Capítulo 4
Carmim estava deitada de bruços enquanto o Sr. White ainda lhe afagava na curva da cintura. Pousava ali, próximo as covinhas acima das nádegas, alguns beijos isolados enquanto uma de suas mãos lhe acariciavam de leve. Sem perceber, ela lançou um suspiro. Não um de prazer. Um daqueles indicando desânimo. Seus olhos amendoados observaram sem entusiasmo a parede revestida de papel florido. White percebeu a mudança de humor da mulher embaixo do seu corpo. Ele percebia, por mais sutil que fosse, qualquer coisa vinda daquela mulher.
Centímetros a menos em seus cabelos, um fio branco – ainda não havia nenhum –, uma espinha, uma unha lascada. Sabia quando ela estava cansada, ou mesmo agitada, então, um estado melancólico era algo que ele não deixaria passar sem notar.
— Te fiz alguma coisa? A machuquei?
— Não, Sr. White.
— Então, o que foi?
— Nada de importante, apenas um pensamento besta passou pela minha cabeça.
Carmim mantinha o olhar fixo na parede a sua frente.
— Claro que é importante, e nem um pouco besta. Como eu posso ajudar? O que posso fazer para te animar?
Carmim virou-se e o encarou com ternura. Essa não era a primeira vez que aquele homem lhe sugeria tal coisa. Nunca assim, de uma forma tão explícita, mas já havia insinuado algo do tipo.
O Sr. White era uma verdadeira incógnita para ela. Tido como excêntrico em seu círculo de convívio, pelo menos nos quais ela era inserida, seus gostos eram também peculiares. Ficava confusa com a sua personalidade e a forma como se vestia. Um dia clássico e em outros com roupas mais modernas e despojadas. Gostava das duas versões, e sentia que ele poderia ter mais. Depositava aquele jeito de ser coisa de europeu. O Sr. White é inglês. Residência fixa lá na terra da Rainha. Vinha para Chicago, terra de Carmim, de tempos em tempos. Passava alguns meses e retornava para o seu local de origem. Durante o tempo em que ficava pelos "ares" americano, usufruía de Carmim uma vez na semana.
Ultimamente andava a procurando mais.
— Acho que deveria ser o contrário, eu te animar, afinal, está pagando por isso. Me desculpe por hoje. Deveria ter desmarcado... Vou te recompensar em uma próxima. — tornou a olhar a parede a sua frente e disse baixo — Se houver uma próxima.
O Sr. White abandonou a curva de sua cintura e subiu ao seu encontro na cama. Carmim estava com os braços dobrados e queixo apoiado entre as suas mãos. Ele afastou com cuidado os cabelos loiros que tanto admirava do seu rosto.
No primeiro encontro deles, ela estava com os cabelos castanhos lisos que iam até o meio de suas costas. Depois de tomarem alguns drinks no restaurante do hotel mais luxuoso da Magnificent Mile, subiram para o quarto que ele havia deixado reservado naquele hotel cinco estrelas.
O uso de acompanhantes de luxo começou muito cedo na vida de Henry White. Usava as agências para arrumar companhia em eventos sociais. De certa forma, aprendeu que ir acompanhado nessas formalidades era menos desgastante do que ir sozinho, sendo assim, seguiu com essa estratégia por mais de vinte anos. Raramente repetia a companhia, no máximo umas três vezes, quando o sexo no final fosse satisfatório.
Sempre fazia sexo com elas. Nesse dia em particular, estava apenas com vontade do que acontecia no final de cada encontro pago. Foi um dia estressante. Os acordos e contratos não saíram como planejado, o que implicaria ter de ficar em Chicago por mais tempo. Não gostava dessa cidade. Não sabia dizer o motivo, apenas não gostava. Algo nas pessoas, aquela necessidade que tinham em sorrir e ser afetuosos o tempo todo lhe deixava enervado.
A garota que lhe enviaram dessa vez era mais velha, porém, não menos agradável, diria que até mais do que as outras. Sabia conversar. Era inteligente. Talvez se fosse para outra finalidade teria conversado com ela por horas.
Informou ao barman o número do apartamento, para que colocasse o que consumiram na conta, e subiram. No silêncio do elevador prateado, media a mulher ao seu lado. Outros casais dividiam o mesmo espaço. Sorriu imperceptivelmente. Sabia que ninguém ali sabia o que a garota era. O andar deles chegou, deixaram o elevador com um cumprimento educado. O Sr. White seguiu na frente.
Carmim também o media nesse momento. Se ele tivesse alguns centímetros a mais seria perfeito para o seu ideal masculino. Lembrou nesse momento do seu ex. Não era um homem alto, assim como o seu acompanhante nessa noite, mas como o Sr. White, também canhoto. Se Orange tivesse toda essa elegância certamente teria aceitado o seu pedido de casamento feito há doze anos.
