Capítulo 32 - Espantar Pesadelos (Louis)
Meus pés não paravam quietos, as mãos tremiam um pouco, e o som do meu coração me levava de volta a vila de proteção para sobreviventes. Eu nunca, nesses dois anos, me permiti sentir saudades de Delanay, de Santa Maria Del Subterrânea, de todas as pessoas que aquela época levou de nós. Mas agora, por maldade ou piedade do destino, todos os nomes, rostos e acontecimentos me impediam de dormir, voltando como um tsunami pra minha mente.
Louis Tompson, definitivamente não é uma pessoa sentimental. Não sou uma pessoa que pensa no que sente. Eu não sei se é por causa do treinamento militar, que me dizia sempre para esconder meus sentimentos, não deixar que me vençam em uma luta 1x1, ou se era uma forma que eu criei para me proteger das dores.
De qualquer jeito, eu não tinha um psicanalista pra me dizer qual das duas opções é a mais certa.
O rosto de Delanay vem na minha mente. A pele pálida, mas cheia de manchas escuras da idade, as rugas se espalhando pelas bochechas e os pés de galinha já muito presentes. Lembro que ela tinha menos fios castanhos do que brancos no cabelo, e a cor dos olhos tinha se tornado opaca, mas mantendo um brilho na pupila cheia de seriedade. Delanay não é uma avó comum, e nunca consegui ver ela como minha avó. Mas agora me perguntava onde ela estava, o que estaria fazendo, como é sua vida e como ela será daqui pra frente... Gostaria que tivesse por aqui, junto comigo, e não no meio da podridão e corrupção do governo.
Talvez Delanay já estivesse morta, e eu jamais saberia.
Virei para o outro lado, agarrando os lençóis com uma das mãos, enquanto olhava para a perna da cama de Devon, que dormia ao meu lado. A dor no peito não me deixou fechar os olhos, e o desconforto me fez sentar na cama, os braços cruzados, suspirando alto e tentando oxigenar o cérebro.
Não funcionou.
Tive que levantar, meu corpo pedindo por movimento. Coloquei a jaqueta com capuz reservada pra mim, e calcei as botas grossas do dia a dia, amarrando os cabelos o mais rápido que consegui. Do lado de fora, estava nevando como eu nunca vi nevar, por sempre viver no subterrâneo. O frio me atingiu como um soco na cara, mas simplesmente ignorei isso, apertando mais a jaqueta contra o corpo.
A primeira coisa que pensei em fazer, foi dar uma passada na pequena área de treino que tinha na tenda de armamentos, e socar o saco de boxe improvisado. Socar alguma coisa era o que eu precisava, principalmente. Abri caminho entre os 5 centimetros de neve que se acumulavam no chão, em direção a tenda dos armamentos.
Abri a tenda, olhando a escuridão de dentro do lugar, os vultos das coisas fazendo sombras fantasmagóricas sobre tudo. Peguei o isqueiro que sempre tinha em todas as tendas, e acendi todas as velas do lugar, fazendo ser possivel distinguir o saco de areia pendurado precariamente na estrutura de metal de sustentação da tenda.
Eu já tinha feito seções de boxe por ali, e nunca tinha derrubado a tenda por conta disso, mesmo que ela sempre tremesse inteira. Espero que isso seja suficiente para esvaziar minha mente, tirar os pensamentos que não podiam ficar se eu tivesse que estar sempre focada.
Peguei de dentro da caixa mais escondida na prateleira, as bandagens, e comecei a enrolar ela nas mãos, sentada com as pernas cruzadas no chão. Aquilo era uma das partes mais importantes, segundo meu treinador do nível básico de luta, a parte em que se estabelece o foco para começar tudo, o foco feito a partir de enrolar as bandagens.
Tirei um fio de cabelo que caia no meu rosto, as pontas com um vermelho quase invisível agora. Aquilo me doeu. A falta das pontas vermelhas que eu tinha desde os 10 anos, parecia uma parte faltando de mim. Suspirei profundamente, terminando de enrolar as bandagens.
Levantei, a calça larga do pijama balançando. Armei a base em frente ao saco de areia pendurado, e respirei antes de começar.
O primeiro saco tremeu a tenda inteira, o segundo também, e os seguintes acompanharam o ritmo que estremecia a base e a lona, e o meu corpo inteiro junto também. Sentia o meu punho contra o saco, o impacto, a dor suportavel que vinha logo depois, tudo o que me tirava dos pensamentos de antes.
Os minutos se estenderam, pareciam horas. Em algum momento, arranquei a jaqueta e joguei no chão, ficando apenas com a regata preta do pijama, um fiozinho de suor começando a escorrer da minha clavícula. Tudo tinha de esvaziado. Todos os pensamentos que povoavam a minha mente com saudade tinham se transformado no foco, e na vontade de socar o saco de pancadas. Em algum momento, eu dei um chute nele também. O frio ja não me atingia mais, não sentia mais a temperatura do ambiente, somente o meu sangue fervendo e o calor do exercício.
O som dos passos na neve eram audiveis, mas pareciam longe o suficiente para não serem um problema, junto ao barulho do impacto dos socos. Dez segundos depois, uma voz e um corpo feminino se encostava perto das prateleiras, me encarando.
— Acho que a tenda pode desmontar se você bater nesse saco um pouco mais forte.— Lara disse, os olhos faiscando claros, a voz com a ironia presente.
— Eu espero que não, porque eu tô descontando anos nesse saco, e acho que a Wanessa ficaria furiosa comigo se eu derrubasse os preciosos armamentos dela.
— Ela arrancaria seu pescoco com os dentes. — Ela comentou.
Continuei socando o saco de pancadas, com um sorriso no rosto agora. Me sentia infinitamente mais calma, infinitamente mais focada, infinitamente mais controlada. Isso eu precisaria muito a partir de agora. Foco, controle, calma, pra seguir em frente na missão que precisamos fazer agora.
É incrível. Muito do que já fizemos parece que vai se repetir, voltar a acontecer. Eloise foi a primeira perda que me lembro, a primeira que faz meu coração doer. Ela era muito nova pra ter morrido em consequencia do NEICOGOZ, e me perguntava se um de nos teria o mesmo destino. Tínhamos escapado da morte tantas vezes, sera que era prudente procurar o perigo?
Será que de tanto desafiar a morte, ela se cansa de brincar?
— Você olha pra esse saco de pancada como se ele fosse te dar o sentido da vida. — Lara resmungou. — Se ele responder, juro que te levo num médico.
— Acho que já te perguntei quando foi que você incorporou o espírito do Devon em você, fazendo piadinhas o tempo todo. Mas você nunca me respondeu. — Rebati, sem deixar meus olhos desviaram do ponto que eu socava, mantendo o foco.
— Ajuda a deixar o mundo mais leve. — Respondeu, ainda encostada na estante, só seu vulto e os cabelos loiros visíveis. — Parece que o mundo vai cair em cima de nos não é?
— Eu sinto que o meu está desmoronando a cada segundo. Mas a gente supera. — Sorri pra ela, um sorriso triste, mas sincero.
— Posso ajudar com alguma coisa pra superar. — Não foi uma pergunta, e me fez parar para olhar pra Lara. Ela deu alguns passos na minha direção, fazendo que eu consiga ver um frasco na sua mão. Meus olhos brilharam quando ela colocou o frasco na frente da luz da vela, o vermelho da tintura refletindo no fogo. — Eliza disse que isso chegou no último carregamento, foi achado em uma das cidades abandonadas. Você fica bem com as pontas vermelhas.
O sorriso que eu abri pra ela foi da mais pura gratidão. Lara fez questão de ir embora, mas antes, perguntei:
— Seus pesadelos como estão? Você voltou a ter algum?
— Obrigada pela preocupação. — Ela disse, por cima do ombro. — Mas acho que agora, quem precisa mais do que eu de espantar pesadelos, é você Louis.
Oieeee milhos pra pipoca!!! Como vão?
Capítulo saindo muito cedo porque eu vou viajar hj, então, tá saindo as 6 da manhã mesmo, kkk. Acho fofa a amizade entre a Louis e a Lara, vcs não concordam?
Coloquem suas opinioes e teorias nos comentários, e não se esqueçam da estrelinha linda que me ajuda demais!!! Beijinhos com sabor de pipoca!
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