16. Saia da minha frente!
Com Nyx por perto, Melina não pôde mais trancar suas emoções nas caixas que manteve no porão de sua própria mente. As rebeldes escapoliram-se, feito ratos indesejados que vagavam por aí em sua casa, te obrigando a encará-los e sumindo logo em seguida.
O passado... o A.E.E. e... Atlas.
Melina deitou-se sob a luz do candelabro. Estava no solo úmido e frio, mas isto ajudava a tornar seu corpo mais resistente, então não se importava, enquanto Nyx roncava, enrolada em um pedaço de pano velho no canto da caverna. O cheiro do passado impregnado nesta inusitada visita da prima... maldição. Melina sabia da extrema agressividade no coração de Atlas, porque infelizmente, para seu pesar, ainda sentia a raiva se agitar nas suas moléculas do alfa.
— Você é patética — falou com desprezo o ser intitulado de Daegon, sempre dialogando por pensamento — você ainda se permite ter esta nojeira de raça dos diamantes na cabeça. Você é um fracasso completo.
— Você nunca cala esta boca?!
— Quando toco no assunto do seu ex, você bem me dá atenção, pois, me escute bem, sua bastarda, eu te mato, se você se unir à ele de novo. Sua mãe resistiu à mim, durando um tempo até considerável, no entanto, você não é metade dela. Eu te mato em dois segundos.
Como Melina quis ter um bolo de fezes para enfiar goela abaixo de Daegon, mas apenas levantou-se, calçando suas botas, saindo da caverna e caminhando por entre os galhos e folhas no escuro da noite, sentindo o orvalho regar sua pele. O frescor do clima da mata lembrou-a daquilo que sua dor a fez enterrar junto com a cidade de Evelyn Tor: o frescor de Atlas, seu abrigo seguro por tantos anos.
— Frescor? — Daegon zombou — Ele é repugnante. O último que tentou te avisar sobre a malícia de um diamante, você matou. Pena que à mim você não pode, não é mesmo, querida?!
Ela revirou os olhos para o irritante ser, e andou sem rumo, apenas meditando, refletindo, parando sem querer diante de um riacho cristalino, onde pôde ver seu próprio reflexo:
— Dória, você precisa manter sua sanidade... e a minha.
— Este é seu jeito de não enlouquecer? Dória é um produto da sua mente. Você parece uma criança, Melina. Cresça, sua garotinha imatura, infantil — Daegon enraivecia-se — Acha que pode mesmo me manter trancado como você faz com seu espelho ridículo no bolso? — Melina então levou uma pontada aguda no peito, atingindo seu coração como se fosse uma agulha de injeção fina e dolorida. Seus pulmões falharam em puxar o ar, e Melina caiu de joelhos nas folhas, enquanto parecia ter sintomas de um infarto — me solte, sua puta! — Ele ordenou — Eu conheço cada detalhe do seu inferno, mas eu serei cem vezes pior do que seus traumas!
— Você... é só... um animal numa... Gaiola — ela disse com dificuldade, lutando contra Daegon. Seu corpo era o campo de batalha entre ela e o inimigo.
— Eu pressinto a hora que eu sairei. Ahahaha — ele riu, mas Melina, transportada para dentro de sua própria mente, se viu diante da criatura grotesca e feia que era ele, um minotauro de três metros de altura, chifres, calda, com uma pata cravada as costelas dela, apertando seu coração, no entanto, Melina estalou seus dois dedos, fazendo surgirem duas enormes correntes que puxaram os braços de Daegon para trás, enrolando-se com violência nos músculos bestiais do ser. Uma coleira fechou-se em torno de seu pescoço, retendo-o, quieto. Ela não mais seria atacada por ele. E voltou à floresta:
— Trabalho concluído com sucesso. Morra, imbecil — disse, encarando seus traços novamente no lago — Dória, nosso tempo de sorrisos está terminando. Saudades dos tabefes que você me dava, me colocando juízo — sim, Melina falava em voz alta consigo mesma, com seu reflexo — por que não me dá mais tapas na cara agora? Eu odeio toda esta baboseira que inventaram sobre o par, esta ligação inútil — Pegou sua própria mão e desceu a porrada em sua bochecha, contando dez tabefes — que droga! — Se encarou no lago — Os pensamentos intrusivos querem me dominar, Dória! — Ela falou para si — achar uma nova amiga? Eu realmente preciso me divertir com alguém. A Nyx? Nem pensar. Essa velhaca cheira à trapaça, pior que os filmes do Loki. Eu preciso de uma ômega decente e digna para ser minha aliada, e ok, Dória, vamos ter calma, ela vai chegar.
