Jardins
Susana estava na sacada do palácio, observando Pedro e Aires passeando pelos jardins. A rainha não tinha absolutamente nenhum problema com seu irmão se relacionando com meninos, desde que estivesse feliz, mas havia algo naquele garoto que a Pevensie não aprovava. Edmundo já havia feito a caveira do dito cujo, ele é popular entre meninos e meninas, e sempre deixa corações partidos e honras perdidas por onde passa. E não é que Pedro não soubesse se cuidar, mas era um tanto alheio quando se trata de pessoas dando em cima dele ou com segundas intenções. O que a preocupava era a possibilidade de seu irmão ser só mais uma aventura para aquele príncipe, quando Pedro parecia genuinamente interessado pelo recém chegado. Ele não poderia estar apaixonado, não é!? Se conheceram hoje. Ela particularmente não acreditava nessas coisas de amor e paixão à primeira vista. Mas vai saber, ela tinha dezesseis anos e era rainha de um reino fantástico e cheio de magia.
Susana só esperava que Pedro não tivesse o coração partido. Seu irmão mais velho não merecia isso, era a primeira vez que se permitia gostar de alguém e não seria machucado ou humilhado por isso, para ter o coração partido!? Não. Ela enfiaria uma flecha na garganta de Aires pessoalmente se isso acontecesse. Pedro era o ponto de apoio de Susana e dos irmãos, a força, a âncora e o pilar de todos eles. Se ele quebrasse, ela não gostaria nem de imaginar como consertaria a situação. Mas sabia que faria qualquer coisa pelo irmão.
Passos suaves interrompem a linha de raciocínio amarga da rainha gentil. Ela poderia dizer qual irmão era só pelos paços. Lucia. Pedro costumava tirar sarro dela pelas pequenas manias que ele chamava de "Modos de mãe" como se o hipócritazinho não tivesse os tais "Modos de pai".
— Eles são umas gracinhas, não são!? — A caçula se inclinou para sacada sonhadoramente, um sorriso doce no rosto.
Susana olhou novamente. De fato, embora ela não entendesse o apelo. Aires era sim muito bonito, mas não entendia por que Pedro e Lúcia coravam a cada galanteio ou passada de mão no cabelo. Embora os modos galantes dirigidos a Lu fossem por gentileza e não por interesse como os dirigidos a Pedro. Ela pensou que Edmundo poderia entender as indagações dela, mas ele agia igual com Caspian. Bem, pelo menos ele concordava que Aires era um fator a ficar de olho.
— É...suponho que sim, Lu.
A mais nova desviou os olhos no momento em que Aires oferecia uma flor ao irmão mais velho delas e avaliou Susana com concentração.
— Você e Ed não acham que estão exagerando? Pedro sabe se cuidar. Além do mais, ele não interferiu quando Caspian estava obviamente flertando com você e depois com Edmundo.
A Pevensie mais velha arregalou os olhos, abriu e fechou a boca perplexa. Então Lúcia tinha
percebido.
— Você notou.
— Su, sou criança não tola. Claro que eu notei como Caspian agia com vocês dois, principalmente com você no começo. Pedro nunca interferiu, por consideração a vocês dois. Permitindo que tomassem a liberdade de agirem por conta própria. Não acha que deveriam fazer o mesmo?
Às vezes Susana se esquecia o quão sábia sua irmãzinha era. Mas claro que era, ela viveu toda uma vida inteira governando Narnia ao lado dela e dos irmãos. A caçula tendía a ser a mais apegada e superprotetora de Pedro.
— Caspian não tem uma história que o condene.
Lúcia arqueou uma sobrancelha.
— Como saberíamos? Mal o conhecíamos, agora podemos dizer.
Ela tinha um ponto.
— Bem sim, você está certa. Mas Edmundo conhece Aires, ele não tem uma boa fama.
— Bem, talvez seja diferente agora.
Susana não era uma garota que gostava dessas histórias de talvez.
— E como saberemos.
— Bem, deixe que ele prove. Mas não é a nós que o príncipe Aires deve provar seu valor.
Susana assentiu, talvez Luci tivesse razão. Mas ela ainda ficaria de olho naquele príncipe encantado até demais.
* * *
Pedro e Aires caminharam pelo caminho de pedra, bastante entretidos na companhia um do outro. O loiro os guiou até o labirinto, lá dentro era como um verdadeiro paraíso. Cada corredor tinha uma espécie de flor diferente.
— Tudo aqui é tão lindo. — Diz o moreno passando os dedos por uma parede de sempre vivas. A voz tinha um leve tom sugestivo, indicando que não era só o lugar que ele julgava belo.
Pedro sorriu chutando uma pedrinha.
— Telmar é de fato muito bonita. Mas espero que possa conhecer Cair Paravel quando estiver reformada.
Aires olhou para o loiro, os braços atrás das costas e apesar de estar olhando pra baixo apreciando as flores.
— Já vi algumas pinturas e ouvi muitas histórias a respeito, mas assim como sua majestade tenho certeza que as pinturas e histórias não fazem jus à beleza.
