraria! Que horas e onde?
Miguel Diaz:
Surpresa. Eu te busco às 20h. Mal posso esperar! 🙏🥳
Robby sorriu divertido ao ver os emojis usados pelo latino, feliz em saber que ele estava tão animado para o encontro.
── ⋆⋅☆⋅⋆ ──
Já eram 19:30 e Robby tinha saído do banho há quase vinte minutos, mas não conseguia escolher que roupa usar. Desceu as escadas, pensando em chamar Sam para ajudá-lo, mas viu Amanda sozinha na sala e foi avisado de que Sam, Anthony e Daniel tinham ido visitar a avó. A decepção em seu rosto foi suficiente para que a mais velha perguntasse o que estava acontecendo e se oferecesse para ajudar. Robby ficou um pouco inseguro, já que não havia falado nada para os LaRusso, nem sobre sua sexualidade, nem sobre os encontros com Miguel.
Ela o acompanhou até o quarto e Robby mostrou as opções que o deixavam em dúvida, aguardando um veredicto. Amanda escolheu duas combinações e disse para ele ir ao banheiro se trocar para que ela pudesse decidir.
— Bem, a primeira pergunta é: pra onde vocês vão? Faz muita diferença.
— Não sei, é uma surpresa — respondeu, vendo a ruiva levantar uma sobrancelha, intrigada.
— Certo… E com quem é o encontro? Nerd? Gótica? Barbie? — Amanda perguntou com um sorrisinho maroto.
— Hm, nerd — Robby respondeu, sem deixar o gênero claro.
— Certo, então você podia ir com esse jeans preto e a camiseta cinza. Leva a camisa xadrez pro caso de ficar frio, já que não sabe onde é — Aconselhou atenciosamente.
— Obrigado, Sra LaRusso. Não queria incomodar.
Amanda apenas sorriu e se aproximou, ajeitando o cabelo de Robby e respondendo que não era incômodo algum.
— Agora vai, você tá lindo, vai arrasar!
Robby desceu as escadas e decidiu esperar por Miguel no banco do jardim, para que o ar livre o ajudasse a relaxar um pouco. Estava louco para saber que surpresa o moreno havia planejado, e seu coração pulou de alegria quando viu o carro de Carmen se aproximar e estacionar em frente à casa dos LaRusso. Se segurou para não correr até ele e parecer desesperado, apenas levantou e deixou que Miguel fosse até onde estava, logo percebendo que o mais alto estava tão nervoso quanto ele.
— Oi — Miguel disse, se inclinando para dar um beijo na bochecha do mais baixo que o fez sentir a pele queimar e assumir um tom rosado.
— Oi — Robby respondeu, quase se engasgando quando o outro segurou uma de suas mãos para levá-lo até o veículo.
Robby ainda não estava acostumado com o quão gentil e carinhoso o latino era, e se surpreendeu que ele o estivesse tratando ainda melhor que no outro encontro. Abriu a porta para ele e deu a volta para sentar no banco do motorista, ligando o carro logo em seguida e perguntando se Robby queria escolher algo para ouvirem ou preferia conversar.
— Eu gosto de conversar com você — Robby admitiu, deixando Miguel um pouco menos ansioso — vai me contar qual é a surpresa?
— Ainda não. Mas posso te dar uma dica. Já falamos sobre isso, e você gostou muito da ideia.
Robby teve uma sensação um pouco estranha ao ver o chão de terra diante deles, e o caminho ascendente que começaram a fazer por uma estrada de terra que sabia ser o caminho para o mirante da cidade. A maioria dos casais ia até lá apenas para economizar e não ter que pagar por um quarto, e isso o fez se sentir decepcionado. Depois de tudo que havia acontecido, e de Robby ter dito a ele como se sentia, não achava que Miguel iria fazer algo do tipo, mas já tinha se enganado tantas vezes que perdera a conta.
Ao chegarem lá em cima, notaram mais um ou dois carros ao longo do caminho e Robby cerrou os dentes, tentando não demonstrar sua insatisfação. Miguel continuou até que se afastassem deles e tivessem uma área livre, apenas para eles. Então, desligou o carro e abriu a porta. Robby ficou um pouco confuso, mas saiu do carro e se juntou ao moreno, que estava abrindo o porta-malas animadamente.
— Segura pra mim, por favor? — o mais alto pediu, lhe entregando uma toalha azul e branca e uma sacola de pano que parecia bem cheia — Ah, e fecha os olhos!
Robby pegou as coisas e encarou Miguel por alguns segundos, logo se rendendo ao sorriso caloroso. Fechou os olhos e ouviu ele mexer em mais alguma coisa, depois fechar o porta-malas.
— Posso abrir? — Perguntou, ansioso.
— Só um pouquinho — Miguel disse, pegando as coisas da mão de Robby e levando mais alguns minutos para finalizar a tal surpresa. — Pronto!
O mais novo abriu os olhos e viu a toalha estendida no chão com algumas coisas já arrumadas. Empanadas, chocolates, bolo, sanduíches e suco. Isso já era o suficiente para deixá-lo chocado, mas bem ao lado da área do piquenique havia um telescópio montado no chão.