— Raaaawwwwwrrrr — Daegon rugiu, mas Melina meteu-lhe uma corrente como mordaça na boca, ordenando a ela que se apertasse. Sua mente era um lugar bem amplo desde que descobriu seus poderes.
— Dória, de acordo com os cálculos de Nyx, daqui quatro dias os forasteiros virão. Ela veio primeiro, deixando um rastro para que eles pudessem seguir e nos achar.
E acenou um joinha para Dória, nome que deu ao seu reflexo.
(...)
Red, ou Atlas, caminhou até a praça central da cidade de Lorota Créu, seu celular marcava três da madrugada. Suas pílulas ilegais e alienígenas o mantiveram apagado só por três horas, mas estava bom.
Ele sentou-se em meio aos flocos de neve no banco de concreto sobre o gramado, o céu estrelado revirou seu estômago, dando-lhe um certo mal-estar, e havia um ótimo motivo para isto. Ligou então sua audição, procurando algo que prestasse, e foi quando ouviu um coração bater agoniado, junto de risadas de deboche e piadas maliciosas de terceiros.
No beco próximo dali, três caras bêbados e malandros encurralavam uma moça, cercando-a contra a parede. A mulher tremia, tentando atingir eles com sua bolsa, enquanto as lágrimas rolavam pelo seu rosto. O primeiro, tocou a ômega na face, falando palavras vulgares, o segundo, recebeu, de repente e do nada, um soco nas costelas, dando para ouvir o crack de seus ossos se partindo. Nisto, os que restavam em pé sacaram a arma, enraivecidos e confusos.
Um pegou a mulher de refém, passando sua língua nojenta no pescoço dela, mas perdeu a cabeça logo em seguida, o outro, horrorizado, finalmente aprendeu a lição, correndo o mais depressa que pôde para se salvar, mas também caiu morto, já que seu coração agora estava na mão de Red. Ainda restando o último. Red pisou brutalmente no cara de costelas quebradas, o qual gemia no chão e matou-o também, esmagando-lhe com a bota.
— Você está à salvo, moça, deste infeliz incidente — O cheiro da mulher era de alívio, de gratidão. Os soldados caveiras patrulhavam os céus, mas Red, comprando-os com suas porções de ração canina, ganhava um pouco de sua liberdade — eu te acompanho, sozinha não é seguro. Mora próximo?
Quando ela veio para a claridade, seus cabelos cacheados e sua pele mais escura lembraram-lhe uma outra pessoa, a mesma que, com mais frequência, vinha perambulando indesejavelmente por sua cabeça nas últimas semanas.
— O-obrigada. — Falou a ômega.
Red estendeu a mão para a garota; ela pulou em seu pescoço, dando-lhe um abraço forte, ainda chorosa. Ele então se amargurou, pois no fundo não era esta a mulher que queria enroscada à si.
— Venha, não fique mais vagando à estas horas, tem muito lobo em pele de cordeiro — a ômega exalou uma fragrância não muito agradável. "Ora, ora, como este mundo é pequeno" Red pensou, certo de ser o odor exato de alguém com quem ele acertaria contas mais tarde, "então ele está em Lorota Créu" concluiu.
— Eu sou uma repórter investigativa, quer dizer, eu sou aprendiz — a mulher explicou, mostrando suas credenciais, enquanto seguiam lado à lado pelas calçadas desertas do centro — precisei vir arrombar um escritório e conseguir evidências contra um político corrupto ou então seria demitida — Red escutou-a, não custava nada.
— Fui seu anjo por um acaso.
— Você foi. Nem sei como te agradecer.
