Uma noite que mudou tudo

Danielle passava seus dias e noites estudando feito louca no intuito de conseguir uma bolsa de estudos para a faculdade que tanto almejava; Medicina. No entanto não era algo fácil, não só porque medicina era um dos cursos mais requisitados por jovens, mas também porque em sua casa Danielle era como mãe para seus dois irmãos mais novos. Sua mãe que vivia trocando os pés de bêbada, nunca estava disponível e quando tudo parecia melhorar, ela arrumava mais encrencas e dividas para Danielle pagar, dividas essas que se resumiam a álcool e drogas.
Danielle com apenas 15 anos tinha que trabalhar para sustentar os vícios de sua mãe, e levar comida para casa.
Seus dois irmãos mais novos; Daniel e Isaque tinha apenas 8 anos, eram gêmeos e por vezes muito bem comportados.
Danielle trabalhava desde os 13 anos, quando viu que sua mãe caiu totalmente no erro e não era mais capaz de levar o alimento para a família, seu pai que havia fugido com outra mulher quando Danielle tinha apenas 10 anos de idade nunca mais deu as caras, e era justamente esse o motivo de sua mãe estar no estado deplorável que ela se encontrava hoje.
Danielle acordava todos os dias as 4 horas da manhã, para preparar o café, organizar a pequena casa na qual eles moravam, felizmente casa própria que seu pai havia comprado antes de partir. E preparar o almoço dos gêmeos que passavam o dia na escola.
Enquanto Danielle preparava o almoço dos meninos que estavam tomando banho e se arrumando, ela ouve o bater da porta da sala, eram 6 horas da manhã, certamente sua mãe acabara de chegar de mais uma noite de bebedeiras e drogas.
Danielle põe a cabeça na porta da sala e dá uma olhada, enquanto sua mãe tira os saltos de seus pés e sai jogando pelos cantos da sala, caindo sobre o sofá gasto.
Danielle lembra perfeitamente como sua mãe um dia foi bela, com longos cabelos loiros cacheados que iam até sua bunda, em que havia se transformado aquela bela mulher, nisso que ela via agora na sala, a palidez tomava conta de uma face que um dia foi rosada, bonita e saudável. Seus cabelos um dia longos agora estava acima de seus ombros, quebradiços e sem vida.
Sua mãe se debruça sobre o sofá, inclinando a cabeça para frente e vomita tudo que havia bebido a noite inteira sobre o tapete da sala, o odor toma conta do ambiente, e Danielle sabia perfeitamente que toda aquela sujeira quem teria que limpar seria ela, pois se não o fizesse levava uma surra de sua mãe quando chegasse do trabalho.
Danielle volta para a cozinha, finaliza o almoço dos gêmeos, que acabavam de sair do banho e falavam com a mãe na sala.
—Mamãe, você está bem? —pergunta Isaque, o mais amoroso dos gêmeos.
—Me deixa em paz moleque, não vê que não estou bem...Já que está ai sem fazer nada, vá pegar um copo d’agua para mim, agora! —Manda a mãe do garoto, o mesmo corre até a cozinha para buscar o copo com água.
Danielle que fica indignada com toda a situação, mas sabe que será inútil falar qualquer coisa, sua mãe nunca ouve uma “garota tonta”, palavras de sua própria mãe. Principalmente em um momento como agora, quando ela se encontrava de mal humor pela ressaca que a dominava.
Dani termina suas coisas, enquanto seus irmãos tomavam o café que ela havia preparado, pão com ovo e um suco de maracujá de pacote. Ela apressa os meninos e logo os três estão saindo de casa, deixando sua mãe caída roncando no sofá.
Danielle assim que deixa os meninos na escolinha, vai direto para seu trabalho, um bico que felizmente já durava mais de 1 ano, ela esperava que seu chefe assinasse sua carteira de trabalho, mas até agora isso não tinha acontecido. Dani trabalhava de garçonete no café, servindo mesas e por vezes ajudando também na cozinha, aquele dia o movimento estava grande e ela recebia boas gorjetas.
Danielle estava juntando todo dinheiro que sobrava, o que não era muito para ajudar na sua faculdade quando ela iniciasse, com apenas 15 anos já estava concluindo o ensino médio, e ano que vem esperava está entrando na sua tão sonhada faculdade de medicina.
Após um dia corrido de trabalho, ela encerra seu expediente por volta das 17h, correndo na escolinha para buscar seus irmãos. Enquanto Danielle se encaminha para a escola, ela não nota ao atravessar a rua rapidamente que o sinal havia acabado de abrir, dando passagens para os carros, sente quando um carro buzina e alguém a empurra rapidamente para a calçada, Dani cai de joelhos no chão, já em cima da calçada, não sabe como havia acontecido aquilo, em um momento ela estava atravessando a rua e no outro já estava do outro lado, ela ia sendo atropelada e nem sequer notou, alguém tinha empurrado ela, mas quem? Dani olha ao seu redor, as pessoas passam como se nada tivesse acontecido, por um momento ela achava que está em um sonho bizarro, mas apenas levanta-se do chão e segue seu caminho, sem saber que havia acabado de passar por um livramento.

