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43. Ser, o ser

Oi, oi, upinhes!! Como vocês estão?? Tô morta de saudades e de tristeza em pensar que tá acabando!

Tô um pouco nervosa pra esse capítulo, confesso! Ele é importante, então tô ansiosa pra saber a reação de vocês aaaaaaaaaaaa 😭 

Boa leitura! Ah, e por favor, se gostar, comenta bastante porque amo saber o que estão achando da história 🥺!

#JKNãoUsaGravata

»»💼««

Eunha estranhou quando Jungkook apareceu na porta de seu consultório e, em vez de animado, carregava um tom de culpa no olhar. Na verdade, vê-lo marcar um horário urgente já era inesperado. Também tomou um susto ao notar um jovem de cabelos azuis ao lado, segurando-o pelo braço. Não fazia nenhuma ideia de quem era; um péssimo sinal, visto que alguém próximo o suficiente para sentar junto a Jungkook na terapia deveria ter sido mencionado alguma vez.

Quando Jungkook abriu o bico sob o olhar atento do seu acompanhante, Eunha sentiu como se ouvisse outra pessoa. Ou, talvez, enfim ouvisse uma pessoa. Aquele Jungkook era tão visceral que era palpável, tão arrebatador que era difícil lembrar da casca que o representava até então, mesmo condizente com o interior tão quebrado. Sentiu certo alívio, como se fosse a primeira vez progredindo na consulta.

Contudo, aquela primeira vez apenas abriu a tampa da Caixa de Pandora; muito precisava ser feito. Não que terapia tivesse um fim definitivo, claro, era algo a se exercitar por toda a vida, mas Jungkook possuía muitas questões urgentes.

Nos meses seguintes, ele ia acompanhado do homem de cabelos azuis. Depois, não mais.

As primeiras consultas sozinho foram difíceis não só para ele quanto para Eunha; mesmo conhecedores de todos os problemas, tocá-los ficou mais tenso, melancólico, até. Porém, aos poucos, Jimin não era mais essencial. Aos poucos, Jungkook trazia novas pessoas, para as quais antes só conseguia escrever algumas cartas com a ajuda de Eunha.

Aos poucos, Jungkook conseguia sorrir para ela sem afastar o olhar. E chorar, sem fingir estar bem.

Depois de abrir a Caixa de Pandora, Jungkook notara ter de tomar uma decisão: afastar-se da UP2U. Dar um tempo a ela, assim como voltou a dar um tempo a Jimin. Colocar a cabeça no lugar, sem precisar ter que lidar, na hora, com todos aqueles problemas se amontoando a cada segundo.

Sabia, logo ao criar a empresa, que encontrara as pessoas certas. Não era mais essencial do que ninguém e, apesar de todos serem importantes, havia formas de superar sua ausência. Mesmo assim, a decisão não doeu menos.

Nenhuma das duas.

Percebeu-se com tanto tempo livre. Muito mesmo. Aumentou a horta de sua casa, entrou em um curso de cerâmica a fim de moldar vasos para suas filhas plantas e, pela primeira vez, tomou coragem de decorar seu apartamento de verdade, para este parecer consigo.

Voltou para sua cidade natal a fim de ficar com os pais, recém-chegados de uma viagem internacional. Sentiu-se Jeon Jungkook como nunca. Apesar de lembrar-se muito bem dos pais falando que ele sempre teria para onde voltar ao se mudar para a capital devido aos estudos, a ficha de ter um porto seguro só caiu quando entrara pela porta da frente e dera de cara com eles esperando, ansiosos.

Recebeu um beijo no rosto de ambos. Foi conduzido até a mesa de café da manhã pela mãe enquanto o pai subia com sua pequena mochila de viagem. O café estava quente e cheiroso, e um chá aguardava o fim da refeição ao lado. Um especial. Sempre que seus pais viajavam, compravam algum chá especial.

Seus olhos marejaram com a familiaridade e o carinho da casa onde crescera, cada um de seus detalhes: a toalha de mesa quase tão velha quanto ele próprio; as marcas de caneta permanente no batente da porta da cozinha marcando seu crescimento; o abraço dos pais...

Eram uma família pequena; só ele e os pais. Os avós eram falecidos ou... de contato distante. Essa distância também fizera com que nunca conhecesse muito bem seus tios ou primos, moradores de outras cidades por aí. Não sabia se deveria lamentar ou sentir falta, mas, felizmente, como fora uma criança extrovertida em uma cidade do interior, não lhe faltavam "tios" diversos. Logo no primeiro dia, já saiu de casa para gritar na porta da maior parte das casas da rua, convocando seus velhos amigos e cumprimentando os familiares deles. Foi convidado para entrar em tantas que quase explodiu de tanto tomar café e comer pão.

