Capítulo 02
O lugar indicado pelo mapa era um antigo parque de diversões, montado de qualquer jeito em um terreno baldio, mas era difícil dizer se haviam brinquedos seguros embaixo de tanta ferrugem e tinta descascada, contudo, o foco do lugar não parecia ser os brinquedos. Era sinistro e cativante, as luzes vacilantes, barracas espalhadas e pessoas fantasiadas que enchiam o lugar como um sonho, tão tangíveis como fumaça.
Foi fácil esquecer o meu motivo de estar ali com aquela música... mexia com a cabeça da gente de alguma forma, mas todo o torpor de sentidos causado pelo lugar se esvaiu em um segundo quando eu vi Duda. Ela se vestia como Maria Antonieta ou qualquer uma dessas mulheres históricas com perucas chamativas e vestidos enormes, tinha uma máscara prateada cobrindo os olhos e era movia-se como se estivesse guiando uma orquestra em meio as pessoas que dançavam indiferentemente. Mas eu sentia que havia algo de errado com aquilo tudo.
Meus pés se moveram sem o meu controle em direção a dança macabra que se desenvolvia no centro de um parque esquecido no meio de São Paulo. Duda sorriu ao me ver e fez uma mesura elegante, como se fizesse parte de um filme de época. Retribui o gesto sem jeito e não resisti quando ela tomou a minha mão.
— Enchantée, mademoiselle — disse com um sorriso bonito nos lábios vermelhos — Dá me a honra desta dança?
— Com prazer — respondi simplesmente, era estranho meu coração não bater por ela?
Dançávamos como se tivéssemos feito aquilo durante toda uma vida, ela guiava a dança com maestria e eu acompanhava encantada com a forma com que a luz iluminava a cena. Mas o meu coração não batia, muito pelo contrário, parecia cada vez mais pesado. E quando percebi que não podia mais aguentar aquilo, me desvencilhei de Duda e corri pra longe da dança escutando os passos dela atrás de mim.
Nada daquilo parecia certo, era como um pesadelo estranho. Abatida, procurei um lugar mais afastado pra sentar e respirei fundo tentando me recompor, eu podia estar sendo ridícula, mas sabia que devia confiar em meus instintos. Estava bem consciente da presença da mulher quando ela se aproximou, mas eu tinha a impressão de que ela não era quem eu pensava.
Encarei seus olhos, astutos como os de um gato, e pus em palavras as minhas suspeitas.
— Você não é a Duda, é? — Questionei abraçando o meu próprio corpo, pronta pro que viesse.
— Não — ela sorriu, sentando ao meu lado — Mas não tenho nenhuma má intenção.
O sorriso dela se expandiu de um jeito macabro e em um piscar de olhos eu não estava vendo a menina loira por quem era apaixonada. Era mais alta, como eu não havia notado? Tinha olhos verdes e cabelos negros cacheados que caíam como cascatas até a base do quadril. Tão diferente...
— Foi você que fez aquela história de convite, não é? — disparei com o pingo de coragem que me restava — O que você quer de mim?
— De você não desejo nada — ela cruzou as mãos — A verdade é que a sua família me é muito querida e carregam um peso grande para que eu possa estar protegida.
— Você...?
— Não tens idade ainda para que eu lhe conte e essa explicação deve vir de sua mãe — ela cortou qualquer questionamento — Mas você me lembra muito de mim mesma e Deus sabe que meu fraco são os amantes condenados ao sofrimento, logo, como recompensa da linda dança, dar-lhe-ei um presente igualmente belo.
A mulher sentou-se ao meu lado e se aproximou lentamente, depositando um beijo no topo de minha cabeça. Naquele momento aquela parecia a coisa menos estranha da noite.
— Siga naquela direção — ela apontou para a roda gigante iluminada — E, até lá, não fale com ninguém.
— Por que não?
— Pois esta é a noite em que os espirítos se divertem minha criança — ela riu jocosamente — E eu tenho certeza de que você não gostará de ficar presa em seus jogos, agora vá! Estou cansada de sua companhia — Ela suspirou dramaticamente e eu, como um cordeirinho obediente, fiz o que me era ordenado, atravessando a dança dos espirítos em direção à luz.
━━━━━━━━━━━━━━━━━━━━━━━━━━
700 palavras.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro