13. Encontro romântico II
ATLAS CEBOLA COM TORRESMO
Ele fechou a cabine traseira da limusine para que o motorista não os escutasse. Uma angústia tomou-o, no entanto. Era uma briga de muay thai contra si mesmo, Vigilante Limão e ele se esmurrando no ringue, disputando quem prevaleceria.
— Eu sei que tem algo te incomodando, mas à mim também — Melina chamou-o com suas palavras — Posso falar primeiro, enquanto você... bem... se esfria? — Como ela sabia que um pequeno conflito interno se iniciou em Atlas? A pequena ômega enganchava-se em seu braço; um carinho bobo, do qual ele nunca queria sair. Os dois apenas silenciaram, viajando grudados, entre beijos e afagos, até que a limusine brecasse no seu destino.
Atlas desceu primeiro, estendendo a mão para sua amada, que aceitou, acompanhando-o. O coração da morena era gostoso de se ouvir; a expectativa e a paz batiam nele, Atlas nunca se cansaria deste som.
— Você sabe como eu amo verde, Melina — de fato, se encontravam na entrada de um parque Florestal. Os seus portões fechados foram abertos por um simpático guarda — e aqui, nada de sapatos — Atlas caminhou pela trilha que cortava a grama, sentando-se no primeiro banco de concreto que surgiu, retirando o próprio tênis e a meia, deixando-os ali e, em seguida, abaixou-se para delicadamente remover os sapatos da sua ômega.
— O que? Você não quer me fazer andar descalça neste matagal, Cebola com Torresmo Frito! Ai, meus pézinhos!
— Estamos no lugar fechado, selado, somente para nós dois, por que será? — Atlas deu-lhe selinhos molhados — para nós ficarmos à vontade, princesa... confia em mim — disse, conduzindo-a de mãos dadas pelo gramado fofo, abandonando as trilhas — isso vai curar aquela dor nas costas da qual você sempre se queixa. Andar descalça na terra faz milagres. Eu só tô... cuidando de você... boba... posso?
Melina quase escondeu as bochechas.
As árvores farfalhavam ao redor; haviam alguns pássaros escondidos em seus ninhos; a temperatura era amena, nada de frio, nem de calor. A lua os observava, estática, e alguns morcegos voavam em volta dos galhos lá em cima.
"Um parque florestal, pois é." Ele pensou.
— Melina, você vive 24 hrs numa corrida maluca de CEO — falou o alfa — eu sei que correr te deixa com estas lindas pernas, mas... você faz força de camuflar, só que eu sei como você vive à atender telefonemas, vive à lidar gente estressante, com mares infinitos de reuniões, de projetos, de propostas, de pesquisas, ciência, biologia, química, etc, que sua cabeça cozinha, e esse bife já está passando do ponto. Tá tostando demais. Nada de cérebro queimando, pedindo arrego. Sua rotina é de tensão, ela te aperta, sem te abraçar. E eu só quero que hoje você esvazie as mãos, que jogue tudo para o alto, que desligue o celular e curta comigo, que tenha paz de espírito.
Alguns stalkeavam seus crushs nas redes sociais, Atlas o fazia pela super audição, por isto conhecia os afazeres da ômega e seus deveres de cor e salteado. A morena nem suspeitava.
— Como você sabe tudo isso? Quem é o espião que você contratou, Cebola com Torresmo? Minha secretária trabalha para você e não para mim, não é? E eu adoro ela, hein! — Melina estreitou os olhos, pensativa, exalando um odor de flores, o qual Atlas respirou com gosto. Sinal de boas emoções no peito da Lewis.
— Não, princesa, não! A beta é 100% fiel à você. Eu só achei que um pouco de natureza, de ar puro e de um silêncio amigo te fariam bem. Olha. Você pode vir aqui outras vezes, ficar consigo mesma, se desligar da tomada, do seu modo 220, fugir da inundação do mundo, do dilúvio de informações que quase te afoga todo dia, do cansaço mental de Maylo sobre você, dos seus investidores chatos e daqueles alfas tarados, idosos e babões, te secando — Atlas revirou os olhos, e Melina apertou a bochecha dele:
— Aty — apelido carinhoso que ela acabou de inventar — o que significa isto? — Ambos pararam em frente à uma trilha de velas cheirosas, que apontavam em uma direção específica.
— Advinha! — O alfa abraçou-a na cintura, encarando o profundo dos seus dois lustres cristalinos, seus olhos, e, mais uma vez, se beijaram, apaixonados — Adorei o apelido, linda. Me chame sempre de Aty.
Ele sentia-se bêbado, sem tomar álcool. E se perguntou por quê o maldito dever o chamava para a missão. Atlas embarcaria, daqui a pouco, com os outros heróis, separando-se de Melina, sabe-se lá por quanto tempo, então esforçou-se por caprichar em cada detalhe do encontro, querendo ser inesquecível. O perfeito para a mulher perfeita, a sua namorada!
— Céus, você ferra com meu juízo, Aty — ela amou-o chamar assim — Você simplesmente não pode ser de verdade! Onde é que ainda existem alfas como você?
A morena puxou-o pela trilha de velas, querendo saber logo onde ia dar. No meio disto, porém, um coelho pulou nos pés deles, e a ômega gritou no susto.
— Tadinha, vem cá — Atlas deu um protetor abraço na amada. Uau, ainda estava acostumando-se com a palavra namorada.
— Pensei que fosse uma cobra, ou coisa pior, uma barata de 2 metros! — A ômega falou, cheirando à medo, enquanto Atlas apanhou o bichinho fofo, afagando ele nos braços, sorrindo feito besta, como se fosse pai do coelho, penteando os pelinhos do animal com seus dedos.
Pensando bem:
— Aty, vamos adotar pra gente, vamos, vamos, vamos?
— Eu vou te comprar um coelho amanhã, pronto! Ou até trezentos coelhos, você quem decide. Que tal um zoológico inteiro?
Vez de Melina apertar a bolinha de pelos, sem coragem de botar no chão de novo. Queria levar para casa com ela.
— Ele pode ser nosso bebê — disse Atlas — Vamos chamá-lo de Nonô — e começou a brincar com as orelhinhas dele — Nonô lindo, coiso gordo. A mamãe te conheceu hoje, mas já te ama, você é o menino dela agora — ele completou.
Nonô mexeu os bigodinhos, se esparramando no colo de Melina como se gostasse dos carinhos.
— Fofo. Igual você, Aty.
Atlas estava maluco com este apelido, mas disfarçou, como se nada fosse.
— Já pensou colocar o coelhinho debaixo da sua blusa? Ia parecer até seu barrigão — então Atlas se tocou da grande lasqueira que falara. "Por mil cabras ressequidas!" — Não foi isto que eu quis dizer, juro, eu devo de estar delirando, você grávida de mim? Não, que nada, foi só que, bom, bem, sua barriga ia ser linda grande, quero dizer, pequena também, média, com banhas e com gorduras, obesa ou magricela, cheia de celulite e estria, tudo é lindo em você. Da onde eu tirei um negócio destes? Você barriguda de mim! Tô é doido! É meio que, isso, você é linda grávida ou esquelética — tentou se emendar, sorrindo amarelo.
Óbviu que, com seu QI alto, Melina não engoliu esta. Ela exalou então perfume como o de uma sereia que leva os marinheiros para o abate:
— Pare com isto, desgraçada. Desde quando você cheira tão bem? — Atlas disse, tampando o nariz, já quase embaralhado e perdido na sedução dela — você me quer retardado com o seu cheiro, cretina, meliante! Sai, sai!
E o coelhinho foi-se embora, pulando do colo da morena e sumindo.
— Ah não, volta aqui, Nonô! NONÔÔÔÔÔ! — A mulher foi atrás, desolada.
— Amanhã eu compro esse parque pra você, com todos os coelhinhos dentro, agora vem, princesa!
Os dois apenas continuaram seu percurso, chegando à um barco com remos e uma garrafa de vinho.
— Você não comprou o meu favorito, da Índia! — Melina disse, estupefada, principalmente porque Atlas sabia o quão difícil era conseguir aquilo.