Após chegar em casa com os gêmeos, nota que sua mãe ainda está no sofá, dessa vez acordada, com um copo na mão e uma garrafa cheia sobre a mesinha de centro.
—Mãe você comprou essa bebida? —Pergunta Daniella, surpresa por sua mãe estar com dinheiro, então logo Dani percebe que ela comprou a garrafa com o seu dinheiro. Dani corre até seu quarto e tira debaixo de sua cama uma caixinha de sapatos, nota que restam apenas algumas notas de 5 e de 10 dentro, todo seu dinheiro havia desaparecido. Então ela corre novamente até a sala e confronta sua mãe.
—Como você pôde mãe? Aquele dinheiro era para iniciar minha faculdade!!
—Merda nenhuma, isso não dá de comer para ninguém e eu precisava do dinheiro... —Diz ela como se não fosse a coisa mais absurda que sua mãe já havia feito.
—Precisava do dinheiro? Para quê, encher a cara de cana? Meu Deus mãe, você devia sentir vergonha por ter se tornado essa mulher que é hoje... —Antes que Danielle possa notar, sua mãe levanta-se do sofá e estapeia seu rosto fortemente, deixando os dedos sobre a pele da bochecha de Dani.
—Cale essa boca sua garotazinha estupida ou eu bato mais forte! Vá trabalhar para conseguir a droga do dinheiro que você tanto quer, você acha que eu vou te sustentar ou o quê...Sua vagabunda... —Sua mãe continua a gritar exaltada, quando Danielle simplesmente dá as costas para ela e sai de casa, sem se importar com mais nada, estava muito angustiada, sequer teve tempo de comer qualquer coisa, os gêmeos saberiam se virar enquanto ela saia para esfriar a cabeça, pois Dani não aguentaria ficar mais um segundo naquela casa.

Daniella senta-se no gramado de sua casa, sabia que aquela hora da noite seria arriscado ir para longe, preocupada sobre o que devia fazer agora Dani não faz outra coisa se não por toda a angustia que domina seu peito para fora, ela chora, como uma criança que acaba de perder um bem muito valioso. Dani não sabe o que deve fazer, seu sonho parecia ter escapulido por suas mãos antes mesmo de ter a chance de iniciar.
Ela passa as mãos sobre a grama macia sobre seu toque, é quando sente um caco de vidro furar seu dedo, Dani nota que é um pedaço de uma das garrafas de sua mãe que estava ali convenientemente quebrada, sem muito pensar apenas querendo por um fim em sua dor, Dani lentamente leva o caco até seu pulso, com a visão embaçada pelas lagrimas que a preenchem Dani não nota quando uma pessoa se aproxima lentamente e senta-se ao seu lado na grama.
—Deve estar sendo muito difícil lidar com sua dor, não é? —pergunta o desconhecido, fazendo Danielle pular de susto.
—Quem é você? —ela pergunta confusa.
—Pode me chamar de amigo se desejar, gostaria de poder te ajudar... —responde o estranho, Dani ergue uma sobrancelha sem entender o que aquele homem queria, ele pega o caco de vidro de suas mãos, olha em seus olhos como se pudesse enxergar sua alma e diz:
—A solução não é essa, nunca é.
—Você não entende, não sei mais o que fazer. —responde a garota deprimida, com lagrimas rolando pelas bochechas rosadas.
—Você tem família certo?
—De que adianta? Minha família nem se importaria se eu sumisse agora.
—Tem certeza disso, ninguém se importaria? —Dani então pensa em seus irmãos, como eles ficariam sem ela? Nota a besteira que quase fez quando a angustia dominou ela e ela não pensou nas consequências.
—Certo, talvez você tenha razão, eu tenho meus irmãos. —ela responde, mas para si mesma que para o homem que ainda olha para ela.
—Pois então, será que valeria a pena? —pergunta, fazendo Danielle pensar, se de fato valeria, ela chega à conclusão de que não, seus irmãos ficariam sozinhos no mundo, sem ninguém para os proteger da mãe perversa que ambos tinham.
—Você não está sozinha, note ao seu redor. Você nunca esteve só Danielle. —Então Dani baixa a cabeça e surge em sua mente o momento dessa tarde quando ela quase foi atropelada e alguém á empurrou, talvez fosse isso que ele estivesse falando, ela nunca esteve só, alguém sempre estava por perto dando o auxilio de que ela precisava, foi então que ela sentiu um vento gelado soprar fortemente, agitando seus cabelos, Danielle fecha os olhos e mentalmente agradece a Deus por sua vida, mesmo sendo tão difícil ela passava por esses momentos com garra e força, ela percebeu que precisava de Deus em sua vida, agora mais do que nunca. Dani abre os olhos e percebe que o desconhecido se foi, quem poderia ser? Ela pensava, mas no fundo de si sabia qual era a resposta. Fecha os olhos novamente e baixinho sussurra:
—Senhor, me ensina a seguir teus caminhos, me mostra uma luz, o que devo fazer agora?
Então como se respondendo a sua pergunta, seu irmão Isaque corre em sua direção, levando o celular em mãos.
—Dani, Dani, você recebeu um e-mail. —Diz ele, chegando até onde a irmã está e se ajoelhando a sua frente. — Parece que é de uma universidade.
Danielle rapidamente pega o celular de suas mãos e olha para a tela, onde encontra um e-mail de fato, de uma universidade que ela se candidatou a cerca de um mês, nem lembrava mais que havia realizado a prova online, e ali estava a resposta. Dani se pega chorando novamente, mas dessa vez de alegria; ela havia sido aceita na faculdade que tanto queria, medicina.
Abraça seu irmão, e ambos rolam pela grama rindo e ela agradecendo mentalmente ao Senhor por essa linda conquista.

                
               10 Anos Depois

Danielle hoje era uma médica cirurgiã cardíaca, realizou grandes feitos ao longo de sua vida, hoje seguia o evangelho à risca e era casada com o homem de sua vida, depois daquela noite no gramado de sua casa, Dani agora entendia de fato o que havia acontecido, um encontro de almas mágico, onde ali ela soube o quão grande era o amor do Senhor para com ela.   
Seus irmãos, ambos agora com 18 anos estudavam também, um para ser pediatra e o outro advogado, Danielle se orgulhava muito dos dois, que ela havia criado como filhos, depois da morte de sua mãe, que morreu de overdose quando ela havia acabado de terminar a faculdade, seus irmãos tinham ido morar com ela, em um pequeno app que ela alugou.
Conheceu seu marido na faculdade, e ambos eram evangélicos, indo sempre juntos a igreja, e seguindo o caminho que Deus havia trilhado para eles. Seus irmãos que moraram com Dani até a maioridade hoje residiam cada um em suas casas, um morava com a namorada e o outro com dois amigos.
Danielle se encontrava feliz e realizada, com o emprego de seus sonhos e agora acabara de descobrir sua gravidez, estava esperando um bebê, que ela havia pedido tanto a Deus, finalmente se sentia completa e realizada, todos os seus sonhos concluídos, nada disso teria acontecido se não fosse por aquela bela noite no jardim de sua casa, Dani nunca mais encontrou aquele homem de novo, mas seria sempre grata pelas palavras que a trouxeram a razão.
Danielle estava atravessando a rua, quando ao longe ver um rosto muito familiar, seria ele o homem da noite no gramado a dez anos atrás? Dani caminha rapidamente em direção ao homem, que estava de braços cruzados dos outro lado da rua, sorrindo para ela, o coração de Dani enche-se de alegria, mas antes que ela consiga chegar do outro lado, o homem já havia desaparecido, como uma miragem, que em um momento está e no outro não. Danielle fica confusa, mas em seu coração ela sabia perfeitamente bem quem era, seu protetor que estaria sempre ali, com ela, por ela, á auxiliando quando precisasse, seu coração ficou aquecido e ela sorriu, pois finalmente havia encontrado sua felicidade, devia tudo ao lindo encontro de almas naquela noite, o Senhor agora habitava na vida de Danielle, e aquela noite ficou para sempre gravada em seu coração.

Fim.

A você que leu até aqui, meu muito obrigada, espero que tenha saído desse conto com o coração aquecido e preenchido de esperança e amor, saiba que quando tudo parece sem solução, Deus age a seu favor.
Um beijo no coração de cada um de vocês meus amores. ♥️

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