O Pevensie soltou uma risadinha sem graça com o elogio.
— Sua alteza é bom com as palavras.
Aires retirou uma flor que nunca havia visto antes e a ofereceu ao loiro com uma pequena reverência e um sorriso encantado.
— Sua majestade merece todas as palavras bonitas que eu possa oferecer e muito mais.
Quando Pedro pegou a pequena flor azul, as pontas de seus dedos se cruzaram causando arrepios em ambos os rapazes.
— É gentileza de sua parte, príncipe Aires.
— Nunca o suficiente.
O moreno piscou e ambos voltaram a caminhar, os corpos um pouco mais perto como se gravitassem inconscientemente para perto um do outro. Às vezes os dedos roçavam um no outro, e ambos queriam entrelaçar as mãos e não ficam apenas em toques sutis. Mas o medo de ser muito cedo os impediu. O que assustou um pouco Aires, ele nunca se limitou por ser cedo demais, mas aquele garoto o fazia querer seguir todas as suas vontades e dançar conforte seu ritmo.
Quando chegaram ao centro do labirinto, cercado por hortênsias e lavandas, Pedro se sentou na grama apesar do banco ali. Aires o seguiu. Enquanto o louro olhava para o céu azul acima deles, o príncipe olhava para ele. Aires estava certo de que aquela era a coisa mais próximo de que viu das famosas belezas euficas dos mitos e canções. Pedro abaixou os olhos para olhar para o visitante, mas o mesmo já o estava olhando. O rei ofereceu um sorrisinho a ele que retribuiu.
— Quanto sua alteza pretende ficar?
— Infelizmente não muito, pretendo ficar no mais tardar, até amanhã.
A decepção era recíproca entre os dois jovens.
— É uma pena, mas sinta-se à vontade para visitar. Não precisa ser a negócios, volte quando quiser e fique o quanto desejar.
A mão do jovem rei pousou sobre a o moreno, que acompanhou o gesto com o olhar depois olhando novamente para aqueles olhos azuis como o oceano que olhavam para os seus. Aires sentia como se pudesse se afogar neles e morrer.
— Sua majestade também poderia me visitar. Seria um prazer recebê-lo em meu lar.
— Quem sabe um dia.
O loiro se espreguiçou e deitou na grama, sob o olhar atento do Zephyrionano que mordeu o lábio inferior vendo um pouco de pele exposta em sua barriga. Como ele queria correr os dedos por aquela pele de aparência macia. Sem cerimônias, ele se deitou ao lado do rei adolescente, observando a beleza angelical. Ele se sentia tão tentado a beijá-lo, aqueles lábios eram tão convidativos.
— Eu realmente apreciaria isso, gostaria muito de apresentar Zephyrion a sua majestade.
— Vou pensar no seu convite com carinho.
— Já me deixa feliz.
Pedro colocou os braços atrás da cabeça e olhou pro céu.
— Aquela nuvem parece um gatinho.
Aires franziu a testa e olhou pra cima. Ele não sabia bem o que estava vendo, mas não era um gato.
— Pra mim se parece mais com um porco...mas também pode ser que seja uma coruja.
O loiro riu negando com a cabeça.
— Oh Aslan, uma coruja? Não.
— Também não parece um gato.
— Claro que parece.
— De maneira nenhuma.
— Sim, sim.
Os dois garotos começaram a se empurrar de leve, em tom de diversão. Aires surpreendeu o Pevensie os rolando na grama e prendendo seus ombros.
— Sua majestade se rende?
— Jamais.
Pedro empurrou o corpo do garoto mais alto e ambos voltaram a "lutar" na grama. Aires apertou entre a costela e a cintura do loiro que soltou um gritinho misturado a uma risada.
— Ora, ora. Veja se não encontrei um ponto fraco. — Diz o Zephyrionano com um sorriso malicioso.
— Você não ousaria. — Pedro empurra fracamente o corpo do outro garoto de cima de si, mas já estava soltando risadinhas.
— Sou muito corajoso, majestade.
— Prove.
— Como queira.
O loiro sorriu um pouco corado e beijou a bochecha do estrangeiro que se assustou. Oportunidade perfeita para o Narniano empurrá-lo e se levantar.
— Vai ter que me pegar primeiro.
Aires riu desacreditado e se levantou correndo atrás do loiro. Ambos os garotos corriam pelo labirinto aos risos, como duas crianças. Eventualmente, Aires conseguiu alcançar Pedro e os levou de volta ao chão.
— Peguei você.
Ambos tinham sorrisos bobos no rosto.
— Sim, cavalheiro de couro brilhante, você me pegou.
Aires lambeu o lábio inferior com a vista diante dele, ou melhor. Abaixo. O loiro parecia tão sereno e tranquilo, os olhos azuis brilhavam e um sorrisinho pacífico adornava os lábios rosados. Não deveria ser certo um rei ficar tão bem abaixo de alguém, mas parecia tão certo.
— O que eu faço com você?
