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Capítulo 3

Ricardo Moretti Greco

— Te pego às oito. — Ricardo me deixa ali, senti o vazio quando seu corpo se afastou. Antes de sair ele me dá um beijo no topo da cabeça e volta a entrar em seu carro.

Fiquei perto da praça Gianicolo enquanto esperei pela tal pessoa pegar a encomenda, os turistas estavam se aglomerando para ver as inúmeras estátuas do local, além de que, a visão era maravilhosa ao amanhecer.

Algumas crianças brincavam correndo, uma delas acabou se esbarrando em mim e caindo no chão. 

— Está tudo bem? — Os olhinhos da garotinha estavam cheios de lágrimas.

Ela balançou a cabeça confirmando e me empurrou para sair de perto de mim. Dois minutos depois, estava correndo para os braços de sua mãe que me olhou feio.

— É nisso que dá, querer ajudar alguém. — Resmunguei tentando mudar de foco. 

Olhei para o relógio em meu pulso, a pessoa já estava atrasada e eu, quase perdendo a paciência e indo embora. Quando percebi um homem vestido de forma elegante passar ao meu lado com um olhar suspeito e continuar caminhando, era essa a pessoa que esperava encontrar.

Segui os seus passos até os fundos do parque onde as árvores tinham umas folhagens mais densas. Ele parou de caminhar e retirou algo do paletó, segurei minha pistola no cós das calças, atenta a todos os movimentos do homem. De lá ele retirou um embrulho pequeno e cumprido, a embalagem parecia ter sido feita com papel de pão, de erta forma discreto e sem criatividade, poderia ter sido melhor embrulhar com um lenço. 

— Aqui está o que foi prometido. — O homem misterioso solta um sorriso estranho, senti minhas costas esquentar, havia algo de errado com ele.

— Meu pagamento? — Aproximei-me lhe dando o envelope com a quantia pedida.

— E Otallo? — Precisava ter a certeza de que tudo ocorreu bem.

— Desfigurado, à sete palmos do chão,  ou se preferir, devorados pelos vermes. — Sorri sentindo satisfação com o serviço feito pelas suas mãos, abrindo o envelope e conferindo o conteúdo. 

— Receberá a outra metade no próximo serviço. — Adiantei explicando.

— O combinado foi tudo. — Senti sua mão em meu pescoço, ele era ágil ao ponto de não ter conseguido decifrar seus movimentos,  então peguei em minha arma com mais firmeza. 

— Dante quer assim. — Retruquei. — Ele manda e apenas obedeço. 

— Para uma cadela, você fala muito. — O aperto no pescoço se intensificou, com a outra mão, ele estapeou o lado direito da minha face.

— Vamos ver se não irá pagar. — Puxei a arma da minha cintura e ele conseguiu tirar ela das minhas mãos. 

— A cadela estava armada? — Ele riu com deboche. Tentei me afastar, mas ele me imobilizou ficando atrás de meu corpo. 

— Você vai me pagar com dinheiro, ou... — Sua respiração espalhavam os fios soltos dos meus cabelos da nuca. Senti nojo quando sua mão desceu segurando meus seios, bruto, apertando e machucando.

Sua língua molhada passou pela beirada de minha orelha esquerda, poderia dizer que conseguia sentir  o odor potrefato de seu hálito alcançar o meu nariz, arrepiei por completo e de forma desesperada decidi me livrar de seus apertos inadequados. Bati minha cabeça no nariz dele que escorreu sangue no mesmo instante.

— Ah! Sua... — Ele cai no chão segurando o nariz.

— Não sou uma puta. — Respirei com tanta dificuldade ao ponto de estar com falta de ar.

Meu rosto esquentou juntamente de um calor febril por todo o corpo, olhei nos olhos do homem que tinha cabelos curtos e um bigode medonho.

— Se não é, quem seria então? — Respondeu com deboche se levantando do chão. 

— Se quisesse, colocaria sua cabeça a prêmio agora mesmo. — Ele riu de forma alta e escandalosa.

— Duvida? — Peguei minha arma ao meu lado bem a tempo de conseguir mirar na testa do verme.

— Homens machistas. Me dá nojo, pena e ódio! Mentes pequenas, hipócritas. — Seus olhos dilataram quando destravei a pistola.

— Nunca fomos o sexo frágil. Pode ter a certeza de que na Beleza, também há perigos. Espero não ter problemas com você,  caso o contrário,  terei que te dar um fim. — Seu olhar sobre mim era de ódio puro. 

— E quem seria capaz desse feito, você? — Gargalhou. Me aproximei sentindo o amargo subir no começo da garganta, a todo momento sobre os olhares lacivos e maldosos do estranho.

— Pietra Annunziatta, criada por Dante Greco, futura esposa, braço direito do filho primogenito. Posso fazer o que bem entender com você. — Seu sorriso foi se desmanchando conforme dizia tudo o que estava entalado na garganta. Deu um passo atrás mantendo o seu semblante sério. Engoliu a saliva e suor brotou de seu rosto pálido. 

— P-perdão. Eu não sabia. — Ri internamente. 

— Espero que seu chefe tenha se precavido de futuros danos. — As sobrancelhas do homem ficaram arqueadas.

— O que você quer dizer co... — O tiro foi certeiro, no meio da testa, entre as sobrancelhas e o osso do nariz.

— Bons sonhos babaca.  — Guardo o pacote e ajusto a pistola sobre o cós das calças. Olho mais uma vez para o infeliz e sigo meu caminho. Em outras sircunstâncias não teria corgem de fazer o que fiz, mas por se tratar de um homem sujo e que uqeria me tocar, nunca deixaria que o fizesse e o tiro foi realmente um golpe de sorte.

— Estou pronta. — Liguei para Ricardo que me parecia ocupado.

— E a encomenda? — Ele soou de forma profissional, deveria haver alguém com ele nesse exato momento.

— Estou levando até Dante. Depois disso, vou para o clube. — Ouço ele suspirar ou talvez estivesse cansado, mas eu também fiquei estressada com o que aconteceu e principalmente pela sua resposta seca.

— Qual dia vai ser? — Ele pareceu estar sussurrando.

— Sexta-feira, às sete e quinze. — Respondo prendendo o riso, em questão de memória, homens acabam precisando de uma ajudinha. 

— Estarei lá. — Ri com gosto, passei pelas pessoas na praça que pareciam não terem notada nada. 

— Não,  você não vai estar lá. — Desabafei. — Você só tem tempo para nós dois além desse seu cinismo.

— Me diz, ainda está buscando por pistas? — Ricardo suspirou alto. Atravessei a rua para ir na esquina da outra onde a movimentação estava mais calma. Algumas pessoas xingaram perto de mim me fazendo abafar o telefone contra o busto e depois retornar ele para o ouvido.

— Foi o que pensei. — Ri. — Mas isso não importa, eu preciso... 

— Pietra? — Dis preocupado. — Ficou quieta de repente. 

— É que eu... Não é nada não. — Olhei para onde uma figura masculina sumiu de forma suspeita, ele entrou em uma viela depois de um restaurante. 

— O carro chegou. Até mais tarde amor. — Desliguei a chamada vendo um Mustang preto estacionar em minha frente.

A janela é aberta e vejo um homem elegante no banco do passageiro, usava óculos de sol. Seu sorriso torto mostravam as marcas do tempo na pele, os lábios finos assim como o nariz.

— Dante. — Minhas pernas amoleceram.


— Entre querida.

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