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love taylor
ap/21, 3pm
Eu ainda não conseguia entender como poderia chover tanto na primavera. Hoje é mais um dos dias em que o mundo parece estar se acabando em água, e como um deja-vu mais claro do que água, me encontro mais uma vez na biblioteca.
Vazia, sem sinal de ninguém além de mim e a bibliotecária dormindo no cantinho.
Passeio pelas estantes livremente, pegando alguns livros que me interessam pelo título mas logo os devolvendo para o lugar deles.
Minha mão para em cima de um dicionário de castelhano. Meu estômago gela por um segundo.
Deixo ele lá, determinada a esquecer tudo o que me lembra de Vincent Hacker.
Mas é meio difícil, quando ele aparece na minha frente.
Eu suspiro, dando as costas, mas meu antebraço é envolto por seus dedos e logo estamos cara a cara.
─ Você não pode simplesmente fingir que não me conhece, Love. ─ ele diz, sua voz cheia de emoções que não consigo descrever.
─ E o que eu tenho feito nos últimos dias? ─ ironizo. ─ Me solta, por favor.
Ele faz o que eu peço, mas não se afasta. Muito pelo contrário, ele avança um passo, e eu não recuo.
─ Bom, eu não posso fingir que não te conheço. ─ diz, me olhando no fundo dos olhos. ─ Eu sei que fui um idiota, tudo bem? Eu sei que você não vai entender as minhas motivações.
─ Sabe como? Você nem tentou! ─ esbravejo, me aproveitando do fato de estarmos sozinhos. ─ Você. Não. Tentou. Não diga que sabe, porque você não sabe droga nenhuma!
Ele dá um leve sorriso triste, que me aperta o peito.
─ Tem razão. ─ suspira. ─ Não tentei. Mas não adianta tentar agora, certo?
Fico calada, cruzando os braços sobre o peito. Ele recua um passo.
─ Não queria te perder, Love. ─ sussurra.
Meu coração acelera ligeiramente, mas quando penso em responder, meu celular começa a vibrar no bolso de trás da minha calça.
O pego, recuando alguns passos e atendendo a chamada.
─ Oi?
─ Oi, Love! Fiquei sabendo que a donzela ficou presa na chuva. To aqui por perto, quer carona? ─ a voz grave de Ryke emana pelo celular.
─ Graças a Deus! Quero sim, por favor.
─ Onde você tá?
─ Na biblioteca. Me manda mensagem quando chegar que eu saio pra te encontrar.
─ Ok. Chego em cinco.
─ Ok.
Quando encerro a chamada, Vinnie está me encarando. Não precisei dizer o nome de Ryke na chamada, mas ele sabia de quem se tratava.
─ Vocês estão juntos? ─ ele pergunta, parecendo quase magoado.
─ Não acho que seja da sua conta. ─ respondo, surpresa por alguns segundos com essa hostilidade que, até hoje, não sabia que existia dentro de mim.
Ele recua mais um passo, os olhos caindo para o chão. Aproveito esse momento para dar as costas e me afastar, mesmo que meu coração esteja sendo esmagado figurativamente.
Realmente, cinco minutos depois, o Jeep preto de Ryke aparece em frente à porta da biblioteca. Estendo a minha jaqueta sobre a cabeça e corro até a porta, que ele abriu pra mim pelo lado de dentro.
Quando entro e me sento, sorrindo, posso ver Vinnie parado dentro da biblioteca, me observando. Ryke percebe também, arrancando com o carro em questão de segundos.
─ Tudo bem? ─ ele pergunta. Eu suspiro. ─ Vou levar isso como um não. ─ dou risada.
─ Tudo bem, sim. ─ sorrio fraco. ─ É só... as coisas parecem nunca dar certo pra mim.
Ryke para no farol vermelho e alcança a minha mão com a dele, em um gesto carinhoso. Ele não precisa dizer nada, apenas sorri e a solta.
⇹
ap/22, 6pm
Ao total contrário de ontem, hoje é um dia muito quente e ensolarado. Fui moralmente obrigada a usar um vestidinho vermelho de alcinha para não cozinhar no calor.
Agora, eu e as meninas estamos na nossa sorveteria favorita, conversando sobre tudo e nada ao mesmo tempo.
─ Vocês viram aquela fofoca que estourou essa semana? ─ Emma pega o celular para mostrar o que tal página postou sobre tal atriz que fez tal coisa.
Não consigo prestar atenção, porque, lá na frente, estão Lana e Vincent.