— Eu… você…
— Te falei do plano pra esse encontro e você disse que teria gostado, lembra? — Miguel perguntou sorrindo.
— Claro. Claro que lembro. Mas como você conseguiu isso? — Apontou para o telescópio, certamente bem mais caro do que Miguel podia pagar.
— É do clube de Astronomia. Demetri e eu pegamos emprestado, vou devolver amanhã e ninguém vai nem saber — Miguel disse com um sorrisinho maldoso.
— Diaz! Roubando propriedade da escola? Parece até eu — Robby disse, rindo. — Bem, o antigo eu.
— Pelo menos foi por uma boa causa — Miguel argumentou, se sentando em um dos cantos da toalha e vendo Robby fazer o mesmo, chegando mais perto dele logo depois. — Você gosta de misto-quente?
— Muito — Robby respondeu, pegando um dos sanduíches e abrindo o papel alumínio que o cobria — obrigado, Miguel, eu adorei — disse sorrindo e se aconchegando um pouco mais ao moreno, com uma de suas pernas dobradas tocando a dele.
Miguel sentiu seu coração se acelerar com o contato e decidiu investir mais alto. Esticou uma das pernas e dobrou a outra, separando-as um pouco e silenciosamente sinalizando para Robby que ele podia ocupar aquele espaço se quisesse. O mais baixo encostou suas costas na perna dobrada do outro e esticou as suas próprias por cima da outra, ficando quase que no colo do moreno, que pôs uma das mãos em sua cintura carinhosamente enquanto comia um sanduíche com a outra, contente.
— Você tá tão lindo, sabia? — o moreno disse de repente, perto do ouvido de Robby. — Quer dizer, você é sempre lindo, mas…
— Você também, Miguel. Eu adoro quando seu cabelo fica assim, todo cacheadinho — Robby respondeu, passando a mão livre pelos cachos negros e parando-a na bochecha morena, puxando o rosto do outro para mais perto.
Miguel sentiu a respiração contra seu rosto e fechou os olhos, já pronto para mais um dos beijos intoxicantes. Enquanto sentia o mais baixo mordiscar seu lábio inferior, só conseguia pensar que nunca havia conhecido alguém que beijasse tão bem. Os dois se perderam um no outro por alguns momentos, até que precisassem parar para respirar propriamente. Miguel olhou para o lado timidamente, sorrindo de canto ao ver que o rosto de Robby também estava um pouco mais rosado que o normal.
Robby cortou um pedaço do bolo de cenoura com chocolate para cada um, gemendo satisfeito ao se deliciar com a primeira mordida.
— Hmm, que delícia! Sua mãe fez?
— Yaya — Miguel respondeu, acrescentando orgulhoso: — mas eu ajudei.
Robby riu baixinho e deu um beijo estalado na bochecha do mais alto.
— Que fofo. Parabéns, Miggy, ficou ótimo. Posso te ensinar algumas coisas também. Eu e o senhor LaRusso já fizemos várias receitas ótimas.
— Você sabe cozinhar? Nossa, você é incrível mesmo — Miguel disse, fazendo Robby se sentir como se estivesse levitando, sem nem poder acreditar que finalmente estava saindo com alguém tão doce. Deitou a cabeça no ombro do moreno e apenas ficou ali, curtindo aquela sensação deliciosa de ser admirado, deixando alguns beijos leves no pescoço do outro.
Miguel engoliu em seco ao sentir os arrepios que os lábios de Robby despertavam em seu corpo, podia sentir o sangue se direcionando para partes mais baixas e decidiu que era hora de dar uma pausa e se levantar dali antes que acabasse estragando tudo. Pigarreou para limpar a garganta e isso chamou a atenção do outro, que se afastou um pouco para ver se estava tudo bem, notando a expressão um pouco nervosa do latino. Robby se ajeitou um pouco e sentiu o volume se pressionando contra sua coxa, o deixando momentaneamente paralisado. Antes que pudesse pensar no que fazer, Miguel o abraçou pela cintura com as duas mãos e o tirou de cima de sua perna, se apoiando no chão e levantando logo em seguida. Estendeu uma mão para Robby para ajudá-lo a levantar também, e o de olhos verdes demorou alguns segundos para tomar uma atitude e aceitar a ajuda.
— Eu… — Robby começou, sem saber muito bem o que ia dizer, mas não querendo parecer rude.
— Vem. Vamos fazer um bom uso do que eu peguei emprestado — Miguel disse rapidamente, tentando demonstrar segurança. Segurou a mão de Robby e o levou até o telescópio, ensinando a ele como o instrumento funcionava.
Robby estava posicionado para olhar pela lente para as estrelas que cobriam o céu de San Fernando Valley, admirado pelos padrões brilhantes e pela beleza dos astros, se sentindo confortável com Miguel atrás dele o abraçando. Riu baixinho ao perceber a posição estranha do mais alto, tentando não deixar que as partes inferiores de seus corpos se tocassem. Era a coisa mais fofa e delicada que Robby já tinha visto. Se afastou do telescópio e trocou de lugar com Miguel, abraçando o mais alto firmemente enquanto ele apreciava o céu noturno. Colou seu corpo inteiro no dele e podia sentir um leve tremor vindo do outro.