Dentro do quarto, ofereceu-lhe mais um drink. Carmim aceitou de bom grado. Sr. White sentou-se na beirada da cama. Carmim iniciou o seu ritual de sedução. Palavras doces eram ditas ao ouvido do homem e afagos desciam por sua nuca.
Um segurar com os dentes no lóbulo de sua orelha e pronto. Nenhum homem resistia. Suas curvas eram exploradas por mãos pequenas. O vestido removido com cuidado, praticamente em câmera lenta. Os saltos sempre permaneciam em seus pés.
Homens gostam que fiquem assim.
Andou pelo quarto com a lingerie escolhida para aquela noite. Um conjunto rendado preto e transparente, arrematado por cinta liga e meias 7/8. Basicamente, esse era o seu uniforme. Pegou outra dose de uísque e entregou ao Sr. White.
O homem bebeu do líquido âmbar. Carmim tomou um pouco direto de sua boca. Suas mãos apoiadas sobre as pernas, ainda vestidas com as calças de um terno fino. Ele via o reflexo dela de costas pelo espelho a sua frente.
A calcinha apenas tinha um fio aparecendo perto da cintura, o restante era a sua pele branca sem manchas. Segurou em seu rosto olhando dentro daqueles olhos intrigantes. Que cor era aquela? O Sr. White se perguntava.
As mãos dela saíram das coxas e caminharam em direção ao botão do cós. Carmim não ajoelhou. Permaneceu com as pernas estendidas, apenas desceu com a metade superior do seu corpo envolvendo com sua boca úmida o pedaço excitado e latente do Sr. White.
Não deixou que gozasse. Abandonou com uma sugada forte e sentou em seu colo. As mãos dele, antes apoiadas na beirada da cama, seguraram com força aquelas nádegas brancas, fazendo uma alavanca para a moça roçar seu sexo ainda coberto pela renda contra o dele. Ela, em meio a essa dança de prazer, removeu o sutiã deixando seu seio rosado a mercê do que ele faria.
A língua dele tocou sutilmente em um dos seus mamilo.s já duros. Brincou com eles enquanto a dança em seu colo evoluía, abrindo espaço para o seu membro roçar sem empecilhos o sexo úmido dela.
Carmim jogou a sua cabeça para trás. Seu seio estava totalmente encoberto pela boca do homem. Sugou como ela fizera com o seu pêni.s. As unhas dela lhe arranharam na nuca. O Sr. White inverteu a posição, colocou a proteção enquanto Carmim esperava apoiada de bruços na cama, ainda com as pernas estendias, esperando ser invadida e preenchida por ele. Ao mesmo tempo em que estocava, acariciava aquelas nádegas já livres do fio que antes impedia o contado daquelas peles iguais. Ambos iam ficando avermelhados juntos, em sincronia, sedentos, ofegantes, desejáveis, excitados, e enfim, saciados.
O ritmo não acabaria ali. Seguiria intensa por mais algumas horas. Bebericaram mais do líquido amarelo. Trocaram algumas palavras. Mais sexo. Um descanso momentâneo. O barulho do chuveiro.
O Sr. White, de cabelos úmidos, colocava de volta o terno, tendo aqueles olhos amendoados sobre os seus gestos. Agradeceu pela noite, informou que poderia ficar com o quarto até o dia seguinte, pois o mesmo já estava pago como os seus serviços. Ela perguntou se ele não gostaria de ficar. Ele declinou. Homem ocupado, tinha negócios a serem resolvidos muito cedo.
A verdade era que o Sr. White nunca dormia com elas. A porta fechou. A televisão foi ligada. Um filme que ela conhecia passava. Prestou atenção em algumas cenas, e então, resolveu também tomar um banho e quem sabe pedir algo para comer.
O espelho ainda estava embaçado pelo ar quente do banho anterior. Limpou com uma das mãos. Seu rosto apareceu. Mostrou os dentes. Pegou uma das escovas de brinde e arrumou seu hálito. Com cuidado, retirou a peruca caríssima que um cliente havia lhe dado de presente. Abriu a ducha e esperou que a água chegasse até a temperatura ideal.
As gotas de água morna tomavam conta do seu corpo enquanto espalhava o sabonete, removendo qualquer suor ou fluídos que antes estavam ali. O shampoo lavou os seus cabelos loiros, que chegavam quase no ombro. O condicionador devolveu maciez e formas a eles. A toalha felpuda acariciou o seu corpo bem distribuído, e com os pés descalços voltou para o quarto, no mesmo momento em que o homem, que antes ali estava, retornou.