"Mas eu sei."
Chegando no edifício da ômega, se despediram. Agora Red sabia onde a mesma morava. Seus nervos então se inquietaram, porque o tempo devia ter apagado seu passado com mais capricho, mas não o fez.
"Inferno". Ele se dirigiu ao bar de sempre, localizado à três quarteirões da rua que residia. Lá, três aliens se encontravam caídos em suas poças de baba com garrafas ao redor.
"Vou me entupir de algo" estava bravo, pois flashs perturbadores de seu antigo relacionamento piscavam diante de seus olhos. Red rosnou ao sentar-se no balcão, mal humorado, nisto, o único atendente, um jovem coberto de penas de urubú pretas, por ser um alien, veio rapidamente servi-lo, trêmulo, mal podendo mirar-lhe nos ferozes olhos. Fez tudo de cabeça baixa como um escravo.
Os hormônios de agressividade exalavam naturalmente seu cheiro dominador, enquanto Red admirava a reverência com a qual era tratado, como à um rei. Escolheu o que quis, acumulando drinks no balcão, bebendo um após o outro em busca da sua tão cara paz, e ninguém ousou incomodar-lhe, pedindo dinheiro pelas bebidas, pois o funcionário da semana passada, burro o suficiente para fazê-lo, cobrou-lhe um pix ou qualquer coisa, terminando com seus miolos espalhados neste assoalho. O cheiro de cérebro podre ainda pairava no ar, petrificando o urubú ambulante que, de costas, secava copos.
— Tá ligado que eu adoraria fritar o seu rim, não é? — Red disse, e o alien acenou que sim, quase implorando pela vida — responde com a boca, porra!
— Si-sim, sen-nhor, vo-você que ma-manda!
— Belo cachorrinho. Eu quero que você lata.
— Au, au, au, au.
— Bom garoto — Atlas sorriu, altivo — seus órgãos me darão uma boa grana.
O urubú caiu de joelhos, em prantos:
— Po-por fa-favor, e-eu fa-faço qualqué-quer coisa.
— Limpe meus pés com sua língua. Eu quero ver meus sapatos brilhando.
— Você é só um valentão falido! — Falou uma terceira voz, e quando Red se virou, sentiu toda a imponência que desafiava-o. O vento soprou diferente a partir do momento que este novo indivíduo pisara no local:
— O Azulão do castelo — Red cruzou os braços, na postura de segurança mal encarado — poderes a ver com o vento, hum, curioso — ele acariciou o queixo — você quer evitar uma briga, posso sentir, veio então para que até mim? — Red estudava-o, farejando apuradamente cada intenção contida no cheiro neutro do rapaz, pois apesar de estar sem odores, Red lia-o — é esperto, porque os soldados caveiras poderiam te torturar à qualquer momento se te pegassem sem a coleira, você quer evitar chamar a atenção, entendo, mas deixa eu te contar uma coisa — estavam há quatro metros de distância, agora, porém, não mais, mas há apenas alguns centímetros um do outro, já que Red, muito rápido, reduziu o espaço entre eles, mirando seu olhar avermelhado no azul, cara à cara — eu sou pior do que qualquer soldado!
Red avançou sobre o oponente, empurrando-o na parede com o braço em seu pescoço, ouvindo o outro resmungar:
— Calma aê, calma aê, você tem razão, não quero brigar, mas te digo, você tá se tornando um botijãozinho de gás, meu chapa.
— Eu até tinha um lado doce — refletiu Red — mas eu comi.
Ele apertou o pescoço do Azulão, no entanto, este já havia escapado, sentando-se sobre o corpo de um gordão, caído no bar:
— É tão idiota isto, você vê graça em maltratar animais. Com todo respeito, urubú — O cara do cabelo azul disse, ajeitando seu topete com o pente que tirava do bolso — É muito difícil não perder a beleza quando se luta. Entre brigar e ficar bonito, eu prefiro ser bonito.
