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vincent hacker
ap/09, 1pm

Roer as unhas seria óbvio demais. Bater os pés no chão seria ainda pior. Por isso, me contentei em apenas contar cada respiração profunda e me concentrei em não surtar.

Lana e Love são irmãs.

E eu sou um tremendo babaca.

Quase tive um ataque cardíaco quando cheguei no endereço que Lana enviou. E quando vi Love na porta, a atmosfera toda mudou. Como eu fui tão burro em não perceber que era a porra do mesmo endereço antes de eu tocar a maldita campainha?

Porra!

Lana deve ter notado que algo de errado havia acontecido, porque sua mão esquerda, que antes estava sobre a mesa, desceu para pousar na minha coxa.

Subitamente, vejo um vulto dentro da casa pela porta de vidro que separa a casa do quintal onde estamos. Olho para Lana.

─ Onde é o banheiro? ─ pergunto, já me levantando.

─ Segunda porta lá em cima.

Praticamente corro para o interior da casa, o suor escorrendo pelas costas, e consigo pegar Love pelo braço antes que ela passe pela porta da frente.

─ Me solta, Vinnie. ─ ela pede.

Seu tom de voz não é raivoso. No máximo, magoado. E isso me machuca pra caralho.

─ Love...

─ Não faz isso, por favor. Volta lá pra fora, Lana deve estar te esperando.

O que eu quero dizer é que não dou a mínima para Lana, que não me importo se ela está me esperando ou o cacete a quatro. Eu me importo, no entanto, com essa garota loira baixinha na minha frente que tem os olhos brilhando por lágrimas que ela teima em não deixar cair na minha frente.

─ Love, você não entende...

─ E o que tem para entender, Vinnie? Hum? Você marcou com a minha irmã primeiro, certo? Tudo bem. ─ ela mexe os ombros, fazendo pouco caso.

─ Não tá tudo bem, Love! ─ exalo, passando a mão pelo cabelo. Você me odeia. Nunca mais vai querer falar comigo. E isso me desespera um pouco. ─ Não tá.

Love me encara pelo que parece uma eternidade. Uma única lágrima cai, e sou rápido ao estender minha mão e limpá-la. Ela não se afasta, não diz nada, só me olha.

Me diga o que você está pensando, Love...

A imagem do que poderíamos ter sido passa diante dos meus olhos. Porra, porra, porra!

─ Love?

Uma voz grave assusta a nós dois. Olho para a esquerda, a minha mão - que ainda estava no rosto de Love - cai para o lado do meu corpo. Examino o cara de cima a baixo, tomando nota do seu tamanho semelhante ao meu, suas roupas largas, sua expressão de curiosidade.

─ Tudo bem? ─ ele pergunta, chegando mais perto.

Love se afasta de mim, chegando mais perto dele, e algo em meu peito dói pra caralho. Quero perguntar quem é esse cara, de onde ele saiu, mas não posso.

─ Agora está. ─ ele passa um braço pelos ombros dela, e sou obrigado a forçar minha mandíbula para não reagir verbalmente. ─ Não deixe minha irmã te esperando, Vinnie.

Observei a todo momento enquanto Love se afastava com ele, entra no carro e some pela rua. Recuo alguns passos e fecho a porta silenciosamente, voltando para o quintal de fora.

Me sento no meu lugar e me obrigo a sorrir para Lana, engajar uma conversa com a mãe dela e fingir que minha garganta não está travada pela angustia de ter perdido a garota que foi minha melhor amiga pelas últimas semanas.


05pm

Eu já estava em casa há um tempo agora, deitado de bruços na cama e me espancando mentalmente por tudo o que aconteceu hoje.

─ Que fossa é essa que você se meteu, cara? ─ Aaron se joga do outro lado da minha cama, empurrando meu corpo. ─ A sogra não gostou de você? ─ zomba.