Enquanto faziam suas observações, conversavam sobre o que viam e Miguel explicava o que havia aprendido. Os dois interrompiam a conversa apenas para trocar beijos lentos e intensos, e então voltavam ao que discutiam antes, tão entretidos que foram pegos de surpresa pelos primeiros pingos de chuva.
— Ah, merda! Não tinha previsão de chuva hoje! — Miguel reclamou, já lamentando pelo fim abrupto de seu encontro.
— Eu vou guardar o resto do bolo, você guarda o telescópio — Robby ordenou rapidamente. Para a sorte deles, ele era rápido e eficiente em momentos de crise.
Os dois entraram no carro molhados, mas depois de conseguir impedir que qualquer coisa se estragasse.
— Ainda bem que os chocolates estavam fechados — Robby comentou enquanto botava o cinto.
— Na verdade eles são pra você — Miguel disse, fazendo-o sorrir.
— Obrigado, Miguel. Você é um amor.
— Desculpa pelo jeito que acabou, eu — Miguel disse inseguro, sendo interrompido por um beijo rápido.
— Foi o melhor encontro que eu já tive — Robby o assegurou — eu me sinto muito especial por você ter feito tudo isso.
— Foi um prazer. Eu amei passar esse tempo com você — respondeu o moreno.
— A gente pode passar mais um tempo juntos, se você quiser — Robby propôs.
— Quer descer pro drive-in e ver o que tá passando? — Miguel perguntou.
— Claro — Robby respondeu, surpreso. — Podemos ver o filme e comer o bolo que sobrou — falou sorrindo.
Depois de assistirem a Olhos Famintos abraçados no banco traseiro do carro, Miguel deixou Robby mais uma vez na casa dos LaRusso. A chuva ainda caía, e o mais baixo disse que ele não precisava sair do carro e se molhar.
— Cuidado com esses olhos verdes lindos, você seria um prato cheio pro Creeper — Miguel brincou, rindo.
— Olha quem fala, você tem muita coisa pra se aproveitar também — Robby disse olhando o outro de cima abaixo. Olhou para fora para ver se havia algum movimento na casa e, ao não notar nada, deu um beijo de despedida no mais alto. — A gente se fala amanhã?
— Com certeza. Não vamos demorar tanto pra marcar o próximo encontro dessa vez — Miguel prometeu.
── ⋆⋅☆⋅⋆ ──
— E aí, como foi seu encontro ontem? — Sam perguntou baixinho enquanto tomavam café da manhã.
— Foi ótimo! Fomos fazer um piquenique e ver as estrelas, depois começou a chover e fomos pro drive-in ver um filme de terror — Robby contou, animado. Sam o olhava com uma expressão curiosa, e ele achou que seria o melhor momento para contar logo toda a verdade. — Sabe… é uma pessoa que você conhece. Muito bem — começou meio sem jeito.
— Não me diga que é a Moon! Ou a Yasmine! — ela pareceu quase horrorizada com a última possibilidade.
— Não! É um… garoto. Que você conhece MUITO bem.
— O Kyler? — perguntou indignada, fazendo Robby sentir calafrios.
— Não, Sam. O Miguel — confessou, com medo da reação da amiga. — Me desculpa, só aconteceu!
— Achei que vocês se odiavam — ela respondeu desconfiada.
— A gente se odiava, mas conseguimos conversar e nos entendemos. Você me perdoa?
— Eu… eu não sei. Isso é um pouco estranho. Depois de tudo que aconteceu — ela disse com uma expressão chateada. — Preciso de um tempo pra pensar.
Sam se levantou e o deixou sozinho, o apetite dele se esvaiu em poucos segundos. Não queria perder a amiga, mas também não queria perder Miguel. Passou o dia inteiro pensando se devia abrir mão do outro para não estragar sua amizade, afinal ele era ex da amiga e isso complicava tudo. Mas ao receber uma mensagem de Miguel aquela noite, só conseguiu pensar que talvez fosse o momento de finalmente lutar pelo que queria e se botar em primeiro lugar.
Miguel
Oi! Pena não ter conseguido falar com você na escola hoje, passei o dia feliz lembrando de ontem. Como foi seu dia? Bjs
Robby se sentiu um pouco ansioso enquanto respondia à mensagem e contava a Miguel sobre a conversa com Sam, pensando em como seria uma boa forma de avaliar se ele estava levando tudo isso a sério ou não.
Miguel
Bom, ela ia acabar descobrindo. A gente pode conversar com ela juntos, se você quiser. Eu vou pedir desculpas pra ela por tudo e prometer não vacilar de novo. Você não tá pensando em desistir, né? Eu realmente gosto muito de você.
Robby
Não, não quero desistir. Também gosto de você. Podemos falar com ela daqui a uns dias, vamos dar um tempo pra poeira baixar. Tive uma ideia ótima pra sábado, se você ainda quiser sair…
Miguel
Claro que quero. Por mim eu veria você todo dia 🌹
Robby sorriu ao ler a mensagem, decidido a dar um jeito na situação.
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