— Veio me distrair então, atração de circo? — Red falou, já usando sua velocidade para pegá-lo de novo, avançando sobre o mesmo, porém sentiu o escape tão rápido quanto seu ataque. Red parou sobre o gordão, avistando o Azulão agora no balcão, bebendo da sua bebida favorita, esvaziando seus copos. Seu sangue ferveu — não toque no drink que não te pertence. Vou te fazer respeitar o que é meu, ou isto seria um prenúncio do que você vai ser para mim, sempre pondo suas mãos imundas no que não te pertence?!
— Bah, você quem tá lento para entender, eu salvei a ave de mau agouro — o azul respondeu, acariciando a cabeça do pobre atendente urubú, poupado da humilhação de lamber sapato — mas não me responsabilizo se algum pai de santo vier atrás dele. Tinha um anúncio outro dia no jornal, procurando galinha para a macumba. Ele é o cover de uma galinha preta. É igualzinho.
Red rosnou, produzindo um machado de diamante vermelho, o qual permaneceu preso à sua palma, enquanto carregava-o sobre o ombro com apenas uma mão, dizendo:
— Nestes três anos de dominação da Terra, eu aprendi, meu caro, que pessoas são como árvores, elas caem depois de muitas machadadas.
— Será que se eu empurrar alho na sua boca, eu te mato, espírito ruim, assombração?!
Um pequeno redemoinho formou-se entre os dois indicadores do Azulão, que manipulou o vento como se fosse usar seu poder:
— Seria uma pena se eu destruísse o único bar que te distrai, não? — Azulão ameaçou, sorrindo presunçoso e jogando o redemoinho no balcão, partindo-o ao meio, destruindo parte das bebidas na prateleira logo atrás. Red odiou-o, já o atendente urubú tremia, choramingando debaixo de uma das mesas, com as mãos na cabeça — Eu deixei você nervosinho, foi? — O Azul provocou, mas Red bateu com o machado, implacável, no estômago dele, nas costas, nas pernas, nas costelas e, no fim, o homem continuou intacto, pois, à cada golpe, manipulara o ar em torno de si, tomando-o como escudo, amortecendo o choque.
— O que você quer, sangue ruim de quenga? — Red cuspiu.
— Só quero passar um tempo contigo, sabe? Eu tô muito carente.
— Compra uma Bárbie então.
Eles se atacaram de novo, rolando pelo chão, se socando. O Azulão afastou-se, jogando um redemoinho da altura de um homem em Red, mas ele puxou o gordão na sua frente, fazendo-o de escudo, no segundo seguinte, porém, Red metia as costas do azul na parede, desabando-a, até que o azul o lançasse contra os cacos de vidro das garrafas.
— Ô incompetente, eu só quero conversar um pouco — o Azul insistiu.
Red viu um genuíno interesse nas íris deste alfa, um interesse até mesmo... sórdido e traiçoeiro com a sua pessoa. O que ele pretendia, afinal? Se perguntava.
— Diga. Julgarei se vale à pena ou não — Red consentiu antes que seu bar desmoronasse. Ele desfez-se do machado, sugando a vitamina C vermelha de volta para os seus póros e procurou por alguma bebida útil nas estantes. Álcool nenhum embriagava-o, mas dava-lhe a sensação de uma calmaria de brisa ao mar.
— Como sabia que eu era um agente duplo? Você leu minha mente? — O Azulão questionou.
— Doido para saber sobre meus poderes. Você vai virar uma múmia esperando, e eu não contar.
O Azul deu de ombros, enquanto Red sentava-se em um banco que sobrou inteiro, bebendo seu rum direto no gargalo.
— O chefe do castelo, aquele que você matou, está vivo — o Azul informou.
— E você vai me relatar o motivo? — Red se intrigava.
— Eu não seria do time daquele cara nem em outra dimensão, mas ele tinha ligação direta com Botijão Negro de Gás, e eu precisava mapear os poderes deste vilão, anotá-los, descobrir mais à respeito, então me disfarcei de um de seus empregados. Eu agi para obter respostas, e deu certo. Você acabou ajudando também, que infortúnio — o Azul ajeitou seu topete, se olhando no reflexo de um dos vidros quebrados no assoalho — Botijão Negro de Gás parece que pode ressucitar seres.