— Há meses eu comprei — explicou ele — eu escondi de você, me preparando para a surpresa.
— Como você fez esta mágica? — A ômega, interessadíssima, subiu no barco, observando o lago cristalino no qual estava, descobrindo um segundo presente: rosas com pétalas de chocolate — Minha mãe acertou. Ter um alfa que mima a gente com comida é maravilhoso. Você sabe mesmo como me ganhar. Estou impressionada!
— Não posso contar o meu truque pra você referente ao vinho, senão perde a graça — Atlas juntou-se à sua namorada, se recordando de como Cavaleiro Coiote, rico que era, lhe devia um favor, e ele, esperto, cobrou através do pedido do vinho, que aliás, mesmo o outro herói sendo um milionário importante, teve de esperar 90 dias para chegar a sua garrafa cara e entregar à Atlas.
O alfa só quis, com este gesto, mostrar o quanto gostava desta deusa linda, a sua Melina. Atlas sorriu, parecendo que havia ganhado a copa do mundo, e de virada, revertendo os 7x1 da Alemanha no Brasil.
"Eu nem sou brasileiro, que estranho".
Então a velha preocupação cutucou seu estômago, brigando com as suas lombrigas que sapateavam dançantes, em clima de festa, por lá. O alfa precisava contar seu segredo, estava indo muito longe sem falar. Só que também, se já tivesse se revelado, não teria tido esses momentos especiais com Melina, ele sabia.
Ou seja, tudo certo com o ritmo das coisas. Primeiro a felicidade dos dois, depois o golpe. Subiria degrau por degrau, escalando até poder dizer seus segredos. Pegou então nos remos e pôs-se à marcha.
O barco se afastou alguns metros da margem, flutuando pelo lago. Atlas verificou o parque cinco vezes antes de vir, não haviam bombas, nem câmeras escondidas, nem aliens que sequestram, nem nada, mas apenas um ambiente limpo e bem arejado, seguro para receber Melina. O máximo de perigo seria um peixe assassino pulando esfomeado sobre ela, mas ele tiraria de letra. E remou, sentindo-se livre e poderoso ao lado da sua ômega.
— O que foi, bebê? — Ela perguntou, quase como se pudesse ler no ar a sua apreensão.
— É sobre o que precisamos de conversar — ele confessou.
Havia uma pedra rústica crescendo em seu interior; um bolo áspero que não se dissolvia e incomodava de dentro para fora. Não, não podia contar agora. "Espere só mais alguns minutos e você conta, eu juro para mim mesmo."
E arredou o pé de falar, muito temeroso, enrolando.
"Não, não, não. Você tá tão perto de dizer, cara. Você precisa falar, porque se deixar passar demais, vai perdê-la."
— Parece que tem algo realmente te perturbando, eu te conheço — Melina alegou, arqueando uma sobrancelha e acariciando-lhe o rosto, mastigando as pétalas de chocolate e oferecendo-as — quer? É uma terapia comer isto, obrigada. Tô achando que você é psicólogo nas horas vagas, porque acertou no meu tratamento. Chocolate resolve quase 90% do estresse de qualquer mulher — a ômega brincou com um dos pedaços: — olha o aviãozinho — e enfiou entre os lábios de Atlas. Ele mastigou, ainda preocupado, mas disfarçando no seu semblante "feliz". Não queria que Melina achasse que seu pesar era algo com ela.
Atlas não podia fugir do Vigilante Limão. Sempre que namorava, seu alter-ego herói atrapalhava, ferrando com tudo.
Quantos relacionamentos perdeu por conta de ser um herói? Todos! À ninguém pôde revelar-se, e por isto, dispensou as betas em determinado ponto. Ele não aguentava mentir daquele jeito. No entanto, se iludiu de que com Melina seria diferente. Por quê?!
Com ela, ele almejava tanto que fosse. Estava torturado entre os algozes de uma prisão que, como carrascos, arrancavam fora sua pele, deixando-o em carne viva.
Não.
"Chega! Eu vou contar!"
— Tá — falou Melina — vamos ver se te ajuda eu falar primeiro. Eu tenho algo a dizer também, lembra? — A morena propôs — James me disse uma coisa hoje que muito me entristeceu — o ar em volta da ômega carregou-se de uma fuligem exalada de seus poros. "Mas o que este babaca havia dito que machucou a minha namorada?" Atlas quis pegá-lo pelo colarinho e esmurrá-lo em uma parede. "Como este trouxa ousou causar chateação em Melina?!" — Na época em que James e eu estávamos mais próximos — continuou ela — o Vigilante Limão pediu para que James abrisse meu cofre e me espionasse pra saber se eu guardava vestígios do corredor da morte para usar nele e nos outros, você acredita nisto, Atlas? Ele quis que James invadisse meu computador, meu celular e todas as minhas coisas! Como Vigilante Limão pôde agir assim comigo, depois de eu tê-lo ajudado tantas vezes? James me contou que Vigilante Limão disse coisas horríveis sobre mim, e uma delas foi que ele me achava exatamente como Maylo! Nunca esperei ouvir isto do Limão! Achei que ele tivesse um pingo de consideração pela nossa parceria, mas me enganei. Não confiou em mim e ainda pediu para alguém próximo se aproveitar de minha nobreza e me investigar em segredo! Eu fiquei perplexa, um absurdo! Vigilante Limão falou que eu sou uma interesseira, uma falsa, e tantos outros adjetivos ruins que nem quero mais mencionar, mas que James me contou.
Atlas estremeceu, incrédulo. Como assim? A ira tomou-o, porque James mentiu em uma parte, piorando cem vezes mais o que, de fato, rolou.
O pobre coração do alfa então se debateu, como se lhe cravassem uma estaca.
— O Vigilante Limão nunca devia de ter me tratado como uma vilã, coisa que eu não sou, nem nunca fui. Até James, que é tão chato às vezes, ficou do meu lado e me defendeu na época, bem como agora ele ainda me defende. Heitor ficou do meu lado quando o A.E.E. quis me investigar, você ficou, mas o Vigilante Limão... ele não. O falso e farsante foi ele, não eu! Não confiarei nunca mais neste alien! Em pensar que achei que éramos amigos, que estávamos evoluindo. Ele até me visitou hoje mais cedo, e eu abri meu coração para ele. Aff. E novamente me provei enganada. Ele é um enganador, fingido, sem caráter, sem decência! É sem volta! Eu já devia ter cortado muito antes os laços com este ser, pois eu dei minha aliança à ele e ao A.E.E. e recebi só ingratidões de volta. Nem o capitão vai com a minha cara, sendo que já salvei a vida de tantos deles com meus soros e antídotos!
Não podia estar acontecendo, não podia. Cada palavra de Melina causou-lhe mais angústia, preso em um poço, onde sua última porta fechava, e sua luz se apagava, no fim do túnel.
— De novo uma amizade me decepcionou. Atlas, será que eu sou tão horrível assim? Será que alguém jogou sobre mim uma maldição? Porque, afinal, todos me traem, mentem pra mim e me enganam — o cheiro de Melina azedou-lhe a boca. Mau sinal, mau sinal — Só você é meu amigo de verdade. O que nunca me esconderia algo tão grave — "Melina, pare, pare" clamava seu peito em silêncio, pois estava arrependido demais do passado e também muito decepcionado com o presente — você nunca me tratou diferente, Atlas, você sempre viu além da casca grossa que me cobria, do meu sobrenome. Você viu meu coração, você viu minha alma. Você é um anjo para mim, o meu anjo, que está aqui, fazendo todas estas coisas lindas pela gente.
A declaração o comoveu, e o alfa desejou como nunca ser este tal anjo que estende as asas sobre ela, protegendo-a de todos, inclusive dele mesmo. No entanto, o elefante na sala persistiu, e somente Atlas o enxergava. Não podia ignorar o x da questão: até quando Vigilante Limão teimaria em interferir em sua vida, debochando dele, fazendo o amor que sentia por Melina dar tão errado?
