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vincent hacker
mar/12, 05pm

Amo sextas-feiras. Simplesmente amo.

Não me entenda mal, eu adoro estudar. Biologia forense é o meu sonho desde criança e poder seguir a profissão que eu quero é mágico, mas... porra. É cansativo pra caralho.

Por isso, amo sextas-feiras.

─ Você demorou. ─ diz Aaron. Tivemos uma iniciação de calouros juntos no nosso primeiro dia, e somos amigos desde então, mesmo ele estudando engenharia física.

Entro no carro, no banco do passageiro, e solto um suspiro.

─ Aula prática sempre toma mais tempo do que o esperado. ─ eu quase sorrio, lembrando de como acabei de gabaritar a folha de questões sobre propriedades sanguíneas. O processo foi nojento, tive que rasgar um braço humano e reformar as veias para fazer todos os testes, mas felizmente tenho estômago pra isso.

─ Eu nem vou perguntar qual pecado você cometeu na sala de aula hoje. ─ ele diz, enojado, enquanto toma a última tragada do cigarro entre os dedos antes de jogar fora.

─ Tenho certeza de que Jesus não aprovava o interesse de homens em mulheres casadas, mas isso não te impediu, certo? ─ eu provoco de volta.

No final do primeiro ano, Aaron acabou ficando com uma mulher comprometida em uma festa. Ele foi parar no hospital com um nariz e três costelas quebradas quando o noivo dela descobriu.

─ Eu já disse que não sabia! ─ ele resmunga, saindo do campus com o carro. Solto uma risada, e ele suspira. ─ Você quer parar em casa ou vamos direto?

─ Vamos direto. ─ dou de ombros. ─ Tenho certeza que o Jordan não vai se importar de eu usar o chuveiro dele.

─ E eu tenho certeza de que você vai espantar a Lana se aparecer com a blusa suja de sangue. ─ com o cenho franzido, vejo uma pequena mancha de sangue na manga da minha camisa. Devo ter manchado na hora de tirar as luvas, mesmo com a proteção por cima.

─ Ela sabe com o que eu mexo na aula, vai entender. ─ mais uma vez, dou de ombros.

─ Ela entenderia mesmo se você parecesse uma cópia de Carrie, A Estranha, coberto de sangue. Ela tá claramente apaixonada por você. ─ Aaron diz.

─ Cala a boca. ─ reclamo. ─ Somos... amigos que se pegam às vezes, só isso.

─ Mesmo? Porque a Maddy disse que ela não fica com ninguém em San Diego desde que vocês começaram a ficar.

─ Eu não fiquei com ninguém também, mas não por fidelidade ou sei lá. ─ eu retruco. ─ Não quero saber de namoro.

─ Mas se ela sugerisse, o que você diria?

Cruzo os braços e não respondo, acabando o assunto. Porque não sei o que responder – porque não sei o que diria.

Lana é uma garota linda, inteligente e engraçada, mas como eu disse, não estou pensando em relacionamento por enquanto. Quero dizer, é legal ter alguém para conversar, passar o tempo – e, obviamente, aliviar a necessidade humana de sexo –, mas toda a carga de um namoro não combina com a vida de universitário.

Encontros, jantares com a família, todo o tempo gasto juntos, tempo que eu não tenho. Eu passo vinte e quatro horas por dia estudando, uma namorada simplesmente não cabe na minha vida.


mar/15, 02pm

O meu final de semana foi... bom. Ficamos no apartamento de Maddy e Jordan, que moram juntos em San Clemente há dois anos. Contrariando Aaron, Lana não estava lá; Maddy disse que ela passou o dia com a mãe dela, mas ela se juntou a nós no sábado, quando saímos para um barzinho e depois dormimos lá de novo.

Aaron só não reclamou porque conheceu uma loira bonita no bar e levou para casa. A boa coisa é que o apartamento tem dois quartos, e ele ficou com o sofá.

Hoje cedo, me vi entrando na cafeteria e olhando ao redor, mas não encontrei o rosto agora familiar da garota que nem sei o nome. Mesmo assim, comprei um latte e fui para a aula.

Não sei o que me guiou até aqui, mas entro na biblioteca sob o pretexto de procurar um livro científico.

Espero por um tempo, mas não escuto nenhuma risada. No entanto, quando estou caindo na real e me espancando mentalmente por estar praticamente perseguindo uma desconhecida, uma melodia se instala bem baixinho.

É ela. O tom é exatamente igual à sua voz.

Não preciso procurar por muito tempo. Encontro a garota sentada no chão atrás da última mesa, com um headset cobrindo as orelhas e balbuciando a melodia. Ela tem os olhos, aqueles olhos verdes hipnotizante, fechados, então não me impeço de observá-la por um tempo a mais.