— Mas devem haver regras — Red falou — Ele não pode ressucitar qualquer morto, ninguém pode, tem que ser um tipo específico de morto, talvez alguém que faça algum pacto com ele, ou carregue consigo um objeto especial, um pertence dele, eu sei lá. Já que você é o investigador, descubra. Mas, tanto faz, nem sei para que eu usaria este tipo de informação.
Seu celular tocou, era Noah, o único que tinha o direito de ligar-lhe.
— O que foi, garotão? — Red atendeu.
— Achou o sabor que você procurava, abacaxi com menta?
Doeu em Red ver o de abacaxi espatifado no assoalho.
— Acidentes aconteceram. Usou a caneta?
— Sim. Graças à ela, estou livre da coleira, obrigado. Pera, você arrumou confusão? Eu quero te ver jogando vídeo game comigo, comendo pipoca e zuando os romances bestas dos filmes sobre o par, não quero você batendo nos outros, foi para isto que te dei um boneco inflável de monstro. Eu comprei um para mim também, só falta encher, me ajuda? Eu tenho o pulmão de uma senhora de 90 anos.
— Você é um menino muito perspicaz.
— Eu sou, eu fiz sopa de letrinhas, ajudei a velhinha do sétimo andar a subir com as compras, ela apertou minhas bochechas e eu me senti um ursinho. Deu saudades da namorada que nunca tive. Enfim, Atlas...
— Nome errado.
— Red. Vagalume está com saudades, vem para a casa?
— Eu vou.
— Mentiroso. Vou ir te buscar com Vagalume, vou te dar umas bolachas, você gosta de trakinas, certo?
— Não venha — sua voz ficou séria. O Azulão não era de sua confiança, jamais exporia Noah ao perigo gratuito, trazendo-o para a sua presença com um rival aqui.
— Eu quero beber com você qualquer dia, mas não quero ficar doidão, Red... da última vez, fiz um strip e todo mundo viu minha sarda da sorte na lombar. Eu morri de vergonha.
— Eu não vou deixar você passar vexame se encher a cara comigo, agora durma, amanhã você tem deveres.
— Estou preocupado com você.
— Durma! Depois falamos. Estou tratando de negócios.
Red desligou.
— Quem te viu e quem te vê! — O quarto sujeito disse, sem medo do alfa carrasco, ousando pisar no mesmo estabelecimento que ele.
— Filho da puta! — Red viu o maldito ao lado do Azulão na única porta do bar. Trabalhavam juntos. — Por isto me manteve aqui, para que eu não ouvisse este desgraçado chegar?!
Era o seu primo, Carter, trazendo toda aquela bagagem emocional terrível de seu passado. Odiava encará-lo, pois tudo deu certo para Carter, enquanto nada deu certo para Atlas depois de segui-lo.
— Pode ir, Patrick — seu primo falou para o Azul.
— Tem certeza?
— São assuntos de família — pontuou Carter — Não importa o quanto eu grite, não volte para cá, está tudo sob controle. Faça exatamente o que já combinamos — o Azulão acatou, se retirando, deixando-os à sós.
— Mandei nunca mais vir atrás de mim — Red lembrou-o — mas já que quer me fazer infeliz, seja recíproco! — O desfecho não poderia ser outro, Red enforcou Carter, metendo a cara dele contra os vidros da estante, quebrando-os, vendo o sangue escorrer — Você é tão fácil de matar que nem graça dá — Atlas jogou-o com o queixo no solo, pisando na sua goela — até meu cachorro resiste mais do que você.
— Só... por... que... — Carter estava rouco, zonzo, machucado — eu... não... quis... — ele falava com dificuldade — aprovar seus métodos... sobre o pólen vermelho, eu não quis... usar... como você...
— Frouxo, você só sabe falar disto há três anos — Red enfiou os dedos dentro da boca de Carter, puxando-o — vou quebrar o seu maxilar, sente que gostoso.