Há quantos anos se repetiu que Vigilante Limão era um estorvo? Como deixou-se apaixonar assim? E como fez por onde Melina se apaixonar de volta? Só queria se enterrar à sete palmos e sumir.
A atmosfera mudou em torno do casal, e Atlas não pôde segurar mais sua tristeza. Ele chegou tão perto de ter a pessoa que amava para sempre com ele, só para assistir o seu final feliz escapolir pelos seus dedos. Era só uma questão de tempo até Melina descobrir a verdade e querer bani-lo para sempre de sua vida.
Não, não podia ser. Se a ômega guardava todo este amor por Atlas, igual Sara disse, ela o perdoaria em dado momento, não era? E James não era louco de contar seu segredo, de contar sobre sua identidade secreta, pois se Kléber o soubesse, quebraria-o na porrada, sem dó, e o mandaria para outra dimensão perdida, quem sabe. "Ok. Calma, calma, respira."
— Me desculpa, poxa — pediu Melina — Por que eu fui sobrecarregar você com este assunto, não é? Desculpa, Aty, você quer voltar pra margem, pra casa? Eu vou entender. Importante é você não se sentir mal aqui. Olha como você ficou amuado, eu não devia de ter falado nada.
— Não to me sentindo bem mesmo, princesa, me perdoa... mas não vamos voltar — e então Atlas fez algo que todos nós já fizemos, começou a falar em códigos — E se você descobrisse que eu cometi um delito muito ruim. Muito mesmo. Será que você me perdoaria?
— O que você fez, Cebola com Torresmo Frito, assaltou um banco? Não ajudou uma velhinha a atravessar a rua? Te deram troco à mais e você não devolveu? Jogou um gatinho na árvore e não ajudou ele a descer? — Melina perguntou — À quem eu tenho que subornar pra você não ir para a cadeia? Sabe que pode ser alto o valor, mas eu pago pelo seu preço — Atlas quis sorrir, mas estava difícil se distrair do seu baita problema — Tem certeza que não quer voltar, Aty?
— Não, de jeito nenhum. Fique aqui comigo. Eu... tipo... vou dizer algumas palavras sobre o Vigilante Limão — Sua noite acabava de ir pelo ralo. Nada do que planejou, aconteceria. Sempre aos 47 do segundo tempo, o seu jogo virava do avesso! — Se for verdade o que James te disse...
— Sim, é, ele trouxe um dos agentes de prova.
Que raiva deste filho da mãe!
— Primeiro. Por mais que haja testemunhas, James gosta de você de uma outra forma, Melina. Capaz que ele esteja planejando tudo isto para te afastar de qualquer alfa que ele esteja com ciúmes. Segundo, Vigilante Limão sempre bateu papo contigo de boa, vocês até jogaram uno pelo que me contou, se divertiram, e olha que nem estou com ciúmes — suas mentiras ficavam cada vez piores — e se o que Vigilante Limão disse não tenha sido bem como James falou? Kléber pode confirmar a história, por que não vamos até ele saber sua opinião? Se Vigilante Limão faz por aí este tipo de comentários e tem esta índole, Kléber com certeza o condenaria. O meu irmão botaria ele para correr, eu o ajudaria. Será que o Vigilante Limão realmente fez isto, ou não se trata de um plano do James para te manipular contra qualquer um que represente uma ameaça à ele?!
— Aty, aprecio sua crença na honestidade e justiça do A.E.E. e do seu irmão. Mas você sabe melhor do que ninguém que Kléber é contra mim e não acredita na minha versão dos fatos. Sobre a Sammy, ele não acreditou até hoje. Capaz que até goste das posturas de Vigilante Limão hostis comigo. Kléber jamais se posicionaria contra um de seus homens à meu favor — Ruim, mas verdadeiro — quanto ao James, eu li muita sinceridade nele e em seus juízos.
— Vigilante Limão pode ter dito isto em um momento de muita pressão, de sangue quente, sabe quando falamos algo na ira e depois percebemos que erramos? Que não era nada daquilo? Talvez este tenha sido o caso.
— Atlas, você está defendendo ele, ao invés de me defender!