Hoje é sábado, não estou surpresa por ver Lana por aqui, na verdade até esperava. Essa é a nossa sorveteria favorita, e fui eu quem apresentei esse lugar para as minhas amigas.
Me assusto quando uma mãozinha pousa no meu braço.
─ Tia Love? ─ sorrio para Anna quando a olho, meu coração aquecendo.
─ Oi, meu amor?
Anna tem cinco anos, mas é muito inteligente para a sua idade. Tendo Lola como mãe e o super apoio dos avós, ela é uma criança tão educada que, só de observar, já sobe aquela vontade de ter uma por conta própria.
─ Aqui tem donuts? ─ ela pergunta, tirando os fios ruivos do rosto.
─ Não tem, princesa. ─ faço um biquinho. ─ Mas ali mais pra frente tem. Você quer ir lá comigo buscar?
─ Sim! ─ ela bate palmas, animada, trazendo a atenção das meninas para nós. ─ Mamãe, vou com a tia Love buscar donuts, ta bom?
─ Anna! ─ Lola repreende baixinho. ─ Já te falei pra não sair pedindo as coisas, não falei?
─ Não tem problema, Lo. Você sabe que eu amo mimar essa princesinha. ─ passo a mão pelo rostinho dela. ─ Já voltamos.
Me levanto e seguro na mão de Anna, nos guiando até a saída. Mas, como nem tudo são flores, ela se distrai com alguma coisa no chão, tropeça e esbarra nas pernas de alguém.
Um alguém que eu conheço bem.
Anna não chora, mas põe a mão na testa e faz um biquinho. Ela deve ter batido no esbarrão.
─ Você se machucou? ─ pergunto, na mesma hora, me abaixando na sua altura.
─ Foi mal, eu não prestei atenção. ─ Vincent diz, imitando a minha posição. ─ Oi, lindinha. ─ ele usa um tom de voz calmo enquanto gentilmente pega na mão de Anna e a afasta da testa. ─ Posso ver se você se machucou?
Ela faz que sim com a cabeça, imediatamente caindo no encanto dele. Tudo bem, Anna, eu te entendo.
Tem um pontinho meio avermelhado no canto do rosto dela, mas nada alarmante. Os olhinhos dela parecem estar lacrimejando, mas ela não chora. Ela funga e suspira, mas não deixa de olhar para o rosto dele, fascinada.
─ Tudo bem? ─ ele pergunta. ─ Ta doendo?
─ Um pouquinho. ─ ela responde, baixinho.
─ Só um pouquinho? ─ ela balança a cabeça e ele sorri.
─ Desculpa.
─ Ta desculpada. ─ ele brinca, dando um apertãozinho de leve no nariz dela.
Me ergo, e ele também. Logo, estamos um na frente do outro, com Anna mais uma vez segurando minha mão.
Acho que nos encaramos por um tempo anormalmente longo, sem dizer absolutamente nada. Mas, quando ele abre a boca para quebrar esse silêncio, outra voz faz isso por ele.
─ Love, não sabia que você estava aqui! ─ Lana aparece, vindo do banheiro. Ela olha para Anna e franze a testa, provavelmente não a reconhecendo.
─ É, coincidência legal. ─ sorrio para ela. ─ Tchau pra vocês. ─ começo a me virar para me afastar, mas ela me impede.
─ Calma ai! ─ a olho mais uma vez. ─ Você lembra que quarta é meu aniversário, né?
─ É claro que lembro. ─ respondo.
─ Vamos comemorar em San Clemente, no sábado. ─ diz, animada. ─ Na sexta eu venho, como sempre, mamãe disse que quer passar o dia comigo. No sábado cedinho nós vamos voltar, e você vem junto.
─ Que?
Ela revira os olhos.
─ Eu sei que você não é muito de socializar, mas é meu aniversário. Vai ser uma festinha pequena, bem simples, só com os mais próximos. Você pode voltar com os meninos no domingo, e tudo resolvido.
Os meninos. Vinnie e Aaron.
─ Lana, semana que vem eu tenho...
─ Não quero saber. ─ me interrompe. ─ Por favor, Love.
Olho para ela, depois para ele, e suspiro.
─ Tudo bem.
Assim como uma criança de cinco anos, ela da um gritinho e bate palmas, feliz. Com um último olhar para Vincent, me despeço e saio.
Anna aperta a minha mão, sorrindo.
─ Ele é bonito.
Apesar da situação, solto uma gargalhada.
É mesmo, Anna.
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