Marcou de ir ao cinema com seus amigos de escola. E foi tão divertido! Deveria ter feito a viagem antes; não acreditava ter demorado tanto para lembrar-se de que sua cidade fora uma salvação para si no início da faculdade. Aquela característica de fugir do que lhe fazia bem era terrível. Fazia tão bem. Até mandou uma mensagem para Eunha, contando ser uma boa estratégia voltar para casa e pedindo ajuda para não evitá-la.

Foi tão feliz voltando para casa que se perguntou por que sua cabeça insistira em transformar suas memórias com os pais em algo tão pesado. Não queria mais fazer isso.

As memórias com eles nem sempre eram leves, mas sempre boas. Eles eram seus pilares, mesmo cansados. E tinha suas formas de ajudá-los, como preparar um jantar bem gostoso e deixá-lo pronto para que comessem depois de chegarem exaustos de algum plantão. Encarando-as agora, notava a mentira que alimentara sozinho como um espécime curioso de Gremlin e que perdera o controle. Ninguém lamentava tanto pela situação e deixava-se assombrar quanto ele mesmo.

Eunha até explicou que era provável toda a tormenta ter se originado da sensação de impotência, um grande catalisador de desamparo. Era comum e era humano. Fizeram, então, uma lista. Do que poderia fazer e do que não poderia. Dedicou-se ao que poderia fazer, mas, como amava fugir de suas limitações, fez questão de compartilhá-las com a Eunha, impedindo-se de encará-las como sentimentos amargurados e confusos varridos para debaixo do tapete.

Não poderia mentir: algumas vezes tropeçava e ligava para Jimin, choramingando algo sobre ser patético por precisar algo do tipo. Logo ele, com a vida ganha, com tudo na mão, sem dor nem esforço. E sempre ouvia o mesmo: "também sou um riquinho que tem tudo o que quer. Não tô te vendo me achar patético. Devo me sentir assim?".

Ninguém deveria se sentir assim.

E Jungkook lembrava-se da importância dos próprios sentimentos. Tentava encarar-se como se fosse uma terceira pessoa. E, sempre que o fazia, sabia que queria ver essa pessoa bem.

Como não estava mais na UP2U para organizar eventos beneficentes, quando voltou à capital, resolveu se inscrever em uma ONG a fim de dar aulas à comunidade. Enfim pararia de usar seus privilégios como motivo de autocomiseração e começaria a fazer algo mais engrandecedor com eles.

E Jimin... Jimin estava bem, apenas muito ocupado e com dor de cotovelo. Sempre passava grande parte das consultas com Woohyun lamentando a distância entre ele e Jungkook, apesar de tê-la proposto. Era diferente estar apaixonado. E era um saco também.

Seu modelo de negócios estava pronto e, com ajuda de Hani, já possuía uma escola interessada em contratar seu serviço antes mesmo de abrir um CNPJ. Fez-o de pronto, assim como a identidade visual, a hospedagem e tudo mais necessário para uma primeira versão.

Isso é, se a ideia desse certo com esse primeiro cliente. Mas era cedo demais tanto para cantar vitória quanto derrota. Precisava tentar e aprender algo com tal tentativa.

Fazia tudo rápido e às vezes até mais robusto do que o essencial para um MVP. Fazia tudo o possível antes de seus pais investigarem demais sua fatura e notarem a troca entre compras supérfluas a algo profissional demais. Se estivesse abrindo a franquia de uma cervejaria... tudo bem. O problema era o caráter da sua empresa; o maior pesadelo dos pais e o que Jimin mais gostaria que eles tivessem acesso. Saber que, no mundo em que vivia, não possuía nem chances de alcançar todas as crianças o frustrava profundamente. Mas também sabia da necessidade de dar algum passo, mesmo pequeno.

Era uma jornada lenta e frustrante, assim como sua melhora. Talvez, assim como a vida: uma coletânea de pequenos passos enervantes e sem destino claro, apenas em busca de algo na estrada.

Já era noite quando chegou em seu apartamento, esgotado. Assim que largou os calçados na entrada, soltou um longo suspiro de alívio pela liberdade dos pés, apesar do resto do corpo continuar rijo.

— Ei, bro! Se tu suspirar mais, capaz do pulmão pedir demissão, coitado. — Um cumprimento veio em forma de provocação e acompanhado de uma risada. Jimin ergueu o olhar e devolveu o sorriso para o melhor amigo, que levantava do sofá em direção à cozinha. — Dia duro?

— Nem sei por que pergunta — Yoonji retrucou, inclinando-se no encosto do móvel. — Todos os dias do Minnie têm sido, né...? Mas aí, conseguiu resolver o resto da papelada?