─ Me deixa, Liebregts. ─ resmungo, enfiando o rosto no travesseiro.

─ Ih, então é a TPM, né? ─ continua zoando, e eu respiro fundo. ─ Beleza, vai lá, bota pra fora.

─ Que conversa é essa?

─ Deixa de ser idiota, to falando dessa tristeza ai. Vai me contar o que rolou ou vou ter que te encher o saco mais um pouco? ─ me empurra mais uma vez.

Exalo forte, me sentando na cama. Olho para Aaron, que espera com expectativa. Amo esse cara, de verdade, somos quase como irmãos. E é por esse mesmo motivo que eu sei tudo sobre ele, inclusive o fato de ele não conseguir manter nada para si mesmo.

É eu contar o que aconteceu, e Jordan e Maddy ficarem sabendo meio segundo depois.

─ Não é nada, Aaron. Sério. Só cansaço. ─ me levanto. ─ Vou tomar um banho. Pizza mais tarde?

─ Pode ser.

Entro no banheiro com uma toalha no ombro e com o celular na mão. Na tela, encaro uma imagem. É um story do Instagram de Love, uma foto dela com Lola e Steph em um quarto, com uma travessa de comida e uma garrafa de vinho, mas, pelo espelho atrás das duas, vejo claramente quem tirou a foto: o mesmo cara que a buscou em casa mais cedo.

Meu coração acelera e meu estômago gela. Coloco o celular em cima da pia e prossigo no meu banho.

Como planejado, Aaron e eu pedimos pizza horas mais tarde. Devorei a minha metade muito rápido, fingindo que prestava atenção no reality show que passava na televisão.

Então meu celular vibrou do meu lado.

love: eu não te odeio
por que eu não te odeio?

Franzo a testa, confuso com o que acabei de ler.

love: acho que é o costume
é
é o costume

do que vc tá falando, Love?

love: eu achava que a irmã mais
nova era quem vivia na sombra da outra
não o contrário

vc não vive na sombra de ninguém

love: ah, não?
tem certeza, vincent?
não é a primeira vez que algo assim acontece
e com certeza não vai ser a última

Me levanto subitamente e vou para o meu quarto, procurando o nome dela nos contatos. Aperto para ligar e espero ela atender.

Ela não atende. Ligo mais uma vez, e nada. Na terceira vez ela me atende.

O que você quer, Vinnie? ─ sua voz sai baixa e embolada, e pulo da cama na hora. Por trás, ouço um barulho distante de vozes distintas.

─ Onde você tá? ─ pergunto, colocando o tênis nos pés. ─ As meninas estão com você?

Isso importa?

─ Me responde, amore. Você tá sozinha?

Ela demora quase um minuto, mas me responde.

Sim...

─ Onde? ─ saio do quarto e pego a chave do carro em cima da mesa, dando um olhar para Aaron que mostrasse que volto logo. ─ Onde, Love?

Ela suspira, como se estivesse caindo em si.

Eu não deveria ter te mandado mensagem. ─ ela diz, com a voz embolada.

─ O quanto você bebeu? ─ pergunto, entrando no carro. ─ E onde você tá, cacete?

Eu... não sei. Acho que umas três taças de vinho. Ou quatro. Não lembro muito bem. ─ ela ri baixinho. ─ Ryke me trouxe embora, mas eu não queria entrar ainda.

Ryke. Então esse é o nome dele.

─ Love, eu to te implorando, me diz onde você tá, por favor. ─ peço, minha voz por um fio.

Ela demora mais um minuto para me responder.

Naquela praça perto da minha casa.

Saio com o carro do estacionamento no mesmo segundo.

─ Eu to indo, ok? Não sai daí.

Eu não quero te ver, Vinnie. ─ ela diz, bem baixinho. Quase não escuto quando ela acrescenta: ─ Dói...

─ Eu sei, amore. ─ respondo, igualmente baixo. ─ Eu sei.

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