"Eu não vou esquecer você nunca!"

Todas as grandes famílias tem os seus pequenos segredos. Sempre há um filho fora do casamento, uma antiga richa, uma herança estranha e histórias que são contadas apenas depois de colocar as crianças para dormir. O segredo da minha família estava muito além de um primo do qual todos se envergonham.

Quando criança era difícil entender o motivo pelo qual as pessoas da família raramente se relacionavam com pessoas de fora, simplesmente era assim. Vovó dizia que estávamos pagando por nossos pecados, mas Mamãe sempre balançava a cabeça e dizia que era assim que tinha que ser e quando eu fosse mais velha entenderia. Nunca considerei aquilo como uma regra, muito menos uma proibição, só não esperava aquela reação.

Conheci Duda quando tinha 12 anos, ela era a menina nova na escola, o nosso pequeno sol particular. Viera do Rio Grande do Sul e tinha os cabelos mais loiros que eu já tinha visto na vida, acompanhados de um sorriso bonito e uma personalidade sempre alegre e divertida. Eu sabia o que minha família pensava, mas era difícil se afastar de alguém que insiste tanto, ainda mais quando se gostava tanto da pessoa como eu gostava de Duda. E-d-u-a-r-d-a. Meu coração acelerava sempre que ela sorria. Eu sempre era a amiga esquecida, mas ela prometera que nunca ia me esquecer.

Acho que Mamãe notou antes mesmo que eu. Notou os sorrisos bobos, os recados, pequenas ligações e horas a mais na escola, mas ela não tinha certeza e ficou balada, bem... até aquele dia. Quando tinha 14 anos e nem um pingo de paciência, estava realmente cansada de fingir em casa que Duda não existia, não queria esconder da minha família que eu gostava dela e, antes de falar qualquer coisa pra minha "amiga", queria que minha mãe soubesse. Meu brilhante plano foi levar Duda pra casa com uma desculpa qualquer e, quando ela fosse embora, eu jogaria a bomba chamada confissão amorosa pro pessoal de casa.

Duda ficou mais animada do que qualquer um quando eu a convidei pra jantar na minha casa. Ela era uma menina muito boa mesmo e queria conhecer a minha família e o lugar em que eu morava. Eu não disse exatamente o que estava acontecendo pra ninguém, só comentei que tinha convidado alguém pra jantar com a gente ao que todos concordaram sem muitas perguntas. A minha convidada, quando chegou, parecia totalmente uma princesa de contos de fadas, com um vestido de verão azul e uma coroa de flores de plástico no cabelo bem arrumado. Eu esperava que as coisas saíssem bem, mas foi o jantar mais estranho da minha vida. Silencioso e estranho. 

Fiquei realmente envergonhada e pedi desculpas à Duda quando o pai dela veio buscá-la, eu não sabia porque eles estavam agindo daquela forma. Fechei a porta com um suspiro e andei até a cozinha onde minha mãe e minha vó ainda estavam, limpando tudo e guardando as louças. Mamãe soluçava e Vovó tinha uma cara estranha quando entrei.

— O que aconteceu? - perguntei sem entender muita coisa — Vocês não gostaram da minha amiga?

Minha mãe se desmanchou ainda mais em lágrimas e minha vó olhou pra ela feio antes de se voltar pra mim, pedindo pra eu me sentasse na mesa.

— Você sabe que nós não falamos com gente fora da família, não sabe Mabel? — ela não esperou uma resposta —E acho que você já percebeu que nenhuma de nós é casada, isso não é sem motivo meu amor — Ela suspirou — Nossa família é amaldiçoada, somos guardiões de um legado importante e isso é uma grande honra, mas, algo nos foi tomado em troca.

— Do que a senhora tá falando?

— Nos foi tomada a capacidade de permanecer na memória das pessoas — Mamãe murmurou — Quando você receber o seu legado aos quinze anos, as pessoas de fora não se lembrarão mais de você. Nós queríamos te proteger...

Naquele dia eu realmente achava tudo aquilo ridículo. Uma desculpa ridícula pra não verem a Duda de novo, mas no meu aniversário de 15 anos o pior aconteceu. O amor da minha vida esqueceu que eu existia e iniciou-se a minha maldição particular e o meu legado.

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700 palavras.