— Finalmente! — concordou Jimin, acomodando-se na cadeira puxada por Taehyung depois de lavar as mãos na pia. Yoonji deixou o sofá e acomodou-se logo ao lado dele.

— Precisa de ajuda com seu site? — ela ofereceu.

— Por enquanto, não. Usei um desses pré-prontos porque ainda tá no começo e não preciso de tanta funcionalidade diferente. E não tenho como pagar uma equipe de manutenção, óbvio.

— Você não precisa me pagar...

— Preciso, sim! Vou poder ainda, fica calma que ainda vou te usar — Jimin resmungou e suspirou de novo, dessa vez de satisfação ao encarar o prato farto de lasanha posto por Taehyung em sua frente.

— Sabe, Ji, acho que essa é a pior frase de ouvir teu bro falar pra tua namorada. Por favor, me poupe — Taehyung reclamou antes de se acomodar e começar a comer também. Jimin e Yoonji riram. É, de fato, soara muito mal, apesar de ninguém ter ficado irritado, de fato, com o ocorrido.

— Enfim estão namorando? — Jimin questionou, geneticamente incapaz de perder a deixa.

— Hm... — Yoonji já estava com a boca cheia de comida e passou um mal bocado para romper o longo fio de queijo entre ela e o prato a fim de prover uma resposta. — Acho que faz um tempo... mas a gente não contou para ninguém mesmo.

— Vocês são estranhos. — Jimin deu de ombros. Não que conhecesse as características de um relacionamento normal, claro. Provavelmente, não era do tipo que teria um relacionamento normal em qualquer momento da vida.

— Nos chame de... hm... pacientes! Deixamos as coisas acontecerem tipo aquela música: na-tu-ral-mente. E olha só: agora você sabe! — disse Taehyung junto a uma risada. — Vai dizer que não funcionou?

— É. O que funcionar para vocês, funciona para mim — Jimin respondeu em um tom tão sério que os outros dois coraram, constrangidos.

— Ainda não sei reagir quando você fala desse jeito — Yoonji resmungou. — Preferia quando você era cuzão.

— Sério? — Jimin perguntou, surpreso.

— Claro que não! — ela bufou. — Credo, parece que não sabe que eu sou um lixo me expressando.

— Você parece bem boa. Acabou de se expressar. — Jimin a analisou dos pés à cabeça e assentiu para si, atestando a veracidade da própria análise. As bochechas de Yoonji avermelharam-se feito brasa.

— Ei, pessoas da minha vida, bora de assistir um filme? — Taehyung sugeriu, ajudando a namorada a fugir da saia justa, por mais que a achasse adorável tímida daquela forma. — Pode ser um de drama, tô a fim de ver o Ji chorar.

— Meu choro do nada ficou popular... — Jimin revirou os olhos e fez uma careta, mas não, não se recusou a assistir um filme. Depois, acrescentou com seu característico tom de peixe morto: — Vou começar a cobrar, cuidado.

— Quer chamar seu bro de sangue pra vir também? A gente pode pedir uma pizza também.

— Hm... — Jimin piscou devagar ao absorver a sugestão.

Jimin puxou o celular do bolso e encarou-o, em choque. Ainda achava surreal ter o irmão de volta, a um toque na tela, mesmo tendo sido quem acendeu o estopim da volta da relação fraternal. Passaram tanto tempo afastados que a presença na vida um do outro era meio estranha. Estranha; não ruim.

Então, buscou o chat de conversa com ele e percebeu ter deixado para trás um meme aleatório mandado por Jihyun. Riu e o convidou para assistir ao filme.

Que estranho.

Mais estranho ainda foi ouvi-lo bater na porta de sua casa uns vinte minutos depois.

Jimin e Taehyung aproveitaram esses vinte minutos para fazer uma pequena faxina no apartamento enquanto Yoonji constatava que nem era mais visita ao se ocupar com a louça. Queriam causar uma boa impressão.

Quando Jimin foi abrir a porta para Jihyun, sentiu Taehyung recostar em seu ombro, curioso. O amigo não parava de clamar seu desejo de conhecer o "concorrente de bro" desde que Jimin contara do encontro entre irmãos. Jihyun tomou um susto com a recepção, mas logo riu, interessado.

Jimin ficou muito, muito, muito tenso, isso era fato. Não estava lá em sua lista pessoal de habilidades "apresentar pessoas", muito menos "saber como agir em situações envolvendo pessoas". Não via por que daria errado, mas também não sabia o que fazer para dar certo. A preocupação foi desnecessária, pois Kim Taehyung, com todo seu traquejo social, deu conta do tranco. Jihyun adorou conhecê-lo — menos quando competiam pelo título oficial de "bro" do Jimin. De brincadeira, claro.

Yoonji ficou quieta, deixando seu namorado fazer o trabalho duro por ela. Gostava de apenas ouvir as conversas, com a cabeça tombada no ombro de quem amava enquanto conferia os sabores de pizza disponíveis. Era para comerem depois do filme, mas resolveram pedir antes ao notar a quantidade avassaladora de minutos usados para se conhecer e botar as notícias em dia. Yoonji estava certa de que nem teria filme. Não que isso fosse ruim.

— Da próxima, você deveria trazer a Sunmi — disse Jimin ao irmão. Depois, olhou para os outros dois em tom acusatório: — Ele é casado.

— Nossa, ele é gente grande! — Taehyung prendeu o ar dramaticamente.

— Eu posso, mas aí você ficaria de vela, maninho. — Jihyun deu de ombros, tentando esconder o quanto gostaria de levar a esposa. Desde que contou sobre a reconciliação com o irmão, ela vivia perguntando quando conheceria Jimin. Afinal, talvez Jimin fosse detentor da única parte de Jihyun que Sunmi não conhecia. — Você pode trazer alguém também... Tem ideia?

Um silêncio pairou, pois todos, exceto Jihyun, sabiam muito bem quem passava pela mente de Jimin. E também a tristeza causada pela impossibilidade de convidar esse alguém para a ocasião.

Fazia tempo desde a última ligação desesperada de Jungkook... Jimin sentia falta da voz dele, mas ficava feliz em vê-lo melhor. Namjoon e Hoseok, seus mais fiéis informantes, atestaram que era mesmo uma melhora, e verdadeira. A voz animada e satisfeita dos melhores amigos de Jungkook ao contar dele era como música aos ouvidos. Jimin não perguntava tanto, pois precisava distanciar-se também. Queria saber o que Jungkook fazia, perguntar sobre seu dia, sobre seu humor, se ainda cheirava a melancia, mas se contentava em apenas saber se estava bem ou, ao menos, melhorando.

— A gente pode chamar o Jin! — Yoonji interveio na conversa, bravamente. — Ele vai adorar reclamar sobre ser vela e estar encalhado, eu juro!

— Verdade, é uma boa. — Jimin sorriu, agradecido, para a mulher. Depois, virou-se para Jihyun, falando muito sério: — A gente até comprou cueca juntos. Somos uma parceria incrível.

— Acredito em você, maninho... — respondeu Jihyun, com pouca firmeza e um sorriso torto. Não sabia como interpretar a compra conjunta de cuecas. Mesmo assim, estava animado para a ocasião. Tinha cara de ser alegre.

— Olha, tô pedindo a pizza já! — Yoonji levantou a voz. — Prestem atenção, vou repetir o pedido...

Se Jimin se lembrava do que estavam pedindo? Não, teria de confiar que estava tudo certo, pois as palavras de Yoonji entravam em um ouvido e saíam pelo outro. Estava aéreo devido a um sentimento que nem sabia nomear, mas desejava continuar experimentando. Era doce como seu bolo de chocolate favorito.

Sorriu, porque quando fugira de não sentir nada, apenas doía. Doía e muito. Doía a ponto de constantemente fazê-lo querer voltar a ser a casca vazia de sempre, de reconsiderar aquela ideia estúpida de ser sentimental.

Mas enfim aqueles sentimentos bons que tanto ansiara guardar dentro de si começavam a germinar. Nasciam de seu âmago como calor, como raios de Sol espalhando-se pelo corpo inteiro, de dentro para fora, inundando-o de alegria.

Quase chorou, porque se esquecera da sensação de se sentir tão bem.

E, como esperado, era muito boa.

-📑-

Hoseok e Jungkook concentravam-se em sovar a massa da pizza enquanto Namjoon demonstrava uma incrível habilidade em ralar queijo — de todos os tipos. Alguma música indie tocava ao fundo, escolhida a dedo pelo dono da casa cheirando a lavanda.

Eles conversavam alto e gargalhavam espalhafatosamente, sem medo de contaminar os ingredientes de saliva porque seriam eles a comê-los de qualquer forma. Era difícil se conter diante das palhaçadas de Jung Hoseok.

Em suma, o clima era leve e divertido.

Jungkook achava paradoxal apenas ser capaz de sentir leveza depois de mostrar tudo de mais pesado dentro de si. Humanos eram, definitivamente, estranhos. Ou, talvez, ele mesmo.

Fosse característica humana ou pessoal, agora Jungkook enxergava a lógica: um peso guardado a sete chaves continuava pesando o mesmo de um exposto. Porém, era muito mais difícil de cuidar. Escondido, acumulava poeira, dor e sentimento. À vista, colocado em um pedestal, recebia uma faxina, uma lubrificação no sistema da sua balança emocional, às vezes outro peso para colocar do outro lado e equilibrar-se com o poder da perspectiva. Dispunha também de mais mãos para carregá-lo de um lugar a outro com segurança, porque Jungkook, sozinho, gostava de abandoná-lo por aí. E pesos escondidos e abandonados eram traiçoeiros; sempre reapareciam quando menos desejados, em uma técnica bem avançada de teleporte.

Antes, Jungkook não carregava um pingo que fosse de coragem para olhar nos olhos dos amigos, ainda mais tentando contar sobre seus sentimentos negativos. Nunca passara pela sua cabeça que cartas resolveriam a situação.

Tinha chorado, e muito, escrevendo-as. Mas tivera coragem de fazê-lo, como uma espécie de desabafo. Eunha fizera o trabalho de enviá-las aos seus destinatários, combatendo arrependimentos, vergonhas e medos de Jungkook no caminho. Desde então, Jungkook visualizava Eunha com uma roupa estilo Indiana Jones e ria sozinho.

Bobo. Queria contar a brincadeira para Jimin. Já conseguia imaginá-lo revirando os olhos e resmungando qualquer coisa daquele jeito tão característico dele antes de não aguentar manter o semblante sério e gargalhar aquela gargalhada tão rara e tão sincera.

Então, contou a Hoseok e a Namjoon. Eles gargalharam, e Jungkook acompanhou-os. Era como se, com eles, ficasse mais engraçado. E mais confortável, como um abraço. De fato, Jungkook sentia-se abraçado pela recepção calorosa dos amigos.

Namjoon acrescentou a Eunha Jones em uma cena de transporte com cipó. Hoseok, prestando ao seu papel de maconheiro do grupo, refletiu se na floresta que Eunha Jones se aventurava teria um pé. Depois, cancelaram a cena do cipó; meio perigosa se a psicóloga estivesse sob efeito de drogas. Em seguida, acusaram-se de estarem meio altos devido às teorias absurdas. A parte mais engraçada — ou preocupante — era que nenhum deles estava, nem mesmo Hoseok.

Com a pizza no forno, foram à sala conversar, por mais que assistir à TV parecesse tentador também. Jungkook acomodou-se no colo de Hoseok e suspirou satisfeito ao receber um cafuné.

— Ai, ai... — Suspirou Hoseok. Foi encarado pelos dois amigos, que notaram o tom estranhamente preocupado do "ai, ai". Respirou fundo, incapaz de fugir do questionamento deles, e, então, tentou vestir um tom casual na voz para falar: — Sabem aquele boy que eu tô ficando?

Ambos assentiram. Ele parecia maneiro, de verdade. Já tinham trombado com ele em redes sociais; gostariam de conhecê-lo pessoalmente. Sempre apoiava o trabalho de Hoseok que, apesar de detestar ser resumido pelo trabalho, era muito empenhado em seu objetivo. Consequentemente, o publicitário gostava, sim, de ser valorizado e apoiado em seu trabalho e que outras pessoas abraçassem sua causa.

— Então, a gente tá ficando sério e eu tava super feliz e pleno com isso, mas... — Fez uma pausa para respirar. — Postei aquele stories com ele no insta, lembram? E aí, aquele-que-não-deve-ser-nomeado-traste-imprestável visualizou. E eu adorei, sabe? Na vibe "olha só como eu tô feliz sem você, seu cafajeste!"

— Ah, Seok... Acho que é normal — Jungkook arriscou comentar.

— Pode até ser, mas é uma desgraça andando de jet ski! — Hoseok choramingou. — É meu atestado de pateta que não superou e que não é feliz de verdade. E aí eu tô me sentindo muito mal por, sei lá... É como se eu estivesse traindo emocionalmente o meu docinho de coco.

— Meu cavalheiro, há genuína preocupação e paixão sua relacionada ao seu amado? — Namjoon interrompeu, e Hoseok assentiu. Gostava muito do seu ficante, tanto que chamá-lo assim já o irritava. Adorava todo segundo passado com ele, era libertador. — Pois bem! Eu não consideraria uma traição emocional quanto a ele, pois você sente, factualmente, o que demonstra a ele. No entanto, também nutre um rancor que não te serve àquele-que-não-deve-ser-nomeado. Quiçá dê para encarar como duas coisas separadas: seu carinho por ele e seu rancor pelo outro. E aparenta estar tudo está nos conformes com seu carinho, então a questão é mantê-lo. Quanto ao rancor, trabalhá-lo porque, apesar de justificado, não te traz nenhum benefício.

— Não que seja fácil, né? — Jungkook argumentou junto a Namjoon. — A gente não tem essa chavinha de "esquecer" na cabeça, mesmo que a gente saiba que é ruim. Mas o tempo deve dar um jeitinho... Você já tá tão diferente de quando tinha acabado de terminar com aquele-que-não-deve-ser-nomeado.

— É, acho que vou acreditar em vocês — ele concordou em um tom pensativo e foi verificar a pizza. — Não parece uma boa ideia ignorar conselhos e opiniões de dois homens bonitos e inteligentes como vocês.

— Quanta bajulação! — Namjoon provocou enquanto assistia Hoseok tirar a pizza do forno. — Um tanto quanto inesperado.

— E você, Goo? Como tá? — Hoseok revirou os olhos e resolveu mudar o assunto. Amava os amigos, mas não gostava da dificuldade do Namjoon de aceitar elogios. Deixaria para outra hora.

— Tô... — Sentiu ambos os amigos cravarem o olhar em si. Parecia até que a pizza recém-saída do forno o encarava. Engoliu em seco, com a voz tremendo. — ...bem.

— Gookie... — Namjoon chamou, com o tom leve. — Não é necessário prover uma resposta genérica a nós.

— Ai, ai, garoto! Vamos passar por todos os casos que te deixam nervoso de falar, vamos? — Hoseok apoiou a pizza na mesa de centro e sentou ao lado do amigo, segurando a mão dele entre as suas. — A gente tá desabafando, só, não competindo quem tem a vida mais merda ou mais plena. Concorda?

— Uhum...

— Se você estiver bem, não vai ofender minha tristeza ou preocupação. Vou ficar feliz de ouvir as coisas boas que te aconteceram. Te quero bem, criança. Se você tiver algo ruim pra contar, o meu desabafo não vai perder a validade dele. Não tem problema. O mundo é assim, gigante. Quase oito bilhões de pessoas no mundo, é claro que vai ter várias pessoas tristes ou felizes ao mesmo tempo; por seus próprios motivos. Comparar sua tristeza com a dos outros para parecer menos pior não vai te deixar menos triste, é uma falácia! Então, conversa com a gente! Você é tão lindinho, mas tão cabeça dura ao mesmo tempo...

— Uhum... Vocês são muito dedicados... — Jungkook deu um sorriso amarelo, constrangido.

— Se você deixar, a gente vai continuar insistindo até que desembuche! A gente tá do seu lado nessa, lembra? Vou te fazer uma miçanga escrita "desembucha, inferno!", que tal? — Hoseok riu e cortou a pizza agora que ela esfriara o suficiente para ser pegável. Serviu a Namjoon e a Jungkook. — Pronto, cê tem até a pizza! Agora fala!

— Hm... Eu ando meio preocupado. Acho que vou voltar à UP2U e... tem aquela questão de demissão.

— Demissão? — perguntou Hoseok. Namjoon, como presidente do conselho da UP2U, já sabia do andamento das coisas.

— É... Aquele dia que eu fiz toda aquela cena e... — Encolheu os ombros com a careta recebida dos amigos. — Aquele dia que eu tava mal e fiz decisões meio ruins... e fui trabalhar depois, no domingo. Aí, na segunda, eu ouvi de relance alguns Upers falando mal de mim... Com vários boatos bem maldosos. Foi aí que eu surtei, fui pra casa e me isolei. E, como não falei com ninguém, o Jin chamou o Minnie pra conversar comigo.

— Ah, sim... Não sabia que era isso que tinha causado tudo... Lamento muito, Gookie — Hoseok murmurou e inclinou-se para deixar um beijo melado de queijo na bochecha dele. Como as mãos estavam sujas de pizza para oferecer uma carícia às de Jungkook, na mesma situação, Hoseok colou sua perna à de Jungkook, compartilhando calor. Jungkook riu e se limpou, grato.

— Ah, acho que faz parte. É impossível que todos gostem de mim... E não quero ter como meta algo que eu sei que é impossível — falou. Desejava ter soado determinado, mas sua voz era trêmula. Mesmo assim, encheu-se de orgulho ao notar o sorriso recebido pelos amigos só pela coragem de proferir tal frase. — E eu já sabia que isso era ruim, lembram? Eu já tinha feito algo parecido antes...

"Surtei quando a UP2U foi atacada por aquela matéria que reuniu todos os relatos negativos de clientes. E achei que toda a culpa fosse minha. Aí, comecei a consultar com a Eunha por causa disso e tudo, mas... mas só aprendi a desvincular mais ou menos a minha própria imagem da UP2U. Não me deixou pronto pra ataques direcionados a mim, como pessoa. Então, acho que eu tive uma crise de ansiedade quando aconteceu. Não sei muito bem se era isso mesmo, mas não se repetiu, pelo menos."

Recebeu mais um beijo de Hoseok e um olhar gentil de Namjoon, mais longe. Era como se houvesse recebido um abraço. Era gostoso estar com os amigos. Era gostoso notar que o jeito que o olhavam não mudou agora que sabiam de tudo; na verdade, parecia ainda mais carinhoso. Compreendiam-no. Não o abandonaram.

Uma lágrima fujona riscou sua bochecha, por se sentir tão... tão certo.

Preencheu-se de vontade de ligar para Jimin. Não para chorar alguma recaída, mas sim para contar que enfim conseguia se sentir daquele mesmo jeito bom com os outros também. Jimin ficaria tão orgulhoso. Ele próprio estava tão orgulhoso e feliz. Era verdade: seus amigos iriam ouvir, compreender e abraçar aquele quem era. E não aquele quem queria ser.

— E aí... — continuou Jungkook, lambendo os lábios, mas um pouco mais corajoso. — Essa questão dos boatos já tava sendo vista faz bastante tempo... Principalmente nas Mãos. A Yoon percebeu que tinha algo errado, mas tava precisando de ajuda pra lidar porque não é lá bem o forte dela ficar muito próxima de muitas pessoas pra conseguir se inserir nesse tipo de situação. A gente até conseguiu o depoimento de uma das estagiárias, e algumas realocações foram feitas pra tentar mitigar, mas a causa raiz... continua lá.

— Ah, então você precisa fazer demissões? — perguntou Hoseok, entendendo fácil.

— Provavelmente... Talvez o Jin tenha feito enquanto eu estive fora. Tipo, ele sempre passa esse tipo de coisa por mim porque eu me magoo fácil e quero insistir nas coisas até darem certo, vocês sabem... Mas ele tem a autonomia para fazer as demissões por ele mesmo. Aí tô agoniado com tudo: com como vou me sentir se eu chegar lá e já estiver tudo resolvido, ou se eu tiver que bater o martelo e resolver de vez também...

— Gookie... — Namjoon chamou. — Estou ciente do andamento destas questões. Quer que eu as apresente?

— Hm... — Jungkook recostou-se no sofá e ponderou. — Acho que não. É fim de semana, não quero ter conversinhas de trabalho. Só desabafos. Quero tentar lidar com esse desconforto. Logo, logo, chega minha hora de dar de cara com ele, e acho que nem vai ser tão ruim assim. Droga, deve ser bom não sofrer com antecedência.

— Tem aquele ditado, né? — Hoseok comentou enquanto buscava uma nova fatia de pizza. — Sofrer por antecipação é sofrer duas vezes! Acho que eu nem sofro duas vezes, devo sofrer umas cinquenta, ai ai... Parcelo sofrimento que é uma beleza, nem do meu cartão de crédito abuso tanto!

Todos gargalharam por se reconhecerem ali, mas Jungkook abraçou os ombros de Hoseok para tentar consolá-lo. Pairou a dúvida se havia alguém que não sofria por antecipação. Se sim, queriam entender qual era a técnica milenar para isso.

Namjoon, o próximo da fila imaginária de desabafos, não possuía nenhum para fazer. Na verdade, estava muito feliz, porque ele e Hyejin planejavam uma viagem. Era, sim, um pé no saco pesquisar os destinos mais acessíveis a cadeiras de rodas, mas mesmo esse inconveniente não era nada demais.

Agora, soava apenas como mais um obstáculo a ser superado na hora de planejar a viagem, assim como o limite de peso das bagagens. Não causava nenhum pensamento indesejado a Namjoon, que nunca se imaginara capaz de nutrir tanta aceitação por si, escravo das amarras da limitação e da comparação. Hyejin sempre via esses detalhes apenas como diferenças e apresentava planos tão incríveis no lugar que não sobrava aquele sentimento de "abrimos mão". O sentimento que mais perseguia Namjoon, e o qual ele mais detestava não conseguir fugir, pois entendia ser infrutífero.

No final, o grupo de amigos conversou tanto que nem deu tempo de assistir a algum filme. O que também não foi ruim, só diferente. Talvez até bom. Bom mesmo, bem bom. Quando escureceu, e Jungkook e Namjoon precisaram ir embora, veio aquela tristeza boa de querer aproveitar mais. E Hoseok despediu-se deles do batente da porta como sempre e, dessa vez, o peso em seu peito não era preocupado, mas sim saudoso. Não era sufocante, só uma pressãozinha boba.

O mesmo ocorreu com Namjoon, que enfim pôde se despedir de Jungkook com um sorriso e vê-lo entrar de novo no carro de aplicativo sem medo de que o amigo simplesmente fugisse mais uma vez. Era um alívio enorme.

