Capítulo 01
Já passava um pouco das 10 quando voltei com os outros alunos do intervalo, teríamos aula de drenagem urbana e com absoluta certeza ninguém estava minimamente interessado em assisti-la, mas algo havia chamado a atenção dos alunos. Haviam envelopes cor de marfim por todos os lados.
"Você foi convidado(a) para um noite de encantos, prepare o seu par para o parque dos esquecidos hoje à noite"
O papel era normal e não continha nada além daquela frase e um pequeno mapa no verso. Guardei o meu na bolsa pra checar o endereço mais tarde, mas todos os outros alunos pareciam excitados com a brincadeirinha de halloween que algum desocupado fizera. Duda entrou na sala como um raio e o meu coração parou por um segundo, já faziam quase 10 anos e eu ainda não havia me acostumado com a sensação que ela me trazia.
— Karla! — Ela exclamou abraçando a amiga e mostrando o seu próprio convite — Meu deus diz que você vai, essa é a coisa mais legal que fazem desde aquela calourada de carnaval da química — ela riu animada.
— Você não pretende ir nisso né? — Karla retrucou, era uma menina mal humorada de óculos, basicamente uma outra versão de mim mesma.
— Na verdade eu pretendo sim, parece divertido — Ela deu de ombros sentando em uma cadeira desocupada ao lado da amiga — Todo mundo da minha sala recebeu também e muitos convites tem o mesmo mapa, acho que vai dar muita gente Karla.
— Menina, tu é muito maria-vai-com-as-outras, eu hein — Karla riu — Mas tá certo, vai se divertir, não sou tua mãe, mas me manda localização e não bebe nada esquisito sua cabeça de vento, morro de preocupação.
— Tá certo mamãe, te amo — Duda riu voltando para a própria sala.
Eu sei que é feio ouvir a conversa alheia, mas a conversa delas havia me deixado pensativa sobre o que seriam os misteriosos convites e qual seria a chance de eu acabar no mesmo lugar que Duda? Aquilo me deixou com uma pulga atrás da orelha a aula inteira e quando consegui pegar o ônibus pra casa só pensava em que roupa eu devia usar... só pro caso de encontrar a Duda seja lá onde fosse.
Minha casa era um pouco longe da faculdade, um ônibus, metrô e mais um tempo andando por uma rua estranha, mas pela comida da mamãe valia a pena não ter solicitado morar na residência universitária. Desde que a minha avó tinha morrido uns anos atrás eu sentia que a minha mãe se sentia muito sozinha, ainda mais com a nossa... condição. Fazê-la sorrir todos os dias era a minha missão na Terra, apesar de eu dar mais dor de cabeça do que sorrisos pra minha mãe.
— Manhê! — Gritei quando cheguei em casa, trancando a porta ao entrar — Hoje de noite vou sair com o pessoal da faculdade, a senhora quer que eu ligue pra Tia Lu, pra ela dormir aqui?
— Vai chegar muito tarde, dona Mabel? — Ela questionou saindo da cozinha, limpando as mãos molhadas em um pano de prato meio sujo com estampa da galinha pintadinha.
— Não sei ainda, qualquer coisa eu ligo pra senhora — soltei um beijo correndo pro meu quarto.
— Juízo! — ela retrucou gritando e voltando aos afazeres.
A primeira coisa que eu fiz foi procurar o endereço no google. Dava pra um terreno murado perto da paulista, mas aquela foto podia ser de anos atrás, não dava pra confiar no street view. Dei de ombros convencida de que não saberia o que era até chegar lá e fui fazer meus trabalhos da faculdade antes de pensar em me preparar para o tal do evento. A noite chegou com um banho bem tomado e um vestido preto que eu tinha há tempos no guarda roupa, mas que poderia facinho se passar por uma roupa de halloween. Maquiagem pesada, botas bonitas e uma bolsinha combinando, até parecia que eu havia nascido praquilo!
Já havia escurecido quando cheguei na paulista, como sempre movimentada. Um grupo de garotas tirava fotos na frente de uma parede completamente coberta com pôsteres:
"Do you listen to girl in red?"
A juventude era linda. Aquela sem dúvida era a noite do amor.
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700 palavras.
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