Minha cama, minha vida
Depois de um plantão de 36 horas, tudo que Lisa queria fazer era dormir. Deitar em sua cama e deixar que a música saindo de seus fones bloqueasse os pensamentos inquietos e permitisse que seu sono fosse regulado.
Mas o Universo tinha outros planos para ela.
Lisa pulou de susto quando o toque estridente de seu celular a despertou do estado de relaxamento e nem o nome de sua amiga piscando na tela foi suficiente para fazê-la reconsiderar a ideia de, simplesmente, jogar o aparelho do outro lado do quarto e voltar a dormir. Entretanto, quando o som soou pela quarta vez em 6 minutos, se viu obrigada a atender e ver o que Hana queria.
—Você tem um bom motivo para me ligar às —Afastou o celular do rosto e, com dificuldade, verificou o horário —19h15 e atrapalhar meu sono?
Ao ouvir a proposta de sua melhor amiga, Lisa considerou por alguns segundos, desligar o telefone e voltar a dormir. Mas sabia que Hana era impulsiva o suficiente para invadir sua casa e arrastá-la pelos cabelos. E Lisa não queria ninguém maculando sua privacidade, obrigada.
Concordou com o máximo de entusiasmo possível -o que não era muito, considerando que ela estava há mais de 40 horas sem dormir- e levantou-se para tomar um banho frio e tentar despertar direito.
Secou-se ainda no banheiro e pendurou sua toalha, antes de caminhar até o armário e procurar alguma roupa que combinasse com o compromisso.
O que você veste para sair com um cara que nunca viu na vida para que sua amiga possa ter um tempo com um novo pretendente? Uma camisa de força, talvez? Ou uma roupa de santo? Porque, caso morra, pelo menos, já estará devidamente vestida para ir ao céu, depois do imenso sacrifício que estava realizando.
Okay, era exagero de sua parte. Só esperava que seu date não fosse um assassino em série que chegou recentemente e definiu aquela cidade como seu novo ponto de atuação.
Ok, exagero de novo.
Decidiu-se por uma calça alta preta não muito justa, um cropped rosa claro e um casaco longo cinza escuro. Separou também um tênis baixo preto, já que não queria afastar o cara de primeira. Males de ser alta em uma sociedade que ditava que homens deviam ser maiores que as mulheres.
Passou uma maquiagem para esconder as olheiras, e a cara de quem precisava dormir urgentemente, e se avaliou no espelho aprovando o resultado.
Arrumou a bolsa e olhou uma última vez para sua cama, antes de fechar a porta do seu quarto. Separou a comida para seus pets e confirmou se todas as janelas e portas estavam bem trancadas, enfim, partindo para encontrar seus companheiros da noite.
——[==+++==]——
O cinema escolhido não era exatamente perto, ainda mais para alguém pingando de sono, então Lisa havia decidido ir de táxi, para evitar se acidentar no trânsito um pouco intenso daquele horário.
Chegou quase em cima da hora, despedindo-se do motorista e lhe dando um extra, pois o papo tinha sido muito divertido e ajudou-a a despertar um pouco.
Sua amiga lhe esperava, seus trajes discretos, mas deixando claro suas intenções para aquela noite. Sua presença, no entanto, exalava, unicamente, impaciência, provavelmente pela ausência de suas companhias. Hana odiava esperar, então Lisa, como conhecida de anos, sabia que o date de sua amiga estava ferrado, se não apresentasse uma justificativa para o atraso.
As duas ainda tiveram que aguardar vários minutos até que os rapazes chegassem. O rapaz que vinha à frente já veio se desculpando, possivelmente percebendo os olhares mortais de Hana. Bruno, como se apresentou, se justificou dizendo que seu amigo havia tido um imprevisto, por isso quem o acompanhava era seu irmão, o qual acabara de chegar na cidade.
O irmão em questão, Adam, se Lisa havia escutado direito, tinha uma postura tão cansada quanto a sua, assim como as olheiras mal escondidas- provavelmente, com ajuda de maquiagem. Pelo menos alguma coisa eles já tinham em comum.
Os quatro decidiram por ver um filme de terror- algo sobre assassinatos em uma pacata cidade- e Bruno fez questão de pagar a conta, como redenção pelo atraso deles. Bem, se ele queria pagar pra fazer média, não seriam elas que impediriam, mas não faria muita diferença, no final.
A sala escura, o friozinho do ar-condicionado, o tédio do filme e o cansaço do dia formavam um conjunto perfeito para uma soneca longa e duradoura, mas Lisa tinha que dar atenção ao seu date, antes de poder voltar para sua cama e dormir até a próxima semana.
Antes mesmo de se virar, sentiu a cabeça do rapaz ao seu lado cair em seu ombro, claramente adormecido. Ótimo, menos trabalho. Deitando sua cabeça na dele, Lisa adormeceu observando a mocinha do filme se apaixonar pelo assassino.
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