A mulher de seu primo, Jurema, uma índia, e seus dois filhos gêmeos, adolescentes de 14 anos, chegaram no bar, desesperados, indo para junto do pai, procurando defendê-lo, mas antes que pudessem terminar a palavra "pare", eles atravessaram a parede, quebrando-a, arremessados para a rua:
— Imbecis! — Red disse, pegando o primo pela gola de sua blusa — o pólen vermelho me devolveu todos os meus poderes, diferente de você, seu frutinha covarde, que virou um humano comum e patético! — Novamente Jurema se aproximou, voltando para a cena, tentando afastar Red do seu marido, porém, ele cuspiu em sua cara, repelindo-a.
— Aaaaaaah, meus olhos — a ômega gritou, esfregando as vistas, já que a saliva de Red era cítrica e queimava.
— Não encosta nela! — Falaram os gêmeos, correndo de lá fora até a mãe; já Carter foi lançado no assoalho e Atlas pôs o pé em sua nuca.
— Estou de saco cheio de vocês me incomodando no meu bar, vou fritar todos na panela!
— Chega, por favor, não queremos brigar — implorou Jurema, a índia de pele morena e cabelos lisos, negros, pondo-se no chão, junto ao seu marido. Curvou-se em seguida para Red, ajoelhada, prostrada com a testa em terra.
— Sua mulher sabe como me tratar, Carter, pode ser que à ela eu escute.
Jurema fez sinal para os gêmeos que se curvaram também. Red curtiu aquilo. Todos se ajoelhando para ele. A índia, Jurema, aprendera a como usar do ego masculino para atingir seu objetivo; ela encheria a bola de Red e, no fim, seria ele a pessoa dobrada para a mulher, não mais ela para ele, pois à tudo o que pedisse e solicitasse, seria atendida, bastava inflar o ego de Red.
O instinto alfa sempre querendo ser o superior, estar no topo, então okay, Jurema tiraria vantagem disto, pondo Red na posição de cabeça, o membro de maior altura do corpo, mas, no entanto, todavia, Red não perceberia que ela é quem seria o pescoço através de sua submissão, direcionando a cabeça para o lado que bem quisesse.
Ele estaria na palma de sua mão, não o contrário. Esperteza pura a da mulher, se abaixar para terminar no auge.
— Carter precisa falar com você, por favor... — informou a índia.
— Resposta errada.
— Eu preciso falar com você, meu rei, eu imploro... — Jurema quis acalmá-lo. Seu aroma de coragem, de mulher valente, doce, invadiu-o; ela era mais viril que o palerma de seu primo. Ferômonios de um passeio de canoa pela natureza entraram nos pulmões de Red, aplacando-lhe.
— Seu rebaixamento é tão lindo quanto sua falsidade, gracinha — respondeu Red — Fale logo, porque se eu beber isto aqui quente, tripas vão arrebentar — ele sentou-se de volta no balcão, tomando da sua bebida, cada vez com mais sede — preciso de gelo — o bartender urubú correu, trazendo um baita saco de gelo, e Red pôs na sua caneca de vidro, apreciando o sabor do rum mais gelado.
Carter, agora socorrido, se recompunha, abraçado por seus gêmeos e esposa, enquanto um dos filhos colocava-lhe curativos.
— Me desculpe se eu for inconveniente, mestre Red — disse Jurema — eu trouxe essência de menta para você experimentar outros sabores de bebidas — ela retirou dos bolsos de seu vestido os saquinhos, estendendo o braço para Red, mas quem apanhou e levou até ele foi o atendente — sei que vai adorar, é apenas um presente, depois te mando mais alguma coisa que você preferir.
— Que tal você, gracinha?!
Carter rosnou, mas Jurema não deixou ele reagir.
— Peço que meu rei não se irrite com sua serva se ela tocar em um assunto inconveniente — disse a índia — mas é que viemos te procurar para pedir um imenso favor, e eu vou precisar dizer aquele nome que você não queria mais ouvir... — antes de Red racionar, ela completou — precisamos encontrar o Kléber.
A menção deste nome tirava-o do sério, a ômega borrifou então rapidamente sua essência pacificadora no ar, querendo manipulá-lo com a sua doçura, porém, no entanto, todavia, nada desagitou as moléculas inquietas no sangue de Red, nem a vitamina C, cítrica, raivosa, em suas veias.
