34. Armadilha, a ardilosa
GENTE, ME DESCULPEM O ATRASO!!! TÔ AQUI NA CASA DO MEU PAI E FIQUEI PERDIDA FORA DA ROTINA
Bemmmmm, apesar dos pesares, espero que todos tenham/tenham tido um ótimo natal 🥺 obrigada, de verdade, por serem meu presente!
Boa leitura e não se esqueça de votar!
#JKNãoUsaGravata
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Foram três dias de trabalho tortuosos. Jimin empenhava-se, com todo seu ser, na missão de fingir que não daria adeus assim que Seokjin conseguisse recrutar uma nova pessoa. Era óbvio, devido ao papel dos Pulmões, que todos lá sabiam sobre a demissão de Jimin. Portanto, era o lugar que mais evitava. Lá, parecia impossível fingir estar tudo bem; sentia o peso dos olhares lamuriosos. Então, fingia não entender. Por que se lamentavam tanto? Estava tudo bem.
Jimin viveu aqueles dias no automático. Ou o quanto conseguia. Tentava ao máximo evitar a dor da realidade. Chegava, fazia o que precisava e ia embora. Seguia sua agenda e sua lista de tarefas com uma diligência que nunca tivera, só esperando que acabasse rápido, automático como um robô. O problema maior era que... seus olhos iam até Jungkook no automático também. E aí precisava fazer sua consciência amortecida despertar para impedir-se de observar todos os detalhes dele, de lembrar tudo feito de bom juntos e, principalmente, de lembrar que aquilo nunca mais aconteceria.
E foi soterrado em um paradoxo quando a última peça que faltava do plano chegou: tortuosamente devagar e arrebatadoramente rápido. Não sabia o que pensar ao vê-la, mas sabia o que fazer, possuía um plano detalhado.
O primeiro passo foi uma reunião "escondido" com a estagiária contratada. Chamava-se Nayeon e carregava um brilho de animação contida no olhar, aquele que Jimin devia ter refletido no próprio quando foi contratado, mas nunca o fez. Nayeon era educada e respeitosa, como ele queria ter sido. Era inteligente e possuía uma excelente visão analítica, assim como ele. Era, dos pés à cabeça, a escolha perfeita para substituí-lo.
A nova estagiária do Coração absorveu com uma rapidez invejável todos os materiais passados sobre o organograma, o P.E. e as reuniões gerais da empresa; fez questionamentos sagazes, sedenta de mais informação; anotou em seu caderninho surrado sobre todas as atividades que Jimin fizera no último ano, junto aos seus erros e acertos. Ela riu da operação secreta de invadir a lista de tarefas de Jungkook e roubar algumas para ela e para os outros líderes dos Órgãos.
Jimin contou como costumava ser a dinâmica dos acompanhamentos estratégicos com os outros Órgãos e passou pontos que ela deveria prestar atenção — sempre insistir em conversar de clima e integração de equipes com a Yoonji; passar com a Hani os números da diretoria bem cuidadosamente; analisar junto ao Seokjin se o engajamento dos Upers com o PDI estava bom; reforçar à Byul que tivessem um histórico de interação com os clientes para que pudessem convidá-los para entrevistas e testes de usabilidade —, só não a apresentou aos líderes porque sabia que Jungkook adoraria fazê-lo. Também conversaram sobre objetivos pessoais e Jimin teve certeza que Nayeon abocanharia um cargo estratégico assim que fosse contratada como CLT. Ela carregava uma ambição responsável, mas ardente; transpirava qualidades as quais Jimin nunca chegou a conhecer.
E Jimin, que imaginou-se triste em passar seu bastão, saiu da conversa aliviado. Sabia que a UP2U não iria falir ou entrar em crise com a saída dele, claro. Foi criada, cresceu e funcionou por anos sem ele, mas temia pela sobrecarga e pela tristeza de Jungkook. Mas o temor passou ao conhecê-la. Daria tudo certo, seria como se nada houvesse mudado. Na verdade, mudaria, para melhor, ainda mais quando Nayeon atravessasse a curva de aprendizado e se acostumasse com o novo cargo.
Mudaria, para melhor, quando Jimin não fosse mais uma mancha na reputação do Jungkook, que tinha de tudo para ser perfeita. Do jeito que o C.E.O. queria. Do jeito que ele precisava. Se Jimin aprendera algo com a convivência, foi a fragilidade da estima de Jungkook e nada partiria mais seu coração do que vê-la em cacos, ainda mais por sua causa.
No fim, sua tristeza pela demissão era proporcional à tranquilidade sentida.
Ele e Nayeon foram aos Pulmões buscar Seokjin para apresentar a nova estagiária ao Jungkook. O diretor, assim como Jimin, passara o dia com um gosto amargo na boca, pela traição ao Jungkook. Sabia o quanto o C.E.O. gostava de acompanhar as contratações de pertinho, de ligar para o estagiário e anunciar seu sucesso, de encontrá-lo no primeiro dia e de passear pelo prédio da Up. E... do Jimin. Não possuía a mínima ideia de como Jungkook reagiria.
Jin carregava olheiras discretas; os últimos dias foram pesados. Não bastava ter que lidar com a demissão do Jimin, a contratação da nova estagiária e o medo da mágoa de Jungkook; como também traçava junto à Yoonji e ao pessoal dos Pulmões responsável pelo PDI das Mãos os próximos passos sobre aquele Time Scrum... Era muito preocupante terem chegado ao ponto de maldizer o C.E.O. por aí, mas quando ouvira sobre o problema, entendera por que Jimin estava tão resoluto com a demissão.