Carmim o encarou assustada. Despida do seu personagem, Olívia tremeu. Percebendo o que causou, o Sr. White informou que havia esquecido um objeto muito importante.
Ainda parada, entre o banheiro e o quarto, ela observou ele dirigindo-se até o aparador em que a televisão transmitia o filme escolhido, para pegar as suas abotoaduras, aquelas que haviam lhe chamado tanta atenção quando se conheceram horas antes no restaurante. Guardou-as em seu bolso. Disse adeus mais uma vez e fechou as portas, não sem antes mencionar: "— Uma loira.".
***
— Olhe para mim. — ele a encarava com os seus olhos azuis. Carmim sabia disso, e tentava ao máximo evitar esse contato direto.
— Não consigo.
Sr. White abandonou a cama. Sem emitir uma palavra dirigiu-se para o banheiro, voltando de lá minutos depois. Carmim permanecia na mesma posição, porém, atenta aos movimentos do homem.
O homem estava se vestindo. Ela podia escutar o barulho do tecido cobrindo seu corpo. Descalço, tornou a sentar na beirada da cama, ficando de costas para ela.
— Por que acha que não haverá uma próxima vez?
Estendeu a sua mão para que ela segurasse. Hesitante, Carmim colocou a sua dentro da dele. O Sr. White apertou e depois afrouxou o toque. Permaneceu ainda de costas, olhando a bela vista que aquela suíte lhe proporcionava.
— Você é incrível, Sr. White...
— Henry. Aqui não precisamos dessas formalidades.
— Está certo, Henry.
— Conte-me o que está acontecendo.
— Ontem foi o meu aniversário, 36 anos. Estou ficando velha. — vendo um misto de espanto e diversão naqueles olhos azuis, sorriu e continuou: — Velha para o que faço.
— Entendo. — deitou de costas ao seu lado e a posicionou sobre o seu peito — Meu pai faleceu uma semana antes que eu completasse vinte e seis anos. Ganhei o seu império como presente. E perdi totalmente a minha liberdade. Meus amigos foram trocados por acionistas e parceiros. Meus momentos de lazer foram substituídos por reuniões intermináveis. Recebi em minhas costas uma responsabilidade da qual não me sentia preparado. Tornei-me o Sr. White, dono de um império farmacêutico.
— Aposto que queria ficar na farra.
— Não. Nunca fui esse tipo de pessoa. Gosto de ficar sozinho, mas a responsabilidade de seguir com tudo aquilo que ele construiu me apavorou.
— Posso te perguntar uma coisa?
— Fique à vontade.
— Não precisa responder se não quiser. Por que não existe uma senhora White?
— Quem disse que não tem? Minha mãe ainda está viva. — vendo constrangimento no olhar da garota, lhe beijou os cabelos — Não sei responder essa pergunta. Não aconteceu, não apareceu ninguém que julgasse importante para terminar os meus dias. Eu me acostumei a viver assim.
— Não acha solitário?
— Sempre fui solitário, mesmo estando rodeado o tempo todo por pessoas. Minha vez!
— Pergunte. Hoje estamos curiosos.
— Por que fazer o que faz? O que te motivou a seguir por esse caminho?
— Muitas pessoas me perguntam isso, e muitas esperam uma história triste.
— Existe uma?
— Não. Não tem nenhuma mãe doente que precise sustentar, ou um passado de abusos, tenho um pai ausente apenas. Eu queria coisas. E vivendo, como vivia antes, não teria. Nunca gostei muito de estudar. Mesmo se gostasse, nenhuma faculdade me daria o que buscava. Eu sou materialista e egoísta, Henry. Gosto de coisas caras e bonitas. De frequentar lugares chiques, estar ao lado de pessoas importantes. Aparências. Aposto que está totalmente decepcionado com essa revelação.
— Se tem algo que não costumo fazer é julgar as pessoas. Para dizer a verdade, gostei da sua sinceridade. Sua mãe tem consciência do que faz?
— Todas as pessoas do meu convívio sabem. Algumas me olham com reprovação, outras não conversam mais, e tem aquelas que não estão ligando a mínima para o que faço. Minha mãe está nessa última opção.
— O que você gostaria de ganhar de aniversário?
— Vai me dar um presente?
Carmim olhou para o homem com interesse.
— Talvez. Apenas gostaria de saber se tem algo que você queira e ainda não tem.
— Nossa, tanta coisa! Não sei nem por onde começar.
— Tem sempre algo que desejamos mais.
— Nunca saí do país. Uma viagem para um lugar totalmente diferente. É isso que eu gostaria nesse momento.
— Está feito. Você irá me acompanhar na minha próxima viagem. Como está o seu passaporte?
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