Ele não ia ganhar esta luta.
— Tem razão, me desculpa...
— Saber que um herói a quem fui tão leal, veio à armar um complô contra mim, é insuperável.
— Que complô?
— James disse que ele envenenou o capitão contra mim — Os punhos de Atlas fecharam-se — As aparências enganam, Aty. O Limão não é quem você e eu pensamos. Eu não preciso de gente ao meu redor desconfiando de mim e me tratando como uma inimiga só por causa da droga dos psicóticos da minha família!
— Este herói não é digno de você — quanto sangue frio o de Atlas ao dizer um negócio destes apenas para ganhar sua ômega.
Atlas queria espancar James, mas deixaria para depois, o agora seria consolar Melina deste impasse. Armaram para ele.
— Vem cá. Eu tô com você — disse, abraçando-a, sentado no pequeno assento do barco de madeira, escorando a cabeça de Melina em seu peito, borrifando um cheiro protetor nela, pois queria embalá-la e colocá-la numa caixinha, ainda que ele estivesse morto, afogado.
O vento ruíu de leve, alguns peixes nadaram no lago escuro, enquanto as límpidas águas reluziam a lua e as estrelas. As margens estavam à vista, e alguns patos andavam ainda por lá. Um ótimo cenário para o encontro, se não fosse pelo Vigilante Limão meter seu bedelho e borrar o belo desenho artístico que Atlas fez! James se aproveitou de sua fraqueza, de sua demora, e ganhou terreno e espaço.
Atlas previu ser a pessoa que mais magoaria Melina por conta de sua identidade secreta; ele não poderia suportar. Se a visse chorando e se obscurecendo por sua causa... nossa! Parando para pensar, Atlas estava derrotado, despedaçado; não poderia falar seu segredo até a poeira baixar e ele consertar as coisas. Engoliu então o choro, o fardo, com suas costas quase se curvando sob toneladas de consequências, que o traje verde trouxera-lhe, e prosseguiu.
Vigilante Limão pisou nele junto com James, ambos rindo de sua cara, jogando a mulher que amava contra sua pessoa. Atlas contraiu todos os seus músculos à fim de manter seus poros fechados, mascarando suas reais emoções.
Melina não poderia descobrir o motivo do seu inferno interior, não hoje, não aqui, não agora.
— Eu não deixarei mais este herói ferir você — ele disse, decidido.
"Mentiroso, cínico, fingido." Sua cabeça acusou-o, deixando-o com o sentimento de impostor. Até quando sua farsa continuaria?
Não! E desligou-se do Limão. Aqui ele não era aquele maldito uniforme, ele era apenas o Atlas e somente o Atlas. E respirou fundo, amargo de si mesmo e da sua vida injusta.
De que adiantava salvar o mundo dos outros, quando o seu desmoronava? Herói para todos, menos para si. Quando Melina descobrisse, ele seria o seu pior vilão.
Como pôde cometer aquele erro estúpido diante de Sentinela? Pedir algo tão imprudente para o James? Onde estava com a cabeça? E por que achou que havia o mínimo de honra e descência neste seu colega?
"Vou dar uns belos socos em você, James."
— Saiba que eu sempre vou te apoiar, Melina. Você é uma pessoa que não é dez, é onze! — "É a pessoa que eu não mereço" sua auto-estima indo à zero em três, dois, um... — Sei que não é fácil, mas você sempre dá a volta por cima de cada decepção.
— Obrigada, amor. Quando eu disse ao James sobre nosso encontro, Atlas, ele quis me aborrecer. Parece que não pode me ver saindo com um alfa que não seja ele, que já me ataca. Foi aí que ele me contou isto.
— Pois é, eu o odeio. Só te digo para tomar cuidado, porque você não sabe até que ponto há verdade em sua boca ou mentira, só para te afastar de pessoas legais e do bem.
Melina encarou-o, pensando no quanto fazia sentido.
— Você pode ter razão. Irei me precaver. Mas você não precisa se preocupar, eu só quero você, nunca dei bola para o James. — Atlas quem o diga — Há quanto tempo não falo para este burro virar a página e seguir com a vida dele, que foi surto de publicidade ele ter sido meu acompanhante, como Sentinela, no evento da minha empresa, e nada mais. Só que ele entendeu tudo errado.