— Bom, você pode me soltar para que eu possa mostrar o melhor da culinária doce de Telmar. Os doces daqui são divinos.
— Ideia tentadora, pequeno rei.
— Podemos, então!?
— Claro.Ou eu poderia fazer isso aqui... — O moreno levou os dedos até o mesmo lugar de outrora e deslizou por ali, provocando risadas do loiro.
— T-trapaça.
— Não penso assim.
As risadas do alto rei eram a coisa mais contagiante de se ouvir. Era alta e escandalosa, mas era uma melodia agradável. Não era bem o tipo de riso que se espera de monarcas, geralmente eram contidos e autuados para cada ocasião. Mas não o daquele menino rei, não a risada de Pedro era pura, genuína ao ponto de fazer Aires se perder nos olhos brilhando com lágrimas de felicidade e a risada melodiosa. Quando deu por si não estava mais apenas observando, ele se inclinou pra frente e quando seus lábios estavam quase se tocando Aires parou. O olhar assustado do garoto abaixo dele o deteve, assim como a mão em seu peito.
— Por favor, não.
Aires se afastou, preocupação estampada em seu rosto.
— Sinto muito, me perdoe majestade. Eu imploro seu perdão, não sei o que deu em mim.
Pedro se sentou de pernas cruzadas na grama, estava inseguro como abordar o assunto.
— Não se desculpe, eu quero. — O príncipe franziu a testa em confusão. — Mas não agora.
Fazia sentido, eles haviam acabado de se conhecer. E mais uma vez o banho de água fria de que aquele garoto não era como seus antigos parceiros, atingiu Aires.
— Claro, tem razão. Sua majestade tem toda razão. Peço perdão por ter me excedido.
— Não precisa pedir perdão. Só peço que tenha paciência comigo. E-eu... — Pedro desviou o olhar e abaixou a cabeça, aquilo não combinava com ele na opinião do príncipe. Ele era um rei e deveria andar sempre com a cabeça erguida. Com isso em mente, Aires ergueu o queixo do loiro com delicadeza e acariciou a bochecha macia com o polegar.
— Não precisa dizer nada que não queira.
Pedro negou com a cabeça determinação irradiando dos olhos claros.
— Não, eu quero te dizer.
Aires assentiu com a cabeça, sorrindo encorajador.
— Por favor, não ria de mim.
— Nunca.
O loiro respirou fundo e olhando naqueles lindos olhos castanhos, disse com toda coragem que possuía:
— Eu nunca namorei, ou sequer tive um primeiro beijo.
Okay, o Zephyrionano não estava esperando por aquilo. A inexperiência do jovem rei era notória, mas ele acreditou que o loiro pelo menos já tivesse tido um ou outro relacionamento. Mas não e isso só deixava as coisas ainda melhores e o Narniano ainda mais fascinante aos olhos do moreno. Mas aparentemente o Pevensie mais velho interpretou sua expressão e silêncio de outra maneira, pois sua confiança murchou.
— Ei, ei. Não faça essa carinha, sol de verão, eu só não esperava.
Pedro tombou a cabeça de lado.
— Por que não?
— Com todo respeito, mas sua majestade já se olhou no espelho? É lindo. — As bochechas do loiro ganharam um forte tom de rosa. — Tenho certeza de que tinha muitas pessoas aos seus pés.
— Não creio.
— Duvido. Pode não ter notado, mas certamente tinham e tem.
O rei deu de ombros.
— Nunca realmente me interessei por meninas, já senti paixões bobas por alguns meninos de onde vim, mas nada muito sério. Lá a relação de dois iguais não é vista com bons olhos, espero que um dia isso possa mudar.
Aires não pode nem sequer imaginar o quão horrível um mundo assim, deva ser.
— Sorte não estar mais preso naquele lugar horrível.
— Eu concordo. E muitas coisas aconteceram aqui quando voltamos, a guerra contra o antigo rei Miraz, o estabelecimento de como funcionaria nosso reinado, o implantamento e retiradas de leis, negociações e a reconstrução de Cair Paravel. Realmente não ouve...simplesmente não ouve a possibilidade e nem a oportunidade.
O príncipe Zypherionano assentiu em compreensão.
— Compreendo. Bem, sua majestade tem a minha palavra de que se aceitar o meu cortejo, levaria no tempo e como sua graça desejar.
Pedro se inclinou para a mão acariciando sua bochecha.
— Meus irmãos são ciumentos.
— Notei.
— Eu não tenho experiência.
— Sou paciente e posso ensiná-lo. Não é nada mais difícil do que as guerras que sua graça já travou.
O sorrisinho que recebeu em troca fez Aires se sentir o mais sortudo dos homens.
— Eu aceito suas intenções de cortejo, Aires de Zypherion.
Aires faria de tudo para merecer o primeiro beijo de não do grande rei, mas de Pedro Pevensie o menino doce que estava confiante sua inexperiência a ele.
****
Não sei se conseguirei postar amanhã, pois o próximo capítulo ainda não está pronto e tenho que estudar pra apresentar trabalho. Mas verei o que posso fazer ☺️
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro