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love taylor
ap/29, 10am
Com frio na barriga, coloco a última peça de roupa dentro da mochila. Jogo o cabelo para trás do ombro, lançando um olhar rápido para o espelho e re-avaliando o vestido branco e o all-star da mesma cor.
Suspiro, me jogando na cama mais uma vez.
Eu poderia fingir que estou com dor de barriga. Ou que uma das meninas mandou um SOS. Qualquer coisa pra escapar de passar quase duas horas dentro de um carro com Vincent e Lana.
─ Love, vamos! ─ a voz da minha irmã ecoa pela casa. ─ Daqui a pouco o Vin chega.
Meu estômago comprime sempre que escuto essa droga de apelido.
Coloco a bolsa no ombro e saio do quarto.
─ Mãe? ─ chamo na escada, recebendo sua resposta da cozinha. Vou até lá e a lanço um olhar de súplica. ─ Falta muito pouco pra eu me jogar da escada e quebrar um braço, só pra ficar em casa.
Minha mãe ri, me puxando para um abraço.
─ O que deu em você ultimamente, Love? ─ pergunta baixinho, enrolando uma mecha do meu cabelo no dedo. ─ Cadê aquela delicadeza doce, hein?
Sinto meu coração despedaçar um pouquinho, mas não tenho tempo para responder nada, porque Lana me chamou mais uma vez. Vin chegou.
─ Até amanhã. ─ dou um beijo na bochecha da minha mãe e saio da cozinha.
Lana se despede também e corre para fora. Eu demoro um pouquinho mais, me preparando mentalmente para à situação em que me coloquei.
Me encontro diante do carro que já andei muitas vezes e ninguém além de mim e Vincent sabe. Me encontro sentada no banco de trás ao lado de Aaron, que se apresenta sem saber que já o conheço.
─ Então... Love. ─ Aaron chama a minha atenção. ─ Você estuda o quê?
─ Música. ─ sorrio. ─ Foi uma escolha bem arriscada, mas eu jamais faria outra coisa. E você?
─ Tecnologia da computação e criação de imagem 3D. ─ responde, e ergo as sobrancelhas. Vincent uma vez disse que Aaron estudava algo relacionado a criação de jogos, mas não sabia que era algo composto assim.
─ Deve ser bem complexo.
─ Nem é, sabia? ─ ele mexe os ombros. ─ É tudo questão de interesse. Tipo aquele cara ali, estudando corpo morto, deve ser uma puta dificuldade, mas ele tira de letra.
Olho de relance para o retrovisor e encontro os olhos de Vinnie já em mim.
─ Que nojo, Liebretgs! ─ Lana diz, com uma careta.
─ Ué, e não é isso? Semana retrasada ele me mandou uma foto com um braço decepado sem aviso prévio. Eu quase vomitei. ─ sem querer, dou risada, e Aaron me empurra de leve enquanto ri junto comigo. ─ Sério, Love, foi nojento.
─ Eu imagino. ─ falo, ainda rindo.
─ Prefiro ficar com os meus joguinhos mesmo.
─ Como se aquela merda de zumbi em 4K em realidade virtual não fosse quase tão realista quanto os corpos que eu vejo. ─ Vincent rebate, roubando olhares pelo espelho sempre que pode.
─ Não tem nem comparação, cara. Uma coisa é segurar um braço de alguém que viveu de verdade e agora não vive mais, outra coisa é ver uma criação 3D em 4K no óculos de RV comendo as tripas de alguém, sabendo que é tudo de mentira. ─ Aaron contra-argumenta.
─ Gente, eu vou vomitar, vocês sabem que eu sou sensível com esse tipo de assunto. ─ Lana adverte.
─ Você já criou jogos assim? ─ pergunto para Aaron.
─ Vários! ─ responde, animado pelo assunto. ─ Claro que a maioria deles ficaram horríveis e sem nexo, mas eu ainda não tinha muita noção e experiência. Eu to trabalhando em um para uma apresentação, olha só...
Ele pega o celular e começa a me mostrar imagens soltas de um cenário de jogo, algo bem pós-apocalíptico e distópico que me lembra um pouco do último filme de Jogos Vorazes. Ele então começa a me explicar sobre a história por trás do jogo e os personagens e tudo que os envolvem.
Aaron tem tanto talento nisso que acabo realmente submersa naquele universo, querendo de fato jogar aquele jogo.
─ Quando estiver finalizado, mando pra você jogar. ─ ele diz.
─ Ah, eu não tenho videogame em casa.
─ Então você vai lá em casa jogar. ─ ele mexe os ombros.
─ Aaron... ─ minha irmã diz o nome dele em tom de aviso. Ele ri, balançando a cabeça.
─ Não fiz nada, Laninha. ─ se defende.
Ah. Ahhhhhh. Ele estava dando em cima de mim? É isso?
Subo os olhos para o espelho mais uma vez. Vinnie me encara de volta, mas agora troca a direção para Aaron também. Seu silêncio é incômodo. Ele não estava com ciúmes, né?
─ Quer ouvir a música que eu to trabalhando agora? ─ me viro para Aaron com um sorriso. No banco da frente, ouço Vinnie tossir.
─ Claro.
Pego meus fones na bolsa e entrego um para ele. Entro no aplicativo de instrumentos e acho a base da música já salva. Toco o primeiro minuto que consegui desenvolver, depois vou até as notas e mostro a letra, murmurando a melodia por cima para mostrar como ela ficaria montada.
─ Uau. ─ ele diz, enquanto lê. ─ Você tem talento, Love. Você já colocou nome?
─ In Between. ─ respondo, sorrindo.
─ E de onde veio a ideia?
─ Sabe... sabe quando voce tem um sonho, mas é como um espectador da própria vida? ─ pergunto, e meu peito de repente dói. Me recuso a olhar para o espelho, mas sinto seu olhar em mim. ─ Foi isso. Um dia, sonhei com isso, me vi vivendo essa história como um personagem de fora. Por isso a letra é em terceira pessoa, entende? É só questão de perspectiva.
─ Posso ouvir?
A pergunta me paralisa. Ergo o olhar lentamente para o espelho, vendo os olhos suplicantes de Vincent lá. Engulo em seco.
─ Ainda não juntei o vocal com a base. ─ falo. ─ Não tem muito pra ver.
─ Mas eu quero.
─ A letra é escrita, e você ta dirigindo, não vou deixar o celular na sua mão. ─ rebato.
─ Ela tem razão, Vin. ─ Lana diz, e um sorriso triste aparece no meu rosto. Ele percebe, abaixando os olhos imediatamente. ─ Outro dia você mostra pra gente, né Love?
─ Sim, claro.
⇹
12pm
Chegamos em um prédio mediano em San Clemente. No caminho, Aaron me contou a história que eu já conhecia por cima, sobre seus amigos que namoram e moram juntos, mas ela estuda em San Diego e ele em Los Angeles.
Entramos os quatro no elevador, cada um com sua mochila, e Aaron continuou me mostrando um jogo que criou quando tinha dezessete anos. A porta se abriu no sétimo andar, e uma porta ali já estava aberta.
─ Querido, cheguei! ─ Aaron praticamente grita ao entrar, e quando um cara loiro aparece e quase se joga no colo dele, é meio difícil de segurar a risada.
─ J, modos! Temos visita. ─ uma mulher de cabelo avermelhado aparece. Maddy e Jordan, os donos da casa. ─ Oi, meu bem. Você é a irmã da Lana, né?
─ Isso. ─ sorrio.
─ O nome dela é Love. ─ Vincent retruca, o meu lado. ─ Não irmã da Lana.
Maddy revira os olhos, mas me pede desculpas mesmo assim e me abraça. Em seguida, corre para abraçar minha irmã e me deixa sozinha com ele.
─ Não adianta tentar remediar agora. ─ falo, baixinho, antes de me afastar. ─ É tarde demais.
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