— Vou entregar aquele maldito para vocês e só aceitarei falar com Jurema de agora em diante, caso precisem — Red encheu o lugar com seus hormônios de interesse na ômega.
Carter foi afrontado, mas não pôde reagir, teria que ser corno manso.
— Tio... — um dos adolescentes disse, incrédulo, com saudade daquele homem brincalhão e atencioso que Atlas era, amigo, protetor, cuidadoso, mas o alfa revirou os olhos, achando ridícula esta família. Esses garotos enojavam-lhe o estômago de tão parecidos que eram com Carter.
— Eu te disse que seu tio tinha mudado, meu amor, depois falamos mais à respeito — Jurema cochichou para o filho, querendo consolá-lo, abraçando-o, ainda ajoelhada ao lado dos meninos.
— O que vocês pretendem? — Red indagou, mas Carter não queria contar na frente do alien bartender — quem autorizou você à se pôr de pé, Carter? De joelhos, agora.
Jurema tocou com doçura na panturrilha do marido, que, muito à contragosto, obedeceu. Nesta hora chegou Noah, presenciando a família que adorava Red como à um deus.
— Oh, meu Pai! — O garoto falou, vestido com seu suéter cinza; estava com o crachá no pescoço, pois em breve iria para o serviço de efeitos especiais — o que se passa aqui?
— Estamos brincando de passear no bosque, Noah — falou Red — vem comigo cantar ciranda cirandinha, vamos todos cirandar.
— Estamos montando uma equipe de resistência ao domínio de Botijão Negro de Gás sobre a Terra. Eu vi uma brecha pela qual podemos nos livrar dele — Carter desembuchou, mas Red riu, inconformado:
— Você é, além de louco, muito estúpido, tanto que eu não sei como essa ômega te ama, fala sério, Jurema, você tem fetiche por burros, por asnos?! Se quiser, te apresento um da fazenda do meu tio, porque aquele é mais inteligente do que Carter.
— Oras, seu...! — Carter se irritou, mas engoliu uma à uma das palavras quando viu o olhar vermelho e raivoso de Atlas, que não estava para brincadeiras. Então, deixando de lado seu orgulho ferido, quis falar civilizadamente — temos uma...
— Cala essa boca. Sua voz é um nojo. Deixe a sua graciosa e linda esposa me responder — Red estendeu a caneca e o bartender encheu-a de mais bebida, pois já conhecia seu gosto pessoal e punha as que ele gostava, sem nem precisar perguntar.
— Mestre, meu amo, soberano — Jurema disse.
— Mais falsa que meu amor pela humanidade — Red interrompeu, dando de ombros, bebendo.
— Temos uma pessoa infiltrada com Botijão Negro de Gás — Jurema prosseguiu — ela é um dos braços direitos dele, mas está conosco, nos passando informações, trabalhando ao nosso lado.
— Vocês deliram, minha querida. Não seja arrastada pelas vãs palavras de Carter como muitos foram. A espiã arquiteta é o fim de todos nós, é tudo um teste. Botijão Negro sempre está um passo à frente, eu aprendi à duras penas esta lição — Atlas falou, dando uma golada na bebida. Sentia-se como em uma rede à se balançar, e por isto, gostava de beber — o esquadrão inteiro de Carter foi morto na última tentativa de rebelião, mas o líder, ele, se safou, como sempre. Põe os outros para lutar e fica só na retarguarda, vendo se dá certo ou não. Em todos estes anos houveram guerreiros acreditando no blá blá blá do seu marido, gracinha, e foram eliminados um à um. Não se lembra de quando voltamos para a Terra, onde Carter tentou resistência e matou mais de 20 heróis na batalha? Mas vaso ruim não quebra mesmo, não é?!
Red ouviu o coração de Noah bater diferente, acendido por uma faísca de esperança como se já estivesse envolvido nesta missão até o talo. Eles tinham conseguido contato com o garoto muito antes. "Malditos".
— Você fala a partir da sua mágoa e dos seus sentimentos irracionais! — Carter rebateu.