Ela é baixa, como percebi antes. E magra, mas não tanto. O cabelo dela parece ser uma mistura de marrom e loiro, não sei qual é o natural, e o arco do cupido em seus lábios parece perfeitamente desenhado.

Ela se assusta quando eu me sento ao lado dela – e eu me assusto também, quando faço isso por razão nenhuma.

─ Você me assustou! ─ ela coloca a mão no peito, enquanto a outra puxa o fone para baixo. Então ela sorri. ─ Será que eu devo chamar a guarda do campus? Parece que eu tenho um stalker.

Dou risada, apoiando a cabeça na parede.

─ Se você estiver se escondendo, é melhor não cantar. Fica mais fácil de te achar. ─ provoco, e ela bufa.

─ Eu não estava cantando. ─ ela diz, e eu franzo a testa.

─ Parecia uma música pra mim.

─ Era uma melodia, não uma música em si. ─ ela dobra a mão, me mostrando a tela do celular. ─ Era o que eu estava fazendo, definindo uma melodia. Não cheguei a lugar nenhum ainda. ─ ela bufa novamente.

─ Posso ouvir? ─ as sobrancelhas dela se erguem. ─ Não sou um crítico aclamado, mas uma opinião é melhor que nenhuma, certo?

Parecendo relutante, ela troca o headset por um par de airpods e me entrega um.

Ela da play e o som suave de piano enche meus sentidos, mesmo com apenas um fone. A guitarra entra a seguir, depois alguns acordes de baixo, até a melodia entrar de vez. É definitivamente a voz dela, mas sem nenhuma palavra clara.

Não dura muito tempo, entre um minuto e meio e dois minutos. Mesmo assim, é lindo.

Calmamente, tiro o fone e entrego de volta para ela, que me olha, tensa.

─ Você tem talento. ─ é tudo o que ela precisa para suspirar aliviada e sorrir. ─ Isso tá muito bom... ─ deixo a frase em aberto, finalmente vendo uma oportunidade de descobrir o nome dela.

─ Love. ─ quase pareço que imaginei a palavra, mas então ela acrescenta: ─ Meu nome. Love.

Ergo as sobrancelhas, surpreso. Não é um nome comum.

─ É, eu sei. Bem estranho. Meus pais se amavam tanto que não havia outra opção. Se você zombar de mim, não seremos mais melhores amigos.

Foda-se o silêncio, ninguém se importa mesmo. Solto uma gargalhada, e ela ri baixinho também.

─ É um nome lindo, Love. ─ eu falo, depois da onda de risadas, e Love cora. ─ O meu é Vinnie. Vincent, na verdade. Comum e entediante, pode zombar de mim.

Love balança a cabeça negativamente.

─ Eu nunca faria isso. ─ ela diz, e eu sei que é verdade. Mesmo se eu ainda não soubesse seu nome, eu ainda acreditaria. Ela não me parece alguém que zombaria de outra pessoa por diversão, e eu costumo estar certo sobre meu julgamento.

Love desvia o olhar, voltando para o celular.

─ Você projetou isso? ─ ela faz que sim. ─ Como?

─ Eu paguei vinte dólares em um aplicativo, com múltiplas funções de cada instrumento, mas o piano no começo fui eu que toquei e gravei. Consigo criar um instrumental do zero, mas mesmo que tenha muitas opções de sons, ainda são limitadas, nem todas combinam com o que eu tenho em mente. Nessa música, por exemplo, eu tenho certeza que vou mudar todo o arranjo que eu fiz, porque não achei que combinou com a letra.

─ Você entende que isso é incrível, certo? Criar uma música do zero, instrumental, melodia e letra... Eu não conseguiria nem se tentasse por um ano inteiro. ─ Love ri, bloqueando a tela do celular, mas não se levanta.

─ Tenha um pouco de fé em si mesmo. Eu também não conseguia até um tempo atrás. Passei um mês vendo tutoriais no YouTube, e mesmo assim errei várias vezes. ─ Love diz.

─ Mesmo que eu aprendesse, é inútil sem uma letra. Sou um gênio em artigos para a faculdade, mas música? Pff. ─ balanço a cabeça para enfatizar.

Love parece pensar por um momento, em silêncio e batendo os dedos no joelho repetidamente. Ela sussurra um 'foda-se' bem baixinho e se vira para me olhar.

─ Eu vou usar a sala de música pra terminar de projetar e incluir a letra. Você quer me ajudar? ─ ela pergunta rapidamente, como se tivesse juntando coragem, mas parece se arrepender quando não respondo imediatamente e não esboço reação, mas apenas porque estou surpreso. ─ Deixa pra lá. Você provavelmente tem coisa melhor pra fazer, esquece o que eu...

─ Eu quero te ajudar. ─ eu respondo. ─ Eu adoraria te ajudar, Love.

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