— Então afaste-se dele e deixe-o para lá. Não gosto dele perto de você — sim, Atlas também jogaria sujo com o canalha — irei colocá-lo no seu devido lugar, me aguarde — o alfa quase rosnou, então os pelos de Melina eriçaram, junto de seus batimentos que dispararam. A possessividade e agressividade linda e divina de Atlas mexeram com ela.
— Adorarei deslumbrar da cena, me chame para assistir. Não quero mais saber de amizade com ele — Atlas venceu uma, empate entre os dois. Melina agarrou-o então, beijando-o — agora me diz o que tanto estava te incomodando. Sua vez de falar!
Atlas freou tudo, congelado por um minuto, feliz por um lado, irritado e triste por outro, e vasculhou uma rota rápida de escape na sua mente, dividido entre tomar sua ômega para si ou deixá-la ir. Contar ou não contar?
E escolheu:
— Tenho um casal de amigos que está prestes à se separar, e eles precisam urgente da minha ajuda. Eu embarco hoje, à meia-noite, pra salvar um casamento. Era isto! Esta será nossa despedida, princesa. Eu sinto muito se te comuniquei em cima da hora.
— Own, era por isto que você estava chateado? Bobo.
— Lá não tem internet, e talvez não pegue celular, é muito no meio do mato, enfiado na roça. E será coisa de duas semanas. Foi mal por já ter marcado com eles e ter de viajar às pressas.
— Pare de achar isto ruim! Sua operação cupido será um sucesso. Eu estou doidinha pelos detalhes. Me conta tudo depois.
— Com prazer — ele acariciou-lhe o rosto, decorando as lindas feições de Melina. O encontro deles não durou muito além disto, Atlas teve que partir, no entanto, estava esperançoso de em breve convencê-la do seu caráter correto como Vigilante Limão.
(...)
Ele, uniformizado de herói, chegou, à uma hora da manhã, na enorme mansão da Mulher Espada, a moça da armadura medieval. Ela lá estava, treinando, brigando no jardim contra outros heróis. Sua habilidade com espadas era tão afiada quanto sua inteligência. Era apenas uma contra cinco, e levava vantagem.
Seu gramado e esculturas, os quais enfeitaram aqui, eram tão bem polidos quanto suas armas de prata.
— Diamante Cinza — Vigilante Limão cumprimentou Sammy.
— Oi, cunhado. Recebi em primeira mão a novidade do seu namoro — A mais nova ômega de seu irmão, par perpétuo do alfa, Kléber, piscou para ele, mas Atlas não comemorou.
Eles preparavam-se para a viagem. Então, muito distante dali, na cidade de Evelyn Tor, Noah, rezando, ajoelhado, no intuito de obter luz sobre suas visões, esperou em silêncio a voz interior falar com ele sobre uma interpretação que ele muito queria ter:
"As cortinas se fechavam vermelhas, e Atlas permanecia calado em um espaço todo preto atrás delas. Borboletas de diversos aspectos, tipos, formas e cores diferentes, voavam ao seu redor. Uma à uma, perdiam a cor e o brilho, morrendo secas, em preto e branco. Elas foram varridas, jogadas fora. A cortina então se abriu, havia um holofote mirando a face de Atlas, um espetáculo aconteceria. Vozes, risos, aplausos, eram todos para ele, mas Atlas não gostava daquilo e vomitava as borboletas mortas, enquanto o cenário ao seu redor virava cinzas e escombros."
Noah questionou:
"O que seriam as borboletas?" E logo obteve a resposta, "e a cortina, os aplausos, o espetáculo?" E já começava à assimilar as meditações que lhe sobrevinham. Então desesperado, pegou o celular o mais depressa possível, ligando para Atlas. Chamou, chamou, e ninguém atendeu.
"Eu não vou conseguir falar com ele para avisar."
Noah passou a mão por seus cabelos beges, aflito.
"E agora, meu Deus?"
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