— E você fala visando que os outros paguem o preço por você! Escroto do caralho! Eu nunca colocaria Noah na reta do inimigo, mas você, veja, leva os "que ama" para a destruição. Burro, inconsequente, marica!
— Red... eu...
— O que, Noah? Nem pensar você vai com eles!
— Queremos só salvar o mundo, você nos entende? — Um dos gêmeos perguntou para Noah, que se absteu de responder. Ele já sabia da treta enorme em lidar com este assunto na frente de Red.
— Vieram me recrutar — Atlas debochou, percebendo as intenções da família — Eu tô pouco me fodendo para este mundo — rosnou, já sabendo que aquilo que ele considerava seu mundo, tinha-se ido para sempre.
— Tio, pense, com você na equipe, teremos um adversário à altura de Botijão Negro de Gás — um dos gêmeos falou com cautela, mas empolgado — seu poder é imbatível. Dentre todos os aliens que encontramos, você é o mais poderoso.
— Lamento, tô indisponível, mas valeu pelo bom gosto — Red respondeu.
— Você me culpa — a voz irritante de Carter voltou a falar — mas eu te peço perdão por tudo!
Red achou o cúmulo.
— Engula seu pedido de perdão. Só dou um aviso: esqueçam que Noah existe. Para levá-lo, vocês vão ter que me matar primeiro, querem tentar?! — Então Red concentrou-se logo, agitando seus tímpanos com a vitamina C que circulava no seu organismo, isolando um à um dos batimentos na Terra, para finalmente encontrar o que tanto eles queriam... Kléber. Red achou o palpitar amargo do coração do seu ex-irmão, e mediu a correta distância, no seu mapa mental, entre ele e o alvo — a pedra que vocês procuram está escondida na casa dos meus pais adotivos naquele buraco que é Evelin Tor.
Red queria-os fora o mais depressa possível. Os quatro deram-se por satisfeitos, agradecendo e saindo.
— Não se esqueça, Jurema, você tem passe livre comigo — ele provocou, respirando a paz com a nova leveza do ambiente pela partida da família — Tome — Red ofereceu cervejas alienígena da geladeira à Noah — vai precisar.
— Eu... — Noah sentou-se sobre o cara gordo, ao lado de Red, fechando os punhos sobre o colo, decidindo-se ou não à falar.
— Não. Esta é a minha resposta para você.
— Você não vai me perder se eu for também, Red. Eu já sei me virar. Sou um adulto, você elogiou o jeito que eu aprendi a lutar.
— Como era mesmo o nome daquele seu amigo? Steve? — Red bebeu mais.
— Aquilo foi diferente — Noah realmente estava sem argumentos.
— Ele entrou no quinto grupo de rebelião dos aliens, e hoje jaz à sete palmos da terra, junto dos outros 50 heróis, não se esqueça.
— Estes cinco grupos não tinham a vantagem.
— Que vantagem?
— Uma espiã.
— De fato, você estava de lero lero com o grupo de Carter, se comunicando com eles pelas minhas costas.
— Deixa para lá. Você tem razão, Red. Eu não vou com eles. Irei focar meus poderes em outras coisas. Eu só queria ser um herói, só isto, mas não tem mais espaço para heróis no mundo de hoje, não é mesmo?!
— Eu prefiro você magoado, Noah, mas vivo, são, salvo e bem. Você foi tudo o que me restou. Não sabe nem um por cento dos horrores de uma guerra.
E este papo se encerrou.
(...)
Entre árvores que balançavam, folhas úmidas no chão que voavam junto do vento que sibilava ao seu redor na tarde nublada, Patrick, ou Azulão, seguiu o rastro de energia invisível deixado na mata da Irlanda, chegando até um local específico, onde avistou uma fogueira recém-apagada e uma caverna. Melina então apareceu de entre as árvores, prestes à atingi-lo com sua energia azul se não se indentificasse:
— Quem é você?
O Azulão, alfa, observou bem a bela mulher, achando atraente sua determinação e braveza:
— Estou com Nyx. Segui a marcação que ela deixou e te achei. Você é o nosso passaporte para o planeta Zi. Prazer, sou Patrick, Melina.
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