Boatos iam e voltavam, mas tal fofoca possuía a característica de perdurar por gerações na empresa, não importasse a rotatividade dos funcionários. Seokjin detestava admitir, porque havia muitas formas de tentar combater: integração, notificações, acompanhamentos próximos, mas... Jimin possuía grandes chances de continuar sendo o estagiário com benefícios do C.E.O. mesmo se eles assumissem seu relacionamento e falassem abertamente dele. Mesmo se colassem o contracheque de Jimin na parede para todo mundo ver quanto recebia. A verdade era que, mesmo com uma escolha cuidadosa dos funcionários, não havia fórmula mágica para evitar verem maldades e corromperem, por consequência, quem nunca viu nada de errado na situação. Eram muitos humanos, diversos, em um ambiente só. Eram muitos valores e pontos de vista. Não existia certo nem errado absoluto.
E pensar no assunto fazia Seokjin querer arrancar os cabelos, porque uma parte dele desejava comprar a briga e fazer funcionar. Lutar para a empresa ser verdadeiramente aberta e coesa em seus valores, conversar com quem não concordava, entender os motivos e melhorar tudo. Mas sua experiência como psicólogo e diretor de RH lhe ensinara que, se tomasse todo a responsabilidade para si, estaria condenado a ser infeliz e sentir-se incapaz. Ele não tinha o poder, nem o tempo, nem braço para influenciar tantas pessoas com vivências tão diferentes, apesar de sua vontade de conhecer todas.
Era um trabalho de formiga, com muito acompanhamento e cuidado. Com atuações próximas e humanas, assim como planejado para o tal Time Scrum. Não tinha coragem de pedir para Jimin aguardar. E temia muito a cicatriz que poderia fazer no Jungkook, que demorara tanto para curar-se do último incidente do tipo... Por mais que soubesse ser problema do C.E.O. e da terapeuta dele, queria evitar ao máximo que acontecesse de novo, porque foi um período muito conturbado na empresa.
Também tinha o fato de simplesmente... Jimin estar fazendo hora extra, porque deveria ter sido demitido meses atrás. Sua mente estava presa naquele enorme loop de preocupação, que cavava suas olheiras de forma cada vez mais profunda.
O trio chegou ao Coração, onde Jungkook trabalhava com cara de tédio porque era a hora do dia em que se obrigava a ler e responder os e-mails. Levantou o olhar e ficou confuso com a quantidade de pessoas na sala.
— Ei, moleque. — Jin forçou um tom normal, como se não estivesse enganando não apenas o seu C.E.O., mas seu amigo. — Vem aqui conhecer a Nayeon.
Todos observaram o entusiasmo acender-se no olhar de Jungkook ao ouvir a palavra "conhecer", porque adorava conhecer pessoas novas. Nayeon empolgou-se na mesma medida, mas Jimin e Seokjin só sentiram ainda mais culpa, por mais que ambos amassem o olhar de Jungkook.
Jungkook levantou-se rápido e foi até eles. O cabelo longo estava bagunçado por ter coberto a cabeça com o capuz do casaco de moletom preto, mesmo material de suas bermudas. As unhas estavam pintadas de rosa bebê, uma cor que Jimin estranhou porque ele usava ou cores mais escuras ou as da Up.
Jungkook estava Jungkook, basicamente. E Jimin observou todas as características tão intrínsecas a ele com solenidade, porque agora as admirava de forma genuína e porque não estaria mais próximo delas. Para piorar a situação, Jungkook abriu aquele sorrisão dele, tão puro que ofuscava.
— Oi, Nayeon! — ele cumprimentou, feliz. — Meu nome é Jungkook! Tá dando uma passeadinha na Up?
— Oi, Jungkook! — ela respondeu de volta, apenas, sem saber como dizer que o destino final do passeio dela era o Coração.
— Goo, a Nayeon é a nova estagiária do Coração. — Seokjin a apresentou, eliminando de uma vez a dificuldade das palavras. O olhar de Jungkook arregalou um pouco, mas não deixou o sorriso morrer.
Se entendia por que ganhava um novo estagiário? Não. A chegada do Jimin fora suficiente para distribuir melhor suas tarefas e garantir que fossem executadas com mais qualidade. Sim, negara precisar de um estagiário antes de Jimin e fora convencido com esforços de todas as lideranças dos Órgãos, pois desejava cargos administrativos mais enxutos e mais esforço nas contratações para as Mãos. Mas agora estava certo de que um estagiário era o suficiente. Dois era exagero.
Não falaria nada naquele momento, claro; Nayeon estava ali e seria no mínimo rude dizer na sua cara que não precisava dela e que deveria ser realocada para outro Órgão. Era um tema sensível, então apenas manteria o sorriso estampado no rosto e conversaria com a garota até poder buscar Seokjin e tentar entender toda a confusão. E o porquê de ninguém ter lhe avisado daquela contratação. Estava tudo tão estranho.
— É um prazer te ter na Up, Nayeon! — foi o que respondeu, o que não era mentira. Sentia-se alegre em conhecê-la, mas carregava a certeza de que ela não ficaria no Coração.
— A Nayeon vai trabalhar no meu lugar — Jimin falou de uma vez, e Seokjin jurou que seu coração pararia. Observaram a reação de Jungkook com medo. — Já passei bastante coisa pra ela sobre o dia a dia aqui no Coração, minhas atividades e tal. Com certeza ela vai entrar no ritmo bem rápido.
Jungkook, detentor de discursos prontos para todas situações, apenas calou-se, em uma tentativa de assimilar o significado das palavras ditas. Se a Nayeon trabalharia no lugar do Jimin... era porque Jimin não trabalharia mais ali. Seokjin o viu engasgar e ficar sem o que fazer, perplexidade estampada nos olhos redondos.
Sentiu-se ainda mais culpado, porque criaram a situação de propósito. Encurralaram Jungkook com a Nayeon, de forma a impedi-lo de reclamar abertamente sem causar um clima constrangedor. Era um golpe muito baixo. Mesmo.
— Você vai... sair da Up? — Jungkook perguntou em um fio de voz para Jimin, atraindo o olhar de Nayeon para este também, por jurar que o C.E.O. estava ciente. Ela cruzou os braços, insegura. Que situação estranha.
— Sim, hoje é meu último dia — confirmou. Deveria ficar quieto, para fingir que não havia nada de errado acontecendo, mas não aguentou ver a confusão cada vez mais emaranhada no olhar dele. — Eu não tava conseguindo conciliar a faculdade e o estágio e já fiz horas o suficiente para passar na matéria de estágio. Achei melhor sair.
Mentiu.
Descaradamente.
Na verdade, meio descaradamente, porque de fato não se dedicava à faculdade como deveria e, ao usá-la como desculpa, bateu o desespero quando lembrou-se da entrega do seu TCC em três meses. E nem sabia qual era o tema.
Calma. Deveria saber ao menos o tema, estava quase certo de que uma das matérias do período anterior o obrigara a entregar o tema, ou reprovaria, então... Bem, acabara de notar que sua mentira foi mais verdadeira do que o esperado, porque estava fodido. Será que a mentira ser verdade faria a situação doer um pouco menos? Pelo visto, não. Ainda estava prendendo a vontade de chorar.
— Entendi — Jungkook disse. Não tinha o que falar além da breve palavra, por mais que não, não tivesse entendido. Talvez nunca fosse entender.
Um silêncio estranho pairou no ambiente por segundos demasiadamente longos, até Seokjin sugerir que os três fizessem um alinhamento de atividades e de trabalho. Como Jimin já o tinha feito com Nayeon, seria quase um repasse para Jungkook. Poderia, no máximo, ter algumas modificações por sugestão dele, mas ele parecia tão perdido em pensamentos que Jimin duvidava ser capaz de trabalhar. Jimin quis chorar, porque sabia ter sido o motivo para Jungkook estar daquele jeito.
Dito e feito, o C.E.O. apenas concordou, concordou e concordou com o repasse. Com acenos melancólicos da cabeça e olhares distantes. Jimin quis desaparecer daquele mundo ao ter amortecido a pessoa que o ensinou a trazer seus sentimentos à tona. E, depois, Jimin apenas esperou o expediente acabar antes de ir embora. Despediu-se normalmente de Jungkook, de Nayeon e de quem apareceu pelo caminho, mas... não voltaria mais.
E, assim como sua contratação fora apagada — por opção própria, porque se dependesse de Jungkook tudo seria incrível e marcante —, sua saída também foi. Pareceu um final condizente. Um final que ele merecia.
Não saberia dizer como voltou para casa, pois seu corpo pesava ao ponto de se arrastar, e a mente encontrava-se longe a ponto da existência parecer um espectro. Seu interior dilacerava-se a cada passo, sabia, mas a anestesia o permitia dar o próximo. Só notou sua chegada no apartamento ao ser abordado por Taehyung.
Levantou o olhar, mas não sentia nada além de inércia. Taehyung soube de imediato que, apesar dos olhos de Jimin estarem focados nele, não era enxergado. Jimin em algum lugar bem diferente e seu peito doeu. Tentou chegar mais perto.
E ficou lá, esperando, com a vã esperança de uma hora ser percebido.
— Eu me demiti da Up... — Jimin confessou em um fio de voz, após um longo momento de silêncio que não queria romper. Muito menos com tais palavras. Doía muito dizê-las, mas não tinha contado da decisão para Taehyung, temendo chegar a Yoonji e, consequentemente, a Jungkook.
Taehyung acumulou uma quantidade absurda de perguntas na ponta da língua, mas ficou quieto. Segurou a mão de Jimin e o arrastou até a cozinha, sentando-o em uma das cadeiras. Abriu a geladeira, escaneou seu interior e pegou ingredientes para fritar um frango. Achou uma latinha de cerveja e a repousou na frente de Jimin.
Observou-o abrir a lata e tomar um gole devagar, inexpressivo e perdido. Taehyung nunca pensou que seria tão difícil ver Jimin triste. O Jimin que conhecera por causa daquele apartamento era inabalável. Igualmente inexpressivo, mas por indiferença. Mas na sua frente não via indiferença, via puro desalento; muito mais doloroso em si, por mais que soubesse representar uma evolução.
Silêncio.
O frango já estava temperado, e a latinha de cerveja pela metade quando Jimin enfim suspirou alto. Não tinha chorado; ato impressionante até para si, porque nunca esteve tão afogado em tristeza. Descobrira uma profundeza melancólica em seu peito, talvez infinita. Sempre afundava mais, asfixiando-se. Acima, não via luz de onde veio; abaixo, não encontrava o fundo que ao menos estabilizaria a emoção.
— Foi pelo melhor... — falou para Taehyung, mas principalmente para si. Não deveria ficar triste, foi a melhor escolha que poderia ter feito. Era um cara racional, não? Do tipo que fica satisfeito e tranquilo com uma decisão acertada.
— Talvez... — Taehyung parou o que fazia para fitá-lo. Não duvidava da afirmação; a demissão de Jimin sempre lhe pareceu uma necessidade. — Mas isso não tem que te impedir de ficar triste, bro.
A reação foi imediata. Assim que a frase de Taehyung chegou aos ouvidos de Jimin, as comportas das lágrimas foram abertas. Começou a chorar tão, tão copiosamente que até seu corpo perdeu as forças. Debruçou-se sobre a mesa e enterrou o rosto nos braços. Soluçava e soluçava e permitia toda a tristeza o engolir.
O enfermeiro lavou as mãos rápido e foi até o amigo, sentando-se ao seu lado para acariciar as costas tomadas pelos espasmos dos arfares dolorosos. Manteve-se lá, oferecendo presença.
— Vamos fazer uma festa, bro? Uma comemoração de demissão! Eu frito um frango, a gente pede mais cerveja e vai assistir um filme...
Jimin não queria comemorar. Jimin não queria lamentar. Não queria fazer nada. Queria virar o poço sem emoções que sempre fora, porque tudo doía muito. Contudo, respirou fundo, porque devia sofrer. Se não sofresse, não poderia ser feliz, nem raivoso, nem empolgado, nem melhor. Sabia muito bem que, no momento que amortecesse sua tristeza, todos os sentimentos que desejava cultivar iriam embora junto. No fim, Jimin não queria parar de chorar.
Então concordou com Taehyung. Levantou-se e, trôpego, andou até a pia a fim de ajudar a empanar o frango. Não enxergava quase nada com os olhos embaçados de lágrimas. Seus lábios ainda soltavam murmúrios de lamento desconexos, porque não possuía nada coerente para dizer da situação, mas os pulmões imploravam para externalizar a dor.
— Ei, bro, deixa que eu faço isso. — Taehyung seguiu Jimin e o abraçou por trás, apoiando o queixo em seu ombro. — Teu papel aqui é só chorar pra caralho, botar à prova seu tanque de fusquinha turbinado e comemorar esse momento de merda comigo.
— Já tô chorando pra caralho... — resmungou Jimin, incapaz de limpar o rosto porque imediatamente novas lágrimas o banhavam.
— Cê é o bicho mesmo, brabo demais! — Taehyung riu, apertando ainda mais o abraço. Jimin parecia tão pequeno e frágil. Tão perdido e tão genuíno à própria dor. Droga. Apreciava a vulnerabilidade, mas sua tristeza era tão sincera que contagiava e partia o coração. — Quer ir chorar no banho? Aí aproveito e desenrolo o resto dos rolês aqui.
Jimin apenas assentiu; necessitava lavar aquele dia para fora dele. Desvencilhou-se do abraço de Taehyung e andou até o banheiro. No boxe, refletiu quanto da água escorrendo pelo ralo eram suas lágrimas. Achava ser muito; muito mesmo. Chorou muito mais do que imaginava ser capaz. Chorou mais do que imaginava existir água em seu corpo.
Quando secou seu rosto com a toalha, as lágrimas foram absorvidas também, mas a tristeza manteve-se, persistente. Arrastou os pés até o quarto e abriu o armário. Queria vestir algo confortável como um abraço, mas não tinha nada do tipo.
Na verdade, não de sua posse. Encontrou, dobrada na parte mais visível da prateleira, a blusa do Jungkook. Emprestada na primeira noite juntos, quando Jimin descobrira que o cabelo de Jungkook cheirava a melancia e, bem, que era um detalhe bom. Quando permitiu-se a olhá-lo de outras formas. O primeiro passo naquela jornada de enxergar o carinho não apenas como uma opção, mas também uma preferência.
O lugar visível foi escolhido estrategicamente para Jimin não se esquecer de devolvê-la, mas sempre esquecia. E, naquele instante, ficou grato, porque o blusão parecia pronto para prover todo o conforto necessário, quase desesperado. Isso é... menos o cheiro de Jungkook, pois fora lavado. Quis muito sentir o cheiro de Jungkook.
Deslizou o tecido macio contra a pele. A barra que chegava às coxas era do tamanho perfeito, ideal. Era um abraço. Quente, confortável e compreensivo, simplesmente por remeter ao Jungkook. Mas será que Jungkook compreenderia o que fizera daquela vez também? Talvez apenas considerasse traição, que é o que foi. Enganou-o de propósito, ciente da dor que o faria passar. Assinou embaixo por extenso, então não sabia por que agora sonhava com compreensão.
Suspirou, tentando enfiar na própria cabeça ser bom — quiçá perfeito — que Jungkook nem quisesse mais olhar para sua cara, porque quanto mais rápido cortassem as relações, melhor. Quanto mais imperdoável fosse, melhor.
Mas independente do quanto forçasse a ideia, nem seu racional engolia aquela merda. Era óbvia sua incapacidade de ficar feliz com tal situação. Porque sabia, como se sabe que o céu é azul e a grama verde, que estava apaixonado por Jungkook. Portanto, não havia alegria nenhuma em perdê-lo. Porque sabia querer colecionar mais momentos naquela presença tão gostosa e tão exclusiva de Jungkook.
Abraçou o próprio corpo; um abraço em cima do abraço da camisa. Enlaçou-se por longos minutos, em um silêncio cúmplice com os próprios desejos e dores. Até sentir o cheiro de fritura invadir o quarto. Terminou de vestir-se para encontrar Taehyung.
Foi designado pelo amigo a sentar no sofá e buscar algum filme para assistirem. Jimin escolheu o mais dramático, ansiando ter mais desculpas para chorar, mais motivos para verter as lágrimas acumuladas. Mas encontrava-se tão triste que duvidava muito da possibilidade de ficar mais triste assistindo um filme.
Enganou-se. Depois de sete latinhas de cerveja, uma quantidade considerável de frango, cinco idas ao banheiro e quase duas horas assistindo Patch Adams, Jimin tinha certeza que desidrataria de tanto chorar, até sobrar apenas álcool em seu corpo. Pelo menos Taehyung o acompanhou, e ficaram os dois lá: abraçados, com rosto melado de choro e os dedos de gordura, consolando-se até caírem no sono.
O primeiro que acordou no dia seguinte foi Taehyung. Assim que abriu os olhos e ficou consciente da posição na qual dormira, não quis se mover e ter de sentir uma profunda e dolorosa pontada na coluna. Porém, não pôde protelar, pois o desconforto de estar com as mãos, a boca e o rosto imundos venceu a disputa.
Observou Jimin por um tempo, refletindo se o acordava ou não, o sono ainda pesado. Por fim, só o ajeitou melhor no sofá para a postura não ficar tão terrível antes de ir escovar os dentes e tomar o banho tão necessário.
Quando terminou de se arrumar, Taehyung observou Jimin ainda desmaiado no sofá, apenas mais uma comprovação de que o dia anterior tinha sido uma merda. Ele mesmo só dormia daquela forma se estivesse no pico da exaustão mental e física. E, pior, nunca vira Jimin assim. Resolveu arrumar a sala e a cozinha, a fim de ter os cômodos minimamente salubres para preparar um café da manhã. Ele e Jimin mereciam um bom café da manhã.
No meio do processo, mandou uma mensagem a Yoonji, não só porque amava desejar bom dia para sua princesa, como para perguntar se Jungkook estava bem. Recebeu só um "por que o pirralho não estaria bem?" seguido de um longo período sem digitação mesmo que ela estivesse online quando comentou sobre a demissão do Jimin. É, a Yoonji também não sabia.
Preocupado de ter dado uma mancada, Taehyung terminou de preparar o necessário para o café com o coração acelerado e as mãos trêmulas. E, mesmo discretos, os sons na cozinha enfim acordaram Jimin que, assim como Taehyung, abriu os olhos já consciente da necessidade compulsória de um banho. Arrastou-se até o banheiro de imediato.
O enfermeiro não decidia se ficava feliz por Jimin ter demonstrado algum sinal de vida ou se ficava preocupado porque parecia continuar na merda. Mas não deveria nutrir expectativas de curar uma ferida tão profunda com uma mísera noite de frango frito. Queria vê-lo melhor logo, era fato, porém entendia ter pouco controle do processo. Também não era certo apressar a cicatrização daqueles machucados. Será que ao menos entenderia melhor o que estava acontecendo? Sentia-se no escuro.
Sim. Após o banho, Jimin mostrava-se mais disposto a falar. Jimin, na verdade, pressentia em seu âmago que necessitava falar; ter alguém consigo. Falaria com Woohyun também, mas... mas era trabalho do psicólogo ouvi-lo. Queria ter ao seu lado alguém sem tal obrigação. Ajudou Taehyung a servir o café da manhã e sentaram-se à mesa para comer.
— Você... você me julga por causa da demissão? — sussurrou Jimin enquanto garfava um pedaço de omelete.
— Não... — Taehyung suspirou. — Tenho uns julgamentos sobre o motivo, porque não sei qual é, bota fé? Mas é meu cabeção tentando preencher lacuna, queria saber qualé do teu lado.
— Motivo... — Jimin remoeu a palavra. — Não sei se é só um... Acho que fiquei acumulando tantos e tantos que uma hora não deu mais pra fugir. E me demiti.
— E aí?
— O primeiro... — Jimin engasgava. Nunca ficava mais fácil fazer essa confissão. — O primeiro da linha temporal é que eu assediei o Jungkook sexualmente... Eu não deveria ter me deixado convencer por ele. O melhor era ter saído da Up assim que percebi.
— Nunca entendi como que cês viraram bros... — Taehyung revelou. Espantou-se com a confissão tão clara e sincera de Jimin sobre o assédio, porém, no fundo, já sabia. Todos os relatos de sedução de Jimin que ouvira eram claros. Encolheu-se no banco ao notar ter sido conivente com assédio por todo aquele tempo. Porém, escondeu a reação; ainda não queria lidar com aquele peso nas costas.
— Também não sei muito bem... — Jimin suspirou, afundando a bochecha na mão. Sim, tudo sobre ele e Jungkook era confuso. Apenas mais uma prova de que não deveriam ficar juntos. — Eu fiquei na Up porque o Jungkook implorou, falando que se sentiria mal e tudo mais... Aquelas bobagens dele de colecionador de culpas.
— Colecionador de culpas?
— Sim. O cretino não pode ver um problema que já acha que a culpa é dele! Sério, qualquer problema. Dá vontade de dar um chutão na boca dele quando ele começa com essa palhaçada — Jimin rosnou, em uma breve quebra de sua melancolia. — Se um meteoro cair na Terra, capaz dele morrer de chorar porque quando nasceu não veio ao mundo com o sonho de entrar na NASA, e aí não ser parte do projeto pra desviar o meteoro da nossa direção... Que ele deveria ter feito algo sobre a tragédia, que ele acabou com tudo, porque é horrível.
— Não sabia que ele era assim... — Taehyung comentou, surpreso.
— Ele é. Acho que o meu trabalho mais crucial como estagiário era chutar ele pra frente quando esse homem maldito empacava por achar que é culpado de tudo. Inclusive passei isso pra Nayeon, a nova estagiária. Tem umas técnicas que funcionam muito bem! A primeira é distrair ele com mais trabalho; a segunda é achar alguém de fora pra conversar com ele e acalmar e...
Taehyung ficou quieto, ouvindo Jimin enumerar animadamente — apesar de toda a tristeza até então — todas suas estratégias para lidar com o lado destrutivo da personalidade de Jungkook e percebeu que a intimidade entre os dois era muito maior do que imaginava. Nunca chegou nem perto de ver Jungkook apresentando aquele comportamento, sempre muito bem escondido. Escondido de todos, menos de Jimin, profissional em enxergar e espantar as paranoias.
— Me distraí... — Jimin arregalou os olhos ao notar ter gasto os últimos minutos só falando como Jungkook trabalhava e quais eram as melhores formas de dar suporte a ele. Do nada, a sua irritação saudosa voltou a ser melancolia, pois ela era apenas uma forma de canalizar a frustração que sentia em não tê-lo mais. No fundo, tudo que queria era abraçá-lo, apoiá-lo e vê-lo bem consigo mesmo. Sentiu falta da raiva; tinha com ela uma relação menos embaraçada do que com a tristeza.
— Tudo bem, bro... — Taehyung respondeu, a voz mais leve, aliviada. Fora a primeira vez que Jimin se demonstrou minimamente vivaz nas últimas horas. Contudo, temia a morte da breve fagulha de vontade, pois a razão do ânimo de Jimin fora pensar sobre Jungkook, o CEO da empresa da qual acabara de se demitir. Esboçava-se um ciclo muito perigoso.
— Eu tava falando de como nós viramos amigos de algum jeito, né? — Coçou os fios azuis que já possuíam uma chamativa raiz preta enquanto voltava à linha de raciocínio.
— Já entendi, bro. — Taehyung cortou, fazendo Jimin erguer as sobrancelhas, sem entender. O enfermeiro encheu-se de vontade de rir. Como um cara perspicaz como Jimin não percebera que todo seu matraquear sobre Jungkook, Jungkook e mais Jungkook já expressava vários motivos para a estranha proximidade deles?
— Hm... Tá. Tipo, além de eu ser um nojento que o Jungkook não merece lidar, sou tipo o oposto de todos os valores da Up... E prejudicial pras pessoas lá.
— Como assim?
— Sou machista e homofóbico.
— Mas tu é gay...
— Sou. Mas isso nunca me impediu de invalidar a sexualidade dos outros — confessou. — Só de exemplo, sempre achei que as pessoas bissexuais eram indecisas e tudo mais...
— Ah... — Taehyung engasgou, porque fazia sentido. Já sabia do machismo depois de ouvir quieto todas as vezes que Jimin xingou as mulheres com quem trabalhava, sempre nutrindo a suspeita de que fosse mais relacionado ao gênero delas do que à falta de aptidão profissional. E a homofobia... Tudo fazia sentido.
— Desculpa...
— Pelo quê?
— Por ter confessado tudo isso. Eu sei que você é obrigado a viver comigo por causa de grana e acho que seria mais confortável se você não soubesse que sou tão escroto. Deve ser muito ruim compartilhar o apê com alguém assim... Eu sei que você não concorda com nenhuma dessas mentalidades. Me desculpa pela confissão. E por ter te feito ouvir tanta coisa ruim.
— Ei, bro... — O peito de Taehyung pesou, porque havia uma grande parcela de verdade em cada palavra. Passara os primeiros anos no apartamento fugindo dos comportamentos problemáticos do Jimin a fim de fazer vista grossa. Porém, arrependia-se cada vez mais de ter sido tão conivente. Por ter usado o seu cansaço, suas ocupações e o desejo de evitar conflitos no seu único teto como desculpa. Contudo, essa não continuava sendo uma realidade; agora considerava aquele lugar um lar, e Jimin fazia parte dele. — Eu gosto de tu assim... Porque tu sabe o que tem de errado. E te considero um amigo, de verdade.
— Não acho que uma pessoa que nem eu deveria ter amigos.
— Um mano que nem você definitivamente precisa de amigos! — retrucou Taheyung. — Tu quer mudar isso, não quer?
— Sim.
— Comé que tu vai mudar sozinho? — perguntou, sério. — Não sei muito sobre ti, confesso... Mas acho que tu é assim justamente por ter sido sozinho. A gente precisa de outras pessoas pra aprender...
Jimin baixou o olhar, quieto. Não queria que seu passado fosse justificativa nem perdão para todos os seus defeitos.
— Eu te deixei sozinho, bro... — Taehyung confessou. — Eu podia ter lançado a real quando ouvia tu falar umas coisas paias... Fui permissivo e cagão.
— Você não tinha a obrigação de me educar.
— Obrigação direta eu não tinha... Mas acho que todo mundo deveria sentir uma certa responsabilidade de educar o outro. Se a gente só ignorar a pessoa, ela vai continuar ignorante. Se ela é do jeito que é, é porque quem foi obrigado a educar não fez isso.
Jimin permaneceu em silêncio, ponderando as palavras. Como de praxe, o emocional queria acatá-las, porque agora clamava por conforto, apoio, compreensão e carinho. E o racional... sempre dependeu de seu racional e desejava que ele pudesse fazer um bom julgamento sobre o assunto. Não conseguiu. Era complexo demais.
— Bro, o que eu quero te dizer é que sou teu amigo, teu bro também. E como teu bro, eu quero que tu fale todas suas dificuldades mesmo, que aí a gente desenrola e aprende. Eu também já tive e ainda tenho muita atitude lixo. Acho que faz parte...
— A vida então é uma tentativa de ser menos lixo até o fim dela?
— Acho um bom resumo. — Taehyung deu uma risada fraca. Levantou-se e puxou a própria cadeira para ficar ao lado de Jimin. Abraçou os ombros franzinos de tanto sofrimento. — Quero que tu saiba que nossa amizade não é unilateral. Tu já me ajudou pra porra quando precisei, e eu real gosto de ti, Jimin. Posso não concordar com sua mentalidade, assim como você não concorda com ela agora, mas mesmo assim eu gosto de ti...
— Você é doido... — Jimin resmungou baixinho, sem graça, mas deixou-se derreter naquele abraço. Seu corpo implorava tanto por um abraço. Não conseguia resistir.
— Talvez. Mas naquelas vezes que tu cuidou de mim, eu real senti que tinha uma família do meu lado depois de uma penca de tempo.
— Eu sou uma bosta de família...
— É melhor do que a minha real. — Riu, sem humor. Jimin desvencilhou-se do abraço dele para encará-lo com pesar, Taehyung suspirou. — Não quero falar disso agora, bro, mas acho que um dia rola.
— Quero cuidar de você... — Jimin confidenciou. Arriscou tocar os cabelos ruivos quase secos do banho. Cuidado. Nunca lhe deu atenção o suficiente, mas não poderia negar que se preenchera de sentimentos muito bons (e inexplorados) quando Jungkook cozinhara as panquecas para ele. Quando ele o levara ao supermercado a fim de comprar alguma coisa para Taehyung comer. Quando o carregara até a cama para que dormisse bem. Quando quis ver suas sextoys e, mesmo assim, entendera que algo não estava certo da forma mais gentil possível. Quando montara seu café da manhã. Quando o aquecera no cinema. Todo o cuidado que transbordava de Jungkook, em tantas e incontáveis vezes, o preencheu de ternura e o tornou sedento por mais. Sedento por experimentar também o outro lado: de sentir uma calidez no peito quando cuidava também. — Vou me esforçar pra caralho... Você pode continuar cuidando de mim?
— Não precisava nem perguntar. — Taehyung sorriu e apertou seu abraço de urso. Ambos precisavam do toque e encaixaram-se tão bem que era pecado este não ser rotineiro. — Eu sempre vou te ouvir, bro. Nem sempre concordar, mas não vou mais fingir que não ouvi. Vou compartilhar o que eu manjo e o que eu não souber... a gente acha alguém pra contar pra gente.
Jimin sorriu e o apertou de volta. Parecia enfim capaz de reerguer-se e mudar. Cada aliado era uma pequena conquista, Hani e agora Taehyung. Talvez parecesse pequena aos olhos de outrém, mas nunca teve nada semelhante. Era grandioso para Jimin. Acomodou o amigo entre os braços, aproveitando seu calor e seu apoio. Seu cuidado.
Ainda estava triste, mas novos sentimentos enfim brotavam, faceiros, nos espaços que a melancolia negligenciava.
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Logo Taehyung era íntimo de todos os motivos que levaram Jimin a pedir demissão, desde os pequenos até os grandes. Sabia dos boatos rondando Jungkook e Jimin, sabia da armação feita junto ao Seokjin para driblar Jungkook e o peso na consciência deixado como cicatriz. Sabia que Jimin sentiria falta da UP2U, dos outros estagiários não-tão-idiotas, do trabalho enfim significativo e...
Agora sabia que o Jimin era apaixonado pelo Jungkook.
A confissão soara óbvia e completamente inusitada na mesma medida. Se reparasse bem o jeito do Jimin ao falar do Jungkook, se lembrasse a forma que lidavam um com o outro nas vezes que iam ao bar juntos, veria estampado o apreço enorme que Jimin cultivava pelo CEO. O tipo de apreço que poderia culminar em paixão.
Mas estavam falando do Jimin. Vê-lo se emocionar genuinamente com qualquer coisa era novo. Nunca o vira com ninguém, além de que, quando o ouvia falar qualquer coisa similar a interesses românticos, estes não eram românticos, apenas sexuais.
E o mesmo Jimin que só falava de sexo, sexo e mais sexo, não narrou nada de tal cunho. Suspirava toda sua admiração por Jungkook; suspirava preocupado as dificuldades que o ameaçavam, temendo que o coração generoso se partisse ao descobrir ser protagonista de boatos terríveis. As saudades sentidas eram tão avassaladoras que mesmo Taehyung amuou-se ou ouvi-las. Será que um dia Jimin e Jungkook poderiam ser recíprocos, mesmo com toda a confusão?
Depois de tantas confissões; depois de tanta intensidade legítima e de sentimentos sinceros, Taehyung começou a torcer para que sim. Mesmo concordando, em partes, com o racional de Jimin — que batia o pé sobre o afastamento ser ideal, a única saída —, não conseguia impedir seu coração de desejar que eles se ajeitassem. Jimin, porém, estava na contramão, colecionando qualquer razão capaz de afastar Jungkook de si.
Conversaram durante o dia inteiro, e a cozinha servira de cenário para todos os atos da peça. Tomaram café, almoçaram e enfim Jimin pediu uma pizza para o jantar. Foram poucos os momentos em que o silêncio fizera sua aparição. Havia muita coisa a ser dita e nem todas aquelas horas foram suficientes para revelar as minúcias dos percalços que os levaram a estar ali, a serem quem eram.
Mas estava tudo bem. Teriam mais horas.
Foram dormir com uma serenidade frágil e rara. Carregavam, porém, a esperança de torná-la menos efêmera. Seus quartos pareciam cada dia menos um mundo diferente. Era tudo casa.
E Jimin sonhou. E, quando acordou, o fez com uma necessidade pungente de dar um passo em direção à utopia que vira. Checou as horas, percebendo com frustração ser cedo demais. Esperou, de coração acelerado, um horário mais conveniente. O tempo arrastava-se de uma forma torturante. Não importasse a espera, sua ansiedade não diminuía. Foi um alívio quando pôde pegar seu celular e discar o número.
E a manhã, ocupada unicamente com a urgência de fazer tal ligação, sobre a qual nem previa o resultado, foi seguida por uma tarde agarrado ao celular, ouvindo o clangor de portas serem abertas materializado por uma voz tranquila enquanto a cabeça fervilhava. A noite, por sua vez, foi em claro, trabalhando e escrevendo em frenesi, temendo perder qualquer mísero detalhe da conversa. Mas precisaria ter outra, de novo; precisaria entender mais e mais, até estar afundado de vez.
Ainda precisava de muito, porém era dono de um objetivo. Tomar ciência do fato o arrepiou da cabeça aos pés. Jimin tinha um objetivo, pela primeira vez na vida. Um objetivo que brilhava tanto aos olhos, atingia tanto o coração, tomava tanto o ar dos pulmões que ameaçava derretê-lo com a animação eufórica nunca sentida.
Pela primeira vez naqueles dias de merda, ficou satisfeito em não ter amortecido sua tristeza, pois agora experimentava por completo aquele senso de propósito engolir seu peito e preenchê-lo de vontade de cuidar. Cuidar de quem foi como ele, de quem poderia ser como ele e de todos atingidos ao cruzar a vida dessas pessoas.
Eram 04:13 da madrugada quando escreveu o maior e-mail de sua vida e o enviou ao Seokjin, agradecido como nunca. Com apenas um número, ele abrira a maior porta já vista em toda sua vida e, não, não hesitaria em atravessá-la. Ela guardava a entrada para algo verdadeiro e necessário.
E o tranquilizava a noção estranha, quase intrínseca, de que o passo que desejava dar não era egoísmo, não era uma redenção de tudo que fizera, mas sim o começo de uma caminhada. Era uma promessa apaixonada e persistente. Talvez esse passo fosse miúdo e não fizesse a diferença desejada. Mas seria dado. Seria dado na esperança de que outros passos, mais relevantes, pudessem ser dados.
Jimin poderia fazer parte da trilha; tinha recursos.
Era 07:47 da manhã quando Jimin, com olheiras fundas, mas um brilho intruso no olhar, bateu na porta da sala do orientador de seu TCC. A boca estava seca, as mãos tremiam e o peito queimava. Estava certo de que vivia o momento mais importante de sua vida.
Logo o Sr. Won apareceu detrás da porta. O véu de sono que cobria sua expressão foi dissipado de imediato ao ver Jimin, o aluno do qual já tinha até desistido. Em sua porta. Às 07:47 da manhã. Esfregou os olhos, achando ver uma miragem, mas o jovem de cabelos agora curtos e azuis continuou lá, com um olhar determinado tão desconhecido que sua existência era mais chamativa até do que a mudança dos fios.
— Bom dia, Jimin, procurando por mim?
— Sim. — Empurrou a papelada que carregava para as mãos do orientador, afoito em abrir o notebook debaixo do braço, guardião de ainda mais detalhes da sua ideia. — Meu tema de TCC era avaliar e descrever o planejamento estratégico de uma empresa, não é?
— Sim...
— Eu me demiti do meu estágio — contou. O homem mais velho arregalou os olhos.
— Não dá mais para mudar o tema... — o professor avisou, muito preocupado. — Você precisa de uma empresa para avaliar...
— Não tem problema. Vou criar a minha.
»»💼««
Bem, o capítulo foi todo muito tenso, mas eu considero esse final muito promissor 🥺 sério
Qual foi a parte mais marcante para vocês? A minha é o Jimin quebrando em mil caquinhos por ter traído e enganado o Jungkook daquele jeito, toda essa cena é uma torta de climão tãooooo horrenda, sério, me deixa toda triste
Como sempre, mto mto mto obrigada mesmo por acompanharem Empresário, comentarem, votarem, surtarem comigo na #JKNãoUsaGravata e serem meus amores todinhos 😭 eu fico tãooo grata e feliz!
Ah, e eu fiz um mimo de natal no meu insta, e empresário tá junta! Vou postar daqui a pouco no meu mural aqui no wattpad, se vcs quiserem um pouquinho dos jikook bem pra curar a dor!
Beijinhos de luz e até 08/01/2022, às 19:00 certinho, espero shuahusahuas e como não sei se vocês me seguem nas redes sociais (callmeikus em quase todas), já aproveito pra desejar feliz Ano Novo e boas festas para todo mundo 🥺 amo vocês!!
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