Jungkook, porém, percebeu estar ansioso sobre as questões da demissão logo na portaria de seu prédio. Suspirou, porque era um saco ficar sofrendo por antecipação. Então, deixou de subir até seu apartamento em troca de dar uma caminhada pelo bairro para espairecer.

O clima tinha esfriado bastante. Felizmente vestia seu fiel casaco de moletom, mas as bochechas e olhos ardiam contra o vento frio da noite que bagunçava seus cabelos, então enterrou as mãos no bolso para manter seu calor. Cada vez que aumentava a velocidade das passadas, desregulando a respiração, mais frequente era o vapor desta acumular-se em sua frente. Com aquele encantamento bobo de criança, começou a tentar formar sua névoa pessoal de propósito. Foi estranho, mas foi divertido.

Foi estranho, mas conseguiu se livrar momentaneamente da ansiedade e da preocupação. Elas ainda flertavam dominá-lo, em uma dança territorialista com sua paz de espírito, mas até que fazia um bom trabalho em domá-la. Os passos da valsa da tranquilidade eram mais bonitos, e queria se esforçar para apreciá-los.

Sorriu sozinho enquanto caminhava pela rua, pensando no quão suspeito parecia. Tentou conter um pouco sua alegria e satisfação, mas não conseguia. Isso tudo porque não tinha sido derrotado pela própria derrota.

Porque Jimin estava certo.

Não era sobre a melhora ser linear; só para cima. Não era sobre superar sentimentos ruins e nunca mais ter de enfrentá-los de frente, como se riscasse uma tarefa do seu checklist. Essa era uma ideia utópica e assustadora, justamente por parecer tão... impossível de alcançar. Se a perseguisse, estaria fadado à insatisfação e à derrota.

É, um dos sentimentos que precisava aprender a encarar de frente e pedir, com carinho, para ir embora era aquele seu fascínio pela perfeição; pela impossibilidade. Pela inevitável derrota.

Não era sobre uma melhora linear e perfeita. Era sobre altos e baixos. Era sobre, cada vez mais, aprender a lidar melhor com o baixo para ficar menos baixo, e aproveitar o alto para deixá-lo ainda mais alto. Era uma melhora pouca, gradual e realista. Era uma melhora que poderia piorar, piorar de novo e, quem sabe, depois melhorar. Era uma melhora factível, porque não negava o Jungkook que se exauria, se frustrava, se arrependia como qualquer pessoa.

Nunca pensara que um progresso tão ínfimo fosse satisfazê-lo. Era paradoxal. Porque a melhora exigida de si até então era tão, tão grande que se tornava inalcançável e assustadora. E, assim, fugia dela. A melhora pequena era tão factível! Pela primeira vez, sentia-se capaz de alcançá-la. E desfrutava, com ela, uma sensação de vitória nunca antes experimentada com seu antigo objetivo.

Queria se sentir sempre assim: um pouco melhor. Quando estava triste, quando estava feliz, quando estava bravo ou preocupado. Quando estava de qualquer jeito. Só um pouco melhor era o suficiente.

Só um pouco. Só o suficiente para se comprometer mais com quem era no momento, em vez de ansiar ser alguém do futuro que decerto carregaria imperfeições também.

E, assim, mergulhado na sua névoa pessoal e no gelado vento noturno, sentia-se 100% Jungkook. Sem "se", sem "caso", sem condições e pré-requisitos para ser.

Só era.

 »»💼««

Sim, o Jungkook está melhor! Mas só um pouquinho e é o suficiente, importante ressaltar!

Bemmmm, o que acharam do capítulo? Fiquei nervosa com o timeskip, mas não acho válido entrar em detalhes de sessões de psicólogos até pq não sou terapeuta, assim como no caso do Jimin.

E qual é sua cena favorita? A minha é a do Jungkook andando sozinho de noite, bem com ele mesmo. Como eu disse algumas vezes, o Jungkook é beeem pessoal para mim, então quando eu cheguei nessa conclusão pra ele (não, não tava planejada. Queria uma redenção, mas não sabia como ela seria), foi como um consolo pra mim mesma, que sou muito no 220V e me culpo muito por não conseguir melhorar.

O próximo capítulo é o último da história principal. Vai ter um epílogo depois também, mas a leitura desse último é opcional. Então estou MUITO NERVOSA. COMO ESTÃO AS EXPECTATIVAS AÍ??

Muito obrigada, sempre, por acompanharem e por todo amor sempre! Amo demais saber cada reação de vocês, seja aqui pelos comentários, no insta ou na #JKNãoUsaGravata💼 lá no twitter, sério!!! É estranho pensar que Empresário tá acabando, de verdade, e mais estranho ainda é pensar que tenho a sorte de ter obtido tantos leitores incríveis e experiências durante esse meio tempo.

Amo muito vocês e até 14